O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA.
Winston Churchill
O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA.
Winston Churchill
Um senhor juiz, nome de família Alexandre, descobriu uma novidade que vai fazer escola em todos os tribunais do orbe.
Enquanto umas pessoas andam para aí, cheias de afã, a trabalhar para a criminalização dos “sinais exteriores de riqueza”, iniludível sinal de enriquecimento sem causa, o juiz Alexandre vai mais longe e propõe o mesmo para os sinais exteriores de pobreza! Sim, meus amigos, nas doutas palavras do ilustre magistrado anda para aí muito menino que, parecendo um miserável, tem milhões!
O futuro, assim, mostra-se muito mais risonho. Vai ser vê-los, nas ruas, a prender os sem abrigo, os famintos, os sujos, os tipos que andam às três da manhã a pedir sopa às senhoras da paróquia:
Anda cá,
Meu rapaz,
Prova lá,
Se fores capaz,
Que não tens milhões
nos cartões
que te servem de colchões!
(sextilha de pé quebrado, a incluir nas NEP’s da polícia).
O combate ao crime conhece, assim, mais um avanço monumental, mais uma vez por iniciativa de um português.
E ainda há que ache que não somos os maiores!
II – TACOS
Há muitos tacos. Os de golf, finísssimos, os de bilhar, mais democráticos, os de pia, marquesmendáticos, os mexicanos, intragáveis, os de beisebol, americanos, entre muitos outros.
Vêm estes tacais pensamentos a propósito dos perigos que o negócio da fruta envolve.
Vejamos a coisa em guião cénico:
Primeiro acto:
Dois rapazolas, conhecidos pela polícia como criminosos habituais, mediante a utilização abusiva de uns tacos de beisebol foram-se ao toutiço de um negociante de fruta, aliviaram-no de cinco mil euros, roubaram-lhe a carrinha e deixaram-no, a sangrar das meninges, à porta do armazém.
Segundo acto:
Dado o alarme, a polícia actuou rapidamente e os craques do beisebol foram engavetados, tendo-lhes sido apreendidos os tacos, umas soqueiras e mais alguns instrumentos usados na profissão;
Terceiro acto:
Presentes ao meritíssimo juiz, os meliantes foram prontamente libertados, no cumprimento escrupuloso das leis da República. Terão, como é óbvio, que se ir apresentando no posto da GNR lá do sítio, o que, disciplinadamente, não deixarão de fazer nos intervalos do beisebol.
E ainda há por aí quem se queixe de falta de segurança!
III - CONTABILIDADE SOCIALISTA
O nosso magnífico governo prestou contas sobre a execução orçamental.
Mais ou menos assim: as receitas do Estado, cuja diminuição em 0,7% tinha sido prevista para o primeiro trimestre, levaram um pontapé de 9,5% em dois meses;
A despeza pública, para a qual tinha sido previsto um aumento de 4%, viu gloriosamente confirmada a inteligentíssima previsão governamental.
Assim se vê a coerência, a persistência, a eficácia do governo. Embora, por motivos alheios à sua vontade, o boléu na receita tenha sido 13,5 vezes maior do que as previsões, o governo compensou esse pequeno deslize mediante o cumprimento escrupuloso do aumento da despeza.
E ainda há quem diga que não estamos bem entregues!
III - ÓPERA BUFA
Sua Excelência o Primeiro Ministro, na sua indómita e patriótica missão de estimular a convergência e o intercâmbio cultural entre Portugal e os PALOPS, deu aos cabo-verdianos a subida honra de se deslocar ao CCB a fim de assistir a um espectáculo de ópera com origem no tropical arquipélago.
O problema é que a importantíssima criatura, para demonstrar, como soe fazer, a sua superioridade em relação ao comum dos mortais, resolveu entrar na sala de espectáculos com 35 minutos de atraso.
Subservientes ou com medo de alguma visita das finanças, os organizadores decidiram esperar pela chegada do homem para subir o pano. O que teve, ó alegria que enches o meu coração, a virtude de fazer com que o senhor Pinto de Sousa fosse recebido no meio de uma pateada monumental.
E ainda há quem diga que está tudo a correr mal!
IV - O PARQUE DA ASNEIRA
Santana Lopes quis fazer do parque Mayer um novo centro de uma cidade nova, uma coisa arrojada, uma espécie de Gugenheim de Bilbau em versão de planeamento urbano, uma marca na cidade, uma coisa que se vivesse, se morasse, se usufruisse e que, ao mesmo tempo, fosse um novo ex-libris lisboeta, uma grande intervenção, digna de uma grande capital europeia.
Como se sabe, a coisa começou por ser torpedeada pelo Presidente Sampaio, armado em defensor dos bons costumes, que inviabilizou o Casino e, por consequência, o financiamento a curto prazo do projecto do corajoso autarca.
A vozearia do costume e a inveja do PS fizeram o resto.
Resultado?
O resultado é o mijarete que vem nos jornais. Lojas, dois teatros, 45.000m2 de construção de edifícios, uns jardins e mais uns “equipamentos culturais”. Gente? Zero. Nem um só apartamento. Um hotel de cem camas: umas dúzias de turistas num bairro morto. Comércio, muito comércio: uma espécie de centro comercial, coisa de que a cidade, como toda a gente sabe, precisa como de pão para a boca. Um novo bairro, com a particularidade de ninguém morar nele.
Não contente com a desertificação da baixa, a CML quer que o Parque Mayer seja o que é hoje: um deserto com dois teatros à maneira de oásis. Uma câmara que diz querer trazer gente para viver em Lisboa prepara-se para criar mais um covil para pegas e drogas, sem ninguém de dia e com visitantes à noite: o que sempre foi.
É claro que o Jardim botânico não pode ser tocado. É claro que os museus da Escola Politécnica têm que ser conservados. É claro que ninguém pode ser contra a expansão da malha verde. Nada disto, porém, transforma o Jardim Botânico num local “habitado” por passeantes pela simples razão que ninguém vai empurrar carrinhos de bébé pela encosta acima, ninguém vai para lá patinar, e só especialistas de montanha lá andarão de bicicleta. Os “pedestres”, esses, continuarão a ir para a beira rio, que é onde se passeia sem dar cabo do canastro, pelo menos enquanto os contentores do Coelho não se expandirem como querem.
O Parque Mayer podia ser tudo: equipamentos culturais, sim, jardins, sim, habitação, muita, lojas de proximidade, q.b..
Mas uma Câmara que diz defender o chamado comércio tradicional (70% são lojas que não pagam renda de casa), vai fazer comércio onde ninguém vai poder morar. Uma espécie de Colombo, um horror, um ninho de marginais.
