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irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

Quorum

Muita tinta tem corrido sobre o “escândalo” da falta de quorum no Parlamento no momento das votações.
Caiu o Carmo e a Trindade. Consta até que o Senhor Presidente, que nunca foi admirador da Instituição Parlamentar e jamais a tratou com um respeito por aí além, vai aproveitar a deixa para o seu primeiro discurso oficial, na próxima terça-feira.
Todos os habituais críticos – quem o não é, nesta terra de invejosos e politicamente iletrados? - se encarniçam, felizes pela oportunidade que lhes é dada, contra a “malandragem” que repoltreia a inutilidade nas cadeiras de São Bento.
Veja-se onde chegámos:
Ontem, na SIC Notícias, uma senhora do PSD, ao que consta consorte de um conhecido banqueiro, dizia que vivemos numa democracia “formal” e que é preciso que ela se torne “material”. A sua parceira de debate, luminária do PC, aplaudiu com entusiasmo. Onde chega a ignorância de uma e a esperteza da outra!
Ontem também, o presidente do GP do PSD veio propor um sistema de vigilância do comportamento dos deputados através de uma qualquer comissão de “independentes”, ou coisa que o valha, não eleitos. Como é possível que um deputado, ao que julgo jurista (o pai dele foi meu professor de direito constitucional, mas não deve ter ensinado coisa nenhuma ao filho) produza uma enormidade deste calibre? Onde chega a tendência para a asneira!
Como é costume, a informação, quase em uníssono, tece sobre o assunto as mais irresponsáveis considerações. Dos órgãos de informação em geral não se espera outra coisa. É normal, é costume, é assim. Os produtores de opinião em Portugal, de Eça de Queiroz a Álvaro Cunhal, nunca suportaram nem compreenderam a representação inorgânica da sociedade. Não há nada a fazer. O que não se aprende em séculos – quase dois – não se aprende em definitivo.
Onde estaria a democracia portuguesa se não fosse a pressão europeia? A resposta é simples: estava morta e enterrada por muitos dos que, no dia a seguir ao enterro,  começariam a nobre luta pelo seu regresso.
O problema põe-se ao contrário do que fazem os comentadores.
Os males do sistema não estão nas ausências às votações. Não estar presente em certos momentos é uma atitude política legítima. Os males do sistema não estão no facto de as pessoas gostarem de ver mais gente na sala quando a TV transmite bocados, devidamente “editados”, das sessões parlamentares. Alguma vez alguém viu, na Câmara dos Comuns, os seiscentos e cinquenta deputados britânicos?
Os males do sistema não são função dos “chorudos” ordenados dos deputados, como reza o politicamente correcto.
O que se devia, então, alterar? Do ponto de vista da lei eleitoral, a meu ver, nada. O sistema funciona, é justo, e não deve ser mexido.
Do ponto de vista do recrutamento, vários problemas há que afectam a qualidade dos nossos representantes.
O primeiro é o desprezo dos mais aptos pelo sistema parlamentar. Lembro-me, como exemplo entre todos significativo, de o Dr. Sá Carneiro ter imposto aos seus ministros que se candidatassem a São Bento, para o segundo mandato da AD. O doutor Cavaco recusou liminarmente tal hipótese. É pecha da sociedade portuguesa este distanciamento dos homens de valia e de sucesso em relação à Instituição parlamentar. Responsabilidades sociais, sim, mas poucas. Responsabilidades parlamentares, nenhumas, que isto de andar nas bocas do mundo é uma chatice e, ao contrário do que dizem os jornais, não dá dinheiro que “cheire” a quem já o ganha. Não há, na classe empresarial, e até intelectual, de sucesso, a mais pequena noção de responsabilidade pública, nem sequer a compreensão do facto de que o bom funcionamento das instituições é do interesse, não só da sociedade em geral, mas dessa classe em particular. Trata-se de uma questão estrutural. Não sei se não será preciso outra ditadura para que esta gente o compreenda.
Outro problema é o da exagerada influência local na selecção dos candidatos. Os partidos dependem muito da militância local, e cedem demais às exigências da parvónia. O mesmo com as juventudes. Os partidos precisam do barulho que os jovens fazem, e vai de lhes dar lugares no parlamento, criando uma classe política profissional sem outras qualificações que não sejam as da militância partidária. Não sou contra a existência de políticos profissionais, sou contra a sua fabricação em comícios e arraiais.
Os vencimentos dos deputados, por ridículos em relação à função, são outra pecha do sistema, uma vez que afastam os melhores, e impedem os poucos desses que, apesar de tudo, vão existindo, de se dedicar, já não digo em exclusivo, mas a cinquenta por cento que seja, à vida parlamentar.
Tudo ao contrário, pois, do que, em analfabruto coro, se tornou politicamente correcto. A Instituição parlamentar deve ser dignificada e defendida sejam quais forem as faltas de comparência dos deputados. Já agora, se o senhor Pinto de Sousa (conhecido por Sócrates) quiser fazer passar as suas propostas de lei, que tome conta da sua gente. Se o não faz, o problema é dele, e não nosso, ou do Parlamento, como se diz por aí.
António Borges de Carvalho

