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irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

NA TERRA DO VASCULHO

 

Numa atmosfera de escandaleira, andam os plumitivos da ordem a esmiuçar a bisbilhotice legal dos rendimentos dos membros do governo. Não sei porque carga de água se não fez o mesmo com os dos do governo socialista, mas fica a interrogação para que, quem queira, responda ou imagine.

Com nomes, fotografias, cargos, gráficos, chavetas, cores, páginas sem fim, os jornais escarrapacham, no cumprimento da “legalidade” e da “transparência”, os rendimentos declarados pelos tais membros do governo. Como se se tratasse de crime de lesa Pátria ganhar o que ganharam!

 

O IRRITADO fez umas continhas. Com as devidas incertezas, mas ciente de não andar longe da verdade, o IRRITADO concluiu, a partir dos rendimentos publicados de 45 membros do governo, o que segue:

- Após impostos, os 24 membros do governo com rendimentos abaixo dos 100.000 euros, levam ou levavam para casa ao fim do mês, em média, 2.700;

- Nos 13 que declaram entre 100.000 e 200.000, a média é de 6.100;

- Os 7 que se ficam entre 200.000 e 347.000, teremos 7.100;

- Finalmente, há 1 felizardo com 36.500.

 

Em resumo, com a excepção de um deles, que pode ser considerado rico, todos os outros são classe média, ou média alta, ou altinha.

O que há de anormal nisto? Por que carga de água se anda a satisfazer a curiosidade mórbida das pessoas com assuntos que a ninguém, senão aos próprios, dizem respeito?

A única conclusão menos feliz que dos números do IRRITADO se pode tirar é que, infelizmente, há 24 cidadãos que, por ser do governo, ganham mais do que na vida “civil” - o que não é uma boa notícia -, cerca de 20 ficam mais ou menos na mesma – o que não é boa nem má notícia – e há um herói que vai perder dinheiro – o que é uma notícia boa.

E se nos deixássemos de vasculhar na vida desta gente e nos ocupássemos a exigir a investigação daqueles que, na cabeça de todos nós, de certeza certezinha meteram a mão no baú?

 

30.8.11

 

António Borges de Carvalho

DA EFICÁCIA DAS INSTITUIÇÕES

 

Não há bicho careta que não se queixe, e com toda a razão, da ineficácia da Justiça e dos inaceitáveis tempos que leva a tomar qualquer decisão. Dizem os teóricos, impantes de sapiência mas com toda a razão que uma Justiça lenta não é justiça nenhuma.

Só a Justiça? Não!

Vejam como funcionam as instituições tão gloriosamente fundadas, ou tomadas, pelo PS.

A Autoridade da Concorrência, nosso emérito “regulador” da dita, levou nada menos que sete anos para… mandar arquivar uma queixa! Não interessa de quem era a queixa, nem contra quem, nem nada. Interessante seria saber quais as investigações, as diligências, as cooperações internacionais, as acareações, os documentos, os interrogatórios, tudo o que levou a que aquela gente levasse sete anos a “julgar” a queixa de alguém contra alguém, bem como os fundamentos de uma demora de sete anos.

Ou então, sendo mal intencionados, poderíamos perguntar quantas reuniões, quantas senhas de presença, quantas viagens, quantas ajudas de custo, quantas horas extraordinárias, quantos contratos de outsourcing, quantos pareceres, etc., foram precisos para se chegar ao arquivamento, ou seja, à conclusão que nada valeu a pena.

A verdade é que, se fôssemos por este caminho, se calhar era mais fácil , ainda que mal intencionado, perceber o mistério dos sete anos!    

 

30.8.11

 

António Borges de Carvalho

PARABÉNS À GUARDA

 

Na Guarda, há um empresário que contratou o arquitecto Frank Ghery para projectar o alargamento de um empreendimento turístico.

Parece que a respectiva Câmara Municipal ficou toda contente.

O contrato celebrado com o referido arquitecto devia ser esfregado no focinho dos que chamaram nomes a Santana Lopes por querer utilizar os serviços do autor do museu de Bilbau para o projecto do Parque Mayer, devia ser esfregado na cara dos inúmeros paspalhões que, há anos e anos, condenam o Parque Mayer a ficar na mesma, devia ser esfregado na tromba dos adeptos da “transparência” e do “serviço público” que, há anos e anos, mantêm a vergonhosa vergonha dos terrenos da Feira Popular entregues às ratazanas.

 

Parabéns à Guarda!

 

30.8.11

 

António Borges de Carvalho

ALTAS FIGURAS, ALTAS ESCUTAS

 

Já viram o que por aí vai de frisson sócio-informativo sobre as escutas telefónicas?

