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irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

VIVA O CADAFI!

 

 
Não sei porque raio de carga de água há portugueses que, em matéria de segurança e defesa, se atrevem a não estar optimistas.
O Irritado, sempre atento ao que dizem os jornais, está pletórico de entusiasmo, sente-se absolutamente seguro, acha que, finalmente, mercê da genial política externa do senhor Pinto de Sousa, não há qualquer motivo para inquietações no que à nossa segurança diz respeito.
Na senda gloriosa da diversificação de relações de amizade com parceiros criteriosamente escolhidos – por exemplo, o camarada Chávez – o nosso governo acaba de subscrever um “memorando de entendimento” com o prestável senhor Cadafi, rapaz apreciado universalmente pelo seu brilhante currículo político e filosófico e pelo valioso contributo que tem dado à segurança internacional.
Por isso que, naturalmente, seja de louvar que o senhor Pinto de Sousa, dos vários campos à disposição, tenha escolhido o da segurança e defesa para se “entender” com o senhor Cadafi.
O ministério do senhor Papiniano, ou Aureliano, ou lá o que é, informou o povo: o Estado português subscreveu, com enviados do senhor Cadafi, um documento que vai enquadrar e estreitar as relações bilaterais “no âmbito de segurança e defesa”. “Troca de experiências sobre política de defesa” (por exemplo, abate de aviões civis), “operações de manutenção de paz” (por exemplo, eliminação de agentes perturbadores), “formação e ensino militar” (por exemplo, preparação da guerra santa),  “armamento e equipamento militar” (por exemplo, fabrico de bombas de fragmentação), são alguns dos campos em que os dois países vão estreitar as suas relações e partilhar experiências.
Esta “importante etapa no relacionamento bilateral” vai ser implementada, como se diz agora, por uma “comissão mista”, que programará a “cooperação no domínio da Defesa”.
 
Assim, ó portugueses, é que se prepara o futuro! Para já, os enviados do senhor Cadafi vão inteirar-se, em visitas múltiplas, de tudo o que se faz em Portugal neste domínio, tanto do ponto de vista ideológico, como estratégico e industrial. O nosso país vai passar a vender armas que serão usadas em conflitos para a resolução dos quais, depois, se mandarão umas tropas de elite e uns polícias. É o que se chama gestão de recursos. De facto, se não houvesse conflitos, não se mandava tropa para o estrangeiro. Na falta deles, há que apoiar quem os provoca e arma, para a seguir poder demonstrar ao mundo a disponibilidade da Nação para defender a paz.
 
Estamos todos de parabéns. Pinto de Sousa vela por nós.
 
António Borges de Carvalho

LUCAS PIRES

 

As caridosíssimas e inteligentíssimas almas do costume desdobram-se em elogios ao Doutor Francisco Lucas Pires, no décimo aniversário da sua morte.
Grande europeista, democrata de fina têmpera, professor emérito, grande homem…
Por estranha coincidência, a esmagadora maioria dos senhores em causa faz parte daqueles que passam a vida a invectivar os perniciosos efeitos desse autêntico demónio em figura de ideologia que se chama liberalismo ou, à moderna, neo-liberalismo, e a confessar o acendrado terror que tal coisa lhes inspira.
Esquecem, como é normal e sério, que foi o Doutor Lucas Pires o primeiro, e único, líder partidário que, desde o golpe de Abril, se atreveu a concorrer a eleições defendendo opções liberais. Passou-se isto em 1985. O CDS desceu 4 pontos, e teve 11%. O Doutor Lucas Pires demitiu-se (fez mal), sucedendo-lhe o Prof. Adriano Moreira, inimigo confesso e declarado das opções de Lucas Pires.
Depois da golpada eanista, via moção de censura dessa coisa que nos aconteceu e se chamou PRD, em novas eleições (1987), o ilustre professor teve o espantoso score de 4%, e não se demitiu. O CDS passou a saco de gatos, piristas, adrianistas, freitistas e não sei mais quê.
 
Seja-me permitido homenagear o Doutor Francisco Lucas Pires, acima de tudo pelo que fez e defendeu e não por ter feito e defendido o que as caridosíssimas e inteligantíssimas almas acham que, a benefício póstumo, lhes fica bem dizer agora.
 
António Borges de Carvalho

ISENÇÃO II

 

 
Veja-se mais esta, do “Diário de Notícias de 30 de Maio:
Debruça-se o jornal sobre a importantíssima questão de saber como é que os líderes partidários vão de casa a São Bento. E conclui:
- O senhor Louça, como mora no Marquês de Pombal (certamente num 6º andar sem elevador nem casa de banho, digo eu), vai de autocarro;
- O senhor Pinto de Sousa (Sócrates) vai a pé de palácio a palácio, coitadinho;
- O senhor Portas vai “num Volvo S80 2.0, a gasóleo.” (a gasóleo, importante pormenor);
- O senhor Jerónimo vai num Renault Laguna, mais uma vez a gasóleo.
- O senhor Martins, como mora na Praça das flores, vai a pé;
- Finalmente o senhor Santana Lopes, que mora na Av. de Roma, “desloca-se num BMW
O sublinhado é meu. A insinuação que as reticências claramente expressam é do Diário de Notícias. O que se quer dizer é que todos se deslocam, ou a pé, ou de qutocarro, ou em miseráveis Volvos ou Renaults a gasóleo. Só Santana Lopes, o malandro, o canalha, o payboy, vai de BMW! Não se sabe se se trata de um 316 em segunda mão, que pode valer 5.000 euros, ou de um 745, que custará 150.000. Trata-se de um BMW, com reticências a seguir…
Está tudo dito quanto à “isenção” e à “honestidade” desta gente.
 