O caldeirão

A “The Economist” desta semana, acabadinha de chegar, titula, com ironia ou amargura:  “Outra semana em grande para a Europa – paralisia em Itália, rendição em França”. Em fundo, reproduz o Inferno de Bosh, com o mafarrico a presidir à cozedura dos pecadores no caldeirão da história.
 
Comentei neste blog, há poucos dias, o miserável recuo do senhor Chirac que, cedendo à turba-multa, desautorizou o seu primeiro ministro e deitou para o lixo o que poderia ser um elemento, ainda que tímido, de uma reforma desesperadamente indispensável.
Um bom exemplo de “democracia” participativa, como por cá é conhecido o sistema.
 
Em Itália, se é verdade que o senhor Berlusconi falhou nas suas promessas de reforma, não o é menos que o saco de gatos em que o inenarrável Prodi se meteu integra, agora com o imenso poder de bloquear tudo o que lhe vier à cabeça, as franjas irreformáveis da esquerda mais troglodita e cega que imaginar se possa.
 
Isto quer dizer que, em dois pilares fundamentais da Europa do Euro, uma crise de gigantescas dimensões está a dar passos seguros, alicerçada na cegueira que o estado providência criou. O sacrossanto “direito ao trabalho” de uns lança milhões para o desemprego e cria os fundamentos da destruição a curto prazo de tudo o que diz defender. Isto, por estúpido respeito à cartilha e por voluntária cegueira em relação ao século e ao mundo. Estupidez e cegueira tanto mais graves quanto, mais do que propostas teóricas de reforma, não são poucos os exemplos dos que, reformando, longe estão da fatalidade da crise, ainda que não deixem, por culpa de italianos, franceses e quejandos, de vir a ser afectados por ela.
 
Nós, por cá, todos bem. Digamo-lo com a mesma ironia ou com a mesma amargura da manchete da “The Economist”. O monstro estatal, por entre parangonas de falsa reforma, estende as suas garras, aumenta impostos, ignora as expectativas que criou e, enquanto mais que duplica o défice (de 2,9 para 6 por cento, pelo menos), vai dizendo, para que ecoe nuns media de papalvos, idiotas e aparatchiks, que o está a reduzir em 0,85 pontos percentuais.
Para o português médio, o trabalho continua a ser um direito, nada tendo de obrigação. Coitadinhos dos preguiçosos, dos néscios e dos inúteis, que não exercem tal direito. Para o português médio, o desemprego é a solução. Fazer o que fazem brasileiros e ucranianos é que não. T’arrenego!, que me caem os parentes na lama!
O português médio não tem culpa. Foi esta a educação que, como se fosse democrática, lhe deram na escola e inscreveram na mais nobre das sedes: a Constituição. No fundo no fundo, todos pensamos como nos foi ensinado: alguém há-de resolver isto. Eu, que só exijo o que me é devido, tenho o direito de assobiar para o ar. Quem vier atrás que feche a porta.
 
