QUEM TE AVISA…
Uma rapariga das minhas relações, católica apostólica romana, da Freguesia de São Sebastião da Pedreira, casou com um engenheiro iraquiano que trabalhava em Lisboa numa companhia de petróleos ou coisa do género.
Tudo correu pelo melhor. O rapaz era simpático, culto e civilizado. Nasceram criancinhas, foram baptizadas, etc., tudo na melhor.
Passados uns anitos, o engenheiro voltou para o Iraque, por razões profissionais. Levou a família, como é natural.
Mais anos passaram. Os contactos da rapariga com Lisboa eram escassos e lacónicos. Até que uma senhora que me é próxima teve que ir a Bagdad, também por motivos profissionais.
Isto passava-se nos tempos do grande líder socialista, muçulmano moderado, chamado Sadam Hussein. Segundo a sua propaganda, as mulheres iraquianas eram cidadãs livres e senhoras do seu destino. Nada que se parecesse com o Afeganistão, o Irão ou a Arábia Saudita.
Bom, a minha amiga lá foi à procura da mulher do engenheiro. E encontrou-a. Vivia numa casa confortável, bem situada. Não tinha problemas financeiros. Tinha as suas instalações próprias, separadas das do marido, jamais podendo entrar nestas. Os filhos viviam com ela, sendo que só os machos, quando o pai os chamasse, podiam entrar no santuário do chefe da família. Visitas, as que ele autorizasse. Se se tratasse de mulheres, confinadas ficavam às instalações dela. Sendo homens, se o marido autorizasse, só poderiam falar-lhe na presença dele. Sair, nem pensar, a não ser que devidamente acompanhada e usando os véus e coberturas da ordem. Cartas para família só depois de lidas pelo marido. Nem livros nem jornais nem coisa nenhuma que a pusesse em contacto com o mundo corrupto e imoral dos infiéis.
Ao contrário do que se possa pensar, o homem não era nenhum tirano. Seguia, simplesmente, o que era determinado pela “civilização” a que pertencia.
O triste fado da mulher acabou por ser abreviado por um cancro.
Quando o Patriarca aconselha as raparigas portuguesas a ter cuidado com os amores muçulmanos está, evidentemente, estribado em casos como este de que, mais do que eu, deve ter notícia.
Admita-se que, numa sociedade como a nossa, em que ainda não há sinais visíveis daquilo a que se chama “choque de civilizações”, os patriarcais conselhos não são propriamente fruto do melhor bom-senso.
Veja-se o coro de indignação que por aí vai. As televisões e os jornais há dois dias que não fazem outra coisa senão falar de alegados sucessos de casais “mistos”. O imã de Lisboa declarou o profundo choque que sentiu ao ouvir as palavras de Dom José. Parece que quanto mais mal a tal “civilização” faz às pessoas mais estas tendem a simpatizar com ela.
O Patriarca preveniu, e preveniu bem. Antes que cases, vê o que fazes. Às vezes, o diabo tece-as.
Não haverá um “choque de civilizações”. O que pode vir a haver, até já há, é um choque entre uma civilização e o que resta de outra que já o não é.
Nisto, como em tudo, as excepções confirmam o que se está a tornar regra.
15.1.09
António Borges de Carvalho