O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA.
Winston Churchill
O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA.
Winston Churchill
Publiquei, em 2001, um livrinho, de seu título “O Presidente de Nenhum Português”. Entre outras matérias, nele falava sobre o referendo. Não um referendo específico, mas o referendo em geral, enquanto instituto jurídico. Procurava demonstrar a sua natureza anti-democrática, mais precisamente defender a opinião de que se trata de intolerável entorse à democracia representativa, a única que Democracia considero.
O referendo é uma forma de desresponsabilizar os eleitos, atirando decisões que lhes são próprias para as costas dos eleitores. Com a agravante de cortar as pernas aos eleitos seguintes, no que diz respeito à sua legitimidade para alterar regras por referendo estabelecidas.
Uma explicação mais profunda desta opinião não cabe nem no espaço nem no espírito de um blogue. Mas talvez valha a pena dizer alguma coisa sobre o molho de nabiças em que os eleitores estão outra vez metidos a propósito do aborto.
É pública e notoriamente evidente que a esmagadora maioria dos portugueses, ou não sabe como há-de votar, ou se recusa a exprimir opinião sobre o assunto. O que quer dizer que intui que, se elegeu um parlamento, o fez na legítima presunção de estava a entregar a alguém a tarefa de decidir sobre o assunto, guardando-se o direito aceitar serenamente o legislado, de contra ele protestar e, sobretudo, de vir a eleger quem decisão contrária possa vir a tomar.
No primeiro referendo, ganhou o não. Esse não amarrou o legislador, sendo que só por novo referendo é, politicamente, possível alterar a lei de que a actual maioria parlamentar não gosta. Se ganhar o sim, será preciso esperar por outra maioria, com diferente opinião, que promova outro referendo, ou que algum movimento de opinião o motive, nos termos constitucionais. Se ganhar o não, o mesmo se passará. O que quer dizer que, nesta matéria, os representantes do povo ficam ad aeternum com a capitis deminutio que o referendo provoca, o que é uma entorse grave ao princípio da alternância.
É claro que isto não pode deixar estar na origem da monumental campanha de aldrabices a que vimos assistindo.
Do lado do sim, propagandeia-se a “despenalização”. Falso. A verdade é que o que pretendem é que tal despenalização se verifique até às dez semanas de gestação, continuando, nas semanas seguintes, a ser crime. Ninguém, em boa lógica, poderá achar que um aborto realizado no septugéssimo dia de gestação não é crime e, ao mesmo tempo, defender que, se a senhora perder o combóio e o fizer ao septuagéssimo primeiro vai para a cadeia. O que o sim, substancialmente, propõe, é a criminalização do aborto após as dez semanas. Com a agravante de que, ganhando o sim, deixa de haver qualquer sombra de justificação para a actual permissividade judicial em relação às mulheres que abortam. Ganhando o sim, os “estabelecimentos autorizados” a abortar nas primeiras dez semanas ficarão, implicitamente, proibidos de o fazer depois das dez semanas, pelo que o aborto clandestino (outra arma que o sim passa a vida a brandir) continuará a fazer o seu glorioso caminho sem que nada o possa estancar. O cinismo do sim é revoltante.
Do lado do não, revoltante é a incoerência. Uma vez que não é possível estabelecer a partir de que momento o ser que cresce na barriga da mãe é pessoa humana, ou sujeito de direitos, alternativa não resta que não seja a de considerar que o é a partir da fecundação. Se assim é, e parece sê-lo para os partidários do não, o aborto é sempre crime. Ora os partidários do não tecem as mais rebuscadas considerações sobre o que poderíamos chamar a perdoabilidade do aborto, sem cuidar, sequer, de estabelecer o limite temporal que os seus adversários pudicamente adiantam. Encabeçados por figuras da mais alta responsabilidade (por exemplo o Cardeal Policarpo) e da mais rebuscada irresponsabilidade (como o comentador Rebelo de Sousa), desdobram-se em teses de “compreensão” e de “humanismo”, na essência significando que o aborto é um crime que, ao contrário dos demais, a sociedade não tem o direito de punir. Há nuances, reconheço, nas posições do não. Mas a incoerência lá fica. Quem se ativer ao tipo de argumentos expendidos por este sector, será levado, se for coerente, a votar sim. Pela muito simples razão de que, se se é contra o aborto, mais valerá que ele seja punido quando praticado após as dez semanas do que deixá-lo num limbo de tolerância até aos nove meses.
Há dias, travei o diálogo que segue com um meu conhecido:
- Se votares, votas sim ou não?
- Voto sim.
- Porquê?
- Porque costumo votar à esquerda. Como, grosso modo, a esquerda é pelo sim…
É um critério respeitável. Aplica-se, direitinho, aos eleitores de direita. Pois que votem não, se é desse lado que costumam votar.
Um critério utilíssimo para todos os que, à esquerda e à direita, não são capazes de se entender com o assunto, estão perdidos na floresta de enganos em que os meteram e se sentem irritados pelo logro.
Uma nota final. Ontem, num daqueles debates da RTP liderados por uma senhora inacreditavelmente mal vestida, lá estavam os representantes dos dois exércitos, batendo-se como animais ferozes. Muito bem, batam-se à vontade.
O problema é que a esmagadora maioria dos portugueses não estava representada: os que não vão votar e os que não sabem como fazê-lo. Alguém que fosse capaz de denunciar as falácias com que os guerreiros se atacaram.
Punhamos os pontos nos is nesta história da Câmara Municipal.
Há dois problemas:
a)O criado por uma armadilha policial montada pelos irmãos Fernandes para desgraça de um pato bravo de Braga;
b)O levantado por um dos Fernandes e por mais algumas “forças vivas” sobre alegados prejuízos causados à Câmara pela troca dos terrenos do Parque Mayer pelos da Feira Popular.
O da alínea a) segue os seus trâmites. Pela ordem natural das coisas o pato bravo irá parar à choça, os bufos serão incensados até à exaustão pelas boas almas da “informação”. Para já, não há outros comentários a fazer.
Quanto ao da alínea b) haverá que lembrar:
O negócio foi feito pela coligação PSD/CDS (era Santana Lopes Primeiro Ministro) com o acordo e o aplauso do PS e do BE, gente que, agora, sob a velha/nova e verrinosíssima batuta do impossível João Soares, se apressa a tirar o cavalinho da chuva;
O negócio foi provocado pelo veto do Presidente Sampaio ao casino no Parque Mayer. Sampaio esse que nem precisa de tirar o cavalo da chuva porque tanto ele como o cavalo se encontram a bom recato;
Não há, nem da parte do Fernandes, nem da do BE, nem da do PS, qualquer sombra de legitimidade para pôr em causa um procedimento que aprovaram e aplaudiram.
NB.
1.Como o Irritado tem vindo a sublinhar, o Fernandes é, de todos os lisboetas vivos, o que mais prejuízos causou à CML, mais que não seja através da paralização das obras do túnel do Marquês.
2. O Irritado acha intolerável que, em aberta atitude de traição àquilo a que se julgaria ser fiéis, um tal Meneses e o intriguista Sousa clamem pelo terramoto (queda de Marques Mendes, eleições para a CML…) no PSD, ambos de língua de fora, à espera do chupa-chupa. T’arrenego!
Os meus ouvidos iam estourando de terror. Então não é que o senhor Relvas (grande dirigente e educador das massas do PSD), perante os olhares embevecidos do senhor Carvalho (grande dirigente e educador das massas do PC) e da senhora não sei quantas (aquela que tem enormes dificuldades para pronunciar a palavra Borges), declarou aos sete ventos que, dentro de dez anos, as águas do mar estarão seis metros acima do seu actual nível?
