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irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

LEGÍTIMAS PREOCUPAÇÕES

 

Simples e, pelo menos teoricamente, uma fundação é uma organização que é dotada de capital pelos respectivos fundadores a fim de prosseguir determinados objectivos. A administração desse capital é entregue a uma gerência, a qual tem a obrigação de, através do seu rendimento e da criação de receitas próprias, cumprir os objectivos que a fundação se propõe realizar.

Por outras palavras, uma fundação dispõe dos meios que os seus fundadores lá quiserem empatar, e de mais nada que não seja obtido a partir de tais meios.

Por não se tratar de uma empresa que distribui dividendos, mas de uma organização que aplica as suas receitas, de capital e de actividade, ao prosseguimento dos seus próprios fins, tem um regime fiscal especial e goza de “utilidade pública”.

 

Vem isto a propósito do Parque Arqueológico do Côa e do respectivo museu.

Os trabalhadores da organização andam preocupadíssimos com o futuro e já o fizeram sentir à tutela. É que coisa vai passar a funcionar no regime de fundação e deixar de ser encargo da administração pública.

O Estado e as autarquias, quer dizer, nós, enterraram ali uma incalculável quantidade de milhões, a começar por aqueles que o inteligentíssimo Guterres deitou fora ao acabar com a barragem, já em adiantados trabalhos, por causa dos bonecos na pedra, a continuar na construção de um gigantesco mamarracho, tudo desde a primeira hora acompanhado pelos respectivos custos (permanentes) de estrutura e manutenção, e a terminar numa colossal, obviamente bem custosa, organização: a tal cujos trabalhadores andam legitimamente preocupados por ver passar a fundação, isto é, passar a ter que viver com o pêlo do cão em vez de mamar o que lhe for conveniente do orçamento do Estado e das verbas autárquicas.

Desde os primeiros tempos não havia quem não soubesse no que a estupidez do governo de Guterres ia dar.

Agora, que os custos da barragem andam para aí a ser cobrados aos nossos bolsos sem qualquer retorno, que o preço do mamarracho deve estar pendurado numa rubrica qualquer, e que a coisa, evidentemente, não gera receitas para poder funcionar, ai que a fundação tem todas as condições para se afundar!

Os preocupados têm razão. Meteram-se numa coisa que, garantiram, viria a ser um sucesso, mas não é sucesso nenhum, como se metia pelos olhos dentro de quem não fosse completamente estúpido, desprevenido ou interessado.

De um momento para o outro, os ilustres arqueo-trabalhadores vêm tudo a ir por água abaixo já que, pelo seu trabalho e usando as fortunas que com eles foram gastas, não vão lá. O dinheiro some-se, as receitas não são o que imaginaram e, mais tarde ou mais cedo, fecha o mamarracho e os tipos vão para casa. Safam-se as gravuras, isto se os vilanovafozcoenses não decidirem dar largas à sua justa e contida fúria por terem ficado sem a barragem, e não derem cabo delas à picareta.

 

E daí? Estamos em Portugal! Podem os preocupados ficar descansados que, perante a vergonha de tudo aquilo ir para o galheiro, podem aparecer umas verbas, a registar na dívida pública, para dar continuidade a tão meritória obra.

Não se assustem. Se calhar ainda não é desta que vão ficar a braços com as vossas responsabilidades.

 

31.7.11

 

António Borges de Carvalho

UMA VERGONHA

 

Para quem ainda tenha dúvidas sobre o que motiva o formidável “escândalo” nacional das fugas de informação dos serviços secretos para a Ongoing, que vem ocupando os media – sempre diligentes com qualquer intrigalhada – os jornais de hoje, sem o dizer, trazem a explicação.

 

A Impresa, dona da SIC, do Expresso e de mais uma data de coisas,

a) teve, nos primeiros seis meses de 2011, um prejuízo de 32 milhões de euros;

b) a Impresa e a Ongoing andam de candeias às avessas, entre outras coisas por causa da eventual privatização da RTP.

 

Como o IRRITADO disse um dia destes, toda a história das informações que “terá havido” não passa de uma gigantesca manobra de contra-informação movida e pilotada pelo jornal da Impresa para dar cabo da Ongoing, ou para a descredibilizar e prejudicar. Mete-se pelos olhos dentro. Tudo, mas tudo o que tem sido publicado não significa outra coisa, para quem quiser ler, senão a confirmação desta “tese”.

 

Quem achar que o IRRITADO está a malhar em ferro frio fica desde já informado que não senhor, não se trata de uma repetição do que já disse.

O tema é outro.

Como muita gente neste país, o IRRITADO costuma assistir à “Quadratura do Círculo”, um programa da SIC Notícias (Impresa) onde se defrontam três altas personalidades da opinião nacional: Pacheco Pereira, António Costa e Lobo Xavier.

Presume-se que as respectivas emissões de opinião sejam pagas, e bem pagas, pela Impresa. Vivemos, no entanto, na certeza de estar perante opiniões desinibidas, ainda que muitas vezes antagónicas e politicamente interessadas, o que nada tem de mal, antes pelo contrário.

Desta vez, porém, o interesse era outro. Os três altos opinantes teceram as mais catastróficas considerações sobre o caso, a segurança da República, o segredo de Estado, as competências e responsabilidades dos “espiões”, as formas de controlar os serviços de informação, etc., altas matérias. Sobre o fundo da questão, nem uma palavra. Pudera! O fundo da questão tinha a ver com quem lhes paga!

Hoje, finalmente, o Doutor Maltez, também na SIC Notícias, pôs muitos pontos em muitos is. Que tudo não passa de contra-informação, que se está a fazer uma tempestade num copo de água, etc. Notável. Só que, quando chegou a altura da pôr o dedo na ferida, o homem referiu a Maçonaria, a Igreja Católica, o Opus Dei, e por aí se ficou. Sabe tão bem como quem tem olhos para ver que estas entidades, se tiverem a ver com o assunto (terão?) será de forma indirecta.

O Expresso, convertido em tablóide, e dos piores (é o que tem dado a "gerência" do Costa, Ricardo), nem sequer mereceu referência ao Doutor Maltez. Porquê? Terá medo? Medo de quê? Isso é o que ele devia explicar, mas não explica.

Porquê? A resposta fica à vossa imaginação, ao vosso bom senso e à vossa sagacidade.