Só não nos é dado pensar, nem os fazedores de opinião se preocupam com isso, que a fogueira já está acesa e que o mafarrico nem precisa de se preocupar em arranjar mantimentos. Nós iremos, felizes e contentes, cheios de “direitos” e de orgulho, meter-nos no caldeirão.
António Borges de Carvalho

Que tristeza!

Parece que o novo Presidente da República escolheu o ridículo como principal tema do seu início de mandato.
 
Foi a comovente visita ao hospital das crianças, com Sua Excelência a perguntar aos doentinhos se estavam bons e a primeira dama (como ela deve gostar que lhe chamem primeira dama!) a puxar-lhe a manga, não é bons, filho, é melhores, pergunta-lhes se estão melhores!, os médicos a furtar-se a questões não vá o patrão Pinto de Sousa – Sócrates para povo – zangar-se, o gáudio dos empregados do senhor Oliveira, tão sibilinamente reportado no DN, o desprezo “ignoratório” do Expresso, a declaração de que agora é que isto vai começar, saio do casulo mas não comento nada, nada, olhem a ética… São Pancrácio nos valha, tanta cavadela, tanta minhoca!
 
Agora, mais uma vez com os empregados do Oliveira a gozar perdidamente, é a exposição, com honras de museu, de Sua Excelência de calções, das notas que teve na quarta classe, dos feitos técnico-literários do professor, um narcisismo de pacotilha, uma pirosada sem nome, uma coisa de tal forma ridícula que apetece dizer, se quisermos manter o respeito que o senhor certamente merece, que foi induzida por terceiros, não iniciativa do próprio, que tem que surgir quem o salve dos seus áulicos, que não pode ser assim… O pior é que não foram os áulicos quem desencantou as fotografias do menino de calções, nem as pautas das notas, nem…
Não pensemos mais nisto, por amor à Pátria e por respeito pelas instituições. 
Apesar de tudo, é preciso ter fé, mesmo que, até ver, só nos dêm motivos para descrer.
 
António Borges de Carvalho  

Vidas

Há muitos anos, conheci uma senhora que, depois de anos e anos de trabalho como criada de servir -como se chamava, à época, às funcionárias do serviço doméstico - fazia, aqui e ali, pequenos trabalhos de costura. Ajudada pela reforma dos rurais não contributivos do dr. Marcelo Caetano, ia levando uma vida relativamente digna. Era uma simpatia. Não conhecia histórias outras que as da sua vida. Costumava contá-las, repetindo-se, mas sempre com um grande sentido de humor e de humanidade. Às vezes, dizia: Ai, se eu soubesse escrever, a minha vida dava um romance!

Provavelmente, tinha razão. A sua vida, nas mãos de um escritor, talvez se transformasse numa obra de arte. Nas mãos dela, é pouco provável.

Os escritores- os propriamente ditos, não falo dos contadores de histórias - pegam na memória, lançam os dados que ela lhes dá, pegam nas suas faces visíveis, que são o visível do invisível, juntam-lhes imaginação, sentimento, poder descritivo, conhecimento das armadilhas da linguagem escrita, talento, e produzem romances. Não auto-biografias, raramente memórias.

O que se passava com a senhora que conheci e que, muito legitimamente mas sem conhecimento de causa, dava à sua vida uma importância que não tinha, passa-se hoje com pessoas que se julgaria imunes a tais ilusões. Uma senhora, professora doutora cujos talentos não me atreverei a pôr em causa, publicou um livro sobre a sua vida. Muitos dizem, e com razão, que valeu a pena por se tratar de um testemunho histórico sobre uma certa sociedade e uma certa época. Mas, muito para além disto, o livro é um produto absolutamente pessoal, isto é, não trata de vidas de romance mas de pessoas concretas, vivas, com nomes e actos - por vezes os mais pessoais e íntimos - escarrapachados de forma por demais crua, e sempre dizendo quem fazia o quê, porquê, como e quando.