António Borges de Carvalho

ISENÇÃO

 

 
Um bom exemplo de isenção na chamada comunicação social:
 
Jornal “Público” de 29 de Maio:
 
A dois dias das eleições no PSD, chamada e fotografia na primeira página “Ferreira Leite, a idade é um problema? P2”. Vamos ao P2. Primeira página, outra fotografia da senhora; página 6, fotografia da senhora em campanha, a cinco colunas, meia página; em “caixa”, as idades em que se chegou a primeiro-ministro durante a III República. Lá estão todos. Todos não! Santana Lopes não consta.
 
Quanto a “isenção”, respeito pela verdade, independência editorial, estamos conversados.
 
António Borges de Carvalho
 
 

NEO-SOCIALISMO SOARISTA

 

 
Lá do assento etéreo onde subiu, docemente reclinado no argênteo fauteuil que o Estado trás de aluguer ao próprio para exclusivo uso do próprio, o Presidente Soares, referência máxima da III República, pai da II democracia portuguesa (a primeira foi a Monarquia Constitucional), com palavras duras, desafiou a camaraderia a que pertence a ter “vontade política”, porque há muito a fazer para debelar a pobreza, acabar com as desigualdades, etc.
 
Ou seja, perante os problemas sociais que o socretinismo arranjou e de que a candidata à liderança do PSD têm feito exclusiva bandeira, como Soares confessa, o governo, na sua esclarecida opinião, tem que fazer “uma reflexão profunda”, “actuar com políticas eficazes e bem compreensíveis para as populações”, “avançar rapidamente na resolução das questões essenciais”.
Não diz que medidas, nem que políticas, nem que avanços, nem nada que se pareça. Demos isso de barato.
O objectivo do senhor não é esse. Espremido o escrito, o que o senhor pretende é condenar veementemente o “neo-liberalismo”, o senhor Bush, o senhor Blair, a “globalização neo-liberal”, “fortalecer o Estado para os tempos que aí vêm e não entregar a riqueza aos privados”.
O Dr. Álvaro Cunhal, se ainda por aí andasse a promover a ditadura do proletariado, não desdenharia subscrever estas doutas opiniões.
Longe vão os dias em que o Presidente Soares opinava que “o que é preciso é acabar com os pobres, não acabar com os ricos”. Nesses tempos heróicos, ele percebia a mensagem, de que agora faz bandeira, dos países nórdicos. Hoje, se calhar com a idade, deixou de perceber. Os países nórdicos jamais “fortaleceram” o Estado, pelo menos no sentido em que ela aplica a expressão. Fortaleceram a economia liberal, “entregaram a riqueza aos privados”, e criaram políticas públicas de equilíbrio social. Ou seja, praticaram um capitalismo liberal, e social, se se quiser. O capitalismo liberal, “a vida”, como há quem defenda com carradas de razão, é o capitalismo limitado pela Lei (não pelos despachos dos ministros, à boa maneira africana). Não tem a ver com o neo-socialismo, que inspira o PS e nos levou onde estamos. O nosso verdadeiro cancro, o nosso drama, é esse neo-socialismo, bebido no pior que o 25 de Abril trouxe e aggiornato pelo cavaco-socratismo. Não é, com certeza, o neo-liberalismo, que ninguém sabe exactamente o que é, para além de bode expiatório que a esquerda inventou para justificar os seus próprios erros e falhanços.
 
A senhora Tatcher deu com os pés ao poder político dos sindicatos e deitou o socialismo para o caixote do lixo. Isto, enquanto se entretinha a pôr os argentinos nos varais e a acabar com a União Soviética. O Reino Unido passou de um país mergulhado em dificuldades a um dos mais prósperos da Europa. O senhor Aznar (até o camarada Gonzalez o tinha intuído!) aplicou receita semelhante. Os resultados são conhecidos, e não é o neo-socialismo do senhor Sapateiro que, destruindo-os, lhes retira o mérito.
 
Mas o senhor Presidente Soares, inspirado pelo anti-americanismo que lhe enche os derradeiros tempos, fiel às cartilhas que costumava meter na gaveta, vem alertar os seus camaradas e a sociedade em geral contra os monstros que, parece, lhe perturbam o sono. Tinha obrigação, acha o Irritado, de ter alguma lucidez, se não em relação ao estado do mundo, pelo menos no que diz respeito às causas dos problemas que diz querer ajudar a resolver.
 
António Borges de Carvalho
 

VEM AÍ O RACIONAMENTO!

 

Atenção, rapazes! O governo do senhor Pinto de Sousa anda para aí aos gritos que a situação não aponta para racionamentos, que todos os racionamentos são ilegais, que cuidado com os açambarcadores, etc. por aí fora.
 
O que é que isto quer dizer? Quer dizer que vem aí o racionamento.
É como a economia. Num dia, estávamos a crescer que nem uns doidos. Uma semana depois, pumba!, era tudo mentira, que não, que a conjuntura, que o subprime, que o caneco, afinal não estávamos a crescer, as previsões estavam certas, só que não se verificaram, não é?
É como as portagens. Num dia, jamais faremos os portugueses pagar portagens nas SCUTS! Meses depois, pumba!, é só construir as infra-estruturas e vamos lá mas é a pagar, pois então!
É como os impostos. Não, meus caros concidadãos, jamais aumentaremos os impostos, berrou o senhor Pinto de Sousa durante meses. E vai daí, pumba!, a maior subida de impostos da III República!
 
Isto é um país governado pelo neo-socialismo, gaita! Que é que queriam?
 