Há para aí dois anos, o nosso extraordinário Procurador-Geral fez umas queixinhas aos jornais: estou a ser escutado, oiço uns cliques suspeitos. Em vez de usar, discretamente, os seus poderes – para aquilo devem chegar – o homem decidiu, qual vizinha-da-tipa-que-abandonou-a-criancinha-e-veio-mandar-bocas-na-TV, tornar-se importante, via “comunicação social”. A coisa morreu depressa, como aliás merecia.

Aqui há tempos, lembram-se?, os serviços de contra-informação do PS, ou afectos ao PS, deram um enorme empurrão à propaganda eleitoral que levou à hecatombe da reeleição do senhor Pinto de Sousa, mediante a publicação, no Diário de Notícias, de umas mensagens roubadas de um computador privado. A coisa produziu o efeito desejado. O autor da brincadeira continua no seu posto e até é considerado um jornalista de alta qualidade moral e profissional.

Agora, a titânica luta do Expresso contra a Ongoing, via serviços secretos, veio queixar-se de escutas feitas a um jornalista do Público. Escutas? Não! A folha dois da factura da Optimus parece que foi parar aos ditos serviços. Escutas uma ova. Violação de correspondência, talvez. Um escândalo! A violação de correspondência - para fins de investigação de uma eventual toupeira nos serviços -passou a escuta num abrir e fechar de olhos.

 

Apanhando esta cómoda boleia, uma série de senhores, qual deles o mais prendado, classificados como “elite” pelo Diário de Notícias, vem escarrapachar as suas mais íntimas inquietações: estão a ser escutados! Ou seja, “acham” que estão a ser escutados. Como o descobriram? Não se sabe. Se calhar ouviram cliques… o IRRITADO também se farta de ouvir cliques, mas não se auto-“importantiza” por causa disso. Aliás, está-se borrifando para que lhe ouçam as poucas e curtas conversas.

Tal não se passa com a “elite”. Altas criaturas da nossa praça, como o esdrúxulo escritor “Mário Cláudio”, o militar sindicalista – coisa bonita! – Lima Coelho, ou o grande político Ribeiro e Castro. Isto para não falar de do melífluo António José Teixeira, do comuna Honório, ou do grandioso Marinho e Pinto, entre outros.

Toda esta malta, quando fala ao telefone, evita dizer coisas. Que eu saiba, sempre foi assim. Quem nunca apanhou um cruzamento de linhas?

No entanto, o que está a dar é fazer um estardalhaço dos diabos. Nenhum dos inquiridos sabe ao certo se está a ser escutado. O que, salvo erro, acontece a dez milhões de portugueses. Só que há uns (que se acham) mais importantes que os outros.

Andam para aí inquéritos, processos, audiências, acareações, investigações, queixas, bocas aos pontapés.

O melhor, no estado a que isto chegou, é acabar com os serviços secretos. Poupa-se uma data de massa e evita-se estas trapalhadas, ou trapalhices.

Há outra solução, mais mitigada, que já vi escrita por aí: passarem os serviços secretos a avisar o respeitável público. Mediante competente ofício, os referidos preveniriam os cidadãos: somos a informar Vossa Excelência que, a partir das 12 horas do dia quatro do mês que vem, o seu telefone nº ####### passará a estar sob escuta. Assim, evitava-se os tremores e as suspeitas de que alguém viesse a saber, por exemplo através do camarada Honório, que vinha aí a revolução bolchevista, que o Dr. Portas ia ser defenestrado pelo ínclito Ribeiro e Castro, ou que o Dr. Capucho telefonou ao construtor do mamarracho do Estoril Sol.

 

No meio de tão grande pessegada, tenho pena do Primeiro-Ministro que, com tanta coisa útil a fazer, anda a deixar-se entreter com estas. Não tem outro remédio, coitado!

  

29.8.11

 

António Borges de Carvalho

CABECINHAS PENSADORAS

 

O capitalismo concebe a democracia como um instrumento de acumulação; se for preciso, redu-la à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a.

Boaventura Sousa Santos, Visão

 

Rezam as crónicas que este bem-aventurado senhor Santos é nada mais nada menos que um ilustre professor não sei de quê.

A brilhante “análise” que acima se reproduz prova o subido e elaborado pensamento do senhor. Nem o alemão Carlos Marques, nem o seu camarada Engels, nem o grande líder Lenine foram capazes de chegar a tais alturas, ou a tão profundo pensamento.