Vinha o dislate a propósito de um estudo terrorista ontem publicitado nos jornais. É evidente que, por muito terrorista que o dito estudo seja, em parte alguma afirma, ou justifica, as sábias palavras do senhor Relvas. O senhor Relvas tresleu a notícia, e resolveu exagerar, achando que lhe ficava a matar. E ficava. O senhor Carvalho e a senhora não sei quantas acharam muito bem. Quem são eles para desdizer uma afirmação que, tão competentemente, contribui para o pavor das pessoas?
O estudo é muito interessante. Sobretudo porque, depois de vastas considerações sobre as alterações climáticas, declara, num assomo de bom senso, que “nenhum cientista arrisca a 100% dizer que o clima está a mudar”.
Pois é. Tanto pode estar como não estar. Entretanto, vai-se dizendo coisas e ganhando algum.
A Terra já aqueceu e já arrefeceu uma data de vezes nos últimos trinta milhões de anos. Já houve não sei quantas glaciações e desglaciações. Tudo isto se passou sem que houvesse CO2, CFC’s, buraco de ozono, muito menos bodes expiatóros de eleição como os Estados Unidos da América, a indústria europeia, as centrais porcalhonas da Rússia, o Fiat 500 do Zé…
Os registos de temperaturas exitentes e fiáveis terão pouco mais de um século, o que, na vida da Terra, nem um nanosegundo será. Nestes termos, terão as afirmações dos terroristas “científicos” alguma sombra de fiabilidade? Deixo a pergunta.
Nos EUA – horroroso poluidor, o maior – não há buraco no ozono. No deserto do Saará, há. Ainda não se lembraram de culpar os peidos dos camelos, mas lá chegarão.
O problema, minhas senhoras e meus senhores, é que as terríficas ideias e previsões dos Relvas e apaniguados fazem correr triliões de dólares pelo mundo inteiro, fazem o senhor Gore ganhar milhões a vender documentários, enchem os bolsos e/ou os egos a centenas de milhar de fulanos que militam em organizações ditas ecologistas.
Ao mesmo tempo, no mundo, há milhões de seres humanos sem condições ecológicas para viver.
Ao mesmo tempo, por cá, ninguém liga aos problemas reais que afectam as pessoas, as celuloses sem filtros que nos dão cabo das ventas, as pocilgas e os curtumes enchem os rios de merda, a vizinha do lado que põe o lixo no patamar, os pombinhos dos jardins que propagam infecções, as sargetas entupidas onde só passam ratazanas…
Preciso é ir chateando, ameaçando, infundindo nos espíritos as mais rebuscadas inquietações, os mais repenicados medos. Dá imenso dinheiro, é politicamente correcto, e fica bem aos novos salvadores da Humanidade.
A tendência para a asneira parece ter tomado, em definitivo, assento nas nossas magistraturas.
O PGR que já lá vai não perdia uma apariçãozinha perante os chamados media. Ele era entrevistas, declarações, comunicados, sei lá. Acabou, como é de timbre, por passar vida a meter o pé na argola. Havia fugas de matérias em segredo de justiça todos os dias. O homem não se continha, ou deixava que os outros se não contivessem. Tenho pena, uma vez que toda a gente diz que é um homem sério e sabedor. Não resistia, e pronto.
O PGR que temos vai pelo mesmo caminho, como o Irritado já teve ocasião de, duas vezes, sublinhar. Estando ainda no princípio do mandato, pode ser que perceba e se contenha. A ver vamos.
A Procuradora Morgado passou anos a matraquear as pessoas na televisão, atirando ao vento acusações das mais variadas naturezas, sem jamais dizer a quem se referia. Puzeram-na no galarim, ou seja, deram-lhe umas batatas quentes para descascar. Muito bem, agora é que vamos ver o que vale a senhora. O bichinho da publicidade, porém, já começou a mordê-la. Os despachos já aparecem na Internet, a pôr em causa a disciplina da organização. A senhora, em vez de guardar a independência e a discrição, aparece em sessões de propaganda do PS.
Uma outra senhora, cujo nome não tenho a honra de ter na memória, mas que é nem mais nem menos que a juíz do Tribunal Constitucional (aquele que tem lá há dois anos, sem decidir, a questão da criancinha disputada por gregos e troianos) que relatou o parecer e desempatou a decisão sobre o referendo do aborto, faz questão de aparecer na mesma sessão do PS, a defender o dito aborto. O que, pelo menos, nos diz que quem escreveu o relatório e o votou não foi um juiz independente, com critérios técnicos e constitucionais, mas uma cidadã interessada em dar, à luz das suas convicções pessoais, determinado destino à decisão a tomar.
É nisto que estamos. Enquanto os agentes da Justiça não perceberem a dignidade do seu múnus, não serão os Parlamentos, os Governos ou as Leis quem endireitará as coisas.
Há dias fui à Câmara Municipal de Lisboa tratar de um assunto. Mandaram-me comprar um documento. A coisa foi relativamente rápida, e eficiente q.b.
Para passar um recibo, a menina pediu-me o número fiscal. Escreveu-o no computador. A máquina escarrou um papel.
- Aqui tem o seu recibinho, senhor Carvalho.
Fiquei banzo.
- Como é que sabe o meu nome, se não mo perguntou?
- Hi, hi, basta pôr o número, e já está.
Na verdade, o recibo tinha o nome completo, a morada, etc.
Calculo que, se menina tivesse carregado em mais algum botão, a máquina cuspiria uma certidão narrativa completa de registo de nascimento, dois ou três extractos bancários, a lista do património, o registo criminal, as últimas multas do estacionamento, a cor das cuecas da mulher-a-dias…
Lá para 2025, ou antes, um fulano baterá à porta do Zé da Silva.
- Sou número 777888999 da FS, Fiscalidade Socrévia.
- B…B… Bom dia. Faça o favor de entrar.
- Você é o 333444555?
- O senhor Fiscal desculpe, mas não compreendi.
- Eu repito, mas não abuse da minha paciência. Você é o 333444555?
O Silva tem uma inspiração. Mete a mão ao bolso, tira um papelinho…
- De facto, senhor Fiscal, o meu número de contribuinte é o 333444555.
- Não é número de contribuinte, é o número, e pronto. Não há outro.
- Com certeza, desculpe, faz favor de dizer.
- No dia 3 de Maio, você foi à Câmara Municipal e comprou uns papéis.
- Exactamente, senhor Fiscal.
- Com que intuito?
- Bom, eu queria pedir autorização para fazer umas alterações…
- Alterações?
- …
- Alterações?
- …
- Pois, não tem resposta, era o que eu pensava, com que então alterações!
- Bem… pois… eu…
- Não sabe que não é permitido alterar a ordem estabelecida? Bom, adiante. Pagou através da conta nº 111222333, do BOP, não é verdade?
- Foi foi.
- E onde é que foi buscar o dinheiro?
- Bem, os meus rendimentos…
- Ah! Tem rendimentos! Bem me parecia. Aliás, não se iluda, consta da base de dados. Vamos investigar em pormenor.
- Qual base de dados?
- É aconselhável não me faltar ao respeito, muito menos às Instituições. Qual base de dados? Então você não sabe que há só uma?
- De facto…
- Adiante. Pediu recibo?
- Pois, bem, é o procedimento normal, não é?
- Concedo. E para que é que quer o recibo?
