O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA.
Winston Churchill
O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA.
Winston Churchill
Jornalistas, comentadores, professores, intelectuais, opinadores, gurus, pregadores de várias confissões, etc., desdobraram-se ontem à noite, e desdobrar-se-ão hoje, amanhã e depois e depois e depois, nas mais desvairadas opiniões, cenários, previsões, pensamentos, declarações, considerações, qual delas mais douta, mais sábia, mais eloquente, elucidativa, forte, crítica, pensada, documentada, fundamentada, brilhante, sobre o que disse o Presidente da República acerca das porcarias que se fizeram no Parlamento a pretexto do estatuto dessa coisa a que se, em má hora, se deu o nome de região autónoma dos Açores.
Pelo menos em seis canais de televisão não se falou, toda a noite, doutra coisa. Hoje, os jornais, reais e virtuais, encherão páginas e páginas com o assunto. De tempestade num copo de água a importantíssima violação constitucional, de comichão passageira a doença incurável, tudo vai ser dito, redito, badalado, repisado.
O primeiro a vir à liça, coisa odiosa, foi esse aparatchik de pacotilha que dá pelo nome de Vitalino (nome que nem no dicionário vem). Numa das suas habituais tiradas de propaganda, o homem diz que não deu por nada. O Presidente não disse nada de especial, a democracia é feita de desentendimentos, tudo normal, tudo nos conformes, a vida continua no melhor dos mundos, o PS aí vai, triunfante, na senda do progresso e do apoio popular, enquanto o PSD se entretém a meter os pés pelas mãos. O Silva, amanhã, proferirá alarvidades de jaez semelhante, a preparar a malta para mais umas bocas do chefe.
O Irritado, após profunda reflexão, sente-se no inalienável direito de emitir a sua modesta opinião. Modesta, mas séria, a única boa, modéstia aparte. Pelo menos melhor que a do Vitalino.
O que se passa não é um problema constitucional. Não é uma questão jurídica. Não é um problema político. Não é uma birra de comadres.
É, simplesmente, uma história de carroceiros.
Passo a explicar:
Se, como disseram as luminárias do PS, se tratasse de uma questão de somenos, então porquê insistir? Se se tratasse de uma interpretação legítima da Constituição, então porque fazer finca-pé? Se fosse pouco importante, porquê levar a coisa até à rotura? Se todos os especialistas, incluindo o glorioso propagandista do PS que dá pelo nome de Vital Moreira, acham que o Presidente tem razão, porquê insistir na burrice, na asneira, na provocação?
A resposta é fácil. Trata-se de gente sem princípios, sem moral - ou com moral republicana… - que aproveita para esticar a corda, a ver se mete nos varais quem nomeou inimigo. Que interessa a Constituição, que interessa a boa educação, que interessa a dignidade da Nação, das instituições, da política, se aquela gente viu uma oportunidade de “vencer”, mesmo que tripudiando, enganando, criando dificuldades, sendo ordinário?
É, repita-se, um problema de educação. Coisa que jamais existiu nessa gente que se chama Partido Socialista, e de há anos agravada pela chefia de um provinciano mentiroso e autoritário, autor de projectos analfabetos e de rábulas politécnicas. Se temos oportunidade, pensa essa gente, de nos pôr em cima do Presidente da República, porque não fazê-lo? O que queremos é poder, não é? Então que se aplique a moral republicana, que é a moral do PS. E se os idiotas do PSD e do CDS nos fazem companhia, hemos de convir que a carroceirada não só é livre como benquista e generalizada!
O homúnculo do PPD, um tal Rangel, digno sucessor do masoquista Mendes, sem chama nem vida, deu largas, rangendo, à monumental cobardia de não reconhecer os seus erros e não voltar atrás. Carroceiro!
O CDS acompanha a bestialidade geral, possuído, ao que parece – pelo menos é o que diz esse nado morto da política que dá pelo nome de Ribeiro e Castro – da ambição de casar Portas com Pinto de Sousa (que ternura!).
Os partidos comunistas, embora reconhecendo (disseram-no!) que o Presidente tem carradas de razão, cumprem o seu papel com o nobre objectivo de desgastar o único poder eleito que não é da família.
A Nação, que fez a mais racista das descolonizações ao recusar a independência a quem não fosse preto, acaba por “despromover” as instituições soberanas a favor dos “poderes” regionais.
O senhor César, digno membro da trupe socialista, ri-se a bandeiras despregadas: é mais fácil dissolver o Parlamento do Estado que a assembleiazeca lá do sítio!
Perante o carroceirismo, a estupidez e o oportunismo triunfantes, não sei o que quero, nem o que pensar.
Mas, no calor da indignação, apetece-me dizer aos ilhéus que vão bugiar, chatear outro, pentear macacos, pastar caracóis. Que se governem com o dinheiro que gerarem em vez de se locupletar com o nosso. Que viajem, independentes e livres, ao preço a que viajam os demais. Que paguem a gasolina ao preço que for. Que não tenham privilégios, como nós não temos. Que paguem os custos da insularidade como nós os pagamos, mais os da ocidentalidade.
Afinal, para que servem os arquipélagos? Eu sei, é para alargar a zona económica exclusiva. Seria um bom argumento, se, nesta pobre terra, se ligasse bóia à tal zona. Se ninguém se preocupa com isso, pagamos para quê? Para sustentar os Césares e os seus parasitários socialismos?
Por certo a título de presente, os números 1 e 2 do Partido socialista aproveitaram a quadra para presentear a Nação com duas descobertas sensacionais:
a)O senhor Pinto de Sousa, na sua mensagem de Natal, comunicou que, afinal, quem manda nas taxas de juro na zona euro não é, como se julgava, o Banco Central Europeu, mas o Governo Português! Veja-se a euro-importância do país, por obra e graça do senhor Pinto de Sousa. Todos, nós e os restantes cidadãos europeus, devemos estar obrigadíssimos em relação à baixa da taxa de juro na UE, obra do seu ilustríssimo governo;
b)O Costa, esse, é mais modesto: às 23,30 de 5ª feira anunciou que a pobreza, em Portugal, por obra e graça do PS e do seu magnífico governo, tinha descido de 40 para 18 por cento. Dando de barato que, às 23,45, o mesmo senhor, no mesmo local, informava que tal descida partia, não de 40, mas de 23 por cento, pode concluir-se que, se o senhor Pinto de Sousa der 500 euros a cada pobre pelo Natal, os felizes contemplados deixam automaticamente e de uma vez por todas, de ser pobres.
Assim vão as verdades oficiais.
PONTAPÉS NA BOLA
Mais uma vez, o Irritado, que nunca foi doente da bola (de futebol), não resiste a duas observaçõesinhas:
Na mesma jornada do campeonato:
- um senhor árbitro, com cujo nome não sujarei esta página, deixou por marcar dois penáltis contra o Fê Cê Pê;
- outro senhor árbitro, inominado pelas mesmas razões, anulou um golo limpíssimo ao Esse Ele Bê.
É sempre bom repetir o que está certo. Aí vai um velho conselho, à atenção do senhor …berto Catrapil:
- exportem-se os árbitros portugueses para o Afeganistão, onde poderão desempenhar um papel de relevo nos verdes campos de papoilas;
- Importe-se igual número de árbitros da 5ª divisão do Reino Unido, a fim de suprir as necessidades.
É fácil, é barato, e pode ser que o futebol, por cá, passe a ter alguma credibilidade.