Estes, punham à democracia o adjectivo “burguesa”. Os primeiros diziam que ela, com o seu capitalismo, havia de destruir-se, vítima das suas próprias “contradições”, surgindo então a ditadura “do proletariado”, seguida do “socialismo real”. O terceiro achava que o “processo histórico” podia ser acelerado, e agiu em conformidade, isto é, conseguiu a tal ditadura “já”, e rapidamente a transformou naquilo que não podia deixar de vir a ser: a ditadura do partido, com a negação de todo o Direito e sustentada por ferozes polícias.

Entretanto, o capitalismo que o nosso Boaventura tão violentamente condena criava a civilização ocidental, as sociedades mais livres e o progresso económico, social, científico, etc. que jamais a humanidade conheceu.

Não há nada perfeito. Não há nada parado no tempo. Tudo conhece evolução, progresso e regresso, bons e maus momentos. Não há nada que, em si, não tenha elementos destrutivos, não corra perversos riscos, não tenha altos e baixos. O capitalismo, quando não é liberal, isto é, quando o Estado toma o lugar do Direito, ainda que produza meios económicos e financeiros, pode reduzir a sociedade a um instrumento de exploração. Viu-se há pouco, com Pinochet, como uma ditadura feroz e sanguinária, conservando elementos essenciais do capitalismo, conseguiu notável progresso económico. Todas as ditaduras ditas de direita (nazismo, fascismo, franquismo, salazarismo…) elegeram agentes económicos e financeiros a quem deram liberdades especiais, ditas capitalistas, os chamados “empresários do regime”, dispostos a aceitar o status quo em nome da conservação e da liberdade da sua iniciativa. Mas nunca tiveram o sucesso que o capitalismo liberal obteve onde, mesmo em socialismo democrático, “tomou conta” da economia, respeitando o Direito. Na Suécia, por exemplo, no auge do poder do partido socialista, só 5% da economia estava nas mãos do Estado. O que quer dizer que, respeitados os princípios liberais do capitalismo, até a social-democracia consegue, em “liberdade liberal”, ser um bem.

 

O mal, o erro, a cegueira dos boasventuras da nossa praça são iguais aos de Marx e Lenine: partem do princípio que o homem é aquilo que jamais foi ou será: uma criatura que pode ser totalmente dominada, conduzida, retorcida, ainda que com o nobre fim de a transformar no “homem novo”. No tristemente célebre “homem novo”.

Quando, nas obscuras profundezas do bolchevismo, os motoristas de táxi, em Moscovo, vendiam caviar e outras coisinhas – em dólares! – aí estava o Homem, não o “novo”, que nunca existiu, mas o homem propriamente dito, a tratar da sua vida como podia. Por outras palavras, mesmo na mais feroz das repressões anti-liberais e anti-capitalistas, a natureza humana continua a mesma.

 

À liberdade económica, um Estado digno desse nome fornece o quadro jurídico e administrativo necessário a que se não transforme em dominação: a isso se chama capitalismo liberal.

O capitalismo é o “pai” da democracia, no sentido em que lhe subjaz. Jamais houve uma sem o outro, ainda que possa ter havido aquele (não liberal) sem esta.

 

O IRRITADO não ignora nem nega que atravessamos uma fase da história em que os achaques do capitalismo se transformaram em doença grave, com tendência para a pandemia.  

Mas não é negando o essencial que se cura a doença.

Não é seguindo os conselhos e as opiniões maximalistas do Professor Boaventura e apaniguados que chegaremos a bom porto.

 

27.8.11

 

António Borges de Carvalho

PINTURAS

 

Ao longo de muitos anos, o IRRITADO conheceu um número indeterminado de deficientes sexuais, vulgo maricas. Foi amigo de alguns. De outros ainda é. Houve-os simples conhecidos, de café ou de escola. A maior parte desapareceu, por ter morrido ou por não mais ter sido vistos. O IRRITADO lembra com saudade e tristeza um jovem do seu tempo, com quem muito se deu, que acabou por morrer assassinado à facada por um amante qualquer.

 

A maior parte deles era vítima de erros da Natureza. Outros eram pervertidos, perversos ou viciados.

Todos primavam pela discrição possível. Não por cinismo, por vergonha, por medo ou por hipocrisia. Achavam, simplesmente, que os outros não tinham nada com a sua vida, ou com essa parte dela, a não ser que o quisessem, como é óbvio. Nesse aspecto, eram como a generalidade das pessoas, guardavam a bom recato a sua vidinha pessoal.

 

Tudo mudou radicalmente. O IRRITADO não quer, ou não tem capacidade moral nem mental para acompanhar a mudança.

As incapacidades, malformações ou perversidades dessa malta passaram a direitos. A discrição e o recato passaram a exibição e a motivo de apreciação e elogio social.

