DA INOBSERVÂNCIA DA OBSERVAÇÃO
Veja-se este mimo:
Na próxima segunda-feira, a distintíssima classe dos professores fará greve. Segundo os capitães da coisa, será “a maior greve de sempre”.
No dia seguinte, esta maravilhosa gentalha começará uma outra greve (às “aulas observadas”), a qual se prolongará por um mês.
Vejamos o que este segundo parágrafo quer dizer. Se bem entendi – estas coisas não são fáceis de entender – é assim:
As “aulas observadas”, após as inúmeras cedências da ministra, realizam-se “a pedido” dos professores que querem obter as classificações de muito bom e excelente, ficando os restantes de fora; os professores “observadores” são obrigados, coitadinhos, a “observar” quando para tal forem convocados pelos respectivos colegas, ou seja, pelos que querem ser “observados”; os demais não se deixam “observar”. Obrigados? Não! Se fizerem greve, não "observam" coisa nenhuma. Por isso, a solução é fazer greve selectiva, para já de um mês, e depois logo se vê. Lapidar!
Então, perguntar-se-á, isto não vai dividir a classe? Os professores que querem ser “observados” não se vão revoltar contra os capitães? Não, nem pensar. É que, como ninguém é muito bom, muito menos excelente, os requerimentos para ser “observados” (havê-los-á aos milhares) não servirão para outra coisa senão para proporcionar aos “observadores” uma folgazitas adicionais. Genial!
Mas há mais. O programa das festas inclui uma jornada de “luta e reflexão” sobre as “políticas da ministra” (note-se que, para não incorrer na fúria do senhor Pinto de Sousa e para isolar a ministra, os tipos não dizem “políticas do governo”); segue-se uma concentração à porta do Presidente da República, a fim de “chamar a atenção do mesmo” (os tipos devem achar que o PR ainda não deu por nada); haverá também, em local a anunciar, um “encontro nacional das escolas em luta”; entretanto, cerca de 100 presidentes de conselhos executivos estiveram reunidos em Santarém, a fim de elaborar (mais) um documento a pedir à ministra o fim da avaliação.
Os professores conseguem o grandioso feito de ser piores que o governo. Quem diria?
A monumental irresponsabilidade que vêm demonstrando, o desprezo pelo ensino e pelos alunos que revelam, a subserviência em relação aos condotieri que, por mera “missão” política, aproveitam a oportunidade aberta pela incompetência do governo para desestabilizar a sociedade, são alguns dos mais tristes e claros sinais estado de apodrecimento em que, por obra do socialismo, se encontra a sociedade portuguesa.
12.1.09
António Borges de Carvalho