 

Uma última observação. Segundo os jornais, o “espião”, com o aval do primeiro-ministro Pinto de Sousa, “terá dado” informações à Ongoing sobre uns russos que andavam para aí a querer fazer negócios. O IRRITADO, como é sabido, não tem por hábito dar razão, seja a que título for, ao senhor Pinto de Sousa. Neste caso, porém, se é verdade o que vem nos jornais, o senhor Pinto de Sousa fez muitíssimo bem em mandar dar as tais informações à tal empresa.

 

29.7.11

 

António Borges de Carvalho

INIMGOS PÚBLICOS

 

Não, meus senhores, não vou falar do maluco do norueguês, o post é sobre a Câmara de Lisboa.

  

Aqui há tempos contaram-me uma história, garantindo que era verdadeira. Eu acredito. Se não é verdadeira é bem achada e perfeitamente possível.

Um cidadão de Lisboa queria abrir uma janela numa parede cega que tinha lá em casa. Dirigiu-se à câmara municipal, onde consultou departamento competente. Nem pensar - foi a resposta - nem pensar em alterar as características arquitectónicas do construído!

Insatisfeito com esta resposta, o cidadão apresentou um projecto para fechar a inexistente janela. Nem pensar!, foi a resposta. O projecto foi liminarmente chumbado. postas as coisas nestes termos, o cidadão mandou abrir a janela sem que ninguém o chateasse. Tudo dentro da mais estrita legalidade!

 

Pois bem, isto é um exemplo de como funciona a câmara de Lisboa. Um pequeno exemplo, mas muito exemplar, passe o pleonasmo.

Todos sabemos que, para fazer umas obrecas de chacha, a câmara exige ao incauto cidadão tantos papéis e põe tantas dificuldades, ou mais, que as que poria se se tratasse de uma torre de vinte andares no Marquês de Pombal.

Mesmo que a obra de chacha, mais ou menos dois anos depois da abertura do processo, venha a ser licenciada, é tanta e tão crescente a burocracia – hoje em dia apoiada por inúmeros mabecos privados que vivem da proliferação de regulamentos - que, se conseguir ter a licença de utilização dez anos mais tarde, está cheio de sorte.

Vivemos no esplendor do “simplex” lisboeta!

 

Mas… meus amigos, isto acontece se for você a querer mudar a latrina para o lugar do bidé e abrir uma porta nova para a dispensa.

Porque, se você for o Corte Inglês, como aconteceu nos tempos da câmara social-comunista, pode fazer as obras que entender, sem, sequer, precisar de licença, e mesmo que a construção careça de mínimos de segurança, como acontece com a espiral de acesso aos estacionamentos do dito.

E se, como está acontecendo nos nossos dias a umas senhorias que têm a desgraça de ser proprietárias de um prédio no Rossio, você for um “proprietário parasita”, na feliz expressão do senhor Costa e de um tal Salgado, seu vice, está frito. Os tipos tomam-se de amores pelo seu inquilino, licenciam as obras que ele quiser fazer naquilo que é seu sem lhe pedir autorização, ou deixam-no fazê-las mesmo sem licença e, se você protestar, passa automaticamente à já referida parasitária categoria. Tudo em nome da “reabilitação urbana.

É isto o que se passa, como o IRRITADO já teve ocasião de referir, com o chamado International Design Hotel, à esquina da Rua da Betesga com o Rossio: 1620 m2, pelos quais o heróico inquilino paga a fabulosa quantia de 611 euros mensais, renda de um apartamento T2.

No parecer do banditismo camarário, o inquilino é merecedor dos maiores aplausos e apoios, não precisando, nem de licença do senhorio para fazer as obras que entender, nem de alvará, nem de vistoria, nem de licença, nem de coisa nenhuma! É fazer as obras, pôr o hotel a funcionar, e pronto!

 

A justiça socialista numa das suas mais brilhantes expressões.      

 

27.7.11

 

António Borges de Carvalho

UMA TERNURA

 

De todo o país, bandos de alegres jovens, cheios de entusiasmo, convergem no verde campo. Os passarinhos pipilam, os regatos murmuram docemente, a fresca brisa deste suave Verão acaricia a juventude, dando-lhe força, ânimo, vontade de futuro.

Sob as frondosas e acolhedoras árvores, os jovens tomam posições, organizam-se, preparam-se com esmero para passar uns dias em contacto com a natureza e em ameno e sadio convívio.

Estabelecem as fronteiras do seu refrigério, fronteiras que não são limites mas convidativo sinal a marcar a sua feliz presença e a chamar outros para com eles viver os momentos únicos do seu bucólico beau séjour.

Amantes da Natureza, preocupados com o ambiente e com os destinos da Mãe-Terra, os nossos jovens tudo limpam, tudo arranjam, nem o mais pequeno sinal da sua passagem perturbará, quando se forem, a pureza de tão idílico local.

 

À porta do acampamento, desfraldada, uma delicada bandeira, fremente, ostenta a face heróica do camarada Ernesto Guevara, mais conhecido por Ché, a indicar às gentes a altura moral e cívica do que ali se passa.

Pelos ares, os altifalantes ecoam a branda e meiga voz de meninas pedindo em casamento outras meninas, e a destas, a gritar bem alto o mimoso sim. Os montes e as ervinhas parecem rejubilar, tocados pela meiga sensação do amor das inocentes criaturinhas, tão deleitadas em afirmar os seus direitos e aspirações.

Pelas aprazíveis sombras ondulam rapazes, leves, saltitantes, jubilosos. Como quem distribui olorosas flores, os meninos tiram, de uns cestinhos de verga, tubos de gel lubrificante anal/vaginal e preservativos, produtos bem marcantes dos seus direitos e irreprimíveis ideais, e oferecem-nos, cheios de amor, aos seus camaradas, meninos e meninas.         

Uma alta dirigente da organização, prenhe de entusiasmo, verifica que não poucos jovens, imbuídos do espírito da comunidade, “saíram do armário” no acampamento, isto é (presume-se), deram vazão ao gel.

 

Não se pense que esta exemplar juventude se fica por aqui. Reunidos em círculo, qual távola redonda, cheios de unção, discutem os ingentes problemas das sáficas e larilais práticas que urge defender, propagandear e impor, como sinal evidente da verdade e do direito ao lesbianismo e aos prazeres rectais, e suporte dos inalienáveis direitos dos seus praticantes e, de um modo geral, dos portadores de deficiência sexual congénita ou adquirida.

Dando largas à sua inteligência privilegiada, os campistas, “recuperam Marx” e “reflectem sobre a intervenção do FMI”. “Aqui”, diz uma púbere menina, “ninguém fala por cima de ninguém”. Pois não.

Há até umas italianas que produzem representações teatrais destinadas a “caricaturar o comportamento da sociedade face à homossexualidade”. Lindo.