As leis, de forma sempre “insuficiente”, passaram a conferir-lhes prerrogativas a que não podem ter direito. A “maternidade” de uns ou a “paternidade” de outras, por exemplo. A mudança, melhor dizendo, a total inversão, ou perversão, do instituto do casamento, por exemplo.

Nada lhes chega. Nem as paradas do “orgulho”, nem a exibição pública dos seus handicaps ou vícios, nem a monumental propaganda das suas práticas veiculada por políticos e jornais, nem as livres associações de proselitismo e propaganda dos seus costumes privados(?), nada os satisfaz. Parece que só descansarão quando a sociedade se ajoelhar a seus pés e os considerar melhores que os demais.

 

Posto isto, veja-se o que aconteceu por estes dias. Um pintor desconhecido fez um acordo com uma seguradora para exibir os seus trabalhos na galeria da companhia.

A certa altura, os responsáveis pela coisa perceberam que a exposição era um hino à chamada homossexualidade. O cartaz do pintor mostrava um falo erecto, negro, mais dois testículos simétricos, encimado por uma torre, ou coisa parecida, em vez de glande. Para além do gosto que o tema da artística inspiração revela, o boneco era, artisticamente, uma desgraça (vem nos jornais, para quem se quiser deleitar).

Depois, os tais responsáveis, verificaram que toda a exposição viria a ser sobre temas equivalentes, acompanhados de slogans tão finos como “legalizem o sexo anal!”, e outros de semelhante jaez.

É evidente que, como não podia deixar de ser, a companhia cancelou a exposição. É verdade que se desculpou de forma canhestra. Não tinha nada que se desculpar. Todos os dias há pintores, ou pretendentes a tal, que batem à porta de bancos, companhias de seguros e coisas do género, a pedir o espaço que os marchands não lhes dão, por evidentes razões, ou por não gostarem da cara dos pretendentes. Ninguém tem nada com isso, nem ninguém liga bóia ao assunto.

Isto, é claro, se o pintor for uma pessoa normal.

Tratando-se, como é o caso, de um dos chamados “activistas gay”, um coro de indignadíssimas vozes se ergueu em uníssono protesto contra o vil acto de “homofobia”, contra a “censura”, contra este atentado à “liberdade da criação artística”.

Os jornais, tão indignados quanto as almas do coro, reproduzem em notícias e artigos de opinião o clamor da moderna moral das modernas alfurjas.

 

Ninguém se atreverá a pôr a verdade a nu: a companhia de seguros teve vergonha, e pronto. Fez muito bem. Por critérios meramente estéticos, não faria o mesmo?

 

26.8.11

 

António Borges de Carvalho

PARECE

 

 

 

 

Há anos a esta parte que é público e notório que o actual PGR não serve para o cargo. A ele se poderia aplicar o velho dito “cada cavadela cada minhoca”, sendo as minhocas declarações absurdas e contraditórias, comunicados abstrusos, guerras intestinas na procuradoria, impedimentos à investigação judiciária, decisões objectivamente políticas, processos disciplinares, exposição pública de matérias sensíveis, um nunca acabar de razões que, num país decente, há muito teriam levado à substituição do Dr. Pinto Monteiro.

As últimas notícias vindas a público fazem a estatística das presenças do PGR no Conselho Superior a que, formalmente, preside, mas onde raramente põe os pés.

Diz-se, com foros de verdade, que SExa goza de limitado respeito por parte dos seus pares em tal conselho. É difícil respeitar um chefe com tanta minhoca no currículo, ainda por cima sedento de poder e autoridade, a ponto de querer alterar o sistema que o enquadra, coisa de que os seus antecessores parecem não se ter lembrado, submetendo-se às normas vigentes e não vendo nelas impedimento à sua acção ou ao digno exercício do seu mister.

Além disso, como a tal estatística demonstra, um chefe que, com medo de não conseguir fazer valer os seus pontos de vista, sobranceiramente não cumpre as suas obrigações. Isto, para não chamar outros nomes à atitude.

  

Lamentavelmente, o novo governo e o Presidente da República mantêm o senhor no palácio Palmela. O que não se compreende, seja qual for o critério utilizado.

Parece que há algum interesse em continuar a proteger os protegidos do Dr. Pinto Monteiro.

Parece que convém manter a Procuradoria em situação de saco de gatos.

Parece que o dito senhor sabe alguma coisa que ameaça revelar.

Parece…

 

Tudo “pareces” com que seria importante acabar.

A não ser que não sejam tão “pareces” como podem parecer.

 

26.8.11

 

António Borges de Carvalho

 

EM DEFESA DO PS E DO SEGURO

 

Anda um ror de gente preocupadíssimo com o alegado desaparecimento do PS da cena política.

