TURDUS MERULA
O IRRITADO não é nem nunca foi caçador, não por princípio mas porque nunca tal lhe apeteceu.
Começa, como é de moderna obrigação, por fazer declaração de desinteresse e quase total ignorância em relação às actividades cinegéticas.
Sempre atento às maravilhas do nosso estimado governo, foi o IRRITADO surpreendido com uma extraordinária benesse há dias concedida aos caçadores de Portugal: a caça ao melro.
Sendo o melro, como é notório, uma espécie cinegética de eleição, passaremos todos, que não só os caçadores encartados, a poder matar, de preferência à fisga, os melros que têm o incivilizado costume de saltitar no jardim lá de casa, predando as sementinhas da relva e assustando os pardais.
Vai ser um fartote.
Consta que os criadores de alectoris rufa em cativeiro, destinadas a ser abatidas a tiro e comidas de escabeche, vão passar a cultivar melros. Estes serão fornecidos aos milhares aos caçadores do país, a preço de saldo, a fim de que os supracitados possam neles cevar as suas assassinas tendências, ao mesmo tempo que entoam cânticos celestiais de louvor ao governo.
Esta medida, acompanhada da que, em sede programática, prevê a criação de florestas de eucaliptos e de pinheiros de regadio, dão-nos uma imagem, clara quão idílica, da fabulosa competência do socialismo e da administração pública.
Hossana, ó gente!
1.6.11
António Borges de Carvalho