“Não fiques à rasca, revolta-te” e “repressão policial é terrorismo social”, são dois exemplos das máximas que animam o pessoal, em grandes dísticos, entre as frondosas árvores.

Como o recurso à bela face do Ché bem demonstra o acampamento tem uma “dimensão política”, que fica a matar com “música palestiniana”.

 

Uma delícia, esta juventude. Como se pode imaginar, a Pátria anseia pelo seu contributo, teórico e prático. Vai ser lindo vê-los crescer animados por tão altos ideais.

 

*

Texto concebido a partir de uma reportagem do “Público” sobre o acampamento de Verão da juventude do Bloco de Esquerda.  

 

26.7.11

 

António Borges de Carvalho

É PENA

 

Dir-se-á que o Expresso é um ódio de estimação do IRRITADO. Não é verdade, mas conceda-se.

Por falar em Expresso, vem à baila mais uma vez o dossier Bairrão, o tal que protegia o Pinto de Sousa no caso TVI e que foi corrido por Passos antes de tomar posse.

 

Ontem, o Expresso titula em manchete de altas parangonas: Fugas de informação nos serviços secretos, seguido de um lead que reza: Ex-director do SIED terá passado informação à Ongoing antes de ser contratado… Passos foi apanhado numa guerra de interesses. Na página 2, título igual ao lead: Director do SIED terá passado informação antes de sair. E, no texto, outra vez a mesma coisa: terá passado, e mais não sei quantas vezes terá passado.

 

Atente-se, antes de mais, na fortíssima certeza, na intocável veracidade da notícia: terá passado repetido pelo menos três vezes. Não se sabe se passou se não passou, confessa o Expresso, pondo as barbas de molho.

Bonito.

 

O Expresso enche a primeira página, a página 2 e a página 3, com informação que não faz ideia se é verdadeira ou falsa. Três páginas de confessas suposições, de cobras e lagartos sobre um tal Jorge Silva Carvalho, um “espião” sem escrúpulos, ao serviço de homens sem escrúpulos.

E mais. A pena ilustre do Costa (irmão do outro e, pelos vistos, parecido) vem rematar, com uma seriedade a toda a prova, que o primeiro-ministro, por causa de um relatório do SIS, correu com o Bairrão. O ilustre plumitivo não esclarece se foi por causa disso ou se “terá sido”.

 

Tudo isto é miserável. Ninguém sabe, ainda menos o Expresso, se o tal Carvalho levou ou não levou consigo informações secretas. Ninguém sabe, ainda menos o Expresso ou o seu director, se o governo correu com o Bairrão por causa dos “espiões” ou por outra razão qualquer.

 

Como parêntesis, diga-se que, se o Primeiro-Ministro indigitado pediu (terá pedido?), aos serviços secretos, informações sobre os eventuais futuros membros do governo, fez muito bem e estava no pleno direito de o fazer. Entre outras coisas, é para isso que os serviços servem.

 

Nada disto (as “notícias” do Expresso) tem ponta por onde se lhe pegue. Trata-se de conjecturas, insinuações, teorias da conspiração ou pura manobra político-empresarial.

 

O IRRITADO não faz ideia de quem seja o tal Silva Carvalho. Não conhece a Ongoing de parte nenhuma, nem o seu chefe, nem tem estima ou o seu contrário por nenhuma das referidas entidades, ou por entidades próximas ou afins.

Mas há coisas que são do domínio público.

É do domínio público que a sociedade proprietária do Expresso atravessa dificuldades.

É do domínio público que há fortes divergências entre a Ongoing e o senhor Vasconcelos, por um lado, e a Impresa e o senhor Balsemão, por outro.

Mais coisas há que são públicas e notórias. Não é preciso referi-las para perceber o “jornalismo” que o Expresso, desta vez com o rabo de fora, costuma fazer.

 

É pena.

 

24.7.11

 

António Borges de Carvalho

BONS E MAUS

 

Anda para aí um infernal burburinho por causa dos procedimentos jornalísticos do News of the World. O IRRITADO até já falou no assunto.

Segue-se, com evidente lógica, o paralelo entre este caso e o do Wikileaks. Os mesmos métodos, por meios diferentes e diferentes negócios.

Os mesmos que andaram para aí a tecer loas ao senhor Assange, paladino da liberdade de informação, impecável agente dos povos que são mantidos na ignorância do que se passa, não hesitam agora em lançar o seu indignado anátema sobre o senhor Murdoch, o seu filho, o premier britânico, o diabo quatro.

 

O Expresso, por exemplo, não só disse maravilhas do suspeit violador de suecas, como fechou com ele, ou com intermediários por sua conta, um contrato de publicação de informações obtidas por métodos condenáveis ou simplesmente roubadas.

O camarada Louça, por exemplo, erigiu o camarada Assange em exemplo de luta contra o “capitalismo”, o “imperialismo”, ou outras misérias da cartilha.

 

O que era óptimo no Assange é péssimo no Murdoch. Obter e comunicar informação confidencial por meios informáticos ilegítimos ou por roubo puro e simples é um acto heróico e uma legítima fonte de “informação”. Escutar conversas e publicar bocas delas provindas é um nefando crime.

 

Qual é a diferença? De um ponto de vista moral, a diferença é zero. De um ponto de vista de deontologia de informação a diferença é nenhuma.

Então porque é que um é um cidadão exemplar, outro um canalha da pior espécie?

Eu explico: um é feroz inimigo dos EUA e de tudo o que eles representam, outro não tem nada contra tal gente. Um é claramente de esquerda, outro um liberal assumido.

Um dá dinheiro a ganhar ao Expresso e quejandos, outro não dá nada ao Expresso nem a quejandos.

 

E pronto, a moral é esta. Admire-a quem quiser.

 

24.7.11

 

António Borges de Carvalho

VERDADES E MENTIRAS

 

Uma voltinha pelas estatísticas europeias, a partir de 2005, mostra várias coisas interessantes, no que ao défice do Estado diz respeito.

Como já era sabido, o défice jamais chegou aos 6,85 anunciados pelo inigualável Constâncio e ribombados, anos a foi, como se fossem a última das verdades pelo artista Pinto de Sousa.

O défice de 3,4 apresentado por Barroso em 2004 foi levado por Pinto de Sousa a 5,9 em 2005. Em 2006 baixou para 4,1 e em 2007 para 3,2. Em 2008 passou a 3,6, em 2009 a 11,2 e, em 2010 a 9,1.

Assim como jamais se verificara o défice inventado pelo Constâncio, também o equilíbrio das finanças milhares de vezes anunciado por Pinto de Sousa nunca passou de fantasia.