Quando um governo como este diz que não vai haver racionamento, quer dizer que vai haver racionamento. Daqui a dois dias, duas semanas, dois meses? Logo se verá. Entretanto, não açambarquem muito, ó gentes! Só um bocadinho…
 
António Borges de Carvalho

EM PROL DA PAZ

 

O Ezebolá, injustamente acusado de terrorista pelos neo-liberais protofascistas da União Europeia, é uma organização indispensável à conquista da “paz” no Líbano. A Síria e o Irão não se metem na vida do Líbano mais do que o razoável. O senhor Bush e os seus aliados são muito mais perigosos que a Síria e o Irão, dois pilares da “paz” na região. O Ezebolá entra para o governo, e muito bem, porque a oposição, assim, passará a ter “direito de veto sobre as decisões”, numa demonstração clara do que é a democracia bem entendida e numa grande derrota da “estratégia do Império”. Aliás, o Ezebolá tem todo o direito a ter uma rede de comunicações própria, a fim de poder ser um poder independente, à revelia e à sucapa dos poderes eleitos. E muito bem, assim é que é.
 
Estas são as luminosas opiniões do senhor Portas (Miguel). Assim se vê o que vai nas cabecinhas do Bloco de Esquerda. Só quando os intelectuais da coisa entrarem para o governo, com direito de veto, pois claro, é que a grei encontrará verdadeiros defensores da “paz” e do progresso da Nação. Consta que o senhor Portas (Miguel) já tem preparado um tratado de amizade, consulta e crude com os doces aitolas, outro com o pacífico Ezebolá, para dar a volta às nossas relações externas logo que chegue a ministro dos negócios estrangeiros. Quando o camarada Louça for ministro do interior, todos os grupos armados, coitados, que, de momento só podem actuar no Bairro Alto e em zonas “marginais”, passarão a ter direito a comunicações privadas e acesso aos mercados de armamento que os acordos do camarada Portas (Miguel) porão à sua disposição. Desde que sejam de esquerda, como é lógico, legítimo e natural.
 
I can hardly wait!
 
António Borges de Carvalho

MALANDRICES ORTOESTÚPIDAS

 

 
O SOLcrates, e não só, embandeira em arco com a passagem do acordo ortográfico no parlamento. Está de parabéns o ministro da cultura, dizem os socretinos.
 
Que diabo, é um feito! Dar cabo de uma língua com mil anos não é tarefa fácil. Em vez de proteger o português de Portugal, que, com pequenas variantes, se fala e escreve em todos os países da CPLP e, mais (a)variado, se fala e escreve no Brasil, o governo escolhe subordinar, sem nenhuma espécie de lógica, a malta toda ao Brasil, descaracterizando a língua, a maneira de a escrever e a sua notabilíssima coerência ortográfica, fonética e sintáctica.
Nenhuma das pátrias-mãe das outras línguas europeias de expressão global se preocupa com este assunto. Toda gente sabe que defesa se escreve “defense” no Reino Unido e “defence” nos EUA, ou vice-versa, isto para só citar um exemplo entre centenas deles. O castelhano é falado e escrito em 20 versões diferentes, reconhecidas por Castela. O inglês em 19, que os ingleses não têm problema nenhum em aceitar. O francês em 15, coisa de que os propagandistas da francofonia se orgulham. É a partir desta diversidade que as respectivas línguas se enriquecem, que o entendimento entre os falantes se mantém, que se respeita a livre evolução de cada um. À pátria-mãe compete manter, intacta mas evolutiva, a língua que fala, como referência e padrão base para os demais.
 
Errado não é que os brasileiros tenham assucatado a língua à sua maneira. Estão no seu direito. Errado é que Portugal se empenhe nesta porcaria do acordo ortográfico em vez de o fazer em acordos comerciais e culturais que permitissem que os livros portugueses chegassem ao Brasil na sua versão original, sem “correcções” ortográficas ou de outra natureza, que permitissem que os nossos editores pudessem vender no Brasil, e vice-versa, claro, e que as comunidades pudessem comunicar sem dificuldades, nem entraves, nem achincalhamento da sua língua, na versão que usam e de que têm direito a orgulhar-se.
Todos nós compramos livros americanos na Amazon.uk, ou ingleses na Amazon.us, ou nas livrarias de Londres, Paris ou Nova Iorque.
Só os portugueses são obrigados a “traduzir” as suas obras para “brasileiro”, a arranjar um editor no Brasil, a não alargar os seus horizontes. Quanto a isto, o acordo ortográfico nada diz. Continuará tudo na mesma.
 
Resta a esperança que, à semelhança de tantas leis, esta também venha a ser “abolida” pela prática social, isto é, que os portugueses, os brasileiros e todos os outros borrifem no acordo e continuem a escrever como sempre o fizeram, sem alterações que, para além de demonstrativas de uma subserviência repugnante, o são também de uma estupidez poderosa e destrutiva.
 
António Borges de Carvalho

JORNALISMO MERDOSO

 

 
O notável pasquim chamado SOLcrates, não sabendo o que havia de fazer mais para prejudicar Santana Lopes, resolveu encomendar um “estudo” aos seus jornalistas de “investigação”. Não, não foi uma sondagem, nada disso. Foi um périplo, dizem eles. O SOLcrates auscultou opiniões pelo país fora, a fim de, com certeza conforme instruções prévias, descobrir que a dona Manuela e o Coelho vão à frente, “ombro a ombro”, e que Santana Lopes vai atrás. Tudo ao gosto do senhor Pinto de Sousa e do arquitecto Saraiva.
Assim se faz jornalismo, não “de investigação”, mas “de auscultação”. Registe-se a nova modalidade.
 
Se, a isto, acrescentarmos o cartoon do idiota encartado que dá pelo nome artístico de Cid, publicado ma mesma edição do notável papelucho, verdadeira pornografia moral, estúpida, falsa, chocarreira e indigna, teremos uma imagem clara da “isenção deontológica” daquela gente.
 
