UMA CHATICE!
Caiu-me a alma - e não só - aos pés, quando ontem vi o senhor Branco rapar de um recorte de jornal e desatar a insultar o colega Rangel no debate entre os candidatos a chefe do PSD.
Ainda que não o conhecendo de partíssima nenhuma, tinha do homem uma imagem positiva. Lá se foi a imagem, lá se foi a positiva. O fulano, afinal, é um fiel seguidor dos gatos do PSD, do Marcelo, do Pacheco, do Cavaco, do Coelho (Passos), do Menezes e de tantos outros que, nos últimos 6 anos, se têm dedicado a destruir o seu próprio partido.
Se o PSD não tivesse raízes tão fundas no nosso tecido social, já não passava de um resíduo onde a assanhada gataria se divertiria aos arranhões.
As eleições directas (um disparate sem nome, ao qual já devemos essa horrenda aquisição que se chama Pinto de Sousa, o mesmo que, modestamente, dá pelo nome de Sócrates) pareciam, apesar de tudo, poder ser um arrear das bandeiras da bagunça e da maledicência no PSD. Baldada esperança. Triste ilusão. O mais “sossegado” dos actores, o que infundia, se não entusiasmo pelo menos confiança, revelou-se membro da alcateia da maledicência gratuita.
O debate foi ganho pelo senhor Pinto de Sousa. Foi ele quem esteve no centro de tudo, não o PSD. Ninguém, para além de velhos e relhos clichés, ouviu o que fosse de novo: nem ideias, nem intenções, nem nada que nos mude o futuro. Os candidatos definem-se como adversários do Pinto de Sousa, parecendo que, sem ele, não existiriam.
Todos aplaudem a melhor máquina de defesa que ao Pinto de Sousa podia ter sido oferecida: a Comissão Parlamentar de Inquérito. Não é preciso ser muito esperto para perceber que a montanha vai parir um rato. Uns dirão umas coisas, outros o seu contrário. Como, nem a uns nem a outros, será dado “provar” o que dizem, tudo ficará em águas de bacalhau. Fazendo depender a política de “veredictos”, não se vai a parte nenhuma.
Os doutos candidatos ainda não percebem que, com provas ou sem elas, o senhor Pinto de Sousa, simplesmente, não é digno do lugar que ocupa, nem que fazer depender evidentes razões de dignidade e de carácter de processos judiciais ou parlamentares não passa de uma forma de encanar a perna à rã. O que tem a ver com o respeito que devemos ao país e a nós próprios não se pode confundir com as conclusões do inquérito ou com as sentenças da Justiça.
Quem recusa à política a prerrogativa do julgamento político, recusa a própria política.
Nenhum dos quatro percebe isto. É pena, muita pena.
A este propósito, valerá recordar dois factos importantes a que ninguém liga bóia e têm a ver com as propostas de Pedro Santana Lopes ao Congresso.
Parece que eram oito. Passaram todas, menos uma.
Os ilustres candidatos deixaram passar, lá dentro, sem discussão, aquela que vieram cá para fora condenar. Com carradas de bom senso e de razão, tal proposta outra coisa não pretendia senão chamar a atenção dos gatos assanhados para a conveniência de não andar às unhadas durante os períodos eleitorais. Propunha um sistema mais permissivo que o do regulamento até então em vigor. Poderia, se houvesse juízo, ter efeitos muito positivos.
Mas não há juízo nenhum, como os principais candidatos provaram à saciedade logo a seguir ao Congresso, embarcando em uníssono no coro absurdo e analfabeto da “lei da rolha”, coisa que até o desmiolado Assis já deixou cair.
E a proposta derrotada? Sabem qual era? Não sabem, com certeza. Era a que previa uma segunda volta nas eleições directas, para evitar que o eleito o fosse, como há uns tempos, com um terço dos votos, ficando dois terços a ver navios. Era ou não era uma questão de bom senso? Parece indiscutível. Mas foi chumbada.
Nenhum dos magníficos candidatos se lembrou de a defender!
Desta vez, como são quatro, arrisca-se o PSD a vir a ser governado por alguém que reuniu…26% dos sufrágios. Bonito! Melhor garantia da continuação da guerrilha não pode haver.
Assim vamos nós, tristes, saudosos de líderes que se imponham pela inteligência, pela razão, pela verdade e pelo diálogo inteligente e sério com todos nós.
23.3.10
António Borges de Carvalho