E ainda há quem não queira que Santana Lopes volte para a CML!
V- TORQUÊS OU ALICATE?
Um rapaz jeitoso ferrou com seis tiros num tipo que não gramava e que estava escondido na dispensa de uma discoteca.
O tribunal deu como provado o crime de homicídio voluntário.
Aplicadas as leis socialistas, o rapaz foi condenado a 12 anos de xilindró. No entanto, a fim de humanizar a pena, em vez de ir para o dito, o rapaz foi serena e livremente para a sua residência, munido de uma “pulseira electrónica”.
A seguir? A seguir, deve pedir à mamã para ir à loja das ferramentas comprar um alicate, uma torquês, ou outro instrumento devidamente habilitado a cortar pulseiras electrónicas. E, no Brasil, vai ser um descanso. Coitado do rapaz.
E diz-se por aí que a Justiça está meia esquisita!
Aquele sinistro senhor das barbas que herdou uma farmácia em Cascais foi, mais uma vez, eleito presidente da Associação Nacional das Farmácias.
Não sei qual seja o estatuto jurídico da organização. No entanto, a palavra “associação” aponta para coisa voluntária, uma espécie de confederação, coisa sem fins lucrativos, diferente de uma empresa, etc.
E, no entanto, a ANF vive num palácio, tem um restaurante de luxo, um museu, tem um fundo imobiliário que vale mais de 40 milhões de euros, controla 30% da José de Mello Saúde, tem participações entre 10 e 100% em, pelo menos, mais 30 empresas em Portugal e… na Polónia!
Algo me diz que os preços dos medicamentos são especulativos, não (só) a benefício dos fabricantes, mas (sobretudo) das farmácias.
Para que servem as “entidades”, os “reguladores”, as “altas autoridades”, toda a imensa panóplia de porcarias que (também) andamos a pagar?
Que semelhança pode haver entre um saloio com sapatos de sargento e fatinho possidónio, e um aristocrata bem vestido? Que irmandade pode juntar um pacóvio que projecta pardieiros a um cavalheiro do cimento?
E pure… eles aí estão, unidos pelo sindroma da perseguição que, com a maior facilidade, passou do senhor Pinto de Sousa para o senhor Soares Franco!
Espectador de poltrona que se honra de ser, o Irritado já viu dezenas de penàltis que não foram marcados, outros tantos que o foram sem razão, e mais não sei quantos erros clamorosos dos senhores árbitros, vítimas de endémica incompetência ou de outras coisas que não soe referir. No entanto, há, quase sempre, nestes casos, uma certa discrição nas reacções dos prejudicados, um pudor dos comentadores, uma justa e pragmática contenção nas críticas.
Ou havia, até hoje. Desta vez, o senhor bem vestido entrou em paranóia, igualzinho, no espernear, ao senhor Pinto de Sousa.
Eu sei que, para a mentalidade sportinguista, perder com o Benfica é sempre inaceitável e injusto, não se verificando a contrária. Eu sei que, para a mentalidade sportinguista, justo é o Benfica perder, seja com quem for, seja como for ou onde for.
Mas, que diabo, apesar disso um senhor devia ser um senhor em todas as circunstâncias!
Daqui se conclui que a escola do primeiro-ministro faz caminho na cabeça das pessoas, o que é uma das maiores desgraças que nos podia acontecer.
24.3.09
António Borges de Carvalho
PS. Ontem, às oito, hora a que as pessoas julgam ter o direito de ouvir notícias, os três canais de TV não falavam de outra coisa senão do senhor Franco, do Sporting e do Domitílio, ou lá como é que o homem se chama. Às dez, na RTP2 e na SIC Notícias, a mesma coisa. A guerra em directo! Hoje, na rádio, é por toda a parte. São fora, são intelectuais da bola, é o povo, o raio que os parta. O Franco e o Pinto de Sousa a fazer escola. Ora bolas.
Anda o mundo correcto que nos cerca indignado, e com razão, com umas tichartes israelitas onde se propõe, preto no branco, matar grávidas palestinianas.
O problema não está na justeza da crítica mas sim, como de costume, nas suas proporções.
Se a outra parte declara a sua intenção de riscar Israel do mapa, de matar todos os “sionistas”, se paga às famílias dos rapazinhos para eles se matem e, em simultâneo, acabem indiscriminadamente com milhares e milhares de civis, se considera legítimo o mais cobarde assassínio, se mete na cabeça dos desgraçados a teoria de que ganharão uma vida eterna cheia das delícias sexuais que lhes são vedadas na terra desde que matem umas dezenas de pessoas, coisas que são diariamente propagandeadas por milhares de fulanos, o mundo correcto deixa-se ficar num silêncio sepulcral.
Mas, se meia dúzia de soldados israelitas vestem uma ticharte serrubeca e ordinária a incentivar um crime, ai Jesus, correm quilolitros de tinta, horas e horas de rádio e de televisão, a indignação é universal e dramática!
Não se trata de defender as porcalhonas e criminosas tichartes, trata-se de, mais uma vez, sublinhar os double standards em que a nossa civilização está “correctamente” mergulhada.
No pretérito ano de 85 fui a Luanda pela primeira vez depois da independência. Senti uma tristeza infinita. Chorei. Uma cidade magnífica, onde passara, vinte anos antes, umas três ou quatro semanas (arranjava umas baixas ao hospital militar para intervalar 27 meses de mato), cheio de juventude e das loucuras que ela traz, semanas felizes numa cidade limpa, onde havia mais liberdade que em Lisboa, mais oferta do que em Lisboa, onde a Coca-Cola não era proibida, como em Lisboa, onde não era preciso ter licença de isqueiro, como em Lisboa, onde as raparigas eram tinham um convívio mais aberto e mais fácil do que em Lisboa, onde se comia bom marisco mais barato que em Lisboa…
Pois essa cidade, em 87, estava transformada no mais odioso pardieiro que se possa imaginar. Não havia um restaurante, nem Coca-Cola, nem isqueiros, nem liberdade, nem fosse o que fosse, os hotéis eram uma desgraça, produto algum se arranjava sem “esquema”. Num dos últimos prédios da marginal que ainda tinham elevador, onde fui dormir, entrava-se no hall por um caminho de tijolos a fim de não meter os pés nos produtos dos esgotos que subiam e desciam com as marés, as praias da restinga estavam ocupadas pelas forças armadas soviéticas... e assim por diante.
No aeroporto começava uma odisseia de polícias à procura de revistas, jornais desportivos, pornografia e tabaco nas malas de cada um, ficavam-nos com o passaporte até nos irmos embora, nas ruas as patrulhas mandavam-nos parar a cada passo, a ver se arranjavam alguma “coisita”, não havia táxis, as crianças, na rua, perseguiam-nos a pedir tudo e mais alguma coisa. Um horror.
