O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA.
Winston Churchill
O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA.
Winston Churchill
Como foi, à altura, sublinhado por inúmeros comentadores, a criação da empresa pública Estradas de Portugal e a subsequente celebração de um contrato de concessão entre ela e o Estado constituíram uma descarada desorçamentação de despesas, um truque, uma espécie de receita extraordinária, um disfarce do défice real com cosméticos de qualidade duvidosa.
Agora, sua excelência um obscuro secretário de estado vem justificar, nos jornais, as contas deficitárias da empresa. Não do Estado, como é de ver. Um défice que, no dizer socrélfio do citado senhor, é coisa temporária, vai desaparecer a prazo. É que, diz o “governante”, daqui a 75 anos (prazo da "concessão") “o balanço global vai ser positivo”.
Muito bem. Ficamos todos descansadíssimos. Os nossos tetranetos vão fartar-se de ganhar dinheiro com o negócio.
Uma olhada à estrutura das despesas da EP:
grosso modo, de um total de 804,9 milhões de euros, 83% são para “encargos com as SCUTS”, 10% para o “funcionamento”, e o restante para “outras despesas com parcerias público privadas”. É desconhecida a verba destinada, se é que há alguma, à manutenção da rede de estradas existente.
Este extraordinário quadro
(números fornecidos por sua excelência)
revela-nos quanto nos custa
(ou não custa, porque, como não está no orçamento do Estado, o senhor Pinto de Sousa deve achar, e com razão, que os parvalhões dos portugueses enfiam barretes destes)
a tomada da decisão “social”, ou socialista, ou socretina, de não haver portagens nas SCUTS.
É certo, ou quase, que as receitas das portagens não pagariam a totalidade das despesas, tal como as que a outras parcerias dizem respeito. Mas muitos milhões deixariam, como é óbvio, de sair dos nossos bolsos.
Somados os 667 milhões que, só em 2009, as SCUTS irão custar, aos milhares de milhões que custarão nos anos seguintes, e aos outros milhares de milhões (quantos?) que o tresloucado plano de obras públicas do senhor Pinto de Sousa custará também, teremos uma fulgurante imagem do futuro que nos espera.
Os culpados deste mar de asneiras já estarão a bom recato quando a parte mais violenta da hecatombe que se avizinha nos cair em cima da cabeça. Nessa altura dirão que a culpa é de quem lhes suceder. Entretanto, teimam na asneira, na irresponsabilidade e na demagogia.
A RTP passou ontem o dia a falar na cena de pancadaria em que sacerdotes gregos e arménios lamentavelmente se envolveram na Igreja do Santo Sepulcro.
Como é evidente, nem uns nem outros tinham razão.
Mas não é isto o que me traz. Traz-me a “cultura geral” de que o “serviço” público dá mostras. Nas doutas palavras dos rêtêpês, tratou-se de uma briga entre “ortodoxos”.
O Irritado, sempre preocupado com a cultura das massas, esclarece que os gregos, sim, são ortodoxos mas os arménios são católicos. Não são “romanos”, mas são católicos. Aliás, o “papa” deles é o “Katholicos”.
Um contrato foi assinado entre a ARS, Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, e a HPP, Hospitais Privados de Portugal, entregando a esta a gestão do novo Hospital de Cascais durante 30 anos.
O Tribunal de Contas aprovou o contrato.
A HPP é uma “sociedade” detida pela CGD, Caixa Geral de Depósitos, cujo único accionista é o Estado.
Por conseguinte, a HPP é do Estado. Por conseguinte o Estado fez um contrato consigo próprio.
À maneira do que muito se critica ao sector privado, o Estado, com o ojectivo do lucro, cria “sociedades” que negoceiam com o próprio.
O que aos privados o Estado assaca como uma espécie de inside trading, passe a comparação, pratica o Estado com a mesma calma e muito maior desfaçatez. Enquanto os privados, apesar de tudo, mantêm alguma transparência, uma vez que as participações accionistas são, não públicas mas publicadas, o Estado proclama que um negócio como este é “uma parceria público-privada”, em que a parte pública (o dono do edifício, que é o Estado) contrata com uma empresa de direito privado (que é do Estado, portanto pública) a gestão de um hospital que é da ARS, portanto público.
Digo o Estado, com letra grande, mas quero dizer o estado a que o estado, com letra pequena (o governo do senhor Pinto de Sousa), levou o Estado, com letra grande.