JUSTELA DE CASTIÇA
Veja-se este mimo:
- Uma fulana, especialista em alugar apartamentos a mulheres de vida fácil (fácil?), é estrangulada e, de seguida, degolada por um “cliente”;
- o dito cliente foi apanhado pela polícia;
- presente ao juiz, confessou o crime, faltando ainda saber se o cometeu sozinho ou acompanhado;
- perante estas circunstâncias, o cidadão em causa, prenhe de direitos, foi pelo meritíssimo mandado para casa, onde ficará em prisão domiciliária;
- a GNR montou guarda à porta do senhor, a fim de evitar que o mesmo saia para comprar fósforos;
- a seu tempo, isto é, logo que os serviços competentes forneçam à GNR a indispensável pulseira electrónica, cujo prazo de entrega parece ser longo, a mesma será carinhosamente colocada no pulso do impoluto cidadão.
Até aqui, trata-se de factos que são do domínio público.
Permita-se-nos agora que façamos algumas previsões:
- tudo se passará dentro da maior das normalidades:
- a GNR passará o tempo que for preciso a fazer cera à porta do fulano;
- quando o fornecedor de pulseiras enviar, por Express Mail, a pulseira encomendada, os senhores guardas subirão ao quarto esquerdo, a fim de pedir licença para colocar o adereço no pulso do senhor;
- a esposa do cidadão em causa informará os senhores guardas sobre a estranha circunstância de o seu bem amado esposo ter saído pela janela da casa de banho já há uns dias, a fim de ir à rua comprar uma caixa de fósforos, e ainda não ter voltado, o que muito a inquieta;
- os senhores guardas, incomodados com a situação da pobre senhora, regressarão a quartéis a fim de levantar o competente auto de ocorrência;
- meses passados dar-se-á o arquivamento do processo;
- uns anos depois, prescrito o crime, o nobre cidadão regressará à pátria e ao convívio dos seus.
AGENTES PENSANTES
Uma senhora professora, indignadíssima, no meio de uma manifestação de repúdio, exibia (a fotografia vem no jornal) uma folha com um “poema” de protesto manuscrito com uma caligrafia que, no meu tempo, levaria um menino da quarta classe a passar uma hora virado para a parede.
Podemos ler, no dito jornal, as estrofes 3 e 4 do referido poema. Tal e qual como segue:
"3) Este modelo
Cheira mesmo a Pinochet
Imposto a todo o custo
O vá-se (sic!!!) lá saber porquê
Ai, ai, ai, ai
Já chega de palhaçada
Reuniões a toda a hora
Não vamos em carneirad
4) Os prof. são agentes pensantes
E não querem alinhar
Em políticas errantes
Ai, ai, ai, ai
Não gosto desta mulher
Sr 1º Ministro
(???) lhe outro tacho qq."
Onde vamos parar com “agentes pensantes” deste calibre é coisa que, desgraçadamente, não é difícil de imaginar.
POBRES CRIANCINHAS!
A distinta associação que diz representar os pais dos alunos do secundário, perante a história dos meninos que apontaram à professora uma pistola de plástico exigindo melhores notas, criticou violentamente o sistema por permitir… o uso de telemóveis nas aulas.
Isto é, para os distintos pais, isso de pistolas de plástico, de ameaças, de exigências, de bagunça nas aulas, não passa de peanuts. Importante e grave é que os meninos filmem os acontecimentos, transformando a aula em plateau e umas meras agressões, uns gritos, uns palavrões, uns empurrões, uns passeios por cima das carteiras, num escândalo.
Como se não fosse tudo mais que normal, curial, próprio da melhor e mais bem educada juventude!
Por seu lado, as ínclitas “autoridades” com jurisdição na matéria, desde aquela senhora que proibiu os professores de ter opiniões políticas contrárias às do senhor Pinto de Sousa até à direcção da escola, acharam tudo mais que normal. Uma pistola de plástico? Que giro! Uns empurrões? Uma delícia! Uns pulos por cima das carteiras durante a aula? Que ternura!
Houve, durante seis meses, uma trégua entre o Hamas e Israel.
Esgotado o prazo da trégua (o Hamas é cumpridor!), vai de pegar nos rockets e desatar aos tiros, por cima do muro, a flagelar o inimigo.
Se olharmos com alguma atenção para os chamados media, a coisa passou como a mais natural delas. Pois se os israelitas são inimigos e se a trégua chegou ao fim, é mais qque natural que a rapaziada do Hamas desate à bomba, não é? Coisas que se metem pelos olhos dentro.
O pior foi quando os israeleitas se irritaram e vai de responder com umas bojardas curúrgicas, as quais, como é evidente e não pode deixar de ser, causam “danos colaterias”. E aí temos os chamados media a meter-nos pela casa dentro os horrores dos danos colaterais. A multidão aos berros, o sangue na televisão, os funerais ululantes, etc.
A ninguém ainda ocorreu dizer que, no caso dos rockets do Hamas, os danos são todos “colaterais”. São a regra, não a excepção.
Os governos ocidentais, a União Europeia, o mundo livre em geral, reage oficialmente condenando o Hamas e pedindo a Israel respostas “proporcionais”. A coisa é referida nos telejornais e quejandos como se se tratasse de desculpas de mau pagador. Vão multiplicar-se as entrevistas com os que, coitados, perderam alguém, mas só do lado do Hamas, a dar ideia de que os outros não morrem, nem têm família, nem merecem atenção.
Efeitos do nacionalismo que a esquerda foi buscar aos arcanos do fascismo.
Toda a gente, a começar pelos seus autores, já percebeu que o orçamanto do Estado para 2009 é um papelucho sem sentido, um mar de pressupostos falsos, uma aldrabice irrealizável, um pano encharcado atirado à cara das pessoas por um governo sem rei nem roque, nem filosofia, nem projecto outro que não seja continuar a ser governo.
Ora, se se fabricou tal chorrilho de disparates, o Presidente tem a mais elementar obrigação de mandar a coisa para trás, mais que não seja com a exigência de que sejam revistos os pontos de partida das contas do governo. O que não pode é deixar que se entre o ano com contas erradas à partida, e se baseie a nossa vidinha em tais dislates.
Não surpreende ninguém que o General Eanes ache que o Presidente devia dissolver o parlamento por causa da guerra dos Açores. Para o General Eanes, enquanto Presidente, dissolver o Parlamento era o desporto predilecto. Nas horas vagas, nomeava governos. Depois, a Constituição foi revista (1982) e o General teve que meter a viola no saco. Até ao dia em que o partido que fabricou (o horroroso e felizmente já defunto PRD) arranjou uma moção de censura e obrigou a mais uma dissolução.
A coisa, nos termos da Constituição, ficou estabilizada. Até que o golpista Sampaio abusou dela e exerceu o poder de dissolução sem mais nem ontem, ao sabor das suas preferências partidárias. O PS tinha um novo líder, estava estabilizado, O PC também. O governo PSD/CDS era atacado por dá cá aquela palha. Era o momento! Trás!
Terá começado a IV República.
Demos a mão à palmatória: o General, agora, tem razão.
Se o Presidente é o guardião da Constituição, se a Constituição é miseravelmente espezinhada pelo Parlamento, se este, apesar dos avisos do Presidente, comete a brutal irresponsabilidade de devolver o estatuto dos Açores sem o modificar, isto é, se, provocatória e desrespeitosamente, põe em causa as funções contitucionais do Presidente, então o Presidente tem que dissolver a recalcitrante e irrazoável assembleia.