Tudo isto, e muito mais.
Porquê?
Porque se vivia, para além da guerra, nas delícias do socialismo leninista, conhecido localmente por “socialismo esquemático”. A propaganda soviética era constante, na rádio, na televisão, nos jornais. A solidariedade socialista tinha transformado o mais progressivo território de toda a África na mais horrorosa das misérias. Os generais do MPLA eram condecorados com a ordem de Lenine, heróis soviéticos, a classe dirigente vivia dos mais corruptos expedientes, tinha o que precisava, de champanhe a “puros”, de caviar a Mercedes. A classe média, que era pouco numerosa, tinha sido aniquilada. Famintos, doentes, desgraçados, eram o que restava. Esplendorosos resultados da infalível receita comunista.
O “mais velho” lá estava, como hoje, nas delícias muralhadas do Futungo de Belas, a dirigir os destinos da pátria.
Quem isto viu e, hoje, vê o que vê, faca banzo. O “mais velho” inclina-se respeitosamente perante Bento XVI, antigamente representante do ópio do povo, hoje grande líder espiritual dos angolanos e do seu presidente. O “mais velho” discursa sobre a miséria imerecida do seu povo. O mesmo povo que, dantes, era objecto das benesses do socialismo soviético. O “mais velho” discursa contra a corrupção, ele, de quem as más-línguas dizem ser o chefe dela. O mais velho, cuja filha veio a Portugal fundar, com a ajuda do senhor Pinto de Sousa, um banco de que fica accionista, por certo por aplicação das poupanças de uma vida de trabalho e de sacrifício, vai, segundo diz, distribuir com justiça as imensas riquezas de Angola.
Tudo isto é muito estranho. Mas tenhamos esperança. Não é o que, por cá, ainda resta a quem resta? Façamos um esforço. Pode ser que, a partir de agora, as coisas melhorem para os angolanos. Pode ser que o homem, uma vez salvaguardado o seu futuro, esteja a falar verdade. Porque não?
Não é o que, à excepção do Bloco de Esquerda, toda a gente deseja? O Bloco, esse, tem desculpa para a sua falta de fé. É que anda tão preocupado em fazer passar a mentira da sua indefectível democraticidade, que vale tudo, até achar que Angola deve ser isolada e continuar como tem estado.
Dois estranhos temas têm feito correr rios de tinta à nossa volta. Infelizmente, o Irritado vê-se na contingência de não concordar com o que, por um lado, o politicamente correcto servido em doses industriais, e, por outro, o governo e seus agentes, têm vindo a meter na cabeça das pessoas.
Passemos aos assuntos em causa:
1.Esbracejam as habituais gloriosas criaturas acerca do anúncio da RDP em que se dizia que as manifestações eram contra quem quer chegar a horas. A vozearia acrescenta que a senhora que dá voz a tal afirmação é directora da RDP e que, portanto, a dita directora deve ser liminarmente saneada.
Ora a verdade é que as manifestações, como as maratonas, os cortejos dos caloiros e outras nobres actividades que merecem o apoio da polícia, o desvelo das autoridades e o gozo de quem nelas se integra, são, indiscutivelmente, realizadas sem qualquer sombra de respeito por quem quer chegar a horas, ou mesmo por quem, sem ter que chegar a horas, se vê metido na confusão.
Quem não passou séculos parado na 5 de Outubro por causa dos professores em fúria ou dos alunos em farra protestativa? Quem não se viu envolvido e prejudicado por multidões com as quais não tem nada a ver? Quem não teve que mudar de caminho porque alguns seus concidadãos acham, com o apoio das autoridades, que o seu direito à indignação ou à festa é mais importante que o direito dos demais a circular nas ruas das cidades às quais paga impostos para poder circular à vontade? Quem não se viu privado de um passeio ao Domingo para que o senhor Pinto de Sousa, o Dr. Sampaio e mais uns milhares de maluquinhos pudessem andar pelas pontes e pelas avenidas em corridinhas idiotas?
Não ponho em causa as liberdades de que gozam os manifestantes, os maluquinhos, o senhor Pinto de Sousa ou o Dr. Sampaio. Mas, convenhamos, não há dúvida de que as actividades dessas pessoas são, objectivamente, prejudiciais aos cidadãos que nada têm a ver com elas.
Por isso que o tal anúncio, se se pode considerar infeliz, não deixa de pôr um problema real e objectivo, problema que se consubstancia na negação da velha máxima que reza que a liberdade de uns acaba onde começa a dos outros.
A tal directora, ao contrário do que dizem os habituais “juízes”, não deve ser saneada. Aliás, mesmo que criminosa fosse, não tem ela a maior de todas as atenuantes, enquanto autora da encomiástica “biografia” do senhor Pinto de Sousa, o “menino de ouro do PS”?
2.O bombo de festa do governo e seus agentes é a TVI, a dona Manuela Guedes e o seu mui ilustre esposo.
Jamais esta gente se preocupou com os dislates da senhora, com as suas afirmações de opinião, o seu “jongleurismo” televisivo, as suas provocações, quando o alvo não era o senhor Pinto de Sousa. Aposto que, no tempo dos governos PSD, se alguém se atrevesse a criticar a senhora, se levantariam os mesmos que ora se consideram ofendidos, a louvá-la pelo seu “profissionalismo”, a sua “coragem”, etc. e tal.
Quando um ministro disse humildemente que achava mal que, nos programas do Sousa, não houvesse contraditório, levantou-se a nação socialista em peso, apoiada pelo Presidente da República, para condenar veementemente, não a ausência de contraditório, mas o pobre do ministro. O Sousa foi ganhar o dinheiro de outro patrão - o Estado - onde hoje é um cordeirinho nas críticas ao chamado governo.
Isto já lá vai. Hoje, a senhora e o esposo são criticados, não por dizer mal do governo, mas porque tem informado as pessoas sobre os esqueletos que há, aos pontapés, no armário do primeiro-ministro. Rigorosamente incapaz de adiantar um só argumento, uma só razão, um mínimo detalhe que possa contribuir para que se livre de tais esqueletos, o primeiro-ministro e a sua trupe adoptam a técnica dos “poderes ocultos” e das “campanhas negras”, e erigem a dona Manuela em capitã das hordas infernais que perseguem o homem. Uma coisa chamada ERC, que ninguém sabe para que serve a não ser para nos custar dinheiro, vem para os jornais com ameaças e inquéritos. A dona Manuela Guedes e o seu amantíssimo esposo são, publicamente, apodados dos maiores erros, só por terem posto à vista do respeitável público alguns factos inconvenientes para o primeiro-ministro e para a clique de demagogos e histriões que, dedicadamente, o serve.