Será que as mulheres não estão obrigadas aos deveres de cavalheirismo que os homens costumam atribuir-se?

Pergunto-me porque será que uma senhora professora doutora tem, em relação à sua própria vida, exactamente o mesmo tipo de sentimentos que animavam a costureira analfabeta. Mas tenho a certeza de que a costureira, se escrevesse o romance da sua vida, teria a educação sentimental suficiente para não pôr a nu a vida de terceiros.

Facto é que a coisa parece fazer escola: um advogado de Lisboa (aliás "intimamente" citado no livro da professora doutora) publica um livrinho sobre a sua vida, ou episódios dela. Dá-nos a imagem de um homem inteligente, por vezes conta episódios interessantes, mas, ao contrário da sua colega, faz alarde de um talento não cultivado, e o livro sabe muito a manta de retalhos. Além disso, a ausência de um revisor competente enche-o de erros de pontuação, alguns de ortografia, pleonasmos, etc. Uma pena.

Uma diferença fundamental distingue as duas manifestações literárias, inspiradas pelas mesmas motivações e presunções que enchiam a cabeça da costureira: O advogado fala de si mas, para além de algumas referências, sempre simpáticas, a familiares já desaparecidos - o livro é dedicado ao seu pai - não cita nomes, muito menos nomes de pessoas que ainda hoje se cruzam com ele na rua. Um cavalheiro.

Francamente, espero que a moda não pegue, nem à maneira da professora doutora, nem à do advogado.

Um grande intelectual português escrevia há tempos que gostaria de escrever um romance, mas não era capaz. Era bom que outros, intelectuais ou não, percebessem, primeiro, que a sua vida, enquanto tal, não é tão interessante como julgam, segundo, que, para estes voos literários é preciso um tipo de trabalho muito diferente daquele que estão habituados a fazer.

António Borges de Carvalho

Independências

Julgam os mais desprevenidos, ou os ignorantes, que a chamada independência dos Tribunais tem a ver com a faculdade de julgar livremente, ou seja, se confunde com a irresponsabilidade dos juízes no que se refere à decisão de sentenciar no sentido que entenderem, sem outro guia que não seja a Lei, sem outra referência que não seja o conteúdo do processo, sem outras pressões que não sejam as da sua consciência. Neste sentido, não há quem não compreenda que a independência dos juízes é essencial, e não há quem não aceite que não possam ser responsabilizados pelo teor das suas decisões.

Mas o que se passa nada tem a ver com esta independência. As associações sindicais dos juízes, em autêntica diarreia corporativa, classificam qualquer mexida no seu estatuto ou nas suas condições de trabalho como gravíssimo atentado à "independência" dos tribunais. Trata-se, aqui, de outra independência. Não a dos juízes, enquanto tal - e só enquanto tal, mas a de uma classe que parece considerar como atentado à própria justiça qualquer, por pequena que seja, interferência nas suas regalias, como se, idealmente, tal classe devesse estabelecer os vencimentos dos seus membros, o seu horário de trabalho, etc. Clamam que os juízes não são funcionários públicos. Então, o que são? Profissionais liberais? Empregados de uma empresa privada? Artistas convidados? Tarefeiros?

Quem lhes paga? Não é o Estado?

Chega-se qao ponto de "demonstrar" que, se aos juízes for dado o mês de Agosto de férias, ficarão impedidos de gozar os 22 dias úteis a que os demais cidadãos têm direito. A não ser que utilizem um calendário especial, "independente", só para eles, não se vê como tal coisa pode ser possível.

Tudo isto, com certeza, são considerações de um cidadão desprevenido, ou ignorante.

Mas, como os desprevenidos e os ignorantes (ainda) têm direito à opinião, não podem deixar de opinar que ficaria muito melhor aos senhores magistrados dignificar, eles próprios, a sua magistratura, do que andar aos gritos a exigir que outrem o faça por eles.