Cavaco tem, porém, o direito a fazer as suas contas políticas. Sampaio não as fez?
Então se, a avaliar pelas sondagens, o senhor Pinto de Sousa é capaz de ganhar as eleições e continuar a sua devastadora obra por mais quatro anos, a única hipótese que o Presidente tem, se puser os interesses da Nação acima da sua própria honra, é a de aguentar, mandar a porcaria dos Açores para o Tribunal Constitucional, e esperar calmamente que os meses que faltam para as eleições tragam algum bom senso à cabecita tonta dos portugueses.
Com a “informação” que temos vai ser difícil. Com os pachecos, os sarmentos, os marcelos a dizer asneiras, vai ser difícil. Mas, quem sabe, se a tal “informação” suspeitar que pode haver outra saída, talvez comece a informar com alguma independência. Se o fizer, daqui a uns meses o futuro talvez seja menos negro do que é agora.
Avoluma-se a multidão dos fiéis do anti-capitalismo e do anti-liberalismo, primários, secundários e terciários.
À frente do cortejo, os camaradas Jerónimo, Louça e Soares, riem a bandeiras despregadas, agitanto os braços à turba que os aplaude. No seio das massas, o camarada Tavares, de todos o mais intransigente, agita o povo. Em São Bento, o senhor Pinto Sousa ouve o último conselho do Silva antes de anunciar mais umas borlas. O seu problema é o velho ditado que reza que “quando a esmola é grande o pobre desconfia”. E como, no seu caso, nem sequer hà esmola, só blá blá, só aldrabices, só o socialismo a triunfar no BPP, no BPN, na CGD, o senhor Pinto de Sousa inquieta-se, coitado, e com razão.
Verdade, porém, é que, segundo a esperança ou a certeza dos fiéis, a religião socialista, finalmente, vai triunfar!
Afogado nos seus mortais pecados, o cadáver do capitalismo, sobretudo da mais negregada das suas formas, o capitalismo liberal, já quase frio, encaminha-se para as chamas do inferno. Porque faltou aos mandamentos da moral republicana, da moral marxista, da moral trotskista, da moral mussoliniana, porque, entre nós, não foi, como os profetas justamente aconselhavam, dizimado na arena justiceira do Campo Pequeno e renasceu das cinzas pela mão da mais tenebrosa reacção e do engano fatal do camarada Soares.
Na senda gloriosa de Marx, Lenine, Bernstein, Trotsky, Staline, Hitler, Fidel, Che, Kim Sung Il, Mussolini e de tantos outros honrados socialistas, os fiéis proclamam, não (ainda!) a vitória final dos amanhãs que cantam, mas a morte do infiel, do herético, do excomungado capitalismo.
A crise aí está, a pedir uma “nova ordem”, um novo “paradigma”, uma “organização baseada noutros princípios”, que não os da escória liberal, do gangsterismo americano, das cedências chinesas.
O problema, para a parte menos ignorante das hostes, é que, nos últimos duzentos anos, já houve nada menos que 17 (dezassete!) crises financeiras e que o capitalismo se aguentou com todas elas. O problema é que o capitalismo brota como as flores da Primavera depois do Inverno. O problema é que, por exemplo, no auge do socialismo soviético, os motoristas de praça vendiam caviar aos estrangeiros a um dólar cada lata e os empregados de mesa trocavam rublos ao preço da uva podre. O problema, por exemplo, é que, no auge do socialismo angolano – o socialismo esquemático -, os mercados paralelos eram tantos e tão grandes que não havia força que os conseguisse combater.
O problema é que os mais pobres dos mais pobres querem ser propritários, nem que seja da paragem de autocarro onde passam a noite.
O problema é que o capitalismo é a vida, como dizia Revel. E, quando sob o primado do direito, é aquilo a que se chama capitalismo liberal. O resto, a “salvação”, os “novos paradigmas”, como diz Soares, as “novas ordens” como diz Jerónimo e dizia Hitler, não é vida.
Por isso que, no fundo, a constipação do sistema, que talvez seja uma pneumonia, é isso mesmo. Cura-se. Não se sabe como. Há quem queira curar a doença com veneno, como é o caso do senhor Pinto de Sousa. Há quem queira curar o mal com receitas esquerdistas. Há, até, horribile visu!, quem se valha de Lord Keynes para defender o socialismo! Há de tudo, como na farmácia. O problema é que não se curam pneumonias com remédios para a caspa.
A vida encarregar-se-á de ganhar sobre a morte, ou seja, o capitalismo passará. As hordas de fiéis do socialismo voltarão para o sossego do lar, até que uma nova crise lhes devolva a esperança de fazer com que a morte triunfe sobre a vida.
O “referencial” da III República que dá pelo nome de Mário Soares presenteou a Nação com mais uma artigalhada político-obamista.
Desta vez, tristemente, as coisas ficaram ainda mais confusas do que é habitual.
Na opinião do ilustre senhor, a principal crise é “político-moral”, ou “crise de valores”. A parte económica e financeira é coisa de somenos importância. Relevante será criar “um novo paradigma”, que ninguém sabe o que é nem o articulista se dá ao trabalho de explicar, um “paradigma” que acabe de vez com o neo-liberalismo, coisa que o nosso bem-amado referencial também não sabe bem o que seja, mas que, de braço dado com o senhor George Bush, é fonte e causa de todos os males deste mundo, da fome à caspa, da guerra ao colesterol.
O nosso homem não sabe que esse repugnante neo-liberalismo tirou da mais profunda pobreza e trouxe para a via do progresso económico e social biliões de pessoas que, há muitos séculos, outra coisa não conheciam que não a miséria e a fome (muitas vezes por causa do socialismo), e aportou à comunidade global novos valores e novas formas de convívio, de comunicação e de possibilidades de compreensão e de vida em paz. Não sabe ou não quer saber?
Para ele, só o socialismo, o controlo feroz das economias (e das pessoas) pode levar a um mundo em que os valores (dele) tenham direito de cidade. O caminho de tantas e tantas “vítimas” da globalização e do neo-liberalismo é coisa que, para ele, não existe.
O que existe, para ele, é o lado mais negro de tudo.
E o que existe, nele, é um indisfarçável quão acéfalo júbilo de ver um sistema em crise, o enorme gozo que as desgraças do mundo lhe causam, o sadismo sem freio com que comemora tudo o que tem corrido mal, o anátema inquisitório com que condena todos os que não comungam das suas ideias de “progresso” socialista.
O antigo dirigente pró-americano – se não fossem os americanos jamais chegaria onde chegou -, o antigo político pró-NATO, o homem que em épocas distantes (quando ainda tinha alguma consciência da realidade), meteu o socialismo na gaveta, diverte-se, com a maior alegria, a condenar o sistema que o promoveu, e a achar que a presente pneumonia do capitalismo é um cancro congénito e incurável.
O senhor Bush ia levando com dois sapatos? Óptimo! O sapateiral “jornalista” é um herói! Os tipos que matam milhares de civis todos os dias no Iraque e no Afeganistão são uns heróis! Os aiatolas merecem o maior dos respeitos!
Tudo que se seja anti-americano, anti-ocidental, anti-cristão e anti-liberal é bom!