Não sou contra, bem pelo contrário, à entrega da gestão de unidades públicas a entidades privadas. Mas sou-o contra o mar de aldrabices em que o governo que temos nos vem mergulhando vai para quatro anos.
O Dr. Barroso encontrou um novo inimigo. Não, não se trata de um esquerdista checo, de um ecologista francês ou de um nacionalista italiano. Trata-se da dona Ana Gomes, que acusa o homem das piores malfeitorias.
Toda a gente sabe que o Dr. Barroso não é, exactamente, um génio. Mas também sabe que tem levado a água ao seu moínho sem guerrinhas nem parvoíces.
O ataque da dona Ana, em mais uma demonstração de desiquilíbrio mental, fica a dever-se, com certeza, ao acendrado patriotismo da senhora.
Por falar nisto, lembram-se do “Expresso” da semana passada parangonar que os antecessores de Barroso o criticavam acerbamente? A coisa não passou. Era mentira. E lá vem o “Expresso”, honra ou cagaço lhe seja, dizer que se tinha enganado. Será que também o “Expresso” foi vítima inocente de acendrado patriotismo?
Um senhor de 90 anos, outro de 94, um de 92 e outro de 93 estão na berlinda para ir parar ao chilindró por iniciativa do vice-rei de Castela, senhor Garzon.
O homem não pára. Sedento de protagonismo mediático, anda à pesca de esqueletos com setenta anos, a fim de, à custa deles, ressuscitar ódios fratricidas que se julgava ter sido enterrados há trinta e tal.
Toda a gente sabe o horror que foi a guerra civil espanhola. Toda a gente sabe que, de parte a parte, se cometeram inomináveis crimes. Toda a gente sabe que, não o esquecimento, mas a “morte” do ódio, tem proporcionado paz civil às gerações que se seguiram à queda do franquismo.
À excepção de meia dúzia de saudosistas, à esquerda e à direita, toda a gente percebe que é do mais legítimo interesse da sociedade espanhola considerar a guerra como passado a historiar e não como coisa a projectar no futuro.
Mas, ao serviço da meia dúzia de saudosistas estúpidos, o senhor Garzon não pára. Vasculha valas comuns, sem respeito, nem pelos cadáveres, nem pelos interesses da reconciliação das novas gerações, que já era considerada adquirida.
Se, para que todos os jornais falem nele, o senhor Garzon vier a meter uns velhinhos na cadeia e a, com isso, pôr de novo em acção adormecidas letais divisões, aí teremos um triunfador dos direitos humanos, por certo merecedor do aplauso da dona Ana Gomes e do senhor Alegre.
Empurrados pelo partido democrático, primeiro com Roosevelt depois com Clinton, os americanos criaram uma série de produtos financeiros de duvidosa garantia.Tais produtos expandiram-se mundo fora. Como a bronca começou na América e como a América era (é) o cofre do mundo, o sistema acabou por estourar por toda a parte.
Gloriosamente, o governo português acha que a coisa, por cá, não terá os efeitos devastadores que tem noutras paragens.
É natural que quem não tem dinheiro, como é o nosso caso há mais de trinta anos, sinta menos os efeitos do estouro. Se alguma coisa nos protegeu, foi a tesura, não o governo...
*
Em furiosa algazarra, os inimigos do capitalismo liberal,encabeçados pelos senhores Soares, Louça, Jerónimo & Alegre, embandeiraram em arco e acharam que, finalmente, se ia caminhar para um mundo onde o prestimoso Estado tomaria conta das finanças, da economia e da liberdade dos cidadãos.
Os fusíveis estouram porque a carga eléctrica é demais para eles, não porque a electricidade seja uma coisa indesejável. Mas os arautos do estatismo não percebem nada de electricidade.
*
Nas trapalhadas bancárias em que o mundo está metido, várias têm sido as atitudes dos governos para salvar o sistema e minorar o sofrimento dos cidadãos.
Nesta matéria, Portugal é percursor de soluções novas. Depois de tomar atitudes mais ou menos paralelas às dos demais, confrontado com um problema novo, Portugal, genialmente, inventa uma solução original.
