O BALCÃO VIRTUAL
O Estado deve dinheiro à empresa de V.Exª.?
Há mais de um ano?
O dinheiro faz-lhe falta?
Não se incomode, não há problema nenhum. O governo que temos, generosissimamente, abriu um balcão virtual!
V. Exª. dirige-se, humildemente, ao balcão virtual. Após registo, como é de timbre, palavra passe, etc., o balcão começa a disparar questões:
Quem você?
O que faz?
Quem são os gerentes, administradores, directores da sua empresa?
Deve alguma coisa à segurança social?
E ao fisco?
E os seus gerentes, etc., devem alguma coisa, ao Estado, a entidades públicas, à segurança social?
Quando VExª e os seus colaboradores estiverem completamente nus, o balcão virtual do governo pede-lhe as facturas
e porque é que facturou
e se houve concurso
e quem encomendou o que encomendou
e se as facturas já foram conferidas
e se entregou o IVA
e se tem o PEC em dia
e se entregou o modelo 22 nos últimos duzentos anos
e…
O balcão virtual, convenhamos, tem toda a razão. Isto de pedir ao Estado que pague o que deve não é para qualquer um. Aliás, a exigência do ressarcimento de dívidas, como acontecia na Idade Média se o vassalo pedia contas ao suserano, tem contornos criminais, é uma pouco honrosa falta de respeito. Além disso, o Estado não tem sombra de obrigação de saber se deve, a quem deve nem quanto deve. Não faltava mais nada! Quem quiser dinheirinho do Estado tem que fazer prova, não só da dívida do Estado (que o estado, como é óbvio, nem conhece nem é suposto conhecer), como que V.Exª e os seus sequazes são pessoas com o devido grau de submissão ás justas exigências do próprio Estado.
Pondo a hipótese, meramente académica, de que nem V.Exª nem nenhum dos seus tem qualquer multa do estacionamento por pagar, o balcão virtual promete vir a pagar o que o estado lhe deve… em Abril. No 1º de Abril, como é de ver…
Mas como não é possível que V.Exª, a sua empresa e os seus colaboradores mais próximos estejam tão livres de pecado como o senhor Pinto de Sousa exige que estejam, então, meu amigo, não seja néscio nem burrro. Deixe-se estar quietinho. É que o balcão virtual lá está, a ver tudo, como grande irmão que é. V.Exª, se lá vai, mete a cabeça no cepo, baixa-se, o Santos vê-lhe o rabo e… está mesmo a ver-se, não está?
Se ficar quietinho, pode ser que, se vier outro governo depois das eleições, não mudem só as moscas e v. ainda venha a ver algum. Se deitar a cabecinha de fora, então, em vez de receber, paga, que é para não se armar em esperto!
Nestas coisas, todo o cuidado é pouco.
17.12.08
António Borges de Carvalho