DA DESESPERADA NECESSIDADE DE REFORÇAR A ESQUERDA
O senhor Manuel Alegre
(de Mello Duarte, de seu Pai, nome honrado, posto de lado quem sabe se por ressonâncias aristocráticas),
poeta jeitoso e prosador sofrível, não pára de nos espantar com a profundidade do seu pensamento político.
Ouvi e vi – quase não acreditava no que via e ouvia – o senhor dizer que o esquerdofilismo era, mais do que nunca, indispensável, dado que, noutros tempos – anos trinta - como a “História demonstra”, a existência da União Soviética, de partidos comunistas fortes a Ocidente, de partidos socialistas, comunistas e anarquistas com fartura por toda a parte, e até do front populaire(!), não obstou ao nascimento a ao progresso do fascismo e do nacional-socialismo.
Pois não, direi eu. Foi exactamente na consciência da ameaça representada pelo recrudescimento da força de tais gentes que ferveu o caldo de cultura das tiranias de sinal contrário.
Tanto o fascismo como o nacional-socialismo eram socialistas, anti-capitalistas, anti-liberais, odiavam o pluralismo político, o sufrágio universal e a liberdade política, execravam os “plutocratas”, etc. tudo tal e qual os movimentos políticos de que o senhor Alegre tem saudades. Contrapunham um nacionalismo feroz e violento ao não menos feroz nem menos violento “internacionalismo” dos outros. E era tudo. Rivais, mas irmãos.
Os fascistas e os nacional-socialistas não escondiam que as suas “elites” governavam por “direito próprio” já que eram os únicos “legítimos” intérpretes do volksgeist, enquanto os de sinal contrário consideravam as suas “vanguardas organizadas” como detentoras directas do interesse das massas.
No que é importante, as duas correntes do socialismo pouca ou nenhuma diferença faziam uma da outra. Nem fazem. Partem, aliás, de processos mentais de natureza análoga, ambos negando Aristóteles, uns a partir de Hegel outros de Marx.
Na Europa civilizada estes problemas não se põem, ou põem de pernas para o ar, isto é, estando os extremismos de direita mais ou menos reduzidos a zero, os da esquerda adoptaram o nacionalismo.
Em Portugal a tal direita foi proibida. Há para aí meia dúzia de tontinhos a defendê-la.
A esquerda troglodita, essa, anda para aí, de vento em popa, vivida nos partidos comunistas e florescente no PS à custa dos Alegres & Cª.
Tudo a mostrar o nosso atraso cultural e ideológico.
Talvez não fosse mau que alguém, lá das esferas do xuxismo, explicasse ao senhor Alegre que, se não há hoje, na Europa, os movimentos de esquerda cuja ausência ele tanto lamenta, não será por isso, antes pelo contrário, que o fascismo e o nacional-socialismo estarão, como tanto diz temer, à espreita por detrás da cortina, mas sim porque tais movimentos deram, lado a lado com o fascismo e o nacional-socialismo, os horríveis resultados que se sabe.
Já agora, dois conselhos:
Se o senhor Alegre quiser fazer um partido, que o faça. Mas, primeiro, leia uns livros, a fim de evitar continuar a dizer asneiras.
Outrossim, se houver boda com o Louça, que o senhor Alegre deixe claro quem manda lá em casa, senão o caldo entorna-se na primeira curva. Agora que o divórcio é à balda…se a patroa do largo do Rato não o quiser de volta quando a Louça se partir, ainda acaba a vender a “Cais”.
15.12.08
António Borges de Carvalho