 

Já agora, um olhar sereno sobre a dívida pública diz-nos que ela subiu, entre 2000 e 2005 (Guterres+Barroso+Santana), em percentagem do PIB, de 48,5 para 62,8%. Entre 2005 e 2011 (Pinto de Sousa) foi de 62,8% para 101,7. E continuará a subir em consequência.

  

Eu sei que, na perspectiva do actual governo, não vale a pena mexer no vergonhoso passado PS/Pinto de Sousa.

Talvez o governo tenha razão em não perder tempo com isso.

O que não impede que se vá lembrando estas verdades às pessoas, a fim de tentar, se calhar sem sucesso, que as mentiras se não apoderem da História, já que se apoderaram irreparavelmente do imaginário propagandístico do PS.

 

23.7.11

 

António Borges de Carvalho

LÍNGUA DE TRAPOS

 

Língua de trapos é o que os ilustrérrimos senhores do Acordo Ortográfico inventaram, o que os governos aprovaram, o que os senhores deputados ratificaram.

Língua de trapos porque o português de Portugal, com o acordo, perde a sua lógica ortográfica, a razão de ser da sua ortografia, e submete o Português às regras dos que o corromperam, aliás com todo o direito a fazê-lo.

Língua que perde a dignidade de ser falada e interpretada por culturas que divergiram, para tentar, estúpida e indignamente, “unificar-se”. Jamais se unificará, os seus falantes continuarão a reflectir a forma como a pronunciam na forma como a escrevem, continuarão a usar os seus estrangeirismos de eleição, continuarão a divergir ou convergir conforme lhes apeteça e saiba melhor.

A dignidade de uma língua tem guardiões de excelência da sua pureza como os ingleses têm em Oxford e Cambridge, como uma academia ou uma universidade podiam ter em Portugal. A dignidade de uma língua universal mede-se pela liberdade que outros têm de a falar como entendam, ao mesmo tempo que os seus “donos” são livres de a preservar, na sua natureza, na sua originalidade e no seu valor de referência para os outros.

Confundi-la com as corruptelas originárias de outras latitudes é pervertê-la de forma absurda, irrazoável e, acima de tudo, estúpida.

 

Vem isto a propósito de se saber que o nosso governo anda atrapalhado com o cumprimento do acordo que subscreveu, com o aplauso do Brasil (o grande beneficiário da asneira) e a desconfiança dos demais países falantes.

Parece que, ao nível da administração pública, a coisa vai custar milhões. Imagine-se, os livros escolares, os dicionários, os computadores, os documentos, os formulários, tudo feito de novo para consolar as mentes tacanhas de académicos traidores e de político idiotas.

 

Já que os nossos políticos não parecem capazes de ter um ataque de dignidade que os faça denunciar o perverso acordo, ao menos que atentem no que está a dar, isto é, nas dificuldades financeiras. Daqui lhes rogo que adiem a coisa, por exemplo, por cinco anos. É que pode ser que, durante tal período, as coisas melhorem dentro das cabecinhas tontas que nos querem impor a infâmia.

 

20.7.11

 

António Borges de Carvalho

UM CIDADÃO EXEMPLAR

 

Por benesse do jornal “I” – os jornais em Portugal continuam a não ter cara – fomos contemplados com a exemplar vida do senhor Nogueira, conhecido bolchevista, notável membro do PC e grande dirigente e educador da classe dita docente.

 

Algumas dicas dignas de nota nos deixa o ilustre agitador de massas na entrevista a que o “I” dedica 4 páginas e várias fotografias “de autor”:

 

- Há vinte anos deixou de trabalhar;

- Continua a ganhar o ordenado da função pública;

- Tem casa em Coimbra, mas vive em Lisboa, num hotel da Av. 5 de Outubro;

- Faz 80.000 quilómetros por ano a incentivar as massas à rebelião;

- Passa os tais 80.000 quilómetros a falar ao telemóvel enquanto guia a viatura;

- Tem 4.000 mensagens de email por abrir;

- Acha que o contrapoder é que é bom;

- “A brincar”, diz que só deixaria o PC se este fosse para o governo;

- Foi professor primário;

- Depois, tirou uma via de ensino, não se sabe bem de quê;

- Etc. e tal.

 

Estamos perante um cidadão exemplar, a quem temos a subida honra de pagar o ordenado sem que ele preste serviço algum à comunidade, antes pelo contrário, dando cabo da vida à comunidade.

Estamos perante um cidadão exemplar, cuja vida e actividade se destinam ao “contrapoder”, seja qual for o poder, isto é, a favor de tudo o que sirva para desestabilizar o dito e a sociedade em geral.

Estamos perante um cidadão exemplar, sustentado por aquilo que combate, sendo aquilo que combate tudo o que há que não seja o PC.

Estamos perante um cidadão exemplar, protegido pelas leis da República com o nobre fim de prejudicar a República, de desestabilizar o ensino, de fazer manifestações, comícios e agitação social.

Estamos perante um cidadão exemplar que tem por vital objectivo não aceitar nada do que lhe é proposto ou dado, para além do ordenado ao fim do mês.

 

Estamos perante muito mais coisas, que ficam ao cuidado da intuição e da opinião de quem tiver a desgraça de ler estas linhas.  

 

21.7.11

 

António Borges de Carvalho

CINISMO OU INDIGNAÇÃO

 

Há mais de 100 anos que o “News of the World” alimenta a curiosidade mais ou menos mórbida da sociedade britânica. De tal forma que se tornou no hebdomadário mais vendido do mundo, com três milhões de exemplares por edição.

 

Alimentando o que é, afinal, a última “notícia” da publicação, a opinião mundial agita-se à volta do escândalo de umas escutas telefónicas que, segundo consta, eram feitas por uns especialistas da polícia pagos por baixo da mesa para o efeito.

Acresce que há, metido na marosca, um tipo que era assessor de imprensa do primeiro-ministro.

De repente, o que uma sociedade inteira aceitava com agrado, comprando, lendo e fofocando à custa, torna-se objecto da mais indignada revolta social.

Quantos milhares de pessoas se viram prejudicadas, ofendidas, denegridas, expostas, violadas na sua privacidade pelo NW ao longo de mais de um século, perante a feliz curiosidade e a desbragada bisbilhotice de milhões de pessoas?

Quantas continuam a ser expostas pelos inúmeros colegas do NW que andam, impunes e impávidos, no mercado?