Um banco em dificuldades é nacionalizado pelo governo. Tais dificuldades não se devem a ter aceite garantias pouco sólidas, a ter posto a circular produtos mal engendrados, a por ter arriscado demais. Devem-se a ter sido ninho dos mais diversos crimes, reconhecidos e denunciados pela sua própria nova administração e, ao que parece, cometidos pela antiga com a cumplicidade dos accionistas.
Pareceria – é o que se passa quando os governos são inteligentes – que, na circunstância, o que haveria a fazer era deixar cair o tal banco (como o Lehman Brothers), com eventual protecção de certos depósitos e com a devida punição dos responsáveis. A sociedade – a odiosa sociedade capitalista – tem destas práticas de justiça, que são duras mas em que os crimes de uns não são pagos pelos demais.
O governo português não distingue entre práticas criminosas e gestões infelizes ou menos cautelosas.
No caso destas, de quem é a culpa? Por exemplo, se o crédito mal parado em Portugal disparar com redobrada força, de quem é a culpa? Dos bancos? Ou dos governos que empurraram os cidadãos para as mais insensatas alhadas, que arranjaram incentivos para a compra de casas em vez de ressuscitar o mercado de arrendamento? O mais pintado que responda. O dinheiro que o Estado desperdiçou em benefícios fiscais e subsídios, se aplicado na recuperação urbana, não teria relançado a habitação sem pôr as pessoas a tinir?
No que àquelas diz respeito a solução não pode, ou não deve, seguir critérios semelhantes. A regeneração do sistema começa por deixar cair quem dele não for digno, com eventual protecção, isso sim, dos que nada têm a ver com o assunto.
Mas, em Portugal, nacionaliza-se e pronto. O que está por detrás da crise não interessa. Quem tem o direito de gastar o dinheiro dos impostos é o governo. A nós, só cabe pagá-lo, e vê-lo sumir-se em asneiradas.
*
A pessegada vai mais loge. O senhor Constâncio há anos que não regula bem. Nem da cabeça, nem na regulação propriamente dita.
Assim que o senhor Pinto de Sousa tomou conta disto, fabricou um “orçamento” putativo, destinado a amamentar a propaganda do governo. De tal forma que permitiu ao senhor Pinto de Sousa apregoar que tinha feito descer o défice nos anos em que o aumentou, zurzir o povo com impostos e continuar, paulatina e gloriosamente, a aumentar a despesa pública.
O senhor Constâncio usou, ou abusou, do prestígio da instituição a que preside, para criar uma das mais repugnantes aldrabieces políticas de que há memória em Portugal.
Se isto não é um crime público, não sei o que é um crime público.
O senhor Contâncio continuou a constar, constantemente, à frente do BP.
Sabia que havia bronca no BCP, mas nada fez. Sabia, há sete anos(!) que havia bronca no BPN, e deixou-se estar sossegado.
Não há quem não saiba disto. Vem, todos os dias, em todos os jornais.
Mas o senhor Constâncio continua a constar.
Porquê? Um dedo que adivinha diz-me que é por ser socialista.
9.11.08
António Borges de Carvalho
ET. Hoje, Sábado, dou com a relação, publicada nos jornais, das mais altas figuras do BPN. Do impossível Machete ao industrial Coimbra, são todos próximos ou "internos" do PSD. Uma pergunta, que ficará sem resposta, me vem à ínvia mente: será que, se os tais senhores, ou o senhor Cadilhe, fossem da zona do PS, o banco teria sido nacionalizado, ou ter-se-ia adoptado a proposta da administração?
Aqui há uns dois ou três anos foram privatizados os notários. Melhor dizendo, foi autorizada aos privados a abertura de escritórios de notariado.
O negócio era, como toda a gente sabe, chorudo. Não faltou quem respondesse à nova oportunidade.
Logo a seguir, porém, ou por causa do chamado “simplex” ou por divertimento administrativo, começaram a chover os cortes no negócio. Os distintos juristas da profissão viram o mercado encolher.
Até aqui, vá lá. Os notários, em pouco tempo, contribuiram para o erário público com nada menos que 35 milhões de euros, o que quer dizer que, apesar de tudo, o negócio não é mau. 35 milhões é obra. Cumpriram.
E o Estado, ou seja, o governo do senhor Pinto de Sousa? O Estado, como é de timbre, não cumpriu.