É claro, São Barak, novo padroeiro do Dr. Soares, vai arranjar tudo, dar cabo do negregado neo-liberalismo, do liberalismo tout court, acabar com as guerras, com a tortura, seguir à risca o programa político que o Dr. Soares para ele inventou.
A Europa é que é pior. Desta vez com razão, o Dr. Soares queixa-se da falta de uma resposta “única” da Europa à crise. São Barak, esse vai arranjar uma resposta, uma mezinha salvadora, “única” para todos os Estados da União. Na Europa, é o que se vê.
O problema é que, depois desta análise, fácil mas razoável, o senhor parte para um remédio pelo menos paradoxal. Deixa de advogar uma resposta unida da Europa para defender uma resposta nacional! Não cansa: por três ou quatro vezes, o Dr. Soares repisa e sublinha que a resposta à crise tem que ser nacional (o itálico é dele).
É comum à esquerda adoptar o neo-nacionalismo. Só não se sabia que o Dr. Soares alinhava com bascos e catalães, com chechenos e sérvios, no nacionalismo de esquerda!
Procurando resolver a insanável contradição, aventemos que, se calhar, o que ele quer dizer é que nos devemos “unir” para, todos juntos, dar resposta à crise e encontrar, nacionalmente unidos, o tal novo paradigma. Não irei tão longe quanto argumentar que já o Doutor Oliveira Salazar dizia o mesmo. Mas arrisco esta interpretação: o Dr. Soares quer que se baixe bandeiras para que todos, em uníssono, atrás do senhor Pinto de Sousa, caminhemos na gloriosa marcha para os amanhãs soaristas; quer que o Doutor Cavaco meta a viola no saco; quer que a dona Manuela se cale; quer que o Alegre deixe de chatear; quer o Jerónimo e o Louça nos varais. Todos, todos unidos, obedientes, agradecidos, veneradores e obrigados, jubilosos, de braço dado com o senhor Pinto de Sousa e o socialismo da treta.
Que o Menino Jesus e o 2009 tragam algum discernimento à cabecita do simpático ancião!
- O Presidente do Benfica manda partir as pernas ao Liedson;
- O Presidente do Sporting fica furibundo, mas não sabe como há-de responder porque olha para o espelho e se acha um tipo civilizado;
- O Presidente do Benfica informa que, se mandou partir as pernas ao Liedson, é porque, por uma questão de coerência e de fidelidade aos sócios, acha que o Liedson deve deixar de meter golos;
- O Presidente do Sporting fecha-se em copas, sendo de presumir que, na primeira esquina, dê cabo do canastro ao Presidente do Benfica.
- O Presidente do Benfica informa a imprensa que tem, com o Presidente do Sporting, uma “relação institucional impecável”.
Mutatis mutandis, é o que se verifica entre o Primeiro-Ministro e o Presidente da República:
O senhor Pinto de Sousa, para agradar à massa associativa, manda partir as constitucionais pernas do Doutor Cavaco. Mas, como é um tipo coerente, verdadeiro e patriota, acha que os que não pertencem à massa associativa, incluindo o doutor Cavaco, são irrecuperavelmente estúpidos.
E como, lá bem no fundo, está borrado de medo das possíveis reacções do Doutor Cavaco, acima de tudo com a hipótese de ele preferir fazer-lhe a vida negra a dar-lhe o presente de natal da dissolução da Assembleia, trata de dizer que a “relação institucional é impecável”, isto para tentar partir as pernas à reacção do ofendido.
O homem tem mais lata que uma fábrica de conservas.
A ver vamos quem será o verdadeiro estúpido no meio de mais esta monstruosa trapalhada.
Em mais uma prova de incontornável democraticidade, o camarada Chávez, amigo e irmão ideológico do senhor Pinto de Sousa, impede que os governadores de estado eleitos pela oposição tomem posse.
Por ordem do chefe, os parlamentos estaduais recusam aceitar o seu juramento.
Cúmulo do requinte, nos estados em que a tomada de posse depende dos tribunais, o camarada Chávez substitui os juízes, a fim de obter o mesmo resultado.
Grande democrata! Grande exemplo para o senhor Pinto de Sousa.
Os professores não param de nos alimentar com notícias.
Desta vez, calcule-se, a laboriosa classe informa que 75% dos seus membros deseja ardentemente mudar de profissão.
Veja-se a força da vocação desta gente, admire-se a dedicação que demonstra pelo ensino, elogie-se o sacrifício que faz pelas novas gerações!
E mais: 87% dos professores, se pudesse, passava já à reforma!
O Irritado, comovido com a situação, dá aos nobres professores um modesto conselho: se querem mudar de profissão, mudem!
Não percebem que um dos cancros da sociedade portuguesa é isto de se trocar o que se gostaria de fazer, o que implica esforço, risco, aprendizagem, brio, trabalho, por uma profissãozinha que se abomina mas que garante um ordenadinho ao fim do mês, uma reforminha ao fim da vida e ainda dá direito a fazer uma barulheira do caneco quando não se está de acordo?
Mudem, porra! Sejam gente! Andem para a frente! Ajudem a sociedade a andar para a frente!
Aos que querem a reforma já, o Irritado não pode prestar socorro. Compreende que o sonho da sua miserável vidinha seja o de receber o dinheiro dos outros, já, sem fazer a ponta de um corno. Mas, hélas!, têm que esperar como os demais.
Se, enquanto esperam, fizerem alguma coisa de útil, então parabéns.
Se esperarem que o tempo passe e que o povo pague, lá terão a reforminha. Terão vivido inutilmente, mas não morrem de fome. Talvez de inanição.
O Irritado, normalmente, lê o que o Doutor Pulido Valente (Correia Guedes, de seu pai) escreve e, concordando ou não, aprecia a cultura, a inteligência, o humor cáustico do senhor.
O Irritado compreende que, para a nacional-inteligentsia, seja intolerável a existência e a popularidade do Dr. Santana Lopes. Até aceita que os pachecos, mais o baronato e o generalato do PSD estejam contra a sua candidatura à Câmara de Lisboa, já que é seu hábito estar contra o seu próprio partido. Manuéis alegres no PSD, são aos pontapés.
O que se não pode aturar é que o doutor Valente, valentemente, acuse a dona Manuela de ter metido o “inimigo” na barbacã.
O Dr. Santana Lopes, goste-se ou não, tem feito o seu caminho de líder popular - nunca populista – sem hostilizar seja quem for dentro do seu partido. Como pode o Doutor Valente “ler” o contrário?
Para só falar dos tempos mais recentes, vejamos:
- Quando o líder era o suicida Marques Mendes, quem foi inimigo de quem? O Dr. Santana Lopes, não concordando com o líder, perseguiu-o? Ou foi o absurdo Mendes quem fez o que podia e o que não devia para dar cabo de Santana?
- Quando o líder era o indiscutivelmente alarve Menezes, o Dr. Santana Lopes denegriu-o? Pelo contrário, prestou-se, com sacrifício pessoal, e apesar do Meneses, a dar ao partido alguma consistência política no parlamento.
- Tendo sido vencido em eleições pela dona Manuela, dedicou-se a atacá-la? Ou foi a dona Manuela quem, em tempos, disse cobras e lagartos de Santana Lopes? Pagou-lhe ele na mesma moeda? Não! Anda ele para aí, como o rapaz Passos, a “criar espaços”? Não.
Então onde é que o Doutor Valente vai buscar esta do “inimigo” que dona Manuela mete nas hostes para se auto-destruir?