António Borges de Carvalho
 

PINHOADAS

 

O grande ministro da economia que temos anunciou ao povo que o governo “faz todos os possíveis para atenuar os efeitos dos aumentos dos combustíveis”, verdadeiro “demónio” que (para além do governo, digo eu) nos arrasa a vidinha.
É de acreditar, vindo de quem vem. Até rima, possíveis com combustíveis. Não se sabe é quais são os “possíveis”, nem o camarada Pinho especificou.
A avaliar pelas notícias vindas a público, o primeiro “possível” para esconjurar o demónio foi o aumento do abono para as famílias com rendimentos mais baixos. Aplauda-se, sem rebuço, este “possível”. Só não se percebe como é que dar mais meia dúzia de euros por mês a quem não tem automóvel (só se for um carrinho de castanhas assadas…), tem alguma coisa a ver com os aumentos dos combustíveis. De mistérios estão os “possíveis” cheios. Não é de admirar, já que, descobriu o Pinho, o demónio anda metido na jogada.
A ver vamos se serão possíveis mais possíveis, e quais.
 
António Borges de Carvalho

DEPOSITS GENERAL BOX*

 

 
*Caixa Geral de Depósitos
 
A dintinta instituição bancária do Estado, sim, aquela que inventa despesas para cobrar aos desgraçados que recebem reformas abaixo dos 300 euros por mês, aquela que se financiou e financia com depósitos obrigatórios de infelizes a quem é impingida pelos departamentos do Estado, sim, essa, publica anúncios milionários na imprensa de fim de semana, propagandeando o seu novo HPP – Hospital dos Lusíadas.
O slogan da campanha é Health for the new generation*. A um cantinho, ao lado, de pernas para o ar, o asterisco esclarece “*Saúde da nova geração”.
Atente-se, antes de mais, na pirosada monstra que é “slogar” em inglês. Poderia pensar-se que a DGB (CGD), teria ido buscar um súbdito de Sua Majestade para lhe fornecer a tecnologia necessária. Não. O parceiro provém do império castelhano, uma vez que se chama, como o anúncio anuncia, *USP Hospitales.
A coisa é por demais socrapífia, para não dizer pornográfica. Como se trata de saúde para a nova geração, e como o senhor Pinto de Sousa diz que vai ensinar inglês a toda a gente, a organização parte do princípio que os seus clientes, além de jovens, sabem inglês. Os mais velhos que se … lixem.
De notar, ainda, esta extrordinária extravagância: a DGB (CGD) é do Estado. Por conseguinte, o tal hospital é do Estado. Mas… é um hospital privado!
O governo passa a vida a gritar com o Serviço Nacional de Saúde, a tirar aos privados a gestão de hospitais públicos, a dizer que a saúde não pode ser pasto de interesses privados, e outras patacoadas no género. Depois, em demonstração de inatacável coerência, lança ele próprio um hospital privado, ou seja, entra em mais um ramo de negócio, nacionalizando-o à nascença e metendo-se, com o dinheirinho de paupérrimos velhotes, a prestar serviços aos que não são nem velhotes nem paupérrimos. Tudo isto, como é evidente, mediante acordos com as principais seguradoras e subsistemas.
 
E ainda há quem diga que este governo faz política de direita! Só se for de direita totalitária.
 
António Borges de Carvalho
 

PÁTRIA PARALÍTICA

 

O Partido Socialista, mediante rebuscados raciocínios, veio declarar o seu apoio à candidatura da dona Manuela.
Demos de barato os tais raciocínios. Não vale a pena elaborar sobre eles uma vez que, vindos donde vêm, trata-se de aldrabice e o melhor é esquecer.
Pode haver vários “raciocínios” com alguma lógica para justificar a atitude, nenhum deles o do PS. Talvez mais ou menos assim: com Manuela como adversária do PS, valerá a pena votar nela? Uma senhora que passa a vida a dizer que não baixará os impostos, que as medidas “sociais” do governo são as dela, e coisas no género, para quê mudar? O PSD perderá votos, à direita, para o CDS e, à esquerda, para o voto útil no PS. A maioria absoluta estará garantida. De qualquer maneira, não vá o diabo tecê-las, o PS terá um plano B: preparar, com tempo e espaço, um acordo qualquer com o Bloco de Esquerda. Mesmo que caia a maioria absoluta, está feita a coisa. O senhor Pinto de Sousa continuará no poder, a fazer política estatista de esquerda, que é o que sempre tem feito, de sociedade com os empreiteiros. A direita continuará a deixar que digam que a política do senhor Pinto de Sousa é de direita, isto é, a nadar de bruços na estupidez visceral que a caracteriza.
Portugal continuará a ser o único país da União com os partidos comunistas a crescer, e muita sorte seria se um deles não chegasse, também, ao poder. A miséria será cada vez maior, só que, desta vez, com óptimas desculpas na “conjuntura internacional”, coisa ideal para desculpabilizar as asneiras domésticas. Ou seja, o medievalismo, a cegueira, o autismo, continuarão a ser característica estrutural do eleitorado, empurrado pelos “intelectuais”, pela “informação”, pelos sindicatos e pela inoperância, mais ou menos salazarista, voire socialista, da direita.
Não há um só país na Europa onde os partidos comunistas cresçam. Não há um só país da Europa que seja capaz de confundir estatismo com liberdade.
Algum intelectual, algum sindicato, algum “informador”, alguém, seja quem for, é capaz de dizer aos portugueses que são governados à maneira socialista, quase sem interrupções, há quase cem anos, e que talvez seja por isso que continuamos no cu da Europa?
Não, não há. O eleitorado é levado por “quem de direito” – os intelectuais, a informação, os sindicatos e a direita – a achar que a miséria não tem nada a ver com o socialismo nem com o facto de sermos governados à esquerda (somo-lo pelo senhor Pinto de Sousa como o seríamos pela doutora Manuela).
 
Outra hipótese seria que os filiados do PSD jogassem no pleno, isto é, arriscassem tudo para que alguma coisa importante tivesse hipótese de mudar, mas mudar mesmo, o que jamais será conseguido com a senhora no poder. É uma hipótese arriscada, mas, quem sabe, poderia ter sucesso. A prova é que as brigadas dos intelectuais, os batalhões da “informação”, as mesnadas dos sindicatos e os exércitos da direita andam, desde o primeiro segundo, a "tratar da “saúde” a Pedro Santana Lopes e a considerar o rapazola bonecão Passos Coelho com a benevolência que se reserva aos vencidos.
 