- Bom, eu, não é, enfim, as minhas contas…
- Aposto que quer deduzir os trinta Euros nos impostos.
- Bem, se for possível…
- Ouça lá, ó 333444555, você acha que eu sou parvo, ou quê?
- Eu, senhor fiscal, eu não acho nada.
- Pois pois, evasão e fraude fiscal. É o que você tem intenção de fazer.
- Eu… eu sou um sujeito cumpridor!
- Sujeito? Você não sabe que sujeito já não existe? Agora diz-se agente hermeniosético concomitante alternativo e homosincrético, conforme imposição da TLEBS. Não aprendeu isso na escola básica? É analfabeto?
- Bom… eu…
- Evasão e fraude. Crime, percebe? Você é um criminoso.
- Mas…
- Não precisa de dizer mais nada. Quem diz sou eu
O 777888999 rapa do PDA e pica notas.
- É só clicar aqui. A coisa vai direitinha ao procurador. De acordo com o Simplopliploplex, dentro de vinte e quatro horas está num campo de reeducação. É o tempo que tem para se despedir da família. Adeus.
A esperança que resta ao Zé da Silva é que o 777888999 aceite uma gorgeta para desclicar o clique. Mas isso não faz parte da história, para não alimentar boatos.
Quando o senhor Melo (se é com dois èles, peço desculpa) disse uns piropos ao senhor Portas, num jantar qualquer, será que passou pela cabeça de alguém que a história fosse dar no que deu?
Então o que o senhor Castro tinha a fazer não era associar-se à justa homenagem prestada pelo presidente do grupo parlamentar ao seu antececessor?
Ai, estes políticos! Parecem principiantes.
Então aquele salzinho (há quem lhe chame cinismo, mas não tem razão), não é o que dá cor à política? E a inteligência, onde anda?
Em doce e profícuo ambiente do que poderíamos chamar “concorrência institucional”, o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) tomou a mui sábia e nobre decisão de ir à China.
A coisa foi devidamente propagandeada. Para a opinião pública, era óbvio que o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) não podia ficar atrás de SEPIIIRPPDAACS. Se Sua Excelência ia à Índia, pois eu, terá declarado o insigne senhor, eu vou à China, que a China é que bom!
Os áulicos, embevecidos, escutaram as palavras esclarecidas do chefe. As chancelarias, prenhes de justificado entusiasmo, trabalharam freneticamente na preparação do evento. Adjuntos, assessores, conselheiros, chefes de gabinete, dedicaram-se, quarenta e oito horas por dia, ao assunto. Contactaram os empresários do costume (se SEPIIIRPPDAACS levar cinquenta à Índia, eu levarei cinquenta e um à China!). E mais. Levarei a cultura! Seis séculos de história não se tratam sem cultura. Venham os do costume, e mais três. Foram preparados tratados, acordos, protocolos, declarações de intenções, reuniões, seminários, contactos, entrevistas. Foram concebidas declarações de elevado alcance nacional e internacional a ser subscritas com a necessária pompa. Vamos a Pekim! Vamos a Xangai! Vamos a Macau! Vamos ao Rai-ki-part! Do lado da imprensa estavam já penteadas sete meninas que seguiriam em missão de intervenções laudatórias em horário nobre.
Enfim, a iniciativa foi publicitada com o profissionalismo e a eficácia em que o governo, honra lhe seja, é especialista.
E… eis senão quando este pobre escriba é informado, numa local com dez linhas a uma coluna do Diário de Notícias que o governo chinês afirma que “não está ainda decidida a data da visita que o gabinete de (Pinto de Sousa) Sócrates anunciou para de 30 de Janeiro a 4 de Fevereiro”. Meu Deus! O Minstério dos Negócios Estrangeiros chinês diz mais: que só “tem conhecimento dos preparativos”. São Pancrácio! Os tipos nem sequer confirmam o convite! Será?
Bom, não sejamos tão críticos, ou tão mal dizentes como é costume. Tudo isto pode ser perfeitamente natural. Não se esqueçam de que os chineses escrevem nuns caracteres indecifráveis e falam uma língua arrevesadíssima. É óbvia a possibilidade de ter havido um erro na interpretação de algum telegrama vindo de Pequim, escrito em mandarim, ou em cantonês, não acham?.
Terão sido os intelectuais da rua da Imprensa quem leu o dito telegrama? Ou foram os das Necessidades? Diz-se que a rapaziada vai andar à trolha por causa disto. Consta que a Betandwin vai abrir uma página especial para apostas a este respeito.
Ou então, então a coisa é mais grave. Se não foi engano na leitura dos telegramas, trata-se de uma inominável ofensa, caso para SEPIIIRPPDAACS convocar o CSDN para deliberar sobre se devemos declarar guerra à China.
Terceira, e última hipótese: o problema é que Pinto de Sousa (Sócrates), na sua histeria propagandística, se precipitou, anunciando ou mandando anunciar um ovo que estava ainda no aconchego da cloaca da galinha. Neste caso, haverá que perguntar:
- Que havemos nós de fazer ao senhor Pinto de Sousa (Sócrates)?
Sei a resposta, mas não digo.
António Borges de Carvalho
EM TEMPO
O que referi sobre o publicado no DN referia-se à edição de ontem. Hoje, o mesmo jornal dedica ao assunto três quartos de página, a cinco colunas. Os esclarecimentos do jornal poderiam levar a uma re-edição do Post. Porém, bem vistas as coisas, melhor será não lhe mexer. A não ser acrescentando que as más línguas do costume dizem que o adiamento, sine die, da visita de Pinto de Sousa (Sócrates) à China se ficou a dever a uma afirmação de SEPIIIRPPDAACS que, em síntese, terá dito que a Índia é que é bom, porque é uma democracia. Isto terá irritado os sino-camaradas e provocado a bronca.
Malhas que o império tece. A cooperação estratégica jaz morta ou arrefece ?
NOTA
Coitado do senhor Amado! O homem até é simpático. Não merece, reconheço, tanta desgraça. O ezebolá acusa-o de hediondos crimes. A dona Ana Gomes ainda o odeia mais que o ezebolá. Só faltavam os chineses para lhe moer o juízo. Daqui, sinceramente, lhe desejo que se safe. Do ezeblá, da dona Ana, dos chineses e, já agora, do senhor Pinto de Sousa(Sócrates):
ABC
APOSTILHA
Hoje de manhã, recebi de um maldizente (t’arrenego!) a seguinte mensagem:
Quer começar o dia bem disposto?
Ligue o computador e crie um ficheiro - um ficheiro qualquer, word, powerpoint, qualquer coisa serve. Titule-o José Sócrates. Agora clique em cima do ficheiro e arraste-o para o lixo. O computador vai perguntar: «Quer mesmo deitar José Sócrates para o lixo?» Responda: «Sim»
Algumas perguntas eventualmente incorrectas, à atenção do senhor V.J.Silva e quejandos:
- Um voo cuja aterragem ou descolagem num ou de um aeroporto é autorizada por quem de direito é um voo clandestino?
- Nos aeroportos onde, devidamente autorizados, aterram aviões, é de norma declarar os nomes dos passageiros?
- É de norma exigir a declaração das razões porque tais passageiros viajam em tais aviões?
- É legítimo impedir ou fiscalizar os voos de aparelhos de um país aliado, num aeroporto com servidões e facilidades militares de tal país, devidamente contratadas e pagas, tudo no âmbito e a coberto de legítimos tratados?