 

É evidente que o assunto tem que ser “lavado” pela Justiça. É evidente que o PM tem que reiterar ou demonstrar a sua ignorância sobre as alegadas manobras do seu ex assessor. É evidente que os polícias metidos na trafulhice têm que ser castigados. Etc.

Quanto ao jornal, já teve o que merecia. Fechou.

 

O público, esse, alimenta-se do escândalo tal e qual como se alimentava das notícias do jornal. O público indigna-se tanto com a história como se divertia com as histórias. Ou seja, diverte-se com ambas. A baixeza social é a mesma.

É triste, mas é assim.

 

Acresce outra história. A do magnata. O velhote, que de santo deve ter pouco, emprega mais de 50.000 pessoas. É óbvio que, dos procedimentos dos culpados, deve saber tanto como eu. O que lhe interessa são as folhas da contabilidade, o cash flow, a tesouraria, o balanço. Não anda, mais que não seja porque não tem tempo, a mandar fazer escutas nem é provável que saiba delas. Mas serve, agora, de bode expiatório de todos os males. O público adora.

Gostava de saber o que pensam as tais 50.000 pessoas ao ver o patrão a ser cozido em lume forte.

É triste, mas é assim.

 

21.7.11     

 

António Borges de Carvalho

CULTURAIS ZANGAS

 

O ilustríssimo senhor dr. Sampaio, de péssima memória, anda a meter-se na história peregrina de Guimarães “capital da cultura” (!).

A magnífica fundação, ou lá o que é, com um escol de administradores pagos com uns leões como o IRRITADO teve ocasião de referir, entrou em rota de colisão com a excelentíssima câmara municipal.

Se calhar o presidente da câmara está podre de inveja, e com toda a razão, porque acha que as doutoras e os doutores da fundação ganham por semana o que ele não toca num mês, e ainda por cima querem mandar mais que o chefe, que é ele, eleito e legítimo.

Se calhar os administradores não fazem nenhum, como é próprio de gente muito bem paga com a massa dos contribuintes.

Para o caso, não interessa saber quem tem razão, sendo de presumir que ninguém a terá.

 

O interesse da coisa está em saber por que carga de água se foi o dr. Sampaio, de péssima memória, meter no assunto.

Como é que dá a um lisboeta como ele um fervor nortenho deste calibre? Será por amor à Pátria? Como é que tal senhor, de péssima memória, é presidente do conselho geral da fundação, ou lá que é? Para arranjar uma berlinda? Sabe-se lá.

 

O BE já teve a amabilidade de, veementemente, criticar o secretário de estado da cultura por causa deste assunto, como se o pobre do homem tivesse alguma coisa a ver com ele. Genial.

 

Em resumo, arranjou-se um trinta e um para a cidade de Guimarães, coitadinha, um consolo para os jornalistas, um púlpito para o dr. Sampaio, de péssima memória, e, se calhar, mais umas reuniõesinhas com as respectivas senhas de presença, ajudas de custo, etc. e tal.

 

Poça! O IRRITADO é de uma maledicência intolerável, não acham?        

 

19.7.11

 

António Borges de Carvalho

PELO SOCIALISMO, MARCHAR, MARCHAR

 

A ilustre câmara de Lisboa vai lançar aquilo a que chama “plano de reabilitação” dos edifícios da cidade. Normal.

Só que, para tal, se prepara para espoliar, por várias formas, os respectivos proprietários.

O princípio de base costo/roseto/fernandino que preside à coisa pode resumir-se assim:

Os proprietários são obrigados a ter dinheiro para recuperar os seus imóveis. Se não o tiverem, a câmara trata do assunto, na certeza que terão que pagar na mesma. Em alternativa “democrática”, serão obrigados a “vender”, isto é, a ficar sem o que é seu, recebendo o que a câmara quiser dar, se quiser dar.

 

Há anos, o IRRITADO fez umas continhas, que aqui deixou, demonstrando, com a maior das facilidades, que, só do 25 de Abril para cá, o mercado, por intervenção pública, ficou a dever aos proprietários alguns biliões de contos – contos, não euros!

 

É evidente que só um louco deixa degradar o que é seu. Se a degradação se deu, já que a maioria dos proprietários não é louca, foi porque os imóveis não geravam os meios necessários à sua conservação. E não geravam porque, desde os gloriosos tempos da I República, o mercado deixou de existir e de gerar tais meios.

 

Nada disto interessa à câmara.

O que lhe interessa é, com a desculpa da reabilitação, entrar na gestão do que lhe não pertence, apropriando-se, arruinando ainda mais as pessoas que andam há um século a ser arruinadas e perseguidas com leis estúpidas e impostos injustos, sem reconhecer seja a quem for o direito que lhe assistiria a uma justa indemnização, isto se não fôssemos “a caminho do socialismo”, como determina a Constituição.

 

É evidente que jamais o Estado ou as câmaras terão dinheiro para repor o que impediram as pessoas de receber, via “políticas sociais” à custa de terceiros seleccionados. Entenda-se. Obrigá-los a pagar o que devem seria como condenar o Estado a restituir aos donos o que o Marquês de Pombal lhes sacou, ou como andar a pedir desculpa da expulsão dos judeus feita pelo Senhor Dom Manuel I no século XXVI.

O IRRITADO não é fundamentalista. Acha é que o princípio de base da câmara costo/roseto/fernandina se deve pôr de pernas para o ar.

Assim:

Os proprietários não têm dinheiro para reabilitar os seus imóveis. Não o têm porque o Estado os impediu de o ter.

Por conseguinte, por razões da mais elementar equidade, o Estado, no caso a câmara, tem que proceder no sentido de lhes pôr à disposição os meios necessários, técnicos, executivos, formais, etc., e de arranjar formas, financeiras, fiscais e outras, de tornar viável a recuperação de parte do investimento pelo qual se responsabilize.

 

O resto é socialismo, e do barato.

 

19.7.11

 

António Borges de Carvalho

ISTO DE LARGAR O PODER É UMA CHATICE

 

Em muitas democracias, sobretudo nas que usam o voto maioritário e os círculos uninominais como o Reino Unido ou a França, é costume dos deputados manter um escritório na sede da sua constituency, ou do seu cercle. Nada mais natural.

Por cá, o sistema eleitoral não impede tal prática. Dele decorre, porém, que os eleitores que queiram falar com os deputados devem dirigir-se às sedes locais dos partidos.

Até aqui tudo bem, ou não muito bem, mas é assim.

 

Temos, apesar de tudo, as nossas originalidades.