Importante, importante, para quem “pensa", para quem “faz opinião” para quem “domina as artes”, é que tudo fique na mesma. Com Manuela ou com Pinto de Sousa, tanto faz. Os outros são um perigo.
 
António Borges de Carvalho

DIZ-ME COM QUEM ANDAS...

 

Um eminente (não identificado) diplomata do entourage do senhor Pinto de Sousa, a propósito dos altos objectivos e da inteligentíssima amizade entre o seu chefe e o senhor Chávez, disse que “Portugal não tem amigos ou inimigos permanentes: só o interesse do Estado prevalece”.
Tudo pela Nação, nada contra a Nação, diria o doutor Oliveira Salazar. Quem não está com a revolução está contra a revolução, disse o clarividente líder comunista Vasco Gonçalves. O mesmo espírito, ainda que de forma mais elaborada, foi objecto das reflexões de Maquiavel, serviu de base à acção de Richelieu e Maeternik, inspirou Willy Brandt, esteve na origem da política externa de Chamberlain.
Assim se vê como a história se repete. O mesmo tipo de mentalidade explica as mais diversas opções. Umas vezes com resultados aceitáveis, outras não.
O “interesse do Estado” (chame-se-lhe Estado, Nação, República, Povo, Proletariado, Revolução) submeteu meia Europa às doçuras do nazismo, “legitimou” milhões de mortes, “legalizou” Honnecker e o seu bando, ia mergulhando Portugal numa das mais horrendas ditaduras que a história da humanidade regista.
A política externa portuguesa abandonou, com o senhor Pinto de Sousa, a dose de pragmatismo que se pode aplaudir, para se submeter àquilo a que o mesmo senhor, do alto da mais profunda ignorância, acha ser o tal “interesse do Estado”. L’État c’est moi”.
A brilhante filosofia desta gente leva a colocar os abastecimentos energéticos de um país nas mãos do menos fiável de todos os produtores de petróleo, Irão incluído. O “interesse do Estado” leva a alijar a confiança de muita gente que se suporia em nós confiar. E ainda há quem diga que o senhor Pinto de Sousa governa “à direita”.
Diz-me com quem andas…
 
António Borges de Carvalho
 
PS. Porque será que o senhor Pinto de Sousa, ao “analisar” o problema do petróleo, não pensou, por exemplo que, dependendo umas boas centenas de milhar de noruegueses do bacalhau que lhes compramos, e sendo a Noruega produtora de petróleo, talvez fosse do “interesse do Estado” explorar essa “janela de oportunidade”?
Não, o senhor Pinto de Sousa, como todos os seus antecessores do PS, acha que o governo do país é o governo dos empreiteiros e que governar o país é ter “na mão” meia dúzia de cavalheiros de indústria. Ao contrário do que por aí se diz, não é o “poder económico” quem domina o político, mas o poder político que domina o outro, “puxando” por uns e arruinando os demais.

VIVÓ VIEIRA!

 

 
À porta de um banco, um tipo deixa um Opel Corsa a impedir a circulação do carro do senhor Vieira, Presidente do Benfica. Parece que, como é natural, se desentenderam, e o senhor Vieira, de sociedade com o seu motorista, deu um enxerto de porrada no tipo do Opel Corsa.
Não se pode defender este tipo de atitude. Não será muito civilizada a forma como o senhor Vieira e o respectivo funcionário reagiram.
Convenhamos, no entanto, que, nesta cidade de selvagens, se todos os fulanos que deixam o carro em segunda fila levassem um bom enxerto de porrada, talvez passássemos a ter uma vida melhor.
Grande Vieira!
 
 
António Borges de Carvalho
 

ENSANDECEU!

 

 
O notável jornalista e arquitecto que preside aos destinos do jornal SOLcrates, em sede do editorial “Política a Sério”, insurge-se contra o destaque que tem sido dado às cigarradas do senhor Pinto de Sousa. Diz ele:
 
A polémica gerada pelo cigarro fumado por Sócrates num avião ilustra bem o estado do país. Um tema destes fazer manchetes na imprensa dita “séria” cobre-nos de ridículo.
 
Incomodados por esta diatribe, demos uma voltinha rápida pela edição do SOLcrates em que ela foi publicada.
Eis o resultado: a importantíssima coluna do importantíssimo director-adjunto do SOLcrates, senhor Lima, é dedicada aos cigarros do senhor Pinto de Sousa; um “cartoon” do senhor Cid também; o senhor Sousa dedica um destaque ao assunto, sob a epígrafe “Bem Prega Frei Tomás”; o artigo do senhor Silva titula, a cinco colunas, “Sócrates e os Malefícios do Tabaco”. E mais não vimos, o que não quer dizer que mais não houvesse.
Estas verificações apontam para conclusões diversas:
a)      O arquitecto não manda nada na coisa;
b)      O SOLcrates não é “sério”;
c)   O SOLcrates está no mesmo estado que o país;
d)   O SOLcrates está coberto de ridículo;
e)      O arquitecto anda na Lua.
Em alternativa, teremos de convir em hipótese muito mais inquietante: o arquitecto não está bom da cabeça!
 