Sabem onde? Ao despeito que anima certos intelectuais que nunca foram capazes de fazer política, boa ou má, e que se revela contra quem, sem a “explicação” das vantagens pessoais, dá a cara pelo serviço público.
Que o Doutor Valente vá, de braço dado com o Pacheco, votar à Marmeleira, pode aceitar-se. Que vote no Costa/Fernandes/Roseta, pode aceitar-se também, ainda que lamentando o lapso de massa cinzenta que tal voto revela. Agora que se sirva de argumentos “históricos” totalmente falsos para dar largas ao seu despeito e à sua inveja, é coisa imprópria de um intelectual e de um homem que se preze.
O que dona Manuela fez foi ir buscar, para disputar a Câmara de Lisboa, o único homem do seu partido que, comprovadamente, é capaz de fazer alguma coisa útil pela cidade. Além de, como é óbvio e se mete pelos olhos dentro, ser o único capaz de se bater taco-a-taco com o Costa e de dar cabo dele, e do Fernandes, e da Roseta. O que será, sem sombra de dúvida, um dos mais altos e relevantes serviços jamais prestados por um lisboeta à sua cidade.
A Câmara do Costa é uma autêntica mãe galinha para a distinta classe dos advogados. Nos primeiros onze meses deste ano gastou mais 60% do que o total acumulado dos três anos anteriores, em “consultas externas”. Nada menos que 462.942,00 euros! É obra! É a obra do Costa, que outra se lhe não conhece.
Chegou a CML ao requinte de “contratar” um jurista que era funcionário da CML! Mais obra! É claro que tal jurista, coitado, que só cobrou 242.000,00 euros, se viu na contingência de, por causa das moscas, se desvincular da CML em Setembro p.p.. Segundo informação oficial, o senhor tinha sido contratado pelo Carmona. O Costa, como é evidente, não protege os amigos.
Haverá que sublinhar, como dado importante que a sociedade à qual o tal senhor pertence geriu tão bem o dossier que lhe foi entregue que a CML foi condenada a pagar aos empreiteiros queixosos a módica quantia de 17 milhões de euros. Lindo serviço.
A título de rebuçado final, aí vai mais uma: sabem quanto custaram à CML as maluquices do caloteiro Fernandes, sócio do peito do Costa, por causa do túnel do Marquês, só no que diz respeito aos serviços jurídicos usados, em 2005, por causa do embargo que o tarado motivou? Nada menos que 136.500,00 euros. Somem isto aos milhões que a paralisação da obra custou, e vejam o que a cidade “deve” ao Fernandes.
Há quem diga que as “medidas” que o governo tem vindo a tomar por causa da crise são indiscutíveis. Ninguém sabe se estão certas, mas pouco há quem diga que estão erradas. Ninguém sabendo exactamente o que há a fazer, ninguém arrisca opinar.
Uma coisa é certa. A esquerda já não convence ninguém com a estapafúrdia tese de se estar a “proteger” a banca (os ricos) e a esquecer os “pobres”.
Toda a gente sabe, ou já devia ter percebido, que a crise que, para já, os “pobres” sentem, não tem nada a ver com a crise de que se fala, mas sim com os resultados destes anos de “governação” socialista. Senti-la-iam de qualquer maneira, mesmo que não houvesse buracos nas bolsas, que o mundo estivesse na maior, que não houvesse BPN, nem Lehman Brothers, nem BPP ou AIG. A crise que afecta a generalidade dos portugueses é fruto de três anos de poderio absoluto do Estado, de garrotamento da economia por via fiscal, de drenagem de recursos de poupança ou consumo para os cofres do Estado. É consequência directa e inevitável de anos de propaganda de grandes coisas e de total imobilismo em relação às que importam. É a filha directa de uma política social cega, feita de anúncios e de injustiças, ou à bolina ou ao sabor dos ventos, sem controlo, sem gestão, sem projecto, sem rei nem roque.
A outra crise, a importada, não tenhamos ilusões, também a seu tempo a sentiremos com inaudita brutalidade.
O governo oferece os sinais contraditórios do costume, a ver se mantem a malta calada. Aconselha prudência mas, se as pessoas são prudentes, vai de incitar ao consumo, para manter a economia a funcionar. Aconselha a banca a apertar critérios para obviar ao crédito mal parado, mas zanga-se com a banca se alguém lhe diz que a banca já não empresta como emprestava.
O ministro das finanças, autor de um orçamento de fábula, chega ao ponto de ameaçar a banca com a “retirada” dos avais se ela não emprestar a massa que algum amigo do PS lhe pedir. Como se fosse possível “retirar” um aval. Como se os avais do Estado português não fossem os mais caros da UE. A asneira é livre, como se sabe, mas, que diabo, o governo de um país europeu não devia abusar de tal liberdade!
A publicidade aos grandes empreendimentos continua. O endividamento que tais e tão estúpidas decisões vierem a provocar não interessa. O governo, como os titulares das dívidas serão os privados, recusa-se a perceber que, como em Portugal há décadas que não há dinheiro, ele terá que vir do estrangeiro. E como os privados não são parvos, é evidente que se vão segurar com os avais do Estado. Se, depois, o cash flow não for o que estava contratado, via ”estudos” que o governo fez ou aceitou, lá terá o Estado que prover às goradas “expectativas” dos privados. Dê-se-lhe a volta que se lhe der, quem, no fim deste horroroso túnel, virá a pagar as facturas, como já sucede com as SCUTS, é o mesmo, ou seja, o Zé. O propriamente dito, não o Fernandes, que esse é caloteiro por religião.
Algumas vozes minimamente conscientes da hecatombe para que o senhor Pinto de Sousa e os seus sequazes nos encaminham, argumentam timidamente que, se pelo menos uma boa parte dos milhares de milhões de que se fala fosse aplicada pelo Estado a pagar as próprias dívidas, talvez a economia levantasse a cabecita. Se outros dos tais milhares de milhões fossem usados para cobrir uma baixa de impostos, o poder de compra ou de poupança aumentava, e talvez o consumo subisse e a economia não encolhesse tanto.
Vozes de tontos não chegam ao céu, não é verdade? Sabem porque são tontos os que assim falam? Porque a floresta de enganos é tão densa que as pessoas são levadas a não ver que os milhares de milhões da propaganda não existem, nem nunca existiram. Ou se trata de avais que, para já, são mais uma receita, e das grandes, para o governo, ou dos tais dinheiros que os privados irão buscar algures, para as obras públicas do governo e que, como vimos acima, sabemos quem vai pagar. Por outras palavras, o Estado, ou o repugnante governo do senhor Pinto de Sousa, não tem dinheiro para pagar seja a quem for aquilo que deve, nem tem margem para baixar os impostos, porque foi, e é, incapaz de gastar menos do que gasta.
*
Do ponto de vista político, dado o “pântano” em que, “de tanga”, nos mergulharam e em que tiritamos cheios de frio, e dada a abominável provocação constitucional do PS que a história do estatuto dos Açores constitui, parece não haver outra solução senão a dissolução da AR.
Pois se, sem que nenhuma destas condições se verificasse, o senhor Sampaio não hesitou em ferrar um golpe constitucional, por que carga de água, agora que a Constituição é pisada e em que o governo, claramente, se prepara para arruinar a Nação, se não há-de fazer o mesmo? O que, com Sampaio, era manifestamente ilegítimo, seria, agora, mais que legítimo, justo e necessário.