Assim vai este país.
Glória a quem não se cala (Alegre aparte, como é óbvio).
Às vezes pomos a nós mesmos perguntas sem resposta.
Podemos inventar, intuir, tentar adivinhar, mas, no fim, continuamos sem saber.
Façamos um exercício de cálculo mental, na certeza de que o resultado nunca será tão exacto como a aritmética desejaria.
Pergunta: porque é que o Manuel Alegre é tão importante, tão importante e tão convincente que tem adeptos que chegam para que, acagaçadíssimo, o Costa venha implorar-lhe que faça uma “coligação” com o PS?
Vejamos:
- O Alegre nasceu em bom berço. O pai era um senhor, o tio embaixador, com cachucho de brazão e fidalguia q.b., homens de bem;
- É claro que os tais senhores não se chamavam Alegre. Chamavam-se Mello Duarte, nome que Alegre não usa, por razões que a sua consciência conhecerá;
- O Alegre tem gostos Mello Duarte (a caça, o tiro aos pratos...), gosta de vestir bem, etc.
- Fez a vidinha normal de um rapaz do seu meio;
- Natural seria que respeitasse certos valores, do seu meio e não só, embora estivesse no seu pleníssimo direito de ter “ideias avançadas”, o que, naquele tempo, era fácil já que qualquer coisinha era considerada como tal;
- No entanto, tendo ir parar à Guiné, como muitos de nós, avançou de tal maneira as ideias que desertou e, não contente com o nobre gesto, se passou para o inimigo.
Conheci, nas matas de Angola, muita gente que não concordava com a política ultramarina da II República. Havia de tudo, como é natural. Tive camaradas na tropa que eram do PC. Outros, simples contestatários, às vezes sem saber bem porquê. Todos fizeram o que lhes era pedido, porque havia uns tipos que, com razão ou sem ela, matavam os nossos. Era simples. Até os tipos do PC se justificavam dizendo que estavam ali porque, caso contrário, outro igual a eles lá estaria, e podia morrer no seu lugar.
- Para Alegre, a deserção e a traição obnubilaram todos os valores (não os da II República, mas outros, mais simples e mais profundos, como os da honra, da solidariedade, do altruismo...) no espírito do jóvem Alegre;
- Depois, toda a gente sabe: possuído dos “mais nobres ideais”, andou pela Argélia e não sei mais por onde, e começou a fazer uns versos e escrevinhar umas prosas;
- Os seus poemas, quando não são eivados de pedantismo político-ideológico, até são imaginativos. O Alegre não é um grande poeta, mas é um tipo com qualidades na manipulação poética da língua e das ideias;
- Na prosa, pelo contrário, não passa de uma triste mediania. Li uma novela dele, e chegou. Estava tudo de pernas para o ar, do ponto de vista de um português normal, e era escrito de forma entediante;
- Na política democrática, para além de ter, vagamente e sem história, passado por um governo já esquecido, dedicou-se a dar lições de “moral socialista e republicana” a este mundo e ao outro. Nunca disse nada de substancial, nem se lhe conhece qualquer talento que ultrapasse o estentor da voz profunda, o ar imponente da maneira de estar e o profundo vazio de uma mensagem feita de slogans, os mais deles arcaicos;
- É um político profissional. Se o não fora não viveria sem heranças ou dos direitos de autor;
E, no entanto, o homem, contra os seus irmãos políticos, candidata-se à presidência da III República e saca um milhão de votos!
E, no entanto, o homem anda para aí num virote, a encher de pavor a malta dele, e de gozo o resto do país.
E, no entanto, o seu patético vazio de ideias e a sua fartura de pedantes “bocas” arrastam uma data de gente.
Porquê?
Porque, meus amigos vivemos num país que, democraticamente, ainda não parou de fazer tudo para agravar o atraso da massa cinzenta com que a II República o brindou. Num país sem massa crítica. Num país que ainda ouve - às vezes até acredita - coisas tão arcaicas e contraproducentes como o paleio do PC ou do BE. Num país onde os sindicatos, ideologicamente obsoletos, enganam multidões. Num país que atura um primeiro-ministro tão comprovadamente mentiroso e tão cheio de rabos de palha e de esqueletos no armário. Num país condenado ao atraso e à desgraça.
Num país que deixou de estar amordaçado para estar desmiolado.
Será a isto que se deve o “sucesso” do Alegre? Cheira-me que sim, mas, quem sabe?
Diz um estudo qualquer que, dos portugueses, o milhão mais rico é oito vezes mais rico que o milhão mais pobre. Segundo o mesmo estudo, em Espanha, os mais ricos são cinco vírgula seis vezes mais ricos que os mais pobres.
Esta estatística vale o que vale, ou seja, vale pouco. Estou a lembrar-me de pelo menos dez maneiras de a manipular.
Mas não é isso o que me trás.
O raciocínio de esquerda sobre ela é o que importa.
O “historiador” Rui Tavares, um dos nossos mais zarolhos esquerdistas, desagradável jovem que goza de direito de cidade, sabe-se lá porquê, nas páginas do “Público”, faz uma das mais retorcidas, para não dizer estúpidas, interpretações da tal estatística.
É que, segundo o homem, a culpa das, ao que parece indesejáveis, desigualdades de que o tal estudo se ocupa, é da direita (!!!???).
Um país que tem a mais esquerdista das constituições europeias, que, em 35 anos, foi governado pelo partido comunista durante 1 e pela esquerda dita democrática durante 25, que foi vigiado por uma junta militar de esquerda durante 7, que teve a economia quase completamente colectivizada durante 15, que tem a esquerda eventualmente mais numerosa da Europa, se tem desigualdades de monta, opina o zarolho, a culpa é da direita!
Espantosa conclusão!
Mais espantoso, porém, é o raciocínio (raciociônio, como diria o ilustre professor Vital Moreira) que leva até lá.
Vejamos: diz o homem que, no parecer dos autores do estudo, a Espanha, que é um país heterogénio, devia por isso ser mais desigual, e que Portugal, que é homogénio, devia ser mais igual. Mas dá-se o contrário. Porquê? Porque, diz o “historiador”, a direita impede a regionalização (!), não gosta da imigração (!!), é contra os “direitos dos gays (!!!) e, por isso… “não perde o sono com a desigualdade”.
Estão a ver o brilhantismo deste raciociônio?
Depois (notável!), diz que a Espanha, por ser heterogénia, é regionalizada. Portugal, por ser homogénio, mas não demais, também devia ser regionalizado.