- É culpa dos países onde aterram ou levantam aeronaves de um país amigo e aliado se, em tais meios, são, alegadamente, transportados cidadãos que, em face da Lei do país que exerce soberania sobre o aeroporto, o não deviam ser?
- Tem o Parlamento Europeu poderes judiciários?
- Têm os deputados de um país autoridade moral para pôr em causa os interesses e os compromissos externos do país que os elegeu, sobretudo em nome de interesses de terceiros?
- Quem tudo faz para escamotear o problema de fundo (o terrorismo) obrando outrossim para fazer divergir dele as preocupações da opinião pública, não é, objectivamente, um aliado do inimigo?
A troca dos terrenos do Parque Mayer pelos da Feira Popular foi, há uns dois ou três anos, objecto de terríveis manobras. O Engenheiro Carmona lá conseguiu, à custa de muito jeitinho, convencer o PS a aprovar a coisa, nos termos que o PS exigia. Parecia que tudo estava resolvido. Eis senão quando entra em cena o notável moralista Fernandes. Desata aos gritos que a Câmara tinha ficado prejudicada, e que isto e que aquilo.
Não faço ideia de quem tem razão. A natural antipatia que nutro pelos moralistas em geral, e pelo Fernandes em particular, leva-me a pensar que quem tem razão é a Câmara, mas não vou além disso. Como lisboeta, o que me interessa é o que vejo: o Parque Mayer na mesma, vítima inocente das embirrações do dr. Sampaio, a Feira Popular na mesma, uma lástima, uma vergonha, uma chaga aberta no coração da cidade.
O Vereador Fernandes já deu, com a história do Túnel do Marquês, esclarecimentos suficientes para se perceber que se considera acima da própria moralidade que defende, isto é, que não se acha obrigado a acatar as regras cujo cumprimento pretende impingir aos demais. Liderou uma acção popular que levou à paralização das obras, causou à Câmara prejuízos de muitos milhões e, quando a sua idiota pretensão foi chumbada pelos tribunais, com trânsito em julgado, não teve, para com quem vai pagar o prejuízo (todos nós), uma palavra de desculpa, inda menos pôs a si próprio o problema de lhe competir, pelo menos moralmente, indemnizar a autarquia pelas consequências da improcedente providência cautelar a que deu origem.
Para mim, quanto à moralidade do Vereador Fernandes, estamos conversados. Impiedoso polícia das alegadas malfeitorias de terceiros, não é capaz de olhar para o espelho e ver as suas.
Voltando ao caso do Parque Mayer/Feira Popular, temos agora a questão - grande triunfo do Vereador Fernandes! - da tentativa de corrupção de que diz que foi alvo.
Consideremos que tem razão. O senhor Névoa, patrão de uma tal Braga Parques, ofereceu-lhe a módica quantia de duzentos mil euros, em notas, para não chatear mais. O senhor Névoa é culpado de corrupção activa, na forma tentada. Em princípio, julgada a coisa, vai parar com os ossos à cadeia.
Até aqui, tudo bem. Ou tudo mal.
Tendo por base as descrições dos jornais, vejamos o que se passou. É mais ou menos assim:
a) O senhor Névoa terá sugerido ao irmão do Vereador Fernandes que estaria na disposição de entrar com uns tostões para calar o Vereador (ou terá o irmão do Vereador Fernandes sugerido ao senhor Névoa que sugerisse o que sugeriu? – eis uma legítma dúvida que gostaria de ver esclarecida);
b) O irmão do Vereador Fernandes não disse que não, bem pelo contrário, dispôs-se a "negociar";
c) Foi ter com o mano, e acertaram uma estratégia;
d) Depois, foram à Judiciária e, em frutuosa colaboração, foi montada uma operação tecnológica para, numa série de telefonemas, ou reuniões, discutir a forma, o conteúdo, a origem, os procedimentos para a consumação do acto, isto é, do pagamento da gorgeta;
e) Os irmãos Fernandes e os seus colegas da Judiciária foram arrastando a coisa até ficar de posse do que consideraram suficiente para o passo seguinte;
f) Munidos dos resultados da operação - sobretudo, julgo, gravações de conversas - os irmãos Fernandes trataram de acusar o senhor Névoa;
g) O Ministério Público aceitou como prova os elementos avançados pelos irmãos Fernandes em colaboração com a Judiciária e deduziu a competente ausação.
Lido o acontecido com olhos de ler, o que se passou, e passará, é assim:
1. O promotor, para acelerar o desbloqueamento dos seus projectos imobiliários nos terrenos da Feira Popular, estava disposto, ou foi levado a estar disposto, a pagar uma quantia ao bloqueador;
2. Feita a sugestão, o bloqueador não a recusou liminarmente, como parece que seria sua elementaríssima obrigação;
3. Pelo contrário, em associação com um irmão, e com a colaboração da PJ, tratou de incentivar a prática do crime, aliciando o potencial criminoso a cometê-lo;
4. O aliciado deixou-se arrastar, negociando com os aliciadores os termos e condições para a prática do crime;
5. Os aliciadores muniram-se das provas necessárias ao lançamento da acusação;
6. O objecto passivo da corrupção, com a acusação feita, já obteve e vai continuar a obter inúmeras vantagens e benefícios, pelo menos de ordem política - tempo de antena, espaço informativo, consideração pública, prestígio “moral”, etc.
7. O aliciado vai pagar com a liberdade o facto ter intenção de cometer um crime, o que em si crime é, ou de se ter deixado aliciar para poder vir a cometer o crime que, na verdade, tinha ou teve intenção de cometer.
E aqui temos como um tipo que não paga, nem sequer fala em pagar o que deve à cidade pelos prejuízos que lhe causou, se dá ao luxo de conquistar, em magno alarde de policial vocação, fama e proveito político e social à custa de um fulano cujos “serviços” não recusou quando devia, isto é, quando lhe foram propostos.
Uma última dúvida, ou estranheza: como é possível que um sabichão como senhor Névoa, óbvio conhecedor da cultivadíssima fama do objecto da tentativa de corrupção, se meteu numa alhada destas? Quem aliciou quem em primeiro lugar? Não estaremos, ab initio, perante uma armadilha? Se sim, as armadilhas são legítimas? Ou serão próprias de bérias, görings, anas, coelhos, silvas pais e outros impolutos benfeitores da Humanidade?
Durante o consulado, no PS, do senhor Ferro Rodrigues, ficaram célebres as tiradas malucas da dona Ana Gomes. Cada cavadela cada minhoca. O homem lá foi aguentando os desmandos oratórios da senhora, por ignorância dos assuntos, por ingenuidade ou por solidariedade esquerdista.
O partido (já não sei quem mandava nessa altura), aterrorizado com tanta maluquice, tratou de a mandar, na primeira oportunidade, para longe. E lá a temos no Parlamento Europeu.
Possuída de histérico furor anti-americano, a senhora tratou de arranjar um factotum. Nada melhor que o senhor Coelho, sedento de fama e pletórico de ignorância.
Mas, a partir de certa altura, o factotum deixou de dar conta do recado. Dona Ana queria mais. E vai de fazer investigações privadas – em talento policial faz inveja à CIA, desatar aos tiros contra o governo (do partido dela!) e contra o país que tal governo, para mal dos nossos pecados, representa. O dr. Amado, coitado, até já teve um ataque cadíaco (daqui lhe desejo as melhoras), mas ninguém sabe onde a senhora vai parar.
O mais certo é que, no fim do mandato, o PS se desfaça da sua preciosa colaboração. A senhora voltará, paulatina e triunfalmente, ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde um brilhante futuro está à sua espera. Isto de função pública, apesar de tudo, continua a dar.
