RAIVAS
Pois é. Sem mais nem menos, vem à liça um dos mais socrélfios portugueses, o Doutor Freitas do Amaral, antigo líder da direita portuguesa, actual militante socialista e, pelos vistos, membro destacado da central de desinformação do governo.
Na doutíssima opinião do ilustre senhor, o que se tem passado sobre o caso Freeport é muito mais grave do que a “cabala”, a “conspiração”, a “perseguição” de que o senhor Pinto de Sousa se considera vítima. Trata-se de “uma campanha de raiva” contra um inocente que só praticou actos absolutamente legítimos. O professor, por causa das moscas, sublinha que tal legitimidade é de carácter “administrativo”, matéria em que é especialista. Isto é, deixa de fora aquilo que é fundamental: a responsabilidade política. Demos de barato histórias de dinheiro.
À laia de pergunta, Freitas diz que os raivosos devem ser os que “estão com medo de perder as eleições”, isto é, o PSD.
Daqui se conclui que, na opinião do senhor, a dona Manuela deve ter contactado a Scotland Yard a pedir que o respectivo RG (Rage Department) fizesse umas investigações acerca do Freeport. Logo que esta diligência produziu os seus efeitos, a senhora terá falado com o tio e o primo do primeiro-ministro, convencendo-os, sabe-se lá a poder de que raivosas ameaças, a confessar que tinham metido umas cunhas a favor da coisa. Depois, foi ter com o senhor Oliveira, o Dr. Balsemão e demais cavalheiros dos media, exortando-os a fazer-se eco das suas raivosas intenções. Assim se montou, como é lógico e se deve meter pelos olhos (do Doutor Freitas) dentro, a “campanha da raiva”.
Mais opina o catedrático que a modificação da ZPE do estuário do Tejo, tendo sido legislada legitimamente gelo governo, foi promulgada pelo PR Sampaio e referendada pelo Dr. Barroso. Portanto, ou tudo era perfeitamente legítimo ou temos de convir que estes dois senhores também receberam uns trocos.
Poderia o Doutor Freitas, se fosse sério, ter acrescentado que não há memória de um primeiro-ministro não ter referendado um diploma depois da sua promulgação, bem como esclarecido as pessoas, já que é especialista em direito administrativo, sobre o significado jurídico da referenda. Mas isso não faz ele. Prefere meter o Dr. Barroso ao barulho, a ver se consegue tornar credíveis as suas extraordinárias opiniões. É, pelo menos, feio, muito feio. O desespero socrélfio no seu mais rasca.
Diz o homem que as alterações à ZPE foram decididas dois meses antes da aprovação do projecto. Portanto, nada têm a ver com ele. Perante tal dislate é de perguntar: então têm a ver com quê? Assim, sem mais nem menos, o governo decide alterar os limites da zona? Num conselho de ministros em que não havia nada que fazer o senhor Pinto de Sousa resolveu encolher a ZPE para passar o tempo? Ou deixou de haver aves naquele quadradinho? Ou ia lá passar o TGV? Ou foi tudo por alma da viúva do Padre António Vieira?
Eis-nos no reino das conjecturas. Facto é que Freitas acha que o tal decreto terá tido a ver com tudo, menos com o Freeport. Notável.
Aquela fatia do Freeport que causava erisipelas aos ambientalistas foi cirurgicamente retirada da ZPE. Depois, aprovou-se o projecto. Depois os ambientalistas queixaram-se a Bruxelas. Depois emendou-se a bronca. Depois, Bruxelas arquivou-a. Entretanto, com ZPE ou sem ZPE, o Freeport já lá estava. Nada mais havia a fazer. A ZPE intacta, o Freeport a funcionar, toda a gente contente.
No meio disto tudo, entre o momento, em 2005, em que a marosca foi denunciada e em que a central do PS conseguiu abafar a coisa e vilipendiar quem a denunciou, houve um juiz que considerou a história mais que suspeita e uns procuradores que, embora digam que o processo não parou, o meteram na gaveta. Por influência britânica, os procuradores ressuscitaram e desataram a fazer buscas, inquéritos, devassas.
Mas, para o Doutor Freitas do Amaral, transfigurado em aparatchik socialista, ao nível do Vitalino, do Pereira e do Silva, tudo não passa da “raiva”. Até mete raiva!
Facto é que as televisões e os jornais já começaram a “abrandar”. Terá havido telefonemas à la manière?
29.1.09
António Borges de Carvalho