A continuar o seu raciociônio, o camarada resolve arengar que a razão primeira para as nossas desigualdades é o facto de não estarmos regionalizados! Boa!
E, elementar, caro Watson!, se não temos essa maravilha da regionalização, a culpa é da direita! Por conseguinte, as desigualdades são culpa da direita, “obcecada” que está com a homogeneidade, o que, no douto parecer do fulano, é fruto “da obsessão religiosa com a pureza”(!!!). Valha-me Santa Engrácia Malacueca!
A obsessão da esquerda, essa, é com a igualdade, diz ele.
O Irritado não está lá muito preocupado com a igualdade, invenção de Revolução Francesa para enganar os pobres. Ainda menos com a homogeneidade, que existirá ou não independentemente da vontade de cada um.
O que preocupa o Irritado é a pobreza, é saber como se põe a economia a funcionar de forma a erradicá-la, coisa de que a esquerda jamais foi capaz.
O que preocupa o Irritado é que haja quem nos faça perder tempo, ainda por cima usando as mais enganosas trapalhadas mentais, com a regionalização de um país mais pequeno que a maioria das regiões de Espanha, .
E preocupa-o igualmente que circule por aí tanto zarolho com acesso a jornais e a televisões, e com o direito de produzir e propagandear as mais rebuscada asneiras, como é o caso do Tavares.
19.3.09
António Borges de Carvalho
PS. Quem quiser documentar-se a este respeito leia o "Público" de ontem (última página).
O defunto Ferro Rodrigues veio, com afã e afinco, declarar que a falta de uma maioria absoluta nas próximas eleições seria uma monumental catástrofe para todos nós. Leia-se, como é óbvio, que a criatura se refere a uma maioria absoluta do PS - sem a qual ficaria em risco o agradável tacho de embaixador numa coisa qualquer, mas em Paris, pois então!
O Irritado, como sabem os seus leitores, acha exactamente o contrário: a nossa desgraça seria a tal maioria absoluta do PS, ainda por cima sob a chefia do absurdo senhor Pinto de Sousa. Por isso, talvez o Irritado seja suspeito no que vai dizer. Mas di-lo na mesma.
Por essa Europa fora, são mais os governos de coligação que os de maioria absoluta de um só partido. Uma maioria formada por partidos coligados é tão maioria como outra qualquer. Com a diferença de não haver nenhum partido coligado que aturasse as aldrabices, as fantasias, a irresponsabilidade, as trapalhices de um fulano do calibre do do líder do PS. Ou seja, se o PS governasse em coligação já nos tínhamos livrado do intolerável jogger, o que seria condição primeira para tentar sair da floresta de enganos em que estamos perdidos.
Não consta que o sistema democrático ou o desenvolvimento das nações que nos são próximas, tenham sido gravemente prejudicados pela falta de uma maiorias absolutas mono-partidárias.
No nosso caso, um evidente factor de instabilidade inquina a saúde da nossa vida política e prejudica qualquer estabilidade. Não, não me refiro à “má maneira de votar” dos portugueses, nem ao sistema proporcional, nem ao nosso violentíssimo e visceral atraso cultural e social. Tal factor mora em Belém, e é, historicamente, fonte de instabilidade e de quezília.
O semi-presidencialismo, importado de França via submissão dos nossos intelectuais e juristas a esse semi-deus do direito constitucional que se chamava Maurice Duverger, interpretado à luz do “pensamento” local, redundou nesta coisa inacreditável que é haver duas legitimidades de origem universal com poderes que, em muitos casos, tendem a anular-se e que, em todos os casos, concorrem um com o outro, quer o digam quer não.
Esta é a verdadeira, a estrutural causa da nossa instabilidade política, aliás historicamente provada: com Eanes e a sua sede de intervenção, com Soares e a sua “autoridade moral”, com Sampaio (cuidado, que o homem quer voltar!) e o seu golpe de estado, com Cavaco e as suas convicções, o fluir “normal” da vida política tem sido sistemáticamente prejudicado.
Na Europa que nos é próxima, somos, com a França da V República, os únicos a ter um regime deste tipo. Com a diferença que, em França, o Presidente é o verdadeiro chefe político e, por cá, não passa de um chèfinho que pode espernear, fazer mossa, e pouco mais. Ou seja, desestabilizar. A vida política passa-se nesta ridícula luta entre um poder que ninguém sabe exactamente onde começa nem onde acaba, mas cujos titulares, sem excepção, tendem a interpretar extensivamente, e outro poder que faz exactamente o contrário.
As demais repúblicas do grupo têm a felicidade de poder escolher o seu presidente por via parlamentar, não duplicando legitimidades, não criando confusões e podendo ter oportunidade de escolher figuras que possam representar as nações com alguma independência e alguma altura. Os demais países, os que souberam diferenciar a res publica da república, são monarquias. Nestes, o problema nem sequer se põe: têm a mais inteligente, a mais abrangente e a mais independente forma de representação nacional que a modernidade e o bom senso geraram ou conservaram: o Rei. Podem escolher, sem incongruências nem duplicidades, quem querem que os governe. Têm o poder político limitado por vários meios (constituições claras, parlamentos fortes, deputados pessoalmente responsabilizados, poder judicial digno desse nome, etc.), sem precisar de recorrer a outro poder da mesma origem (o sufrágio universal), o qual, por isso, sempre tenderá a ser desestabilizador.
É evidente que, em muitos dos países de que falo, o regime pode ser considerado o que em ciência política se chama “presidencialismo de chanceler”. Com certeza. Desde que os limites funcionem, que mal vem daí ao mundo?
Estando, acima do sistema, assegurada a representação nacional, que mal vem daí ao mundo?
Os portugueses, por republicaníssimo atraso, têm a desgraça de andar ao contrário dos demais. Os intelectuais de serviço são quase unânimes em propor a “presidencialização” do regime. Os portugueses em geral tendem a aceitar esta tendência. Isto é, intelectuais e povo reagem ao contrário do que a experiência, própria e alheia, aconselharia.
Os portugueses, causticados por um governo de esquerda que há anos os mergulha em estupidez e propaganda, tendem a votar… ainda mais à esquerda!
De um país como este, de pernas para o ar, tudo se pode esperar. É por isso que o argumento da estabilidade associado à maioria absoluta do PS, tão desesperadamente pedida pelo defunto Ferro Rodrigues e tão carinhosamente propagandeada pelo Doutor Cavaco, não passa de (mais) um sinal do primitivismo cultural e político em que estamos, quiçá irremediavelmente, mergulhados.
Apontamento final:
Pode compreender-se que, por razões pessoais, partidárias e esquerdistas, o Ferro defenda a maioria absoluta do PS.