Os notários, que precisam como do pão para a boca dos registos do Estado, e a quem o Estado, isto é, o governo do senhor Pinto de Sousa, tinha prometido a livre consulta de tais registos, nega aos notários o acesso às suas bases de dados.
Agora, vêm os notários pedir de volta o seu belo dinheirinho, e com carradas de razão. É claro que jamais o verão e, se virem algum, será daqui a muitos anos e sem juros.
É por estas e por outras que a “confiança” dos portugueses cresce todos os dias.
O proprietário do local onde funciona a sede do PC em Santiago do Cacém, ou coisa parecida, moveu àquela gente um processo de despejo. Segundo parece, o senhorio ganhou, ou vai ganhar a causa.
Com toda a razão, o PC esperneia. Então o PC, que sempre pagou a renda a tempo e horas, vai ser despejado? O PC, que pagava a fabulosa quantia de 4,72 euros por mês, vai, assim sem mais nem menos, para o olho da rua? Que justiça é esta? Que democracia é esta?
O Irritado, com a devida indignação, manifesta a sua solidariedade para com o PC, por mais esta manobra do imperialismo, do capitalismo e do neo-liberalismo, e propõe ao tenebroso senhorio que se contente com um aumento de renda, nos termos do NRAU, por exemplo para 5 euros por mês.
Com uma alegria sem limites, o Presidente Soares anunciou ao povo a grande novidade: o senhor Obama vai ganhar as eleições.
Dele espera o Presidente Soares as maiores maravilhas ainda que “não para já”.
O senhor foi descobrir o que eu, e tanta gente, anda à procura há meses e meses: a ideologia, a política, as medidas que o senhor Obama propõe. Julgo que descobriu muito mais do que o que o homem terá dito, em entrelinhas várias, e até desconfio que o Dr. Soares pôs na boca do homem o que o próprio gostaria que ele fizesse.
Se acreditarmos que o senhor Obama vai aceder aos desejos do nosso comentarista político, poderemos ficar contentes ou não. Mas saberemos o que se vai passar, isto é, que o senhor Obama, tendo lido o artigo de hoje do Dr. Soares no Diário de Notícias, vai agir em conformidade e obediência.
Não faço a mais pequena ideia do que será melhor para nós, se o Obama se o McCain.
De qualquer maneira, vistas as coisas daqui, parece que o Obama é uma espécie de Pinto de Sousa em versão universitária.
Por outro lado, para quem não gosta do senhor Bush, o raciocínio lógico deveria ser o de preferir McCain. É que o homem tem tido tanto trabalho para convencer as pessoas de que não é um continuador, que terá que adoptar políticas diferentes se quiser cumprir as promessas.
Isto, note-se, é dito antes de se saber quem ganha. Daqui a uns meses já poderemos avaliar se o Irritado teve razão, ou seja, se estamos mergulhados em blá blá, tipo Pinto de Sousa, ou em grande ansiedade por causa das novidades do senhor MCain.
Um dos resultados nefastos de uma democracia mal entendida tem sido, ao longo dos anos, a sindicalização de profissões que deveriam distinguir-se por uma postura mais consentânea com a dignidade, a especificidade, a posição e a influência social das suas funções.
Os médicos, os professores, os magistrados, os polícias, comportam-se como se fossem electricistas, estivadores, serralheiros ou almeidas da câmara. Nada do que corre mal é de sua responsabilidade. Tudo o que corre bem corre a seu crédito. Culpa alguma lhes cabe do mau funcionamento das instituições a que pertencem. Cada agente merece bom salário, respeito, consideração e regalias, parecendo que nada tem a dar em troca à sociedade.
Os médicos fazem greves como se de agulheiros se tratasse. Os professores, meu Deus, é o que se sabe, nenhuma responsabilidade lhes cabe seja no que for, não dão aulas de substituição, não querem ser avaliados. Os magistrados multiplicam-se em declarações sindicais paralelas ou afins às dos motoristas da Carris.
Em suma, as classes que deviam servir de exemplo, que se suporia interiorizarem responsabilidades sociais de topo, comportam-se como aquelas a quem tais responsabilidades não são exigidas.
A sociedade, como é lógico, perde referências. As “elites”, “proletarizadas”, deixam de o ser. O tecido social esfarrapa-se.