Não é verdade. O mesmíssimo PS, o do Pinto de Sousa, continua a aparecer todos os dias a dizer o que lhe vai na alma. O ladrão de telefones, a dona Maria de Belém (a do PS, não a outra), aquele rapaz que era das finanças ou coisa quer o valha e que tem um olhar assassino, e tantos, tantos outros, continuam a defender o que fizeram (!) e a condenar quase tudo o que os outros fazem.

 

Só o Seguro parece inseguro. Anda calado, absorto nos seus pensamentos, se é que os tem, provavelmente a pensar como é que se há de livrar do magote de políticos que herdou do seu odiado Pinto de Sousa.

Nada mais natural. Quando as “massas” do partido, ou uns vinte por cento delas, elegeram o camarada Seguro, era evidente que se ia seguir um período muito, muito chato. Primeiro, porque estava na cara que o tal Seguro não tinha estaleca, nem ideias, nem nada que se visse. Segundo, porque ficava entregue a uma matilha que não o podia ver: socrélfios, alegristas & Cª. Terceiro, porque a situação em que as eleições deixaram o partido apontava, sem sombra de dúvida, para uma dolorosa travessia do deserto.

 

Por tudo isto, vem o IRRITADO à liça, em defesa do PS e do seu infeliz chefe.

Não se pode exigir, como faz uma chusma de opinantes, que um sapateiro toque rabecão, que um clube que caiu para a segunda divisão volte à primeira no campeonato seguinte, nem que a cozinheira faça iscas sem fígado.

 

25.8.11

 

António Borges de Carvalho

ESTE PAÍS É ASSIM

 

Pela primeira vez na história das Repúblicas (primeira, segunda e terceira), o governo decidiu retirar a nomeação dos mais altos cargos da administração pública ao mero critério dos governos.

 

Antes e depois de o IRRITADO ser IRRITADO, sempre ouviu dizer que, do Afonso Costa ao Salazar, do Caetano ao Soares e a todos os outros, não havia em Portugal uma administração pública que, ao nível das chefias, fosse profissionalizada, que desse continuidade ao funcionamento do Estado apesar das mudanças de governo, que tivesse o mérito, não a confiança política, como primeiro critério de nomeação.

 

Nesta ordem de ideias, assim que o IRRITADO ouviu dizer que o sistema ia mudar, que tais cargos passavam a ser objecto de concurso e iam deixar de estar “à disposição” dos governos sempre que estes mudavam de cor, julgou que um coro de elogios se ia levantar. Era uma machadada na política de boys, correndo os partidos da maioria o risco de desagradar a muitos dos que, dentro deles, estariam à espera de lugares, era um saneamento, no bom sentido, da administração pública.

Nem pensar! O que se levantou-se foi um coro de protestos.

O mais veemente, calcule-se, vem dessa figura sinistra e bem-falante que, dia sim dia sim, aparece na televisão a bramar tonitruâncias, um tal Picanço, chefe incontestado do sindicato não sei de quê, técnico (doutor!) da função pública. O homem revolta-se contra o direito que, depois da entrada em vigor do novo sistema, vai ficar ainda na mão do governo, de nomear ou não quem lhe é proposto após concurso.

Já se tem ouvido da boca dos mais desvairados “defensores” dos trabalhadores as mais terríveis críticas contra o patronato reaccionário, capitalista e fascisante. Nunca se ouviu, porém, nem o Jerónimo, nem o Louça, sequer o Silva, dizer que um patrão não tem o direito de contratar quem muito bem entenda, entre vários candidatos a um lugar na sua empresa.

Mas o Picanço não é de modas. Quem ganhar, ganhou, mesmo que vários ganhem!

 

Este país é assim. Preso por ter cão, preso por não ter.    

 

25.8.11

 

António Borges de Carvalho

MEXERICOS

 

O IRRITADO sabe que vai ser muito criticado por escrever o que a seguir escreve. Mas é o que pensa, e este blogue é feito com o que pensa.

 

Ontem e hoje vimos assistindo, em infernal berraria, à devassa pública dos rendimentos e posses dos políticos: o que ganharam, o que possuem, o que declararam. É o que as almas correctas pensam dever ser posto a nu. Em nome da transparência. Em nome da vigilância democrática.

O IRRITADO, talvez por desactualização mental, acha que se trata da mais repugnante bisbilhotice.

Se é verdade, e muito bem, que os políticos devem, enquanto cidadãos, ter os mesmos direitos que os demais, nem mais nem menos, e que, em matéria de obrigações, enquanto políticos, mais que os outros, como se justifica, de um ponto de vista moral, que lhes seja cortado todo e qualquer direito a ter o que têm ou ganhar o que ganharam, direito que os demais cidadãos prezam e exigem.