Mas é uma desgraça absolutamente incompreensível e inaceitável que o Presidente da República, em vez de incentivar o povo a votar, e a votar em consciência, venha vender a teoria da estabilidade, sabendo de ciência certa o que a palavra, hoje, significa para o eleitorado: o mesmo que significa para o Ferro.
Na minha qualidade de sem abrigo, venho agradecer reconhecido a notável iniciativa recém tomada por vossa excelência de me dar, e aos meus colegas, uma casinha, desde já solicitando a minha inscrição na lista camarária do senhor Costa, a fim de ser dos primeiros a poder gozar da superior generosidade de Vossa Excelência.
Desde já igualmente solicito de Vossa Excelência a amabilidade de prover a casa que me for destinada com um canil, a fim de poder abrigar condignamente os sete cães que me costumam acompanhar quando peço esmola à porta da Basílica dos Mártires.
Actualmente, durmo no poial da Camisaria Moderna, e até já fui objecto da oferta de dois pares de cuecas no fim dos saldos. No entanto, tal localização, muito mais incómoda que a que já tive (a paragem do autocarro 33, no Campo Pequeno) e da qual fui expulso por um toxico-dependente sem escrúpulos, não se adequa ao meu standing, além de ser bastante ventosa.
O meu colega Joca, com quem me encontro todos os dias na sopa do Sidónio, abriga-se num centro de acolhimento de umas senhoras do Restelo, o que constitui uma traição à classe. Já lhe expliquei que nas arcadas do Terreiro do Paço se está melhor do que junto àquelas beatas meio parvas, mas ele não me dá ouvidos. Expliquei-lhe, como é minha obrigação social, que, se voltar para a rua, assim recuperando o estatuto de sem-abrigo, poderá candidatar-se a um andarzinho dos de Vossa Excelência, andar que, posteriormente, poderá alugar a uma família de ciganos, gente que, por regra, paga a renda. É o que farei logo que vossa excelência me dê a chave do meu T2, aliás valorizado por causa do canil.
Do ponto de vista dos interesses do Estado esta solução é do melhor, uma vez que desde já me comprometo a dividir a renda dos ciganos com o senhor Teixeira dos Santos. Como outros colegas meus farão o mesmo, vossa excelência poderá obter algum rendimento dos 75 milhões de euros que a sua iniciativa vai custar. Nós ficamos com uns trocos para a drunfaria e o Estado porá o investimento a render! Genial, não é?
Proponho ainda que o bairro a construir seja gerido pela dona Ana Sara Brito, que tem vasta experiência nestas matérias e nos poderá aconselhar na nossa política de alugueres de casas públicas (nossas!).
Resta-me, mais uma vez, saudar a iniciativa de vossa excelência, certo de que será muito mais útil do que a construção e equipamento de abrigos com assistência médica, medicamentosa e alimentar, uns faxinas para tratar da limpeza e aconselhamento psicológico e de reintegração, coisa que só interessa a um escasso número dos meus colegas.
A solução de Vossa Excelência proporcionará a continuidade da classe, bem como a sua independência e a sua liberdade. Deixaremos, além disso, de ser chateados pelas velhas e as meninas que presentemente nos dão apoio e que nos lixam o juízo com conselhos estúpidos e ofertas de trabalho.
O dinheirinho dos contribuintes, gerido por vossa excelência, terá, assim, o maravilhoso efeito de nos proporcionar, sem custos e com rendimento garantido, aquilo que, a tantos pacóvios, pesa no orçamento e na mesa durante toda a vida. E vossa excelência acabará com essa porcaria da assistência social, coisa chata e sem sentido. Ao mesmo tempo consagrará, de direito, a nossa existência como classe social.
Desde já agradecendo a atenção que Vossa Excelência não deixará de prestar aos meus pedidos e sugestões, subscrevo-me com alta estima e consideração, e com a admiração que é devida à superior inteligência que Vossa Excelência demonstra com esta brilhante iniciativa.
Quando, em 1966, De Gaulle resolveu abandonar a estrutura militar aliada, com a consequente transferência da sede da Aliança para Bruxelas, atingia-se um ponto crítico da estratégia “independentista” do general, que tinha começado pela exigência do lugar da frente na parada da libertação, como se fosse ele, ou o seu país, os principais autores dos esforços que levaram a que tal comemoração pudesse ter lugar.
De Gaulle aceitava e agradecia à coligação aliada, mas, longe de reconhecer as culpas da ocupação que cabiam aos franceses e a relatividade do seu papel no desenrolar dos acontecimentos, não aceitou com a humildade que se justificaria a sua dívida aos aliados.
Fundadora da NATO, a França depressa viria, assim, a afastar-se dos seus centros de decisão e da sua estrutura militar, arrogando-se o direito a uma autonomia decisória que, em relação aos seus compromissos iniciais, nunca foi tida por inteiramente legítima, ainda que, politicamente, não pudesse deixar de ser aceite. Era um mal menor.
A proclamada independência em relação a Washington em matéria de defesa viria a revelar-se improcedente, ou contraproducente. A verdade é que a “independência” gaulista veio a redundar numa das mais importantes causas da presente situação de afastamento e atraso tecnológico da Europa em relação aos EUA, e de falta de interoperabilidade entre as forças armadas europeias e americanas, com consequências que a própria França viria a sentir, por exemplo quando procurou o guarda-chuva americano para a guerra da Jugoslávia, sem o qual tal guerra teria causado dezenas de milhares de mortos.
Dos países europeus, só o Reino Unido foi capaz de manter alguma “paridade” defensiva com os EUA. Caíram em saco roto os apelos de Kenedy para a criação do “pilar europeu da NATO”, devido, entre outras causas, à não integração da França, aliado indispensável à criação de tal pilar.
Sarkozy declarou solenemente o fim desta era. Ou porque percebeua relativa fragilidade dos seus instrumentos de defesa em face de ameaças que os ultrapassam, precisando de mais cooperação externa, ou porque achou que o peso militar e estratégico do seu país não encontrava enquadramento digno na partilha do poder aliado.
Trata-se de uma atitude arrojada e de uma viragem muito significativa, não só na posição francesa no quadro da NATO, mas também nas potencialidades de concertação estratégica dos aliados, num quadro de incerteza e de preocupação.
A esquerda francesa, que tanto se opôs a De Gaulle, opõe-se também a esta mudança de filosofia, sabe-se lá porquê. Ninguém tem nada a perder se a França deixar de ser La Fraaaaance de De Gaulle para passar a ser um parceiro com inegável poder militar no xadrês europeu, partilhando em pleno e estando à altura das responsabilidades que nele lhe cabem.