Mas assim não é. Os portugueses ainda não realizaram o buraco imenso em que os andam a meter. Eleições antecipadas poderiam levar à continuidade desta gente no poder. Por isso que, por um lado, haja que esperar (quer dizer, ter esperança) que a verdade surja, bem clara, aos olhos das pessoas, e só então, mandar o PS para casa.
Daqui lanço um apelo e um desafio a SEPIIIRPPDAACS: esclareça as pessoas, diga-lhes oque se está a passar, faça a cama ao senhor Pinto de Sousa.
Que diabo, se, sem sombra de razão, ajudou a dar cabo dos seus, por alma de quem, cheio dela, não há-de dar cabo dos outros?
19.12.08
António Borges de Carvalho
* Sua Excelência o Presidente da III República Portuguesa, Professor Doutor Anibal António Cavaco Silva.
Quando alguma coisa de positivo surge em áreas que não de esquerda, as vozes habituais do despeito, da inveja, da frustração e da procura do mais destrutivo sensacionalismo começam, acto contínuo, a fazer-se ouvir.
Dois exemplos.
a) Na SIC Notícias, tivemos, durante quarenta e oito horas, repetidas dezenas de vezes, as frases mais importantes, pela negativa, da campanha eleitoral interna que opôs Santana Lopes a Manuela Ferreira Leite. Foi um fartote, para a vilanagem do costume.
Pretendia o “jornalismo” em questão demonstrar que Santana Lopes não era o candidato de Ferreira Leite à Câmara de Lisboa. Mais, que Santana Lopes não era um bom candidato. A SIC Notícias fez tábua rasa da obra do homem, deu por adquirido que os problemas financeiros da CML eram culpa dele, que os seus projectos eram, ou inviáveis ou megalómanos e, noite fora, foi, repenicadamente, procurando extrair da boca dos seus convidados o que mais mossa lhe pudesse causar.
b) O director do Diário de Notícias, fiel á orientação populista e pornográfica do jornal que dirige, opinou que Manuela, à falta de soluções que não quis ou não pode encontrar, seguiu a via do “facilitismo”. Num raciocínio cujo brilho faria inveja ao Meneses, ao Jerónimo e ao amigo banana, prognosticou que, se Santana ganhar em Lisboa, o PSD perde as legislativas. Como se chega a esta conclusão é coisa que ninguém poderá conceber. Como não se concebe como pode um cérebro destes chegar a director de um jornal. Mas lá que chega, chega.
Procura esta gente consagrar uma série de chavões que jamais alguém confirmou ou escrutinou, mas que se considera como verdades adquiridas.
O populismo, por exemplo. Se o populismo é prometer o que se não tem intenção de cumprir, porque se assaca tal coisa a Santana Lopes*? Se não cumpriu, por exemplo, o que se tinha proposto para o Parque Mayer, a quem se deve? A ele ou a Sampaio? A ele ou à brutalidade da demagogia, essa sim, populista, do PS?
O descontrolo financeiro da CML, por exemplo. Não se pergunta em que estado herdou ele a Câmara social-comunista, mas toda a malta de serviço lhe atribui os problemas que o Engº Carmona Rodrigues lá deixou. E, do que de positivo Lisboa lhe ficou a dever, que foi muitíssimo, esta malta não fala, nem diz, nem escreve.
Numa coisa os comentadores que o querem desde já destruir não têm outro remédio senão estar de acordo - do Crespo ao Marcelino, aos intelectuais pró-PS como o Bettencourt Resendes ou o Silva Pinto: Santana Lopes é homem para ganhar as eleições em Lisboa. É por ter medo disso (por ter medo que o povo da cidade reconheça a sua obra, perceba do que foi vítima enquanto Presidente da Câmara e olhe para o marasmo em que a CML caiu, “governada” pela demagogia babuína do Costa, pela desonestidade rasca do sujo Fernandes e pelo populismo nefelibata da Roseta) que esta gente lança a sua persecutória campanha, ciente de que não é a primeira vez que Santana Lopes, tendo-a, ferocíssima, à perna, lhe meteu os sapos da derrota pela goela abaixo.
18.12.08
António Borges de Carvalho
* Em matéria da populismo e de aldrabice, haverá alguém que duvide que o "bota de ouro" é o senhor Pinto de Sousa?
Não se incomode, não há problema nenhum. O governo que temos, generosissimamente, abriu um balcão virtual!
V. Exª. dirige-se, humildemente, ao balcão virtual. Após registo, como é de timbre, palavra passe, etc., o balcão começa a disparar questões:
Quem você?
O que faz?
Quem são os gerentes, administradores, directores da sua empresa?
Deve alguma coisa à segurança social?
E ao fisco?
E os seus gerentes, etc., devem alguma coisa, ao Estado, a entidades públicas, à segurança social?
Quando VExª e os seus colaboradores estiverem completamente nus, o balcão virtual do governo pede-lhe as facturas
e porque é que facturou
e se houve concurso
e quem encomendou o que encomendou
e se as facturas já foram conferidas
e se entregou o IVA
e se tem o PEC em dia
e se entregou o modelo 22 nos últimos duzentos anos
e…
O balcão virtual, convenhamos, tem toda a razão. Isto de pedir ao Estado que pague o que deve não é para qualquer um. Aliás, a exigência do ressarcimento de dívidas, como acontecia na Idade Média se o vassalo pedia contas ao suserano, tem contornos criminais, é uma pouco honrosa falta de respeito. Além disso, o Estado não tem sombra de obrigação de saber se deve, a quem deve nem quanto deve. Não faltava mais nada! Quem quiser dinheirinho do Estado tem que fazer prova, não só da dívida do Estado (que o estado, como é óbvio, nem conhece nem é suposto conhecer), como que V.Exª e os seus sequazes são pessoas com o devido grau de submissão ás justas exigências do próprio Estado.
Pondo a hipótese, meramente académica, de que nem V.Exª nem nenhum dos seus tem qualquer multa do estacionamento por pagar, o balcão virtual promete vir a pagar o que o estado lhe deve… em Abril. No 1º de Abril, como é de ver…
Mas como não é possível que V.Exª, a sua empresa e os seus colaboradores mais próximos estejam tão livres de pecado como o senhor Pinto de Sousa exige que estejam, então, meu amigo, não seja néscio nem burrro. Deixe-se estar quietinho. É que o balcão virtual lá está, a ver tudo, como grande irmão que é. V.Exª, se lá vai, mete a cabeça no cepo, baixa-se, o Santos vê-lhe o rabo e… está mesmo a ver-se, não está?
Se ficar quietinho, pode ser que, se vier outro governo depois das eleições, não mudem só as moscas e v. ainda venha a ver algum. Se deitar a cabecinha de fora, então, em vez de receber, paga, que é para não se armar em esperto!
(de Mello Duarte, de seu Pai, nome honrado, posto de lado quem sabe se por ressonâncias aristocráticas),
poeta jeitoso e prosador sofrível, não pára de nos espantar com a profundidade do seu pensamento político.
Ouvi e vi – quase não acreditava no que via e ouvia – o senhor dizer que o esquerdofilismo era, mais do que nunca, indispensável, dado que, noutros tempos – anos trinta - como a “História demonstra”, a existência da União Soviética, de partidos comunistas fortes a Ocidente, de partidos socialistas, comunistas e anarquistas com fartura por toda a parte, e até do front populaire(!), não obstou ao nascimento a ao progresso do fascismo e do nacional-socialismo.