Desgraçadamente, esta última suspeita parece ser a que mais se coaduna com a verdade. Senão vejamos:
Diz o grande plumitivo da nossa praça que Guterres e Barroso herdaram o poder de Cavaco e de Guterres, porque estes estavam “esgotados“. Conceda-se, sem acordo, mas com compreensão. Depois, diz que “Sócrates herdou o poder que Santana exauriu”. Exauriu quer dizer ”esgotou completamente”, “dissipou completamente”, ou “depauperou”. Passados três anos depois da defenestração de Santana Lopes, o arquitecto ainda não percebeu quem não se “depaupera” o poder em quatro meses sem que haja uma hecatombe qualquer, que não houve, ou um golpe militar, que ainda menos. O homem ainda não percebeu que, mesmo que Santana fosse mau, nada, na acção do seu governo, foi mau, ou teve, sequer, tempo para o ser. O mínimo de respeito pela nossa história recente só pode levar a concluir que Santana foi “corrido” por exclusiva vontade de um homem que esperou pacientemente que a esquerda (o PS e o PC) se organizassem, para, ajudado pelos arquitectos da imprensa e pelos senhores Sousa, Cavaco e quejandos, lhe dar a machadada final através de um claríssimo e evidentíssimo golpe de estado constitucional. Por outro lado, a não ser que estejamos cegos, ou loucos, se olharmos, ministro a ministro, o que era o governo Santana Lopes, teremos, quase sem excepção, um leque de pessoas que deixam a anos-luz, em matéria de competência, seriedade e curriculum, o conjunto de cidadãos que formam o governo do senhor Pinto de Sousa. A moeda boa foi expulsa pela má.
Diz ainda o senhor Saraiva que o PSD “se arrisca a cair numa deriva populista”, com certeza na hipótese de Santana Lopes ser eleito, já que a sua candidatura é, na opinião de Saraiva “uma brincadeira”.
Em que consiste o populismo? Populismo é o estilo de actuação política que se exprime em promessas agradáveis de ouvir mas inculcadoras de esperanças vãs que não se tem qualquer intenção de, ou meios para honrar.
Quais foram as promessas deste tipo feitas por Santana Lopes? Zero. Santana Lopes falou verdade às pessoas. O senhor Pinto de Sousa, grande protegido do arquitecto, outra coisa não fez, e não faz, todos os dias, que esgrimir, ou projectos malucos, ou puras mentiras. A lista seria          interminável, se a quiséssemos fazer. Mas não vale a pena. Só não a conhecem os cegos ou os tontos, arquitecto Saraiva incluído.
 
É possível compreender, o que não significa aceitar, os ódios serrubecos e as invejas primárias, secundárias e terciárias, que Santana suscitou e suscita.
Não se compreende, de todo, porque há-de o director de um jornal, durante os últimos quatro anos, com Santana no poder e fora dele, dedicar-se a demolir uma pessoa que lhe não fez mal nenhum, nem ao jornal, nem ao país. Isto, enquanto protege, descaradamente, as aldrabices ultra-populistas do senhor Pinto de Sousa.
 
Le coeur a des raisons que la raison ne connait pas. Não será o caso. Caso é que parece que o homem ensandeceu.
 
António Borges de Carvalho
 
 

CALVINISMO TABAGISTA

 

 
O senhor Pinto de Sousa, fumador ou, nas suas palavras (acredite quem quiser), ex-fumador, ficou indignadíssimo com a medonha gentalha que se atreveu a criticá-lo por andar a fumar em locais onde, segundo o próprio, é proibido fazê-lo.
Tão legitima e indignadamente chocado ficou, que se apressou a chamar “calvinistas” aos canalhas que tiveram o topete de o acusar, sim, de o acusar, a ele, o mestre de todos nós, o mais virtuoso, sim, o virtuoso (a mentira é, de há três anos a esta parte, uma venerável virtude, característica fundamental do nosso grande timoneiro), o líder, o pai, o homem que nos dá a suprema felicidade de nos controlar os vícios, de nos dar a inenarrável felicidade de nos integrarmos nas normas das suas “autoridades”, nas regras das suas “agências”, de nos protegermos cumprindo os ditames das suas “comissões”, de podermos ficar mudos de admiração perante as suas iniciativas, de podermos preparar os nossos filhos, os nossos netos, as gerações vindouras, para, com a maior alegria e o mais justificado orgulho, vir a pagar, durante anos e anos, décadas, séculos, as colossais benesses com que se propõe brindar-nos, sim, ele, o mais lídimo fiscalizador das nossas fraquezas, dos nossos pecadilhos, sim, como é possível, como é possível haver quem pergunte se vai ser multado por fumar no avião, ele que está acima de todas as multas, de todas normas que aos miseráveis párias obrigam, por sua ordem e para bem de todos nós?
 
Calvinistas!, disse, com toda a justiça, o senhor Pinto de Sousa. Calvinistas!
Numa extraordinária demonstração de profunda cultura reformista, ele, o bom, o óptimo, o mais importante, não podia deixar de assim qualificar os que, na sombra, se preparam, quais algozes, para questionar a sua inquestionável autoridade. Discípulos de João Calvino, o ditador de Genebra, o assassino de criancinhas, o teocrata impiedoso, que mandou queimar vivos os seus inimigos, sim, é esse o modelo de quem se atreve a contestar o seu inquestionável direito de não se submeter às suas próprias leis, como se as leis fossem feitas para ele em vez de o ser para a canalha infecta que se acotovela nas ruas!
*
Aposto que o senhor Pinto de Sousa não faz a mais leve sombra de ideia de quem seja Calvino. Alguém lhe deve ter dito que o homem era muito exigente e, vai daí, saiu-se com aquela.
 
Continuamos a não saber qual a multa que a ASAE lhe vai aplicar, assim como ao outro, o da economia (como é que se chama?), que Sua Excelência, qual betinho queixinhas, se apressou a acusar de também andar a fumar nos aviões.
 