Que declarem o que são coagidos a declarar, vá que não vá. Que tais declarações sejam tornadas públicas é um crime contra a privacidade da vida de cada um e contra a própria natureza do estado de direito.

Todos os mais importantes princípios da vida em sociedade, para não falar de certos direitos evidentes e até constitucionais, são espezinhados pela exposição pública de tais dados.

Como qualquer cidadão, os políticos devem ser investigados no seu património e rendimentos se sinais claros ou fundadas suspeitas houver de que se locupletaram com o que não lhes pertencia ou que cometeram ilícitos patrimoniais, fiscais ou de qualquer outra natureza. Negar-lhes o direito ao sossego e à discrição da sua vida pessoal se nada se tiver a apontar-lhes é o mesmo que inverter todos os ónus morais e jurídicos que dão alguma dignidade à cidadania.

Confundir a transparência democrática com devassa sem suspeita é criar um ambiente policial. Pior, é transformar todos os cidadãos em polícias políticos, em agentes de perseguição sem causa.

 

24.8.11

 

António Borges de Carvalho

DOS BEIJINHOS DA DONA ÂNGELA

 

Segundo o Doutor Cavaco, é estranha a posição da dona Ângela e do senhor Nicolau quando propõem a inscrição de limites ao endividamento nas constituições dos membros da União Europeia.

Segundo o IRRITADO, é ainda mais estranho que os partidos da coligação, tidos por próximos do Doutor Cavaco, sejam a favor da coisa.

 

Antes de mais, a atitude revela um entendimento perverso do que é a União. Há 27 constituições e 27 países. A competência para alterar as primeiras é exclusivo das autoridades dos segundos, de acordo com as regras de cada um.

Segundo, revela outra coisa, ainda mais perversa. Que há dois países que, por ser grandes e, alegadamente, mais ricos, se tomam por bons para, de forma unilateral, ditar regras. A opinião dos dois poderia, legitimamente, ser comunicada aos demais em sede própria, quer dizer no Conselho. Compreende-se que o parzinho, como qualquer outro, ou outros, se encontrem para concertar ideias. A fazê-lo, porém, que seja informalmente, ou pelas vias diplomáticas competentes, não através de um chinfrim mediático que outra coisa não pode significar, na cabeça dos europeus, que tendência hegemónica ou de domínio. Neste aspecto, a proposta (imposição?), mais do que estranha, é pouco inteligente.

Ainda menos inteligente é a velada ameaça – ou alteram as constituições, ou… - , sabido que é o tempo que estas coisas, mesmo que aceites pelas maiorias constitucionais de cada um, levam anos. Ora os problemas já cá estão, não levam anos, nem dias, sequer minutos.

Por outro lado, a estranha proposta não resolve problema nenhum. Alterar as constituições para chegar à conclusão que há dívidas inconstitucionais em face das novas regras? E depois? Depois, tudo na mesma.

 

O IRRITADO não conhece soluções para o estado a que as coisas chegaram. Até é capaz de achar que não há solução. Mas não pode aceitar que se tenha ideias malucas, que nada resolvem nem resolverão, e que são apresentadas aos europeus como genial solução.

Podemos fazer uma lei a determinar que é proibido cair na rua, a fim de não estragar a calçada. Não é preciso demonstrar que tal lei jamais poderá ser cumprida, não é?

Acresce que há exemplos de não cumprimento das regras do défice (ínsitas no Pacto de Estabilidade), por parte de vários Estados. Ironia do destino, os primeiros a não cumprir tais regras foram a Alemanha e a França!

 

Por tudo isto, fica-nos a sensação de estar a ser gozados, ou tratados como indigentes mentais.

O PSD e o CDS/PP estão de acordo com o parzinho. Parece que o PS também. Porquê? Vão rever a Constituição para agradar ao parzinho? Com que outro fim?

 

É evidente que já não somos livres de tomar as decisões que entendermos. Não será um mal, não será um bem. É assim, e pronto. Daí até nos entretermos com ideias que não servem para outra coisa que não seja complicar, vai uma grande distância.

A proposta do parzinho devia ser simplesmente ignorada. Quando muito, ser objecto de uma daquelas declarações em que os governos e os diplomatas são especialistas: nem sim nem não nem antes pelo contrário: vamos estudar atentamente o assunto… que exige profunda reflexão, diálogo, concertação, discussão em sede própria, etc. blablabla, pópópó… Até que a coisa caísse.