António Borges de Carvalho

Uma geração a contas com o futuro

O senhor Chirac e o seu primeiro ministro não são aquilo a que se chama gente simpática. Um como outro têm o rei na barriga, acham-se importantíssimos, e não têm nada de novo (nem de bom) para dar ao mundo. Em política externa são iguaizinhos aos socialistas. Em questões internas, coitados, perceberam que a França está no plano inclinado de uma crise sem precedentes, e que o "estado social", tal como é, se tornará, a curto prazo, insustentável. 

Dispensar um trabalhador, com ou sem justa causa, é, para as empresas francesas, de uma complexidade burocrática tal que há profissionais especializados na matéria, bem pagos, sem os serviços dos quais a coisa se tornaria quase impraticável. A segurança social padece da mesma burocratite. Uma folha de salários, prémios e descontos, é matéria de tal forma intricada que só a empresas muito grandes é viável ter especialistas para a elaborar. A generalidade das empresas entrega a terceiros tal tarefa, e não há um só pequeno comerciante ou industrial que, mesmo para um ou dois empregados, não tenha que recorrer ao outsourcing ".

O desemprego em França é muito mais grave do que noutros países desenvolvidos, não só pela quantidade crescente de desempregados, mas também, ou talvez principalmente porque, dos que têm emprego, a percentagem dos que deixariam de o ter se se racionalizasse a burocracia é enorme, ou seja, o falso emprego é uma realidade social gritante e um peso na economia que se vai tornando, em tempo de vacas magras (ou menos gordas) cada vez menos sustentável.

Muitos anos de habituação a direitos sociais que tornam a sociedade francesa refém do estado e transformam o estado num administrador de regalias, parece terem metido no sangue e no coração dos franceses a ilusão de que é possível continuar na mesma sejam quais forem as circunstâncias.

Quando vemos a juventude francesa descer à rua da forma como o fez contra o já defunto PEC, o que mais impressiona é a recusa de uma geração de encarar o futuro com sentido de responsabilidade, de ambição, de luta pela vida, de assumpção das dificuldades como incentivos a fazer mais e melhor. Uma sociedade em que, aos vinte anos, se acha que um emprego é uma coisa estática, para uma vida, em vez de um degrau para outro melhor, não está, evidentemente, a construir um futuro viável.

Os intoleráveis senhores Chirac e de Villepin já recuaram. Qualquer coisa vai mudar, não se sabe ainda o quê, mas já é certo que o objectivo de tal mudança será que tudo fique na mesma, a fim de não excitar a ira dos étudiants1. E, depois das manifestaçãoes e do recuo dos senhores, a França continuará, paulatinamente, na ilusão de que é possível continuar a viver como vive, de que a PAC é eterna, de que a sua importância global é de ferro.

António Borges de Carvalho

1Note-se que étudiant quer dizer estudante universitário. São os mais qualificados quem protesta, não os que têm menos oportunidades. Estes, os petits français, os portugueses e quejandos que mourejam para eles, continuarão a mourejar como sempre fizeram.

A agenda nuclear

Há tempos, um conhecido financeiro anunciou que estaria em posição de construir e pôr a funcionar uma central nuclear sem custos para o estado. A resposta do governo foi uma não resposta, isto é, José Sócrates (Pinto de Sousa), ou alguém por ele, limitou-se a dizer que o nuclear estava “fora da agenda”. Muito bem, pensaram os ecologistas mal informados. Muito bem, pensaram os media, sedentos de politicamente correcto. O Expresso até publicou duas páginas de antinuclearismo militante, sem contraditório. Parece que José Sócrates (Pinto de Sousa) foi ao encontro dos mais profundos desejos da pátria ao recusar tão horrorosa proposta.
 