Não contesto que a todos e cada um dos elementos de tais perdidas elites caibam direitos e devam receber da sociedade a consideração, o respeito e a justa retribuição pelo seu trabalho. Já os meios que utilizam para defesa de tais direitos, sendo iguais, quiçá mais violentos e retumbantes, que os dos demais, não são compagináveis com a dignidade que dizem pretender conservar. Colocando-se em pé de igualdade com outros quando os seus mais ínfimos privilégios estão em causa, não só cavam a própria sepultura enquanto elites, como põem em causa estruturas fundamentais ao funcionamento da sociedade civil.
Desgraçadamente, a coisa chegou aos militares. Passado o consulado de Paulo Portas, que conseguiu alguma “pacificação”, voltámos à guerra aberta entre os militares e o governo. Os meus ouvidos nem queriam acreditar quando um secretário de estado - um diplomata penteadinho e oco - declarou que não havia problema de espécie nenhuma e que o governo trabalhava, como é normal, com as chefias militares em harmonia e cooperação. Dois dias depois, o chefe do estado maior declara que não senhor, que há problemas, e dos graves. Mais ou menos na mesma altura, outro general, com grande influência nos media e com altas responsabilidades políticas e pessoais, vem ameaçar as instituições: ou se portam bem ou se arriscam a uma golpada. Perguntado se não haveria exagero nas suas palavras, respondeu que nada tinha a tirar nem a acrescentar e que já tinha gasto a saliva que tinha a gastar com o assunto. Isto é, reafirmou a hipótese da golpada. Uma questão de cuspo.
Comparados com esta atitude, o “passeio” no Rossio e as sargentadas e tenentadas do costume são brincadeiras de crianças. Há, ao mais alto nível, militares insubordinados, irresponsáveis e impunes.
O Ministério da Defesa, como o país em geral, é dirigido por incapazes. Toda a gente o sabe. Mas daí até os generais ameaçarem a liberdade das pessoas com intentonas, vai uma distância cósmica. Daí até o general Eanes fazer pública demonstração de solidariedade com os “golpistas” a distância não será tão grande, mas é assutadora.
Parece que, se os motoristas da Carris, os despedidos dos texteis, os metalúrgicos ou os magistrados tivessem armas, justo seria que fizessem golpadas ou que ameaçassem fazê-las.
O vírus está por toda a parte. Como se recupera a textura social de um país que chegou onde nós estamos a chegar é coisa que nem o mais sábio saberá dizer.
O Irritado irritou-se com a forma como a entrevista da dona Manuela à SIC Notícias foi “recebida” pela imprensa do dia seguinte. No entanto, dada a hora indecentemente tardia em que tal entrevista foi transmitida, deu o Irritado o benefício da dúvida aos dois jornais “de referência” que costuma ler. Esperou mais um dia, perguntando a si próprio se não teria sido injusto.
Mais uma vez, porém, tinha carradas de razão.
O DN de ontem refere-se ao assunto na página 18, página par, note-se. O jornal, em vez de relatar a entrevista e as mensagens políticas da senhora, dedicou-se a um esquema de sugestões críticas e de implícitas insinuações. Para um jornal que, há uma semana, tinha dado cinco páginas, primeira incluída, ao senhor Pinto de Sousa, é obra. É, como o Pulido dizia ontem no jornal privado chamado “Público”, uma demonstração clara da subserviência jornalística ao poder e do sucesso da central de informção do governo.
O dito jornal privado, por seu lado, referia, na página 8, página par, note-se, uma intervenção da senhora no lançamento de um livro, artigo ilustrado com uma fotografia do senhor Mendes e ladeado por um destaque, a vermelho, intitulado “PSD em queda”, com o retrato dela. A entrevista, essa, era referida num parágrafo a propósito de umas bocas do inenarrável Silva Pereira sobre o assunto. Afinal, o dito jornal privado, tido como crítico do governo, age com os mesmos “critérios” do DN, isto é, mostra tanta subserviência ao poder como o seu congénere.
O “serviço” público de televisão acompanhou os jornais na sua obra de ocultação da informação e de distorção da verdade. Como era, aliás, de esperar, dado o comportamento “independente” do senhor Santos e da sua socretina trupe.
Nos outros canais não sabe o Irritado o que se passou. Mas não édifícil de imaginar.
Que país este, de felizes escravos do socialismo!