Nos parlamentos dos países civilizados há uns juristas e uns linguistas que tratam de pôr em letra de forma os diplomas legais, de acordo com a vontade política dos deputados. Nos tempos longínquos em que fui deputado não havia disso, como não havia um cagagésimo das facilidades de que os membros do nosso parlamento hoje gozam.
Nas últimas duas décadas gastou-se milhões em equipamentos, comunicações, restaurantes, instalações diversas, para dar aos deputados, e muito bem, melhores condições de trabalho. Que eu saiba, também se meteu mais uma carrada de funcionários em São Bento. Parece, porém, que nenhum deles se destina a verificar, segundo critérios técnico-jurídicos e linguísticos, os textos dos projectos de lei. Ou então que, havendo quem a tal se dedique, esse alguém foi “seleccionado” por cunha, não por mérito.
Serão estas as presumíveis explicações para a esmagadora quantidade de asneiras que se têm registado, para os pontapés na gramática, as omissões, as derrogações involuntárias, o diabo a quatro.
O PGR foi ao parlamento e, sem papas na língua, pôs as coisas como elas são a propósito de um projecto qualquer – do PS, pois de quem havia de ser – sobre violência doméstica.
Denunciou uma vírgula incrivelmente estúpida. Denunciou artigos sem conteúdo. Denunciou o primitivismo pedante do neologismo “empoderamento” (e esta, hem!). Denunciou contradições e trapalhadas várias, pleonasmos, redundâncias, um oceano de inacreditáveis asneiras, ao ponto de se declarar violência doméstica a que se pratica no “local de trabalho”. Neste aspecto, dou o benefício da dúvida aos legisladores do PS: queriam, com certeza, prevenir os ataques às mulheres-a-dias ou outras funcionárias domésticas que, como é sabido, soe serem objecto das mais violentas práticas por parte de repugnantes membros da classe capitalista, ou seja, das patroas.
Espera-se que, devidamente aconselhados pela dona Edite Estrela, os deputados do PS venham a terreiro defender a forma notável como redigiram esta lei, e muitas outras, a fim de desmentir o miserável ataque de que foram alvo por parte do PGR.
Um dia, nos tempos heróicos da AD, quando este cidadão andava em campanha eleitoral lá para as Beiras, depois de um lauto almoço oferecido aos “senhores de Lisboa” (havia os comícios e os bebícios…), o prior da freguesia, sentado ao meu lado, contava-me aventuras várias. Eu ia ouvindo, com a paciente curiosidade dos “senhores de Lisboa”. A certa altura, veio à baila a questão da Igreja Católica e da sua esperada independência em relação às querelas eleitorais. O padre, homem de idade já avançada, confessou:
- Saiba vossa excelência que eu sou fiel a tal princípio. Ainda este Domingo, na homilia, disse aos meus paroquianos: meus amigos, eu, como sacerdote, não tenho posição política. Aqui, não digo a ninguém que vote na AD. Mas, meus amigos, da porta da igreja para fora é claro que o digo! Sou um cidadão como os outros!
Não me teria ocorrido contar esta deliciosa historieta não fora as inacreditáveis declarações do ex-presidente Sampaio, que ontem me deixaram de boca aberta.
Disse o ilustre senhor mais ou menos assim:
- Sou um adepto da “estabilidade”. Por isso, acho importantíssimo que as eleições deste ano produzam uma maioria absoluta. Dado ser quem sou, não digo maioria de quem. Mas, como todos sabem, há uma que prefiro.
O pobre cura da Beira, na sua ingenuidade, terá, na terra e no céu, desculpa para a sua falha “deontológica”. O Dr. Sampaio não tem desculpa nenhuma. Ainda por cima, se quer fazer propaganda do PS, é livre do fazer, o que não aconteceria com o abade. Vir atirar-nos com insinuações, armado em independente, é que não.
Com que autoridade moral e política vem este senhor defender uma maioria absoluta, se, com o evidente objectivo de pôr os seus no poder, deu cabo, por razões de lana caprina e através de um golpe de estado constitucional, da que governava o país durante o seu mandato?
Pobre cura da província, que não fazia golpes de estado nem consta que tivesse poder!
O ministro Papiniano, conhecido por ter feito um complot com um general para dar cabo da hierarquia das Forças Armadas e gastar mais uns milhões, deslocou-se gloriosamente à Líbia, a fim de estabelecer, com o regime do indefectível democrata e putativo maçon Muamar Càdàfi, um “programa indicativo” de “parcerias” na área da defesa.
Nada mais tranquilizador. Portugal, na sua vocação globalizante, escolhe parceiros de eleição. Depois da investida diplomático-económica que nos permite ser amicíssimos e parceiros preferenciais do Chávez, nada melhor que aprofundar boas relações com o grande líder norte-africano.
Quando for preciso alguma coisa, cais UE cais carapuça, cais aliados cais carapuças, os camaradas e irmãos do senhor Pinto de Sousa ali estarão, firmes e fiéis, a mostrar a excelência da política externa e de defesa do “governo” do partido socialista.
Cinco prisioneiros de Guntanamo divulgaram ontem uma carta em que se declaram culpados e orgulhosos dos atentados do onze de Setembro.
Sabem onde li isto? Numa coluninha de uma página interior do DN de hoje, daquelas a que antigamente se chamava “em três linhas”. No caso tinha oito, mas o efeito era o mesmo.
Assinava a simpática cartinha o senhor Caled Xeique Moamede, distinto cérebro dos atentados.
Calcule-se quantas primeiras páginas, quantos artigos de fundo, quantos frementes êxtases da dona Ana Gomes haveria se alguém provasse que o tal Caled tinha levado uns sopapos e uns pontapés no cu dos carcereiros de Guantanamo.
Não sou adepto de sopapos nem de pontapés no cu, mas não deixo por isso de assinalar a clarividência dos critérios da imprensa e da chamada “informação” em geral. Continuem assim e depois queixem-se.
O papá da pequena Maddie voltou à ribalta para acusar este mundo e o outro de enriquecer à custa do desaparecimento da pobre criança.
E eu que estava convicto que o senhor e a senhora tinham arrebanhado uns milhões de libras, com os quais pagavam, e pagam, a assessores, porta-vozes, adjuntos, advogados e apaniguados para se transformar em estrelas da comunicação! Eu que achava chocante a forma como se promoveram a expensas da morte ou do sofrimento da menina!
O sinistro senhor Mário Nogueira, olho de xarroco meio turvo, bigode à Sadam Hussein em riste, declarou solenemente:
“Está tudo em aberto, até a greve à avaliação de alunos”.
Notável manifestação de patriotismo, de preocupação com as novas gerações, de zelo profissional, de honestidade intelectual, de preocupação deontológica, de rigor moral: se não fizerem o que a corporação exige, a corporação não dá notas aos alunos.