Apesar de tudo, algumas almas, eventualmente minoritárias, interrogaram-se sobre a justeza da posição. Num momento em que a Europa inteira relança os seus programas nucleares, em que se aceleram os estudos e os programas para novas tecnologias e novas gerações de centrais, em que as economias emergentes se preparam, em força, para o nuclear – 50 centrais na China, 20 na Índia, por exemplo - por que carga de água recusa o governo português estudar, sequer, a proposta do tal senhor? Então não era de esmiuçar a coisa? De saber quando, como, a quanto, em que condições chegaria a electricidade à indústria e a casa das pessoas, vinda da tal central?
Apesar de tudo, algumas almas olharam à sua volta e observaram esta extraordinária coincidência: os países mais desenvolvidos da Europa Ocidental são exactamente aqueles que, ou produzem e distribuem energia nuclear, ou a recebem de terceiros (a Dinamarca, por exemplo) a preços competitivos.
Portugal, porém, orgulhosamente só (quem é que isto me faz lembrar?), diz que o nuclear está fora da agenda. Nem pensar.
Hoje, porém, com as parangonas laudatórias do costume, aí está ele, o nosso bem amado José Sócrates (Pinto de Sousa), degraus do Eliseu acima, de chapéu na mão, a pedir conselhos ao imperador sobre… energia nuclear. O senhor Chirac, que de comércio muito sabe, far-lhe-á parte, imperialmente, da excelência da tecnologia francesa nesta matéria. Ou seja, com Chirac, o nuclear entra na agenda socrática (coitadinho do Sócrates, o propriamente dito). Milagre!
O mais tristemente interessante é que vão ser os mesmos senhores e senhoras (donos da opinião em Portugal) que deixaram passar sem uma palavra de crítica ou de estranheza a primeira postura do senhor Sócrates (Pinto de Sousa), a vir enaltecer  mais esta grande jornada da política externa do governo. Podem olhar, orgulhosamente acompanhados, para o espelho, e contemplar a sua impecável coerência e a sua intocável independência de profissionais da informação.
 
António Borges de Carvalho

Ignorâncias

Umsenhor cujo nome me escapa, anafado, matulão, de barbicha, ar profundo, tem assento frequente numa televisão qualquer. Foi um dos principais apoiantes da candidatura do senhor Soares. É, ou presume-se que seja, figura importante do PS. Disseram-me que até já foi secretário de estado. Pouco ou nada diz de interessante, seja qual for o ponto de vista de quem o ouve. Mas tem um leit motiv de que nunca se esquece: sempre que perora para o povo, com ar seriíssimo, invectiva aquilo a que chama neo-liberalismo, na sua opinião a mais horrorosa das coisas.

Com ou sem neo, o liberalismo é, há cerca de um século, o bode espiatório de todos os ditadores. Salazar odiava-o, considerava-o o pai de todos os problemas, o maior culpado da desorganização do estado e da miséria das gentes. Hitler e Mussolini alinhavam pela mesma cartilha: o estado liberal era o inimigo a destruir, se se quisesse construir o socialismo. É evidente que, no mesmo pelotão, alinhavam Lenine, Estaline, Enver Hoxa, Álvaro Cunhal e tantos outros, Pinochet, por exemplo. Alinham Fidel Castro, Kim Jong Il e Jerónimo de Sousa. Alinham, do alto da sua paranóica ultra-bempensância, os ilustres políticos do BE, com tribuna e tempo de antena em tudo o que é media.

A esta ilustre plêiade de finos democratas junta-se o senhor do PS que perora na televisão. Junta-se o próprio PS, pelo menos nas formulações teóricas com que, por vezes, brinda o pagode.

O liberalismo é, em relação a todos os socialismos (de esquerda e de direita), o inimigo a abater. É o seu contrário, tem por axioma que a unidade é o homem, o indivíduo, não a sociedade, o colectivo. Por isso que não haja poder totalitário, ou autoritário, que o não odeie. O liberalismo parte do princípio de que a evolução da sociedade se faz através do exercício pacífico da liberdade individual, não por meio de saltos qualitativos dados sob a batuta de formulações teóricas mais ou menos revolucionárias.