1.11.08
António Borges de Carvalho
E.T. Antes de publicar este Post, trouxeram-me o “Expresso” de hoje. Na primeira página, uma “boca” diz-nos que essa horrível criatura que dá pelo nome de Judite de Sousa (será prima do Pinto pelo lado do Sousa?) informou o PSD de que só admitirá a dona Manuela nos estúdios públicos depois da “definição das candidaturas autárquicas”. Isto é, o “serviço” público de televisão determina a seu bel prazer – ou a bel prazer do senhor Pinto de Sousa – quando, como e em que condições dará tempo de antena ao líder da Oposição! E mais, escolhe, não um momento em que tal líder se possa perfilar enquanto tal perante a opinião pública, mas outro em que impõe o “tema” das eleições autárquicas, porque sabe que, nesta matéria, a senhora enfrenta contestação interna, com os Marcelos e os Pachecos à perna, mordidos de inveja por causa da candidatura do Dr. Santana Lopes à CML.
E mais. O “Expresso” põe o senhor Pinto de Sousa no “pódio”, porque “uma só entrevista rendeu vários dias”, constituindo a “arte de multiplicar os pães”. Dona Manuela, por seu lado, fica na posição inversa, porque “várias entrevistas numa só semana e a mensagem não passa. Falta de jeito?”
Pergunta o Irritado: porque é que a mensagem da senhora não passa? A resposta é de uma simplicidade cristalina:porque os “expressos” deste pobre país não a fazem passar, a não ser em comentários que, as mais das vezes, correspondem a leituras enviesadas do que ela disse. Se os órgãos de “informação” entrevistam a senhora à meia-noite, no cabo, e não retomam a entrevista nos dias seguintes, é evidente que não se trata de falta de jeito da visada, mas de pura malevolência dos tais órgãos. Ou, como é evidente, do militante servilismo dos mesmos em relação ao poder socialista.
E mais. O “Expresso” dedica exclusivamente ao PSD a página “Oposição”. De duas formas significativas. Sem jamais referir o que, na verdade, a senhora disse, dedica-se o jornal do “militante nº1” a tecer os mais judiciosos comentários sobre o que andam a fazer os marcos antónios, os meneses e quejandos. Em conclusão, vaticina alegremente o fim da senhora, já, ou mais daqui a bocadinho.
E, ó maravilha!, um terço da página é preenchido com um artigo da autoria do senhor Silva Pereira, alter ego do senhor Pinto de Sousa e ministro (onde chegámos!) não sei de quê. Sua Excelência dedica-se a demolir a senhora, ignorando, pura e simplesmente, todas as suas ideias e propostas. Ninguém poderá reclamar, já que, emboa verdade, ninguém sabe o que ela disse. As ideias e propostas da senhora não vêm escritas em parte nenhuma, nem são repetidas, como as parlapatices do senhor Pinto de Sousa, dias a fio, por jormais, rádios e televisões.
Os relatórios sobre o acidente na linha do Tua referem, ainda que de forma suave, o estado, verdadeiramente miserável, em que se encontrava o troço de via onde o combóio se espetou.
Ao Irritado, como a qualquer cidadão, bastou olhar as fotografias de tal troço, publicadas na imprensa, para chegar à mesma conclusão. A evidência (travessas esfareladas, fixações fora do sítio, balastro arruinado, etc.) era de tal ordem que pode dizer-se que os responsáveis pela manutenção da linha foram apanhados em flagrante delito de negligência, de incompetência e de desrespeito pala vida dos passageiros, com consequências homicidas.
Os relatórios dizem que o acidente revela falta de conservação (mais que manutenção, simples conservação) da linha, podendo “originar uma elevada probabilidade de pôr em risco a segurança da circulação”. Mas os “responsáveis” da Refer apressaram-se a argumentar que “as fotos denotam situações que na realidade não são tão preocupantes”. Note-se, sem mais comentários, o rigor técnico desta alegação.
Em resumo, podemos ficar descansados. Daqui a largos anos, depois de mais dezóito comissões de inquérito terem emitido as suas esclarecidas opiniões, depois de as companhias de seguros se terem safo de pagar indemnizações, depois de sete tribunais terem emitido doutos acórdãos, o mais provável é que o assunto tenha morrido mergulhado nessa maravilha fatal da nossa idade que se chama prescrição. Todos continuaremos em paz, os mortos com os mortos, os vivos a tratar de outros assuntos, mais interessantes que este insignificante fait divers.