António Borges de Carvalho

NEO-SOCIALISMO

 

 
Segundo o governo:
 
- Lisboa tem 159 farmácias a mais;
- Porto, 49;
- Santarém, 8;
- Vila Real, 5;
- Há, no país, 224 farmácias que “podem” pedir transferência    
  de localização;
- Esta possibilidade é “dada” às farmácias que não têm o 
  “índice de capitação” indispensável para ter o direito à
   existência no sítio onde existem;
- A “capitação”, por farmácia, é de 3.500 habitantes;
- Se só houver outra farmácia a mais de 2 quilómetros de
  distância, a farmácia pode ficar onde está, mesmo que não
  tenha a tal “capitação”;
- Só pode haver farmácias a mais de 350 metros umas das
  outras, cumulativamentecom pelo menos 100 metros em
  relação a centros de saúde ou, extensões de
  saúde e hospitais.
 
Tudo isto se encontra devidamente legislado, justificando-o quem manda com o “modelo de liberalização (!!!) da propriedade” pomposamente anunciado há três anos pelo senhor Pinto de Sousa.
 
Assim:
Verificado que o cidadão tem uma farmácia numa povoação de baixa “capitação”, terá, em certos casos, a opção de mudar de Freixo de Espada à cinta para Boliqueime, segundo as ordens do governo. Em alternativa, terá que fechar a farmácia e ir vender chuchas para a porta da residência do primeiro-ministro;
Se o conselho onde tem a Farmácia tem os 3.500 habitantes a que a lei obriga, mas se 5 deles foram trabalhar para as obras em Vila Nueva del Fresno, e ficar só com 3.495, terá o tenebroso comerciante que fechar o estabelecimento ou ir ocupar uma vaga que o governo lhe oferece, eventualmente em casa do diabo. Se não houver vagas, lá vai o homem vender chuchas. O melhor, para prevenir a situação, é tirar já um curso de especialização em chuchas de alta tecnologia, oferecido por aquele feioso da ciência, com a colaboração com o MIT.
Por outro lado, se você quiser ter um estabelecimento farmaciológico numa grande cidade, terá que se certificar se não há outro a menos de 350 metros. Isto, mesmo que vivam, na área, 10 ou 20 mil habitantes. Está a ver? Todo o cuidado é pouco! A ANM (Autoridade Nacional do Medicamento), coisa inventada pelo cérebro privilegiado do senhor Pinto de Sousa, vela por si com uma eficácia que nem o Big Brother.
 
Isto, no que se refere aos donos das farmácias.
E nós?
Nós temos várias lternativas. Se vivermos numa grande cidade, o governo, generosamente, dá-nos a possibilidade virtual de, aos dias de semana, ter uma farmácia a menos de 350 metros de casa, isto se houver quem queira abrir uma farmácia nas redondezas. Se sairmos, meios moribundos, de um centro de saúde, a precisar urgentemente de rebuçados para a tosse, andaremos, no mínimo, 100 metros. E se vivermos numa aldeia qualquer, o governo, virtualmente, garante que, para comprar uma aspirina não teremos que andar mais de 1.999 metros.
 
Pensariam os incautos que liberalização seria, uma vez verificadas certas condições específicas, como em qualquer ramo de comércio, que quem quisesse abrir uma farmácia, pois que o fizesse. A concorrência só podia favorecer o consumidor.
 
Estúpidos!, diria o senhor Pinto de Sousa do seu dourado trono, liberalização é controlar tudo até ao mais pequeno pormenor. O Cordeiro da horrenda barba deve estar com dores de barriga de tanto rir.
 
António Borges de Carvalho
 
 

SARAMAGO FLOPS

 

Um realizador brasileiro, célebre por ter dirigido “O Fiel Jardineiro”, adaptação do romance do mesmo nome de John le Carré, apresentou em Cannes a obra Blindness, baseada no livro de Saramago que tem o título “Ensaio Sobre a Cegueira”.
Segundo os jornais, a crítica recebeu a coisa “gelidamente”. Os espectadores, embatucados e sonolentos, não bateram uma palma que fosse. Em suma, um flop.
O realizador faz jus a altos créditos, a actriz principal é “oscarizável”. Parece que os demais, bem como a fotografia, a música, os settings, etc. também são bons.
Então porque carga de água é que não houve uma só voz que viesse “gabar” a excelência da coisa?
 
Um amigo que anda nas andanças de Cannes disse-me hoje pelo telefone que, acima de tudo, o filme foi considerado uma chatice monumental. Não, não porque o assunto é deprimente, não porque a história é pessimista, não. O filme é, simplesmente, chato. Não há outra explicação. Todas as qualidades que possa ter são subsumidas pela chatice visceral, indisfarçável, inevitável da coisa. O problema não vem do realizador, do produtor, do adaptador, do encenador, dos actores, dos músicos, dos electricistas… o problema é ser humanamente impossível usar textos de Saramago sem cair num oceano de chatice.
 
Li, com hercúleo esforço, o “Memorial do Convento”. A ideia é interessante, o português podia ser pior, as personagens são bem achadas, a intriga não é estúpida. Mas o livro é de uma chatice inultrapassável.
Empurrado pela propaganda, fui ler o “Ensaio Sobre a Cegueira”. Fiz das tripas coração e consegui chegar ao fim. Queria saber qual era a “tese”. Porque uma coisa pomposamente chamada “ensaio” tem que ter uma “mensagem”, apontar para uma conclusão, melhor, tirar uma conclusão. Como sou estúpido, por mais que esmiuçasse a coisa, não consegui lá chegar. Se algum objectivo subjaz à escrita daquela coisa, é esta: o autor odeia a humanidade, e dedica a sua vida, o seu prolixíssimo talento, a chatear as pessoas. O êxito que tem, concedo, deve dar-lhe um gozo infinito.
Mesmo assim, com mais um ciclópico esforço, ainda me pus a pensar que, como o homem é marxista-leninista-estalinista-comunista-PC-saneador de reaccionários-etc, a sua intenção seria demonstrar que, como os povos são ignorantes, estúpidos, analfabrutos (os cegos), terão que se deixar guiar pelas vanguardas iluminadas (a fulana que não era cega) que lhe apontam o caminho dos amanhãs que cantam.
Mas agora, pelas descrições dos intelectuais de serviço, vejo que a intenção não era essa.
 