 

Esta ânsia desmedida pelos beijinhos da Merkel não tem o aval do IRRITADO.         

  

22.8.11

 

António Borges de Carvalho

CARTA ABERTA AO DR. DURÃO BARROSO

 

Caro Dr. Durão Barroso

 

Antes de mais as minhas desculpas por o tratar pelo nome que usava por cá. Sei que, para a estranja, o senhor passou a José Manuel Barroso, deixou o Dr. e passou a Herr, Mister, Señor, Signore ou Monsieur, para só falar das línguas que nos são mais próximas.

Dando de barato o ordenado, o lugar dourado a que se alcandorou - não duvido que, entre outras razões, por mérito próprio e bons amigos - há muito deixou de ser aquele refrigério, aquele assento etéreo, aquela suave e poderosa vilegiatura de que o acusam por cá.

Pelo contrário. O pessoal lá das europas não soube apreciar, nos bons tempos, o seu perfil discreto, e acusou-o de falta de drive, quer dizer, de força e de ímpeto. Além disso, há aquela esquerda, de cá e de lá, que não se cansa de o acusar disto e daquilo, da cimeira dos Açores, dos voos da CIA, do diabo a quatro, coisas em que se distingue o senhor Cohen Bendit e a camarada Ana Gomes.

Depois da reunião do “porreiro pá” puseram-lhe às costas uma senhora britânica de cuja obra e influência diplomática não há notícias, e um simpático (presumo) cidadão belga que nada nem ninguém, fora das reais fronteiras do Rei dos Belgas, sabia quem fosse e, mesmo lá dentro, sabe Deus.

Para cúmulo dos azares, surgiu a chamada crise. Os EUA meteram os pés pelas mãos, a Europa a cuja Comissão o senhor preside, guiada homens do gabarito de um Constâncio, é o que se sabe: uns países já falidos, outros a caminho, um par de namorados que são mais que os outros, e uma data de repúblicas, a Leste, ansiosas de pertencer à grande Alemanha, ainda por cima ajudadas por uma economia que vai andando, enquanto, mais a Oeste e mais a Sul, parece moribunda.

 

A senhora Ângela Merkel e o seu parceiro, senhor Nicolau Sakozy, tomaram conta dos acontecimentos e fazem o que está ao seu alcance para acabar com os demais quanto antes, a fim de se safar nas próximas eleições.

O senhor deixou de existir. Pior: quando resolve pôr a cabeça de fora com alguma proposta mais ou menos tímida, é objecto do mais radical desprezo por parte do parzinho.

 

Tudo razões para que o IRRITADO faça um apelo ao que lhe resta de forças e de capacidade política. Dê um murro na mesa! Não deixe que o senhor Delors, por exemplo, se adiante a dizer como é. Apareça no Conselho, no Parlamento Europeu, onde quiser, e diga que, com as receitas do “eixo” galo-tudesco não nos governamos. O que deve exigir? Deixo ao seu critério. Euro-bonds já? Federação já? Orçamento comum já? Revigorar o Euro? Desvalorizar o Euro? Acabar com o Euro? Restaurar a solidariedade (?) europeia? O que quiser.

O IRRITADO não é competente para fazer sugestões, mas tem a certeza que o senhor tem a cabeça cheia de ideias. Seja político com P grande. Deite-as cá para fora. Ponha a cabeça no cepo se for preciso. Não esteja agarrado ao lugar. Dê, ao futuro, a imagem de quem não pactuou com o fim do processo de decisão europeia em favor da informal ditadura dos dois parceiros. Use o Tratado de Lisboa, raio! Borrife nos prazos, no “presidente”, nos manda-chuvas! Se lhe cortarem a cabeça, cortaram.

Ao menos, não ficará na história como o cangalheiro adjunto do funeral da Europa.

 

19.8.11

 

António Borges de Carvalho

CARTA POR CAUSA DE LONDRES

 

Anda meio mundo à procura de explicações para a selvajaria que irrompeu nas ruas de Londres.

Já se arengaram todas as “razões”. A “exclusão social”, a “inadaptação”, o falhanço do “multiculturalismo”, o “individualismo”, o “neoliberalismo”, o “racismo”, a “precariedade”, o “consumismo”, sei lá, tudo “culpas” da sociedade que “maltrata” uma geração de coitadinhos, cheios de “razões de queixa” e de falta de “educação” e de “protecção”.

É claro que as hordas de politólogos, ou politicólogos, de psicólogos, de sociólogos, de esquerdólogos, de gente do melhor, gente que não subscreve a vandalocracia, que ideia, nem pensar, mas que se desunha a arranjar saídas para a “justificar”, isto é, para “compreender” aquela malta, como “compreendem” os meninos do Rossio, os campistas das Puertas del Sol e tudo o que por aí haja no género, ou pior, tipo terroristas e quejandos.