Pois não, direi eu. Foi exactamente na consciência da ameaça representada pelo recrudescimento da força de tais gentes que ferveu o caldo de cultura das tiranias de sinal contrário.
Tanto o fascismo como o nacional-socialismo eram socialistas, anti-capitalistas, anti-liberais, odiavam o pluralismo político, o sufrágio universal e a liberdade política, execravam os “plutocratas”, etc. tudo tal e qual os movimentos políticos de que o senhor Alegre tem saudades. Contrapunham um nacionalismo feroz e violento ao não menos feroz nem menos violento “internacionalismo” dos outros. E era tudo. Rivais, mas irmãos.
Os fascistas e os nacional-socialistas não escondiam que as suas “elites” governavam por “direito próprio” já que eram os únicos “legítimos” intérpretes do volksgeist, enquanto os de sinal contrário consideravam as suas “vanguardas organizadas” como detentoras directas do interesse das massas.
No que é importante, as duas correntes do socialismo pouca ou nenhuma diferença faziam uma da outra. Nem fazem. Partem, aliás, de processos mentais de natureza análoga, ambos negando Aristóteles, uns a partir de Hegel outros de Marx.
Na Europa civilizada estes problemas não se põem, ou põem de pernas para o ar, isto é, estando os extremismos de direita mais ou menos reduzidos a zero, os da esquerda adoptaram o nacionalismo.
Em Portugal a tal direita foi proibida. Há para aí meia dúzia de tontinhos a defendê-la.
A esquerda troglodita, essa, anda para aí, de vento em popa, vivida nos partidos comunistas e florescente no PS à custa dos Alegres & Cª.
Tudo a mostrar o nosso atraso cultural e ideológico.
Talvez não fosse mau que alguém, lá das esferas do xuxismo, explicasse ao senhor Alegre que, se não há hoje, na Europa, os movimentos de esquerda cuja ausência ele tanto lamenta, não será por isso, antes pelo contrário, que o fascismo e o nacional-socialismo estarão, como tanto diz temer, à espreita por detrás da cortina, mas sim porque tais movimentos deram, lado a lado com o fascismo e o nacional-socialismo, os horríveis resultados que se sabe.
Já agora, dois conselhos:
Se o senhor Alegre quiser fazer um partido, que o faça. Mas, primeiro, leia uns livros, a fim de evitar continuar a dizer asneiras.
Outrossim, se houver boda com o Louça, que o senhor Alegre deixe claro quem manda lá em casa, senão o caldo entorna-se na primeira curva. Agora que o divórcio é à balda…se a patroa do largo do Rato não o quiser de volta quando a Louça se partir, ainda acaba a vender a “Cais”.
O professor Marcelo, grande educador do “serviço público”, veio à liça (dizem os jornais, que o Irritado, por uma questão de legítima defesa, não o vê, não o ouve, não o lê) chamar ignorante ao pobre do Rangel. Este terá que “aprender”, se quiser ser um líder parlamentar a sério.
O fantástico professor, a ilustrar o seu douto pensamento, dá-se, e ao suicida Marques Mendes, como exemplos de como se obtém “vitórias” e de como se é “cão de fila”.
Antes de mais, digamos esperar que o Rangel não o tome a sério e não se torne “cão de fila”.
Depois, como a memória, às vezes, não é curta, lembremos um episódio de há muitos anos, quando Marcelo era ministro dos assuntos parlamentares e se atribuiu a nobre missão de ser “cão de fila” dos três grupos parlamentares da AD.
A folhas tantas, não sei por que pesadas razões de estado, alguém, nas altas esferas da coligação, resolveu extinguir a ANOP, à altura agência de informações do estado, percursora da Lusa.
A decisão era polémica, a esquerda esperneava e, na maioria, escasseavam as opiniões favoráveis.
O encarregado do debate, por parte do governo, foi um jovem secretário de estado, encarregado da “informação”, julgo que no âmbito da Presidência do Conselho, de que o ministro Marcelo fazia parte.
O rapaz não tinha qualquer traquejo parlamentar. A oposição esfarrapou-o. Na maioria, toda a gente estava à espera que o ministro aparecesse a safar a taça, como era sua elementaríssima obrigação. Vários emissários foram ao gabinete de sua excelência pedir socorro. Se, à maioria, o governo não tinha fornecido a necessária argumentação, deveria ser o próprio governo a expendê-la, de maneira a, pelo menos, calar a vozearia da esquerda.
Marcelo, sabedor do que se estava a passar, baldou-se. Não pôs os pés no plenário, que a coisa estava feia.
O pobre do secretário de estado saiu, feito em cacos, com o rabo entre as pernas. E nunca mais foi gente.
Eis uma pequena achega do Irritado para se compreender a verdadeira natureza do pregador dominical do “serviço público” de televisão.
Durante a semana inteira foram os infelizes1 matraqueados pela chamada comunicação social, conhecida entre os analfabetos por “mídia”, corrupção anglo-saxónica da palavra latina media (lê-se média), que quer dizer “meios”.
Fico tão eléctrico quando ouço políticos, jornalistas e locutores dizer, e escrever(!) “mídia”, que perdi o fio à meada.
Reatando a coisa, os infelizes foram matraqueados pelos meios (de comunicação, para quem ainda não percebeu) com a história da lei que devia passar mas podia não ter passado e passou, tudo devido aos deputados que parece que podiam alterar mas não alteraram a relação de votos existente desde a desgraça das eleições que levaram o senhor Pinto de Sousa ao poder.
Os comentadores de serviço, falhos de assunto e de inteligência, embarcaram nas habituais diatribes anti-parlamentares. Até aqui, tudo bem. Ou tudo mal. Goste-se ou não, é o costume.
O pior é que, do lado dos políticos, o cenário não foi diferente.
O primeiro a meter o pé na argola foi o Presidente Jaime Gama. É extraordinário como, ao fim de trinta e tal anos de experiência parlamentar, o senhor ainda não percebeu que, a haver algo a criticar ou alguma acção a tomar a respeito de um (não) acontecimento deste tipo, não é da sua competência fazê-lo. Os deputados são responsáveis politicamente perante os eleitores, os partidos, os grupos parlamentares, não perante o Presidente, que não tem absolutamente nada a ver com as presenças ou não presenças no plenário.
Depois, foi um mar de argoladas. Ao homem do PSD só faltou ir pedir perdão, em confissão, ao Cardeal Patriarca. Os outros, à porfia, meteram os pés pelas mãos. A ver quem dizia mais asneiras.
Dos que faltaram – queira-se ou não, faltar a uma votação é uma atitude política tão legítima como não faltar – uma chusma deles veio arengar desculpas, ou seja, baixar-se, pôr o rabinho à mostra.
Como parece que, infelizmente, a opinião pública e os invejosos dos meios - aquela por influência destes - são anti-parlamentares, tudo foi oiro sobre azul para o senhor Pinto de Sousa. A malta, durante mais de uma semana, esqueceu-se dele e da sua autoritária propaganda.
*
Tudo começou nos anos 80 (87?) quando o já falecido Magalhães Mota, homem bom mas com uma ultra-moralista e distorcida visão das coisas, resolveu desatar a propor leis destinadas a limitar os direitos dos eleitos.