Ora vejam. Um fulano, ex governador civil de Faro e actual deputado do PS, possuído de fervores franco-anglo-saxónicos, resolveu abrir as portas para receber os seus eleitores… no ex “seu” governo civil. Coisa que não é do PS, nem dele, e onde o homem tem tanto direito a sentar-se como o Zé do Telhado.

 

Uma velhíssima máxima reza: “não voltes onde foste feliz”.

Pode perceber-se que o fulano em causa não saiba da máxima, ou não a siga. Não se pode perceber que o tipo se arrogue o direito de se servir de um sítio que lhe pertence tanto como a qualquer outro, ou seja, não lhe pertence de todo.

 

O IRRITADO apela ao Ministro que trata destas coisas: senhor Ministro, faça p favor de dar ordens urgentes à polícia para pôr na rua o ocupante do Governo Civil de Faro, se necessário à força.   

Caso contrário, ainda nos arriscamos a ver o senhor Pinto de Sousa de volta a São Bento, já com o canudo de filosofia debaixo do braço, tirado em oito dias!

 

19.7.11

 

António Borges de Carvalho

UM ESPECTÁCULO EDIFICANTE

 

O IRRITADO acaba de ver, e ouvir, uma má meia hora de bocas e fosquinhas do novel camarada Basílio Horta da Franca, mais conhecido por Basílio Horta.

Um dos cá de casa estava de olhos fechados. Parecia dormir. Mas não dormia. Quando a exibição acabou, abriu os olhos. Não estavas a dormir? - perguntou o IRRITADO. Não - foi a resposta - estava de olhos fechados para não ver a cara deste tipo. Mete-me nojo.

O IRRITADO não vai tão longe. Ficou de olhos abertos, se calhar para excitar a irritação.

 

Estávamos perante o mais pêésse dos pêésses. O homem despejou a actual cassete do partido e dos Costas & Cª. Despejou-a com o ar convencido, catedrático, de grande conhecedor de matérias várias, todas a correr mal de há três semanas a esta parte.

De vez em quando, com aquele ar de caridade que os idos da democracia cristã lhe devem ter deixado, o grande homem abria um sorrisinho de confessionário e perdoava os atrasos do actual governo.

Sim, meus senhores, ele, o grande, o magnífico, o fiel pintodesousista, ele, que tem uma obra imensa na promoção do país no estrangeiro - lembram-se, por exemplo, das inúmeras encomendas de navios que agenciou para os estaleiros de Viana? Lembram-se, por exemplo, da forma épica como evitou a fuga dos alemães daquela fábrica lá no Norte? – ele, a quem a Europa inteira, bem como o senhor Pinto de Sousa, prestaram a maior das homenagens pela sua competência, pela espantosa eficácia da sua acção, sim, ele até está à espera para ver.

Tudo, mas tudo o que o governo tem feito, está mal feito. Tudo o que o governo não fez, se ainda não está mal feito, vai estar. Mas ele espera, ele não acredita, mas vai fazer os possíveis, a fim de guardar mais condenações para mais tarde.

Que bonomia, que bondade, que atitude pia e benfazeja!

Ele, que andou 6 anos a tecer loas ao que o PS não fez, ou mal fez, ou fez mal, é suficientemente generoso, três semanas depois de arranjar um lugarzinho na bancada, para achar que, estando tudo mal, tudo atrasado, tudo por fazer, havendo mentiras, asneiras, indefinições, trafulhices, ele não hesita em dar o espectáculo da sua gigantesca compreensão e caridade!

Que homem notável!

 

O IRRITADO recomenda vivamente aos candidatos – o Seguro e o Inseguro – que ouçam a espantosa criatura e que a copiem, se querem fazer uma verdadeira oposição, uma oposição fiel ao estilo pintodesousista, mas com mais molho, mais cínico, mais sibilino, mais ausente, se é possível, de barreiras, morais ou outras.

O Seguro e o Inseguro só terão a ganhar com as lições deste mestre da pessegada socialista. Ao governo, nem um milímetro de benefício da dúvida. É malhar, e já!

 

Coitado do PSD, que andou dois ou três anos a dar o benefício da dúvida ao PS e, mais tarde, até deixou passar as monumentais aldrabices do orçamento e dos PEC’s!

O PSD também tem muito que aprender com o grande homem. Que aprenda, e já!, que não vale a pena tratar esta gente como se fosse gente.

 

18.7.11

 

António Borges de Carvalho

OTÃO DE HABSBURGO E A PEQUENEZ MENTAL

 

Morreu o herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro.

 

Tinha sido banido, exilado, humilhado. Como Dom Manuel II, não esqueceu nem a Pátria, nem as suas responsabilidades históricas, nem a sua dignidade.

Foi feroz inimigo da tirania nazi e, passadas as tremendas, para ele, consequências do republicanismo, foi, entre outras missões e funções, distintíssimo e clarividente deputado europeu.

As suas pátrias prestaram-lhe nacional e oficial homenagem. Autoridades políticas, forças armadas, povo, uniram-se num último adeus a um grande homem e, sobretudo, ao mais alto representante da sua História, a um cidadão emérito, a um valor nacional. As bandeiras do Império foram hasteadas e honradas como bandeiras nacionais que nunca deixarão de ser.

As nações austríaca e húngara deram-lhe as suas mais nobres sepulturas.

Ultrapassadas querelas do passado, os homens de honra unem-se à volta dos seus maiores.

 

Vem isto a propósito do que se tem passado em Portugal.

Por cá, o que é mau não se ultrapassa. Continua a alimentar os sentimentos rascas dos modernos próceres da República.

Quando foi prestada homenagem ao Senhor Dom Carlos I, no centenário da sua morte, o Presidente Sampaio impediu que uma banda militar lhe prestasse as devidas honras.

A bandeira azul e branca é considerada, não como uma bandeira nacional, mas como símbolo de politiquice saudosista.

A Constituição, na primeira frase do seu primeiro artigo, reza que “Portugal é uma República” como se, antes de tal coisa, nada tivesse havido. Portugal, na língua mental de trapos e nos conceitos desta gente, com mais de um século de estúpido revanchismo, deixou de ser o que era desde Afonso Henriques: uma Nação. Passou a ter nascido, não com aquele Rei, mas com o Afonso Costa! Deixou de ser, ou de ter sido, Nação, para passar a ser República.

 

Mais rasca que isto, não há.     

 

18.7.11

 

António Borges de Carvalho

O DOSSIER BAIRRÃO

 

Ninguém sabe exactamente o que terá passado pela cabeça do novo ministro das polícias quando resolveu contratar o Bairrão para secretário de Estado. Menos ainda se conhece porque terá o Bairrão sido desconvidado à última da hora.