O inenarrável Carrilho continua a dar que falar. Desta, resolveu dar com os pés à Câmara de Lisboa, alegando que as suas ingentíssimas tarefas como deputado o impedem de dar à vereação a luz intensa da sua nobre cooperação. Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém ouviu o que o pesporrentíssimo fulano anda a fazer no Parlamento. Só a petulância do homem poderá, julgo, considerá-lo indispensável e utilíssimo. Ou então... ou então o que aconteceu foi que os pêésses, seus ilustres camaradas na vereação, se fartaram dele em definitivo e lhe deram um pontapé no coiso: vai chatear outro! Há quem diga, parece que com foros de verdade, que esta versão está mais perto da verdade do que a da indispensabilidade parlamentar do senhor. Aliás, os jornais do fim de semana dão já a entender que o deputado Martins (chege de fila do PS na AR, que anda às turras com o respectivo presidente) não tem interesse de maior nas prestações parlamentares do camarada Carrilho. Pudera! O homem, a chatear, é uma máquina!
De qualquer maneira, a defecção em apreço é uma boa notícia para os alfacinhas. Um chato, um convencidão que se vai embora, é sempre uma boa notícia.
O pior... o pior é o resto, isto é, o pior são os figurões que por lá ficam, e que já andam à cacetada uns aos outros, a ver quem vai mandar no grupúsculo. Um saco de gatos de morrer a rir. Há um tal Gaioso que não larga a coisa, apesar de já ter sido corrido pelos colegas, até do gabinete que lhe tinham dado no palácio. Alega que era o número dois da lista e que, por isso, quem passa a mandar é ele. A seguir, vem um tal Baptista, conhecido pelo homem do cachecol - um tipo que, de Setembro a Junho, ostenta, qual bandeira de personalidade, um cachecol de lã encarnado, ou bordeaux, não sei bem. O cachecol constitui a principal característica do homem. De resto, que se saiba, nunca fez nada que se visse. Um outro artista, já há dias contemplado numa irritação, escreve feixar em vez de fechar e é especialista em bocas e em manobras intestinas, no partido, na assembleia, na câmara e na maçonaria. Lá se vai safando. Dos restantes, nem pela negativa a história reza.
Uma novela a seguir com prazer. O "Gato Fedrorento", ao pé destes tipos, não tem piada nenhuma.
Aquela senhora do esgar elíptico que trabalha na RTP e costuma interromper as pessoas a meio do raciocínio perguntou ao dr. Sampaio se era verdade que tinha decidido dissolver a Asembleia poucas horas depois de ter dito ao dr. Santana Lopes que não o faria.
O dr. Sampaio respondeu que se tartava de “um processo global”, que o dr. Santana Lopes terá errado em certas interpretações, e que, de qualquer maneira, o assunto “não tem interesse nenhum”. Ou seja, e passe a expressão, o dr. Sampaio fugiu com o rabinho à seringa.
O acto político mais violento jamais praticado por um Presidente da III República, na opinião do dr. Sampaio, seu autor, “não tem interesse nenhum”. Está-se mesmo a ver, não está?
Há os que pensam (com carradíssimas de razão) que se tratou de um golpe de estado constitucional. Há os que pensam que talvez. Há os que pensam que nem por isso. O dr. Sampaio pensa que o assunto não interessa nada a ninguém.
Há momentos em que a verdade salta aos olhos de toda a gente. E a verdade, neste caso, de certeza certezinha, não é a confessadamente inexistente verdade do dr. Sampaio.
Num artigo muito bem explicadinho, o professor Fausto de Quadros, português de origem goesa, vem dizer-nos o que se poderá resumir como segue:
a)A ocupação de Goa pela pela União Indiana foi um acto ilegal em face do direito internacional, devidamente julgado, com sentença transitada;
b)Os habituais acérrimos defensores do tal direito internacional (Timor, Sérvia, Iraque…) esquecem-se dele quando se trata de defender Portugal e os seus cidadãos de origem goesa;
c)O esquecimento é de tal ordem que, mesmo quando o Governo do Estado de Goa se confessa disposto a restituir aos portugueses os bens que lhes confiscou, a III República Portuguesa assobia para o ar e não mexe uma palha a tal respeito.
Ou seja:
A III República Portuguesa que, quando se trata de futebol, enche a boca das gentes com os republicanos “Heróis do Mar”, abomina Portugal e o seu passado quando a defesa dos interesses dos seus cidadãos está em causa.
A III República Portuguesa fez uma barulheira dos diabos com o caso de Timor, mas cala, envergonhada e cobarde, a questão de Goa, em si rigorosamente igual: ocupação do território - ilegal e ilegítima em face do direito internacional - por uma potência estrangeira.
A III República Portuguesa apressou-se, em 1974, a declarar Macau “território chinês”, coisa que os próprios chineses jamais tinham reivindicado, bem pelo contrário – v.g. dicurso do senhor Mao Tsé Tung em 1966.
E não vale a pena dizer mais nada. Ou nos vale o São Pancrácio, ou não há nada que nos valha.
SEPIIIRPDAACS1 prometeu “cooperação estratégica”. A maralha aplaudiu. Pinto de Sousa (Sócrates) ficou calado. SEPIIIRPDAACS cooperou estrategicamente. A maralha aplaudiu. Pinto de Sousa (Sócrates) aplaudiu e retribuiu.
SEPIIIRPDAACS salamalecou-se com o governo no Natal. A maralha aplaudiu. Pinto de Sousa (Sócrates) aplaudiu e retribuiu.
SEPIIIRPDAACS, no ano novo, exigiu resultados. A maralha aplaudiu. Pinto de Sousa (Sócrates) aplaudiu, e retribuirá, não se sabe como.
É que a maralha não sabe que resultados SEPIIIRPDAACS exige. Se os dos aumentos de impostos, se os das vertiginosas descidas em todas as escalas europeias, se os das quebras nas pensões, se os dos estudos da OTA, se os das contas marteladas, se os das SCUTS, se os dos fechos dos hospitais, se os do complicadex, se os das vendas das prisões, se os da OPA do Belmiro, se quê.
Na certeza de que, se o que SEPIIIRPDAACS exige é o relançamento da economia, bem pode ir preparando outro discurso para a maralha aplaudir.
Antóno Borges de Carvalho
1 Sua Excelência o Presidente da IIIRepública Portuguesa Professor Doutor Aníbal António Cavaco Silva
É hábito de socialistas, e não só, louvar a organização, o "pogresso" (como diria SEPIIIRPPDAACS[1]) dos países nórdicos, as delícias da social-democracia, a protecção social, enfim, a felicidade da viquingagem. Nada contra. Cada um louva o que gosta. O distinto pessoal tem por norma esquecer-se, por exemplo, de que, no auge do socialismo sueco, havia cinco por cento da economia nas mãos do estado, tudo o resto era liberal. Um pormenor de somenos.
O distinto pessoal esquece-se sempre de que, na Dinamarca (em toda a Europa, o número dois em produtividade), não há qualquer sombra do que aqui se chama "estabilidade de emprego". Um emprego, por lá, é uma forma de ganhar dinheiro, um passo na carreira de cada um, um degrau que, em princípio, se sobe. Ninguém se casa com o patrão. Este manda o empregado às urtigas sempre que lhe apetece. O empregado, por seu lado, sai quando lhe dá na realíssima gana, e vai à procura do que mais lhe agrade. É comum, normal, natural, um tipo chegar ao fim da vida útil com dez ou vinte empregos no bucho. O contrário é que é estranho. Os sindicatos colaboram com os patrões para aumentar a produtividade e, se a empresa abana, tratam de estudar a forma da a fazer deixar de abanar.