Se se quiser olhar para os últimos cem anos de história, não se encontrará um só caso, um só, em que à abolição do estado liberal não tenha correspondido a da própria liberdade. Poder-se-á dizer que, exclusivamente na esfera económica, ditaduras tem havido que mantêm uma fachada liberal. Mas não se poderá afirmar a contrária, isto é, que jamais tenha havido um regime que, respeitando a liberdade, tenha negado, pelo menos de facto, o liberalismo.

Se não há liberalismo, não há liberdade. Não faltam factos para o provar.

Por isso que, quando se vê estes novos luminares da luta contra o "neo-liberalismo", apetece lembrar algumas pequenas-grandes verdades, a fim de fazer pensar que o futuro, se construído sobre mentiras, não deve ser grande coisa.

António Borges de Carvalho

 

Abominável Indecência

Há dias, declarou o ministro das finanças do governo Sócrates (Pinto de Sousa) que iria legislar no sentido de levantar o sigilo bancário aos cidadãos que apresentassem reclamações às finanças.

Na opinião de Sua Excelência, o cidadão que tiver a ousadia de pôr em causa as contas do seu departamento passa, automaticamente, a ser supeito das maiores trafulhices e a ver a sua vida financeira vasculhada pela polícia.

O que é que isto faz lembrar? Pensemos um bocadinho. Faz lembrar os engajadores de emigrantes que ameaçam as famílias dos clientes, que ficaram  no país de origem, das piores perseguições caso não cumpram as suas ordens no país de destino. Faz lembrar as represálias da mafia. Faz lembrar métodos nazis e estalinistas. Faz lembrar uma data de coisas. Não, leitores, não faz lembrar o dr. Oliveira Salazar que, sendo um ditador repugnante, jamais se lembrou de uma destas.

O que aconteceu? Nada. Criticaram os jornais esta abominação? Não. Exgiram os partidos da oposição, os sindicatos, os media, a demissão do ministro, como aconteceria em qualquer país civilizado? Não. Publicou o primeiro ministro um desmentido, um pedido de desculpas, uma afirmação de lapso? Não. Apareceu algum "opinion maker" a condenar a abominação? Não.

Pelo contrário. Tudo continuou como dantes. O ministro lá está. A abominável proposta é capaz de passar mesmo a ser lei. A opinião pública, sedenta de se excitar com qualquer porcaria, está calma, tranquila, e é levada por aqueles a quem competiria alertá-la, a achar que voive no melhor dos mundos.

Onde vamos parar? 

António Borges de Carvalho

Aldrabices

Factos:

1. Desde a entrada no Euro, Portugal cumpriu as regras do Pacto de estabilidade, no que ao limite do défice diz respeito;

2. Durante o consulado Guterres, o limite foi ultrapassado em 0,3% do PIB, ou seja, o défice foi de n3,3%;

3. Durante o consulado Barroso o défice foi mantido dentro dos limites do Pacto;

4. O mesmo aconteceu no ano em que Santana Lopes foi o responsável;

5. As contas de Santana Lopes foram aprovadas pelo Eurostat;

6. O Governo Sócrates (Pinto de Sousa) acaba de anunciar, com parangonas de êxito, que o défice vai ser de 6%.

Estes factos, indesmentíveis, não provocaram qualquer reacção da nossa "comunicação social", nem se viu qualquer comentador "independente" analisar, minimamente que fosse, tais indesmentíveis verdades, nem gritar que o rei vai nu.

O que se "vende" à opinião pública é a tese de que o Governo é uma plêiade de heróis, capazes de reduzir o défice de, 6,85 para 6%.

Que pensar? Estarão os "comunicadores" atacados de uma espécie de gripe mental? Ter-se-ão vendido ao Sr. Sócrates (Pinto de Sousa)? Serão, todos eles sem excepção, estúpidos? Ainda não perceberam a cabala miserável que é inventar um défice inexistente para, a partir de uma realidade imaginária, vir a louvaminhar uma pura aldrabice?

À consideração de quem ainda insista em pensar. 

António Borges de Carvalho

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