Fica a tese da chatice. Os tipos, lá em Cannes, é que não foram na conversa. O tipo é um chato, e acabou-se. Não leva palmas. Flops.
Que diabo, por muita influência esquerdóide e muitos lóbis que por lá haja, aquilo não é a academia dos vikings que, por dever de ofício, vai dando umas nuns cravos, outras numas ferraduras.
Bem feita. O Saramago que vá chatear o raio que o parta.
 
António Borges de Carvalho

ONDE VAIS, PSD?

 

 
Dona Manuela veio à SIC dizer de sua justiça. Muito bem.
A senhora acha que isso do orçamento já não tem importância e que o que é preciso é tratar, com a receita social-democrata, dos “novos pobres”, ou seja acabar com a proletarização da classe média e com a descida de muitos para baixo do limiar da pobreza. Muito bem.
A senhora não é “liberal” nem “conservadora” nem nada do género. É social-democrata. Vai buscar, aos confins da História, “as raízes” do partido. Esquece-se que, em tais raízes, está o PPD e que o partido pertence ao PPE. Mas isso é o menos.
Dizer que o problema do orçamento já não existe é uma rasgadíssima homenagem ao senhor Pinto de Sousa e ao senhor Santos. Toda a gente sabe que o problema do orçamento não está resolvido, porque não há redução de despesa. Mas a senhora prefere fazer “oposição” com elogios deste jaez.
Registe-se a nobre intenção de acudir aos mais pobres. Mas registe-se, com igual realce que a senhora não disse uma palavra sobre o “como” de tal coisa. Vai tratar do assunto com subsídios, como finge que faz o senhor Pinto de Sousa? Vai arranjar mais dinheiro aumentando os impostos? Ela diz que não, mas toda a gente sabe que a colecta vai baixar. Portanto, ou os aumenta, ou não arranja nem mais um chavo. Então como? Relançando a economia? Com certeza, embora a senhora, a tal respeito, diga coisa nenhuma. Embora saiba, como toda a gente sabe, que não é com sociais-democracias, coisa em que estamos mergulhados há décadas, que lá vamos.
 
Esta pequena nota é destinada, sobretudo, aos eleitores internos do PSD, a ver se ganham juízo e se deixam de cavaquismos de saias. O cavaquismo foi chão que deu uvas noutros tempos e com outros dados.
 
Já agora, diga-se que, com putos espertos, também não vão a parte nenhuma.
 
António Borges de Carvalho

CIGARRADAS VENEZUELANAS

 

Esta de o nosso bem amado primeiro-ministro fumar a sua cigarrada nos aviões dá que pensar.
A reacção dos moralistas de serviço também.
O senhor Pinto de Sousa fuma. De certa forma, isto confere-lhe um rosto humano, coisa que ainda ninguém tinha notado. Parabéns. Isto confirma, também, uma característica que lhe á peculiar, e que toda a gente conhece. O fulano é cínico, exige dos outros aquilo a que a si próprio não impõe, e prega sermões legislativos sobre virtudes que não pratica.
 
Os moralistas constitucionais de serviço - a começar pelo douto Miranda e a acabar no propagandista socretino Vital Moreira – são unânimes em achar que não é permitido fumar em aviões fretados. Nenhum foi capaz de perceber que a interpretação da lei totalitária do tabaco tem algumas nuances que deveriam aplicar ao seu protegido. Se é proibido fumar em meios de transporte, não pode haver outra interpretação que não leve a entender a expressão “meios de transporte” como meios de transporte colectivo. De outra forma – que muito agradaria ao barbichas da saúde – teria que se entender que é proibido um tipo fumar no seu próprio avião, no seu automóvel ou até em cima de uma bicicleta, que são meios de transporte. O que, convenhamos, seria, pelo menos, absurdo. Nesta óptica, é óbvio que um avião fretado é um transporte particular, não “colectivo”, ou scheduled, para aplicar o conceito anglo-saxónico. Por conseguinte, mesmo para a nossa lei totalitária, é perfeitamente legal que quem paga o frete determine se se pode fumar ou não dentro do meio alugado. Quem se sentir incomodado com a coisa, que não embarque. Ninguém obriga ninguém a aceitar convites, ainda por cima, como é o caso, para ir à Venezuela e, ainda pior, em companhia tão desinteressante como a do senhor Pinto de Sousa.
 
O pior é que o senhor Pinto de Sousa, não resistindo à habitual demagogia, em vez de defender a sua posição com dignidade, veio, estupidamente, desculpar-se, chegando aos píncaros do ridículo quando prometeu, com certeza sem intenção de cumprir, que ia deixar de fumar.
Agora, o que é preciso, perante a pública, notória e confessa contravenção do senhor Pinto de Sousa, é saber qual a multa que a ASAE, ou seja lá quem for, vai aplicar a Sua Excelência. Ou será que eu pago multas por fumar na tasca da esquina e o senhor Pinto de Sousa não paga nada por fumar nos aviões?
Afinal, o que anda a ASAE s fazer? A perseguir o povo e a “limpar” o fulano? Ai ai…
 
Dando de barato este episódio, que só é importante por ser indicativo do carácter do homem, ergamos bem alto o nosso júbilo pelas novas relações que ele foi abrir com esse admirável democrata que é o senhor Chávez. Se não fosse o velho adágio que reza “diz-me com quem andas…”, a coisa assumiria foros de grande vitória para esta Pátria, tão escassa em tal matéria.
 
E, se o dito senhor Chávez merecesse alguma confiança, então, se calhar, estávamos de parabéns. O futuro, a muitos, dirá se os merecemos. Para mim, o presente chega. Não para parabéns, como é de adivinhar…
 
António Borges de Carvalho

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