Por isso, sim, não tenhamos dúvidas de que é por isso, ainda que não só por isso, a economia cresce, as ideias tomam forma, os produtos são do melhor, toda a gente paga os impostos e goza dos resultados.
Por cá, a religião é outra. Inspirados pelas repúblicas (a primeira, a segunda e a terceira), pela francesia e pela Constituição, o sonho do portuga é estiolar num empregozinho, mesmo que ordinário, e por lá se deixar ficar até que a morte sobrevenha. A produtividade é a mais baixa da Europa - Europa a 12, a 15, a 25, e não tarda que a 27 - e o governo acha que é aumentando os impostos que se relança a economia. É o "pogresso" na sua mais requintada forma.
Resta-nos o Figo, o Mourinho e o Cristiano. E é um pau.
António Borges de Carvalho
[1] Sua Excelência o Presidente da III República Portuguesa Professor Doutor Anibal António Cvaco Silva.
Os nossos pais ensinaram-nos a respeitar a verdade. Mentir é feio, diziam. A verdade dá ao homem dignidade, altura, qualidade. Os mandamentos das bíblicas tábuas também para aí apontam, passando a verdade a ter valor teológico e a estar no caminho da Salvação.
Pela vida fora, porém, vemos a verdade relativizar-se. Olhamos à volta e encontramos estranhas verdades, que o são para uns e não para outros. Damos com pessoas para quem a verdade é o que lhes convém. Até no sistema penal, o acusado é livre de perorar sobre a verdade que mais conveniente lhe for, o que se compreende mas torna a verdade coisa de somenos. Há verdades que o são hoje e deixam de o ser amanhã, ou que eram mentiras ontem e deixaram de o ser. Há verdades que merecem ter consequências, outras a quem não é conferido tal privilégio. Há coisas que são tidas por verdades, outras, iguaizinhas, que, à partida, são aceites como puras mentiras.
O senhor Fernandes, por exemplo, disse na televisão, a propósito das declarações do doutor Sousa sobra a questão da TVI, que, finalmente, se sabia a verdade, isto é que o senhor Pais do Amaral, de opinião oposta à do Sousa, era um aldrabão da pior espécie. O senhor Fernandes escolheu a verdade que mais lhe interessava, e zás!, passou a ser mesmo verdade.
Nos últimos dias, a alternadeira Salgado, filha de uma offshore, como dizem por aí aleivosas más-línguas, escreveu num livro umas coisas que diz serem verdades. Sê-lo-ão ou não, não interessa para o caso. O que interessa é que o povo, de Norte a Sul, se alimenta das verdades da alternadeira, e gasta milhões para as ler. Os poderes públicos, a começar por Sua Excelência o Procurador Geral da República, dão às verdades da alternadeira direito de cidade, tornam-nas motivo de indignação da República, e decidem investigá-las, o que, quer se queira quer não, dá dignidade e credibilidade às verdades da alternadeira.
Muito bem.
Aqui há uns anos, foi publicado um outro livro, desta vez escrito por um senhor que nunca foi alternadeiro, que ensinava em universidades e que até tinha sido ministro sombra do PS e chefe das relações internacionais da mesma organização. O senhor escrevia, sobre Mário Soares e seus amigos, as verdades que achava serem verdades. Ninguém ligou bóia ao homem. O principal atingido actuou, olimpicamente, como se nada fosse. O procurador geral da República manteve um silêncio sepulcral. A opinião pública borrifou no assunto.
Ou seja, as verdades de um são tidas como podendo sê-lo, merecem investigação e produção de prova, as do outro são descartadas como óbvias mentiras.
A verdade transformou-se numa batata, sem ponta por onde se lhe pegue. Mal de quem queira seguir os ensinamentos parentais, ou as bíblicas prescrições. É capaz de ser preso, ou de ir para o inferno.
Não jogo golfe nem percebo nada do assunto. Não direi, como Eisenhower, que o golfe é the best way to spoil a nice walk, nem farei críticas a quem o joga. Às vezes ouço uns porreiraços a falar golfês. Não percebo patavina. Confesso que a conversa me provoca uma espécie de condescendência caridosa, coitados, não há nada a fazer, são assim, e pronto.
O golfe é jogado por salsicheiros ingleses e senhores portugueses, matronas holandesas e tias da Lapa. É um desporto democrático. Há até quem diga que o dr. Sampaio começou a pensar o golpe de estado num puting e o decidiu no buraco nove. E que a Alexandra Lencastre deu com os pés ao marido por ele falhar o buraco três. Aleivosias de malandrins sem sombra de credibilidade. Repito-as aqui, como se compreenderá, para, veementemente, denunciar e condenar a irresponsabilidade da boataria.
Reconheço que o campestre desporto deve ser um bom pretexto para estar com uns amigos, dizer umas piadas, dar umas passeatas e comer um bom almoço no aftermath da refrega. Neste aspecto, até tenho uma certa inveja. Lá para as américas, há uns tipos que ganham triliões com a coisa. Mais inveja tenho. Porque é que não nasci um Tiger Woods qualquer, mulatinho mas podre de bago?
Possuído destes péssimos sentimentos, e vindo de Campo de Ourique, passava há dias pelas Torres das Amoreiras, onde trabalhei uma data de anos. Mesmo em frente, a fechar o green do depósito da companhia das águas, lado Nascente, uma construção estranha, nem bonita nem feia nem antes pelo contrário, dois andares de boxes ao jeito cavalar, umas casinhas – a meu ver bares e instalações sanitárias – e, ao longo das margens do herbáceo terreno, umas torres esquisitas, de ferro ou equivalente, aos quadradinhos.
Veio-me à lembrança um velho e excelente companheiro de lutas empresariais, de seu nome Augusto Ramalho Rosa. A despropósito, no meio de uma reunião, num salão que havia no alto da Torre 2, ao olhar o abandono em que estava a cobertura do depósito, Ramalho Rosa disse-me que aquilo era o sítio ideal para um campo de putings(?), ou seja, para uns tipos darem umas cacetadas numas bolinhas, a fim de treinar para outras cacetadas mais ambiciosas. Achei a coisa inteligente, imaginativa, embora não a percebesse lá muito bem.
Anos depois, a ideia aparecia construída. Ainda bem, pensei, há uns tipos que conseguem realizar coisas nesta cidade de pacóvios. E fiquei à espera de ver os porreiraços à porrada às bolinhas, à hora do almoço e depois de sair do escritório.
Baldada espera. A coisa construíu-se, ficou prontinha, e nada! Hoje as boxes enferrujam, está tudo porco, a relva abandonada, as torres de ferro para ali, como dedos espetados de gigantes enterrados, a apontar para o espaço sideral. Resta a torreca do Aqueduto, ainda pintada (única torreca pintada, que as outras, fora do infeliz empreendimento, estão ao abandono, por certo vítimas do IPPAR), e pouco mais.
Que terá acontecido?
O que aconteceu, minhas senhoras e meus senhores, foi mais uma magnífica demonstração dos resultados da chamada democracia participativa, boutade constitucional de dramáticas consequências.