Anda por aí uma campanha – gostava de saber com que maquiavélicos fins – de propaganda do Bairrão. O homem aparece na TV a dizer de sua justiça, de manhã à tarde e à noite. Diz-se que o governo, ou alguém por ele, mandou os serviços secretos investigar as suas actividades privadas. O governo diz que é mentira. O Bairrão quer que o governo esclareça. Se o governo disse que é mentira, não tem nada a esclarecer. Mas o Bairrão insiste. Parece que, se o governo não consultou os serviços secretos, devia ter consultado. Mais que não fosse para dar mais sal ao assunto, mais publicidade ao Bairrão e mais publicidade aos canais. Utilíssimo.

Insondáveis mistérios! Quem quer fazer mal ao Bairrão? Porquê? Quem quer proteger o Bairrão? Porquê? Que mal fez o Bairrão? A quem? Que bem fez o Bairrão? A quem? Quem é o Bairrão?

Um dos mais terríveis problemas da Nação, segundo os media, é o do Bairrão. O povo está interessado? Não está? Então vamos interessá-lo. Vamos pô-lo a par do ingente problema do Bairrão. Vamos a isto, até se descobrir alguma coisa interessante, faça ela mal, ou bem – o bem interessa menos - a quem fizer. Que diabo, é preciso informar!

 

O IRRITADO atreve-se a pôr-se na pele do Primeiro-Ministro. Calcule-se que o IRRITADO, duas horas antes de tomar posse, era informado acerca do papel preponderante que um dos secretários de Estado convidados tinha tido um papel relevante na história do domínio da TVI pelas forças socretinas, a favor delas, claro.

Que faria o IRRITADO? Pegava no télélé e dizia ao Macedo: é pá, tira-me daí esse gajo! E pronto.

Porque será que ninguém está interessado nesta mais que lógica hipótese?

 

Um dia, alguém fará o historial dos mistérios da III República. Nele terá lugar, sem dúvida, o tenebroso quão importante mistério do Bairrão.   

 

17.7.11

 

António Borges de Carvalho

DA MALEDICÊNCIA NACIONAL

 

A imprensa do fim-de-semana vem a abarrotar de críticas ao novo governo. Um fartote. O chamado período de graça tem duas faces, ou duas graças.

Na privilegiada mente dos comentadores (Ricardo Costa, Alberto Gonçalves, aquele, julgo que do Porto, que diz que é liberal e cujo nome não sujará mais este blogue, mais uma data de inteligências…), tudo minha gente se atira às canelas do Primeiro-Ministro, dos Ministros, do que já fizeram e ainda não fizeram, tudo minha gente, se calhar com o vírus do Seguro e do Inseguro, tudo minha gente se esganiça, que o imposto isto, que o imposto aquilo, onde estão os cortes na despesa, etc., por aí fora.

As sondagens que têm aparecido dizem exactamente o contrário. É a outra face do período, ou a outra graça do período de graça. A maioria das pessoas acha que é cedo para começar a dizer mal, percebe que os rapazes ainda nem um mês tiveram, dá-lhes o benefício da dúvida que os opinadores – bem pagos! – nem um mês levaram a recusar. Os sondados acham que o imposto se atira mais a quem tem mais e pouco ou nada a quem tem menos, acham que o governo tem dado sinais positivos no que à despesa diz respeito, etc.

Mas isto não interessa. Os apressados escrevinhadores têm que fazer jus ao que recebem dos patrões. Estes querem frisson. O frisson é que vende.

 

O IRRITADO não faz a menor ideia do que vai suceder. Não sabe se o governo vai ser bom ou vai ser mau. Sabe que, para já, o governo tem um estilo que não tem nada a ver com a demagogia e a aldrabice a que, há seis anos, estávamos submetidos. Sabe que o programa da trempe não vai chegar. Acha que o novo imposto não espanta ninguém e faz um notável esforço redistributivo.

 

Já agora, também o IRRITADO vai dizer mal. Se não dissesse mal nem o nome merecia, não é? Então lá vai: é péssimo que o Primeiro-Ministro, em vez de anunciar a extinção de uns cem municípios, pelo menos, tenha dito que não lhes ia mexer. Só nas freguesias.

O IRRITADO espera que o senhor mude de ideias e que dê cabo dos tais cem, pelo menos, mais de umas três mil freguesias e, sobretudo, que não lhe passe pela cabeça essa tonteria da regionalização.  

 

17.7.11

 

António Borges de Carvalho

 

O NOSSO DESTINO É A TERRA?

 

O IRRITADO liga o computador. Carrega no botãozinho da net. Qual Passos Coelho, leva um murro no focinho.

A União Europeia, sob a preclara direcção do senhor Barroso, acaba de encetar um processo de reforma das pescas, segundo o qual Portugal será obrigado a abater mais uns milhares de navios de pesca, e a pescar muito menos do que já pescava. Isto, depois de, ao longo dos anos, ter já abatido metade da frota!

Há qualquer coisa que não bate no meio desta história de terror. Ou o senhor Barroso, as suas meninas e os seus meninos, bêbados de poder, perderam o juízo e, em tal caso, tratar-se-á de assunto do foro psiquiátrico ou, como dizem nos seus objectivos, estão de tal maneira possuídos do politicamente correcto, estilo aquecimento global, salvação do planeta e outras rendosas trampas. Desta feita, Europa estará definitivamente perdida.

Como, de outra forma, se pode entender que o país que tem a maior zona exclusiva de toda a União, que é, nela, o maior consumidor de peixe per capita, que tem o melhor peixe do mundo, seja obrigado a não pescar, isto é, a importar ainda mais peixe do que já importa, a ter que se submeter aos ditames dos “seus”, já que dos “outros”, Noruega e Canadá por exemplo, importa obrigatoriamente o seu bacalhauzinho enquanto consumidor sem acesso às matérias-primas que fazem a fortuna deles e a sua miséria?

Não, meus amigos, há aqui manobra castelhana, como dirá quem gosta de teorias da conspiração. Ou, mais provável, há traição à Pátria por parte do senhor Barroso, há estupidez militante e altamente colocada, há interesses dos lóbis internacionais do “ambiente”, há mãozinha do Greenpeace ou de outros gangsters internacionais, cheios de dinheiro e de “razões”.     

 

Parece que o governo não está pelos ajustes e tenciona bater o pé. Muito bem. Vamos a ver se mete a euro-estupidez na ordem. Por uma vez que seja, já que essa do “bom aluno” deu no que deu..