Se resumirmos numa palavra a opinião desta maravilhosa intelectualidade sobre as culpas do que aconteceu, aí está ela: a “direita”. O bode expiatório por excelência, fautor e factor de todos os males deste mundo.

A esquerda, universal proprietária da “inclusão”, da protecção social, do estado do mesmo nome e de outras maravilhas, nada pode explicar a não ser dizendo, ou insinuando, que a culpa é do bode. De nada pode ser acusada, já que nunca fez outra coisa a não ser espalhar o bem, a liberdade, a justiça, a riqueza e a alegria de viver.

 

Neste estado de indigência mental chega-se ao ponto de se ir buscar o deus Pã, herói grego (semi-deus, que jamais foi herói), protector dos pastores entre outros ofícios, irmaná-lo com o romano Baco (os romanos chamavam a Pã Lupércio, Fauno, Silvano, etc., mas não Baco), tudo a partir de uma lenda que diz que uma batalha foi perdida por causa de uns barulhos com que Pã e os seus adeptos aterrorizaram o inimigo, que bateu em retirada, cheio de “pânico”.

O grande intelectual autor da iniciativa é o Doutor Tavares, ilustrérrimo e viajadíssimo (à conta) deputado europeu, aquele que se zangou com o Louça por motivos peixeirais e se deixou ficar por Bruxelas como se tivesse sido eleito, certamente a fim de não nos privar do seu inestimável contributo para o nosso bem e o nosso futuro.

A historieta, segundo diz, traduziu-a ele de um livro de um nobre inglês do século XVII (ou XVIII?), tradução a que ficamos a dever expressões como ecos rochosos e cavernosos de um vale verdejante, como se um vale verdejante pudesse ser rochoso e cavernoso, ou tremor espalhado por olhares implícitos. Estão a ver, obviamente com olhares implícitos, como nosso emérito Doutor e Deputado percebeu bem o que leu e diz ter traduzido?

Após tudo bem exemplificado, o homem conclui – é o que importa - que a razão dos motins de Londres jaz na falta de vontade (dos políticos) em (sic) interpretar fidedignamente os acontecimentos. E mais: se os vândalos são irresponsáveis, os mercados e os governos também. Magistral! Se há vândalos é porque os mercados… os mercados nem sequer chateiam muito o Reino Unido, o BCE não tem a ver com o Reino Unido, o governo, esse, é do Reino Unido mas, como é conservador/liberal… estão a ver, não é?

E ainda mais. Como os mercados e os governos são o que são e são desresponsabilizados (?), também os vândalos desresponsabilizados são! Lindo!

Um exemplo de onde se pode chegar quando a razão de todos os males se tem por previamente definida ou determinada.

 

Os motins aconteceram no país que é pai do serviço nacional de saúde, que tem a protecção social quiçá mais vasta e onerosa da Europa, que gasta o que tem e o que não tem a “integrar” fulanos que de britânicos pouco mais têm e pouco mais lhes interessa que a “protecção social”, coisa que exigem aos gritos e à porrada quando lhe tocam a fímbria das vestes, que tem comunidades imigradas proporcionais ao seu ex-império…

 

Quando a dona Margarida Tatcher pôs os sindicatos no seu lugar e a economia a funcionar, criou os meios necessários a alargar e financiar a tal protecção social. Depois, começaram os abusos, em nome da “solidariedade” e de patacoadas do estilo, como em tantos outros países desta Europa.

Onde está, então, o erro?

Está em que os abusos do socialismo e/ou da social-democracia - com a Razão a dormir a sesta - geraram um monstro: uma multidão que acha que tudo lhe é devido e que o Estado não passa, por natureza e obrigação, de um protector/subsidiador com inesgotáveis meios, quer se queira trabalhar quer não, quer se seja capaz quer não de fazer alguma coisa socialmente válida. Tudo medido, e pago, por bitolas semelhantes, em nome dessa coisa horrível que é a igualdade, ou a noção de igualdade que a demagogia da esquerda foi criando ao longo de gerações.

 

O problema é que a correcção desta desgraça, se as pessoas não perceberem de onde ela vem, vai custar muito mais do que sonham ou exigem os vândalos de Londres ou os campistas de Madrid. Vai custar outras gerações.

 

Mutatis mutandis, por cá, ainda que pareça haver mais esperança, estamos mais ou menos na mesma. 

 

18.8.11

 

António Borges de Carvalho

JUSTIFICADOS TEMORES

 

Numa entrevista em que faz jus à