Passo a explicar:
Os promotores da coisa obtiveram, da companhia das águas, da câmara e das outras quatrocentas e vinte e duas organizações, públicas e privadas, com voto na matéria, as necessárias autorizações. Fizeram aprovar os trezentos e trinta e oito projectos que, naturalmente, são impostos. Obtiveram as respectivas licenças. Construíram a golfosa facility. Sujeitaram-se à oitocentas e setenta e duas vistorias que a lei postula. Tudo nos conformes, as boxes, as torres, as redinhas transparentíssimas que impediam que os passantes levassem como bolinhas no toutiço, os bares, as casas de banho, a casota do porteiro, os buracos, sei lá.
E, no entanto, ao contrário do que diria Galileu, a coisa não se move. Não. Está parada, enferruja, há-de cair um dia sem que ninguém lhe acuda.
Porquê?
Porque, minhas senhoras e meus senhores, houve um abaixo assinado de uns moradores das torres, marqueses e patos-bravos, advogados e cavalheiros de indústria, embaixadores do terceiro mundo e artistas de variedades, comerciantes barrigudos e meninas esterlicadas, banqueiros e empreiteiros, a exigir à câmara o fim da abominável construção, cujas transparentíssimas redes impediriam as vistas do Tejo aos andares de baixo, dos quais talvez se visse, e continuaria a ver-se, uma nesguinha do dito. A câmara cedeu, não sei se de motu próprio se por intermédio de alguma providência cautelar, e lá se foi a alegria dos porreiraços, as cacetadas nas bolinhas, os púcaros no bar…
Ficou a cidade com mais uma ruína, tão do agrado da filosofia triunfante, ainda há dias lapidarmente defendida pela dona Helena e pela dona Maria José na SIC Notícias.
As pessoas elegem o Presidente, o Parlamento, mais a câmara, mais a junta. Legitimidade democrática. Legitimidade, mas pouco, que a “democracia” participativa está ali, para infirmar as decisões da outra, a liberal, coisa abominável para muita gente, do doutor Oliveira Salazar à dona Helena e ao camarada Jerónimo.
Não se pense, nem por sombras, que a democracia participativa foi uma invenção de esquerdistas para legitimar os desmandos dos sindicatos e das comissões de moradores. Marqueses e patos-bravos, advogados e cavalheiros de indústria, embaixadores do terceiro mundo e artistas de variedades, comerciantes barrigudos e meninas esterlicadas, banqueiros e empreiteiros, são exactamente iguais aos tipos de PC, quando se trata de fazer barulho.
O mais grave, minhas senhoras e meus senhores, é que as autoridades, no espírito, diga-se, de inelutáveis princípios constitucionais, cedem a esta gente, mesmo que, depois, venham a ter que pagar aos lesados monumentais indemnizações, saídas do bolso de todos nós, que não moramos nas Amoreiras, não jogamos golfe, nem temos nada a ver com o assunto.
II
Em tempos havia, em São Pedro de Alcântara, um lindíssimo miradouro, regalo de Lisboetas e turistas, que dele disfrutavam uma vista única sobre a cidade velha.
Aqui há uns anos, não sei porque carga de água, começou a constar que o local estava num estado miserável, que era uma vergonha para todos nós, que precisava de obras de "requalificação", de urgente intervenção das autoridades (julgo que da câmara e do IPPAR) e que blá blá, pó pó, etc.
Bom. Tratei de ir ver a coisa. O jardim estava mal tratado, é verdade, mas há algum jardim bem tratado em Lisboa? As esculturas precisavam de limpeza, mas há, em Lisboa, alguma que o não precise? Alguns bancos de pedra estavam semi-partidos, mas há algum jardim em Lisboa que não tenha bancos partidos? As árvores precisavem de umas podas, mas há alguma árvore em Lisboa que não precise de podas? As sargetas estavam entupidas, mas há alguma sargeta em Lisboa que não esteja entupida? Facto é que a vista se mantinha, que a sombra das árvores lá estava, que a balaustrada, algo ferrugenta, não deixava de dar para as pessoas se encostarem a ver a paisagem, que havia meninos e meninas aos beijinhos nos bancos, turistas a tirar fotografias, uma vendedeira de castanhas no honesto exercício do seu nobre mister, enfim, a coisa funcionava como a generalidade das coisas em Lisboa, isto é, funcionava mal, mas funcionava.
Foi este, garanto, o resultado da minha facts finding trip.
Fiquei contente por saber que as mui distintas autoridades se preparavam para "requalificar" o local, dando de barato a justeza da prioridade dada ao assunto.
As obras começaram há cerca de dois anos. Desde logo, verifique-se o extremoso cuidado que as ditas autoridades, sejam elas quem forem, tiveram no planeamento da obra. Diriam os estúpidos como eu que a execução se deveria fazer em duas fases, isto é, que se devia pegar em metade do miradouro, tratá-lo, e depois passar à outra, a fim da não privar as pessoas, a cem por cento, do gozo da coisa. Nem pensar! Puzeram lá um tapume a impedir o acesso, uns contentores a dar cabo do trânsito, e pumba!, vai disto: partiram aquela porcaria toda, escavacaram o que lá havia, e pronto.
Uns dois anos depois, lá está o tapume, os contentores, o jardim escavacado, um caos, uma merda. Não sei se as obras pararam por ter sido encontrada nos escombros alguma gravura fugida de Foz-Côa, se deram com as ossadas do Dom Fuas Roupinho, se o empreiteiro se zangou com a amante, se o Sá Fernandes intentou alguma acção popular, se o presidente da câmara se constipou, se quê. O que sei é que ninguém trabalha nas obras há meses e meses, que ninguém pode mais ver as vistas, que a senhora das castanhas assadas foi para o desemprego, que as meninas têm que procurar outro sítio para dar beijinhos aos meninos. Uma desgraça.
Olhai, senhores, esta Lisboa de outras eras. Já não há cinco reis, já não há esperas, nem há toiradas reais. Já não há festas, nem seculares procissões, nem populares pregões matinais, que já não voltam mais. Nem há Jardim de São Pedro de Alcântara, nem miradouro, nem banquinhos de jardim, nem beijinhos, nem castanhas assadas. Vá-se lá saber porquê.
III
Ali mesmo ao pé, um machimbombo, que foi amarelo mas agora está submergido em cartazes, debruça-se perigosamente sobre a Calçada da Glória.
Rezam os cartazes qualquer coisa do género "Elevador da Glória", "Gloria funicular", em reparação, "works".
Também deve dizer desculpem a maçada, ou sorry for that, mas isso não me lembro de ter lido. Nem li mais, a coisa chateia-me e chatices já tenho com fartura.
Encantado. Tudo bem. O problema é que o machimbombo está assim há mais de um ano.
Com certeza preocupada com a eventualidade de algum bando de turistas cair de escantilhão pela encosta abaixo, ou prevendo que os tipos das obras do túnel do Rossio se enganem no buraco de modo a aparecer algum combóio da linha de Sintra no cruzamento da rua da Glória, junto ao sex-shop do Paladium, a Carris, sorry pela demora, parou o elevador há que eras, e pronto. Quem quiser que vá a pé, que é bom para a saúde, ou que se deixe de parvoíces, que isso de ir dos Restauradores à Misericórdia em cinco minutos não passa de pura estultícia.
Talvez não tenha razão, e seja de presumir que a reparação do machimbombo se revista de altíssima complicação tecnológica.
Da minha humilde tribuna, e sempre, sempre, numa postura colaborante, pro-activa, prospectiva e positiva (ai o português do sec. XXI!), sugiro que se contacte imediatamente o senhor Bill Gates, ou que se enquadre a coisa nos acordos om o MIT, a fim de obviar às dificuldades científicas com que, por certo, se debatem os engenheiros da Carris.
