NAS MALHAS DO POLITICAMENTE CORRECTO
Muitas coisas muito boas vêm dos Estados Unidos da América. Não, não estou a falar do senhor Obama. Muito más coisas de lá vêm também. Não, não estou a pensar no senhor Obama.
Penso nessa hedionda invenção a que se chama “politicamente correcto”.
Trata-se de uma forma estúpida de disfarçar, encobrir ou condenar certas formas de pensar, bem como a sua expressão falada ou escrita.
Alguns exemplos:
- O politicamente correcto proíbe o uso da palavra “preto” (black), para caracterizar um preto. Substituiu-se “black” por “african-american”, o que corresponde a uma distinção entre americanos, isto é, os pretos não são americanos tout court, como os brancos, precisam de um adjectivo que os distinga. O mesmo com os “native-american” ou os “hispanic-american”. O politicamente correcto acaba por ser mais racista que a linguagem tradicional.
- Entre nós passa-se o mesmo: substituiu-se a palavra preto por “negro”, um francesismo idiota ("nègre"). É que, em português “preto” é preto, sem mais conotações. “Negro” tem conotação negativa (os tempos estão negros, tem uma vida negra, um futuro negro, uma alma negra, etc.). Parece que, nestas coisas, a estupidez manda mais que o bom senso e, por maioria de razão, manda também no uso da língua.
- A dona não sei quantas, extremosa esposa do senhor Saramago, exige que a tratem por “senhora presidenta” (da fundação Saramago), uma vez que “presidente” é uma palavra “sexista”. Já vi jornais politicamente correctos a escrever segundo os desejos desta castelhana ignorante e presunçosa. Em português, “presidente” é comum aos dois géneros, como se sabia, aos oito anos de idade, na antiga instrução primária. A ignorância petulante e o ódio primário, eles sim, sexistas, querem transformar as presidentes em “presidentas”. Olhem o que diriam os politicamente correctos se o Irritado propusesse que os presidentes passassem a ser tratados por “presidentos”!
- O Cardeal Patriarca disse que as raparigas de cultura cristã deviam pensar muito bem antes de casar com um muçulmano. Toda a gente, a começar pelos muçulmanos, sabe que isto é um belíssimo e sensato conselho. Mas é politicamente correcto dizer exactamente o contrário.
- Toda a gente sabe que Israel é um país civilizado. Toda a gente sabe que o Hamas é uma organização terrorista e, ainda por cima, inimiga figadal não só de Israel mas da nossa civilização, da nossa cultura e de nós mesmos, uma escumalha que dá vivas à morte e que, activamente, nos quer ver extintos. Mas manda o politicamente correcto que se diga exactamente o contrário. É a estupidez no seu mais elevado grau.
A verdade, a justiça e o bom senso são virtudes que o politicamente correcto desconhece, ao mesmo tempo que apregoa a verdade, a justiça e o bom senso.
Feito de cinismo, de perversidade, de inversão de ideias, de valores e de conceitos, o politicamente correcto põe em causa a própria essência da nossa civilização.
21.1.09
António Borges de Carvalho