 

17.7.11

 

António Borges de Carvalho

DO SOCIALISMO DEMOCRÁTICO

 

É universalmente aceite o papel que o chamado socialismo democrático, sob a alta direcção de Mário Soares, teve na erradicação da ameaça comunista em Portugal.

Posto isto, perguntar-se-á: o socialismo democrático é mais democrático ou mais socialista, ou mais uma coisa ou outra consoante as conveniências?

 

Nos idos de 82, quando a AD tomou a dianteira na revisão constitucional, foi possível acabar com o Conselho da Revolução, que muito incomodava Mário Soares, e, entre outras ligeiras alterações, dar algumas aberturas à iniciativa privada e “civilizar” o sistema. Tocar nas sacrossantas nacionalizações ou noutras estúpido-social-comunistas disposições, nem pensar! Dizia Mário Soares à altura que não tinha “abertura” para tal por parte da ala esquerda do PS (Sampaio & Cª). Sabe-se lá se assim era.

 

Passaram sete anos (sete anos!) para que a estúpido-social-comunista norma da irreversibilidade das nacionalizações fosse abolida. Os resultados estão à vista. Alguns grupos reconstruíram-se, mas os seus reconstrutores tomaram algumas legítimas cautelas. O BES, por exemplo, é detido por uma companhia… luxemburguesa. Isto de patriotismo, ou funciona em dois sentidos, ou torna-se mais suave. Nunca mais houve dinheiro “a sério” em Portugal. O investimento deixou de ser fruto da aplicação de resultados com apoio bancário, para se tornar em aplicação de apoio bancário, com meios próprios… às vezes.

Assim se malbaratou a “pesada herança”, à conta moral e política do socialismo democrático que, neste aspecto, se diferencia nitidamente da social-democracia europeia em geral e nórdica em particular.

Agora que os sucessores da AD propõem, com extrema timidez, algumas alterações constitucionais indispensáveis à retoma de alguma confiança no regime, eis que o PS regressa aos seus fantasmas de estimação.

O socretinismo, acusado de virar à direita, engrossou o Estado como só um socialista ferrenho o pode fazer. A segurança social passou a ser, ou continuou, privilégio do Estado. Tudo o que contribua para a viabilizar é considerado, pelo menos, “capitalismo de casino”, ou essa coisa que se erigiu em mal de todos os males e a que o socialismo resolveu atribuir o epíteto de “neo-liberalismo”, mesmo que ninguém, a começar pelos socialistas, saiba o que isso é ou como se exprime. O emprego passou a ser pasto dos slogans da extrema-esquerda, vigorosamente apoiados pelo “socialismo democrático” e alimentados por um sindicalismo mentecapto, grosseiro e troglodita.

O “pai” Soares não se cansa de glorificar a Constituição e o seu socialismo obrigatório, como se não soubesse ou não lhe conviesse saber o que é a democracia.

 

Por outras palavras, o socialismo democrático, na sua versão nacional, continua a ser o primeiro sustentáculo do insustentável, o defensor de eleição do imobilismo, o paladino do Estado monstruoso que o senhor Pinto de Sousa nos deixou, o entrave número um a uma mudança que ofereça uma vida melhor aos portugueses.

Nem o mais leve sinal de o ter compreendido é o discurso vazio dos candidatos à chefia do PS. Um sempre foi, e continua a ser, o mais caninamente fiel socretinista do partido. Outro, que de outra maneira parece pensar (ainda que, com laivos de verdade, se possa dizer que não pensa nem sabe o que isso é), é coisa pior ainda que o socretinismo.

 

A extrema-esquerda e o sindicalismo fundamentalista (que é o que temos) podem estar descansados.

Enquanto o PS for o que sempre tem sido, as “conquistas de Abril” continuarão a dar os seus repugnantes frutos.

 

16.7.11

 

António Borges de Carvalho

DOIS SACOS DE VENTO

 

Tivemos ontem a honra de assistir ao único debate público – em canal de cabo – dos dois pretendentes a sucessor do senhor Pinto de Sousa.

Para quem tivesse ilusões acerca do que a Nação pode esperar de qualquer deles, a desilusão não podia ter sido mais radical.

Nem um nem outro têm a mais pequena ideia que mereça tal nome, ou que aponte seja para onde for que não seja para a continuidade da desgraça moral e política do PS.

 

Um, bem alicerçado na multidão de caciques e aparatchiks que anda a cultivar há seis anos a esta parte, evita os debates públicos e mete-se nas tábuas protectoras da sua mesnada de clientes.

O outro, como não domina tal gente, quer alargar o universo a “simpatizantes”.

Qual deles mais vazio, entretiveram-se a dizer mal do governo, fazendo crer que o dito está no poder há um ano e não há meia dúzia de dias. Ainda não fez isto, ainda não fez aquilo, já errou nisto, já se enganou naquilo. Ou seja, segundo a boa tradição, o objectivo é fazer o que o camarada Sampaio fez a Santana Lopes. Como, desta vez, não têm um camarada em Belém, é preciso começar cedo e em força!

 

A certa altura zangaram-se por causa de uma diferença de percentagens tão importante como um molho de nabiças no Pingo Doce. Aí, a coisa passou a ser de “pequena política”, segundo os próprios. Como se, no debate, tivesse havido um segundo que fosse de grande política.

Reassumir as grandes tradições de esquerda do PS, abrir o partido à discussão interna (Seguro) ou interna e externa (Assis), repescar as grandes tradições do “estado social”, condenar a deriva “neo-liberal”(?!), aproximar os eleitos dos eleitores, etc., foram as mensagens que nos deixaram, tudo, sem excepção, saído do mundo da patacoada, do déja vu, do vademecum do amigo banana do socialismo “democrático” - e obrigatório segundo a sacrossanta Constituição que um e outro querem guardar como está e doa a quem doer, tal e qual o Jerónimo e o Louça.

 

Nada de “refundações”, como recomendou o camarada Soares. Este, apesar da idade, já percebeu que o PS, tal como o camarada Pinto de Sousa o deixou e estes dois ignaros parlapatões querem continuar, não vai a parte nenhuma nem contribui por pouco que seja para o “bem da Nação”.

Estes, os homens do “futuro”, ao contrário do velhote, não perceberam patavina, nem, ao que parece, jamais perceberão seja o que for para além dos seus curtíssimos horizontes, criados e limitados pelos antolhos do socialismo na sua mais decrépita expressão.

Nem um nem outro tem profissão ou fez outra coisa na vida que não fosse amarinhar pelo escadote do partido.

 

Bem vistas as coisas, não se podia esperar mais, nem melhor.  

 

13.7.11

 

António Borges de Carvalho

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