Como já tive ocasião de escrever (“O Presidente de Nenhum Português”, Europa-América, 2001, livro que me valeu ser “saneado” pelo editor e não só), se pode ser defensável que os políticos não tenham privilégios – eu acho que, dentro de certos limites, os devem ter – a contrária não é verdadeira, isto é, os políticos não podem, ou não deviam poder ser tratados como cidadãos de segunda, ver a sua intimidade devassada, os seus bens publicados por toda a parte, não deviam poder ser impedidos de exercer as suas profissões depois de deixar a política nem ser considerados, à partida, suspeitos das mais rebuscadas e criminais intenções. E mais o que fica por dizer.
Se, com alguma razão, há quem defenda que o “nível” geral dos deputados do nosso parlamento tem vindo a descer, haverá que reconhecer que é preciso uma quase inumana entrega ao “serviço público” para que alguém, com qualidade e mérito, seja levado a aceitar ser candidato nas actuais circunstâncias do estatuto dos políticos.
*
A reacção ao caso presente, no sentido mais reaccionário do termo, foi quase unânime. “É preciso legislar” para obviar a novos acontecimentos do estilo. A opinião pública, formada pelos invejosos “meios”, é levada a pensar que ser deputado é estar presente nas sessões plenárias, muito concentrado, muito atento, sem jamais trocar impressões com o parceiro do lado, sem ler o jornal, sem dormitar quando a coisa é chata. Nunca ninguém se lembrou de anatemizar as sonecas do Dr. Mátrio Soares nas mais solenes ocasiões. Mas, se um deputado fecha um olhito no plenário, lá está, pressurosa, a câmara da TV a registar o horrível atentado ao povo e à democracia.
O que aconteceu não devia merecer mais que meia dúzia de linhas nos meios. A maioria chumbou um projecto da oposição. Olhem que novidade, que coisa estranha! Mas fez correr rios de tinta e de tempos de antena, como se nada mais se passasse em Portugal e no mundo.
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Se quiserem saber o que é um abuso parlamentar condenável, olhem para o Bloco de Esquerda, que faz do parlamento uma escola de estagiários da política. Não há uma semana em que uma nova “figura” não apareça na bancada, parecendo que o BE tem cinquenta deputados em vez de meia dúzia. Isto, através de um claríssimo abuso, que consiste em aproveitar-se ilegitimamente, por via burocrática, das normas que permitem a substituição dos deputados.
É um abuso institucional intolerável. Mas não há “meio” que lhe dedique uma linha nem comentador que exprima alguma revolta.
Querem outro abuso? Aí vai: o PC, através de um “partido” que nunca existiu nem existirá a não ser no papel, duplica o seu grupo parlamentar, isto é, utiliza uma espécie de erzatz para ter mais tempo de intervenção, mais oradores inscritos, mais presenças nas comissões do que teria se se apresentasse sem o inexistente penduricalho dos “verdes”. Aí está como se utilizam regras legais legítimas para obter resultados políticos totalmente ilegítimos.
Também isto não merece não merece dos “meios” ou dos comentadores uma palavra de protesto.
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Portugal é um dos países europeus que, modernamente, mais cedo conheceu as instituições parlamentares.
É sabido que a República (ou a primeira e a segunda repúblicas) deram cabo do que havia de bom no parlamentarismo monárquico, a primeira conservando o que havia de mau, a segunda dando cabo dele.
Parece que a História, em Portugal, não ensina nada a ninguém. Nem aos “meios”, que se comprazem em pôr diariamente em causa a instituição parlamentar, nem aos comentadores que, com intenções altamente “democráticas”, fazem o mesmo, nem aos partidos, que abusam, ou deixam abusar, de regras e princípios que deveriam respeitar.
Vale a pena reflectir um bocadinho sobre a triste história do referendo irlandês.
Quando a CEE se tranformou em UE, era de esperar que tal correspondesse a um movimento que viesse a consubstanciar-se em instituições políticas. Por outras palavras, esperar-se-ia que os estados europeus compeendessem que, num mundo multipolar, como se diz agora, ou a Europa se constitui em polo, ou verá fatalmente reduzida ou aniquilada a sua influência global e comprometido o seu futuro.
No plano da defesa, por exemplo, desde Kennedy que a Europa é chamada a constituir o “pilar europeu” da NATO. A resposta dos poderes europeus a este desafio saldou-se numa diminuição drástica do investimento na defesa, num atrazo tecnológico brutal em relação ao seu parceiro americano e numa dramática dependência externa, como tão bem ficou demonstrado na antiga Jugoslávia.
Mais grave, a Europa entreteve-se na criação de semi-instituições políticas, como o parlamento europeu, um parlamento que se divide por nações e que não corresponde a um universo eleitoral europeu que ninguém se preocupou, nem preocupa, em criar condições para que venha a existir.
É certo que se criou um mercado único, a moeda única, que se abriu as portas à circulação de pessoas e de capitais, etc. Mas, politicamente, a Europa não mexeu um milímetro. Continua prisioneira das soberanias nacionais, os novos países quiseram entrar para benficiar dos orçamentos e dos mercados dos demais, para se ver defendidos em relação à Rússia, sem a mínima sombra de ideal europeu.
O Tratado de Lisboa significava um primeiro passo para dar à Europa a capacidade de decisão que não tem. A instituição das decisões por maioria, ainda que qualificada, e a criação de uma direcção política estável são, a meu ver, dois passos gigantescos para um futuro menos negro.
Mas o Tratado ficou prisioneiro das regras que a UE aceitou para a sua aprovação. Os irlandeses, vítimas da infrene demagogia de um milionário qualquer e da estupidez do primeiro-ministro, votaram Não ao tratado. O resutado é que 26 governos legítimos, representado cerca de 98% dos cidadãos da UE, vêm gorado o caminho do futuro por meia dúzia (menos de 1% dos eleitores europeus) de enganados.
Dir-se-á, com alguma razão, que seria difícil fazer com o Tratado de Lisboa o mesmo que se fez com a adesão ao euro, isto é, adere quem pode e quer, suportando as consequências da não adesão, ou seja, criando-se um estatuto especial para quem ficasse de fora, desde que, como é evidente, uma maioria importante, aderisse. Como foi o caso.
A Europa vai continuar prisioneira da Irlanda por muitos anos e maus. A neutralidade irlandesa, em si uma violentíssima negação da solidareiedade europeia, as absurdas histórias do aborto e outras parvoíces do género, continuarão a ser alimentadas pela mesma gente, financeiramente mais importante que o Estado em matéria eleitoral, as complicações políticas de um governo incompetente continuarão a fazer-se sentir e, lá para o fim de 2009, tudo continuará na mesma.
A ideia que fica é a de que, à excepção dos esforços de Sarkozy, não há líderes europeus à altura de pôr em acto os ideais que criaram a UE.
As consequências de tudo isto vão ser devastadoras. Mais do que a crise financeira e económica, será a inexorável perda de influência global da Europa e dos restos de respeito que os demais ainda terão por ela, o que virá a acabar com o sonho, ou com a ilusão, de uma Europa forte, rica e democrática.
14.12.08
António Borges de Carvalho
PS. Agarrado à barriga, doido de alegria, o senhor Rosas, rebento esquerdista do salazarismo, representante de um partido comunista, congratulava-se há dias, na televisão, com o resultado do referendo irlandês. Onde pode chegar a cegueira e a fúria destrutiva de certa gente, é coisa que não vale outros comentários.