Eis duas estrofes de um fadinho brejeiro, sobre a História de Portugal, em tempos cantado em tascas e liceus, para gáudio da rapaziada. Tudo brincadeira, como é óbvio, e com uma certa graça.
Hoje, dada a cultura histórica fornecida pelas escolas e a qualidade do consequente jornalismo, faz-se o mesmo, só que a sério e sem piada nenhuma.
Segundo o semanário "SOL", o Martinho da Arcada abriu em 1822, em pleno reinado de Dona Maria Primeira, quando o Terreiro do Paço, por iniciativa de Pina Manique, era iluminado com candeeiros de... azeite.
A Senhora Dona Maria Primeira deu a alma ao Criador em 1816. Entre esse triste acontecimento e a abertura do Martinho da Arcada, reinaram os Senhores Dom João VI, Dom Pedro IV, Dom Miguel I, Dona Maria II, Dom Pedro V e Dom Luís I. Não é certo que o bisavô do Intendente Pina Manique já fosse nascido no tempo da Senhora Dona Maria Primeira, a qual, por irrefutável fatalidade da natureza, jamais pôs a vista no citado intendente. Quanto à iluminação a azeite...
II
A dona Fernanda Serrano, num arroubo místico, confessa-se "budista, católica e hindu".
Imaginem a cena: a fulana, sentada no chão, pernões escancarados e pernas cruzadas, num nirvânico delíquio, contempla os trinta e dois braços de Shiva, pede a Visnú que lhe conserve os peitinhos, e reza uma Avé Maria não vá o resto não funcionar.
Desta humilde tribuna, recomendo umas conchinhas para os orixás, uma visita à mãe-de-santo, umas leituras do Corão, umas benzeduras do reverendo Jackson e, porque não?, um rendez-vous com o Professor Karamba.
III
Pelo punho do Professor Sousa ficámos a saber que o insigne, ribombante e tonitruante secretário de Estado Magalhães (um que abandonou o barco do PC logo que as tropelias do senhor Gorbachev começaram a fazer adornar o “sol do mundo”, lembram-se?) é o feliz proprietário da melhor fazenda de Ilhéus, no Brasil, onde cultiva cacau clonado(!?). Ainda segundo o professor Sousa, o nosso diligente governante tem como colegas, naquela zona dos trópicos, os senhores Américo Amorim e João Vaz Guedes.
Quem não conheça o professor Sousa poderá pensar que a notícia está cheia de veneno. Mas, conhecendo-o, e sabendo que o veneno não está (nunca esteve!) na ponta da sua caneta, haverá que tomar a notícia por boa e felicitar o senhor secretário, pela iniciativa e pela companhia.
De seu nome Miguel. Aparatchik emérito, ficou célebre quando apresentou uma moção a exigir o "feixo"(sic) da CRIL. Para além disso, é o chefe do partido do senhor Pinto de Sousa (Sócrates) em Lisboa. À segunda, vai votar Cavaco. Fez tudo o que podia para acabar com o túnel do Marquês. Depois recuou, já o aceita, mas só até à Castilho. Correu com um seu camarada da Câmara. Detesta o Carrilho, mas aguenta que é serviço. Há-de ser deputado até morrer. Quem se puzer à frente está frito.
COELHO DOIS
De seu nome Carlos. Aparatchik consagrado, especialista, dizem os admiradores, em carregar com a pasta dos ministros. Saíu da obscuridade pela mão amiga da dona Ana Gomes, com quem se associou em tarefas pidescas. Sonha com o colapso de George W. Bush. Frequentador habitual dos aviões da CIA, onde, dizem as más línguas, viajava de borla, testemunhou os desmandos dos americanos, que não tratavam os tipos da alcaida com a devida deferência. Ganhou clebridade global, constando que o Mendes se quer ver livre dele mas não tem guts que cheguem.
COELHO TRÊS
De seu nome Jorge. Aparatchik de altíssimo coturno, especialista em tiradas tonitruantes com grande sucesso junto das massas ignaras. Tendo-se remetido a uma semi-disponibilidade, dedica-se a expender opiniões anodinas e abstrusas. Foi ministro, não se lhe conhecendo obra, mas gabando-se-lhe a digna passagem ao esclarecimento das bases. Feroz adepto da OTA, foi substituído no partido pelo senhor Pinto de Sousa (Sócrates). Consta que está na maior.
COELHO QUATRO
De seu nome Pero. Aparatchik medieval, adorava matar Ineses, o que lhe deu um lugar lendário na história de Portugal. O seu coração foi deglutido com castanhas - à época não havia batatas - perante os emulados cortesãos do Senhor Dom Pedro.
COELHO CINCO
De seu nome À Caçadora. Pronuncia-se coâlho na mourama, e coêlho a partir das beiras.
É um coelho bom, ao contrário de outros do mesmo nome.
Antigamente, comia-se, acompanhado de tinto e de fadunchos, num sítio - logo a seguir à Calçada de Carriche, hoje pasto de mamarrachos - carramanchão e tudo, chamado Retiro do Caçador (a caçadora era a mulher do caçador).
Quando o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) era ministro do ambiente, avançou com a ideia da co-incineração. Havia demasiada porcaria industrial acumulada, era preciso acabar com ela.
Achei bem. Cheguei a escrever uma carta ao lider da oposição (dr. Barroso), a recomendar-lhe que não se deixasse arrastar pelos gritos dos chamados ecologistas, pelas lamúrias demagógicas do senhor Alegre (de Melo Duarte, por parte do pai), que não desse ouvidos aos bailaricos dos presidentes de junta com as presidentes de câmara, enfim, a explicar-lhe que era preferível, guardadas certas cautelas, queimar os resíduos do que continuar a deixar por aí milhares de toneladas de perigosa trampa. Como é óbvio, e de timbre em Portugal, a minha carta não mereceu sequer um aknowledgement por parte do seu ilustre destinatário. Mas ficou dito, e a minha consciência tranquila.
Foi-se o inefável Guterres, e com ele o Pinto de Sousa (Sócrates). Veio o dr. Barroso. Acabei por ter que lhe tirar o chapéu: o homem descobriu outro sistema qualquer que, levando aos mesmos resultados, parece que era mais limpo, ou coisa que o valha. Os municípios aceitavam, o preço, diz-se, era razoável, e até os ecologistas gostavam! A coisa entrou em preparação. Veio o dr. Santana Lopes, e força, para a frente é que é o caminho!
Depois do golpe de Estado, o seu beneficiário (Pinto de Sousa – Sócrates) tratou de deitar tudo fora. Alto, que isto vai ser como eu quero! É a co-incineração, e acabou-se! Esta espantosa demonstração de teimosia, ou arrogância, ou estupidez, ou autoritarismo saloio – de que os portugueses tanto gostam – levou a que se deitasse no caixote do lixo o que já se tinha gasto com o sistema Barroso. As cimenteiras deram fogo à peça, isto é, começaram a queimar a trampa.
Acho muito bem que se queime a trampa.
A análise retrospectiva, prospectiva e hermenêutica desta importante matéria leva a concluir:
a) que o importante não é desfazer-se da trampa;
b) que o importante não é encontrar o melhor meio para se desfazer da trampa;
c) que o importante é satisfazer as vontadinhas do senhor Pinto de Sousa (Sócrates);
d) que se deitou ao mar uma pipa de massa;
e) que as cimenteiras estão muito contentes;
f) que o que for se verá.
Já não sei quem dizia que “o sono da razão engendra monstros”. Mas sei que tinha toda a razão.