O corporativismo no seu melhor, isto é, no seu pior.
O Nogueira é uma nojeira. Pena é que arraste consigo tanta gente.
Pena é, ou repugnante vergonha, que os partidos da direita andem atrás desta gente, atrás do Jerónimo, atrás do Loiça, do Silva, do nojeira, sem saber distinguir a clamorosa incompetência do governo do miserável comportamento dos professores. Vale tudo, para o nojeira, para o governo, para o Jerónimo, para o Loiça, para o Silva e, desgraçadamente, também para o Portas (Paulo) e para a dona Manuela.
A. O Tribunal de Contas diz que o aeroporto do Porto custou
mais 99% do que o estimado;
A ANA diz que só ultrapassou o orçamento em 2,5%;
O Tribunal de Contas diz que a obra durou mais 4 anos que previsto;
A ANA diz que o prazo foi ultrapassado em 2 meses.
Pergunta a estupidez do Irritado:
·Quem não sabe fazer contas, a ANA ou o TC?
·Quem é aldrabão, a ANA ou o TC?
·Quem está a enganar o povo, a ANA ou o TC?
·Quem toma conta disto, o Serious Fraud Office, o Mossad, a CIA?
·Ou ninguém, que o mesmo é dizer o governo, o PGR, a PJ, ou os Inválidos do Comércio?
B. Uma sondagem qualquer diz que 65% dos portugueses são contra o “ ‘casamento’ de pessoas do mesmo sexo” e que uns 15% não sabem ou não respondem. Assumindo que metade destes decide ser contra e outra metade a favor, teremos que 72,5% dos portugueses são contra e 22,5% a favor. A dona Clara Ferreira Alves diz que 99% são contra. Ela lá sabe.
Pergunta a estupidez do Irritado:
·Porque carga de água se propõe o PS autorizar tal coisa?
·Julga que somos espanhóis?
·Julga que somos parvos?
·Ou, como se tem visto em inúmeras outras ocasiões, quer baixar a natalidade e indignificar o casamento, a fim de acabar com os portugueses?
·Quem é estúpido, o Irritado ou o governo?
C. O “Expresso” entra em paranóia com a tradução dos jogos do Magalhães, coisa completamente analfabeta e a todos os títulos condenável.
Pergunta a estupidez do Irritado:
·O “Expresso”, para ser coerente, vai deixar de admitir pontapés na gramática nas suas páginas?
·O “Expresso” vai explicar às pessoas quando se diz “que” e quando se diz “de que”?
·Os locutores da televisão vão deixar de mandar bojardas a torto e a direito?
·A dona Edite Estrela vai para a escola?
·A TLEBS vai ser abolida?
·Os professores, nas manifestações e nos comunicados, vão passar a ter mais cuidado com a escrita?
·O acordo ortográfico vai para o caixote do lixo?
·O Magalhães afinal não tem nada de português?
Como é evidente e está na cara de toda a gente (rima e é verdade), a língua portuguesa é tratada, a todos os níveis, altos e baixos, como se de lixo se tratasse. Não é escândalo nenhum que um pobre emigrante com a quarta classe que já não vem à Pátria há trinta anos faça a tal tradução. Não pode, sequer, ser responsabilizado por coisíssima nenhuma.
Os responsáveis, a começar pelo primeiro-ministro, continuam no poleiro?
Anteontem, almocei com o François, no “Petit Retro”. Boa cozinha do seizième profond, coisa sem turistas nem emigrantes.
Puzemos uma série de “moengas” em dia, como é normal entre dois velhíssimos amigos que há que tempos se não viam.
Lá veio, inevitável, a crise. O François, talvez por inveterado optimismo, não está muito preocupado com ela, nem com a hiperactividade do Sarkozy, nem com o proteccionismo, já que la France n’a jamais été autre chose.
E Portugal?
Contei-lhe a desgraça em que vivemos, o primeiro-ministro que temos, a miséria moral e política dos socialistas. Por patriótica vergonha, não fiz qualquer referência ao caso Freeport.
-Mon cher, tout le monde le sait. Le Portugal est ruiné, c’est pire qu’en Islande ou aux pays de l’est!Tout le monde sait que ton premier ministre est un petit connard, ignorant et maladroit!
-???
-C’est sur touts les journaux, depuis longtemps, mon cher! Votre dette est unsoutenable! ...
Feito num oito, mudei de conversa.
Toda a gente sabe! Somos os campeões dos PIGS do Sul (Portugal, Itália, Grécia e Espanha). Não porque, como dizia Estrabão, sejamos ingovernáveis, mas porque somos governados como somos. Pela esquerda.
Fomos arruinados pela esquerda, como os italianos, os gregos ou os espanhóis. Como já éramos mais pobres que eles (à excepção da Grécia), mais pobres que eles ficámos, Grécia incluída.
A crise internacional mais não fez que levantar o diáfano manto que nos escondia a desgraça. Nem é preciso que o Irritado o diga. Já não há quem o negue.
Não tarda, começarão os portugueses a emigrar para a Roménia!
O senhor Obama arrancou com uma campanha de charme internacional, corporizada pelo sorriso odontológico, quer dizer, de plástico, da dona Hilária. Se mostrar a dentadura fosse cura para as feridas do mundo, estávamos na maior.
O pior... vejam este exemplo:
Ontem, na primeira página, o Figaro noticiava que a Administração americana tinha prometido aos russos que desistiria do programa anti-míssil em troca dos bons ofícios do senhor Medvedev para convencer o Amadinejá a desistir do programa nuclear iraniano.
O IHT, também em primeira página, referia que o porta-voz do Medvedev tinha desmentido categoricamente tal notícia.
Ou o senhor Obama não fez a proposta, sendo de estranhar que não tenha havido qualquer desmentido por parte da Casa Branca, ou o senhor Medvedev ignorou, orgulhosa e displicentemente, a ingénua promessa do homem.
É sabido que a tecnologia nuclear iraniana, ou grande parte dela, é de origem russa. O desmentido do Kremlin quer, por isso, dizer duas coisas: primo, que os russos têm outros trunfos na manga para acabar com o programa anti-míssil dos americanos, ou para, por estranho que pareça, entrar nele; secundo, que os negócios com o Amadinejá vão de vento em popa e que a história do escudo anti-míssil não é suficientemente importante para os pôr em causa.
Pode compreender-se que o jóvem Obama, no princípio de um mandato tão auspicioso como difícil, se mostre um tanto ou quanto naïf. Mas que as dentolas de uma rata sábia como a dona Hilária não saibam aconselhá-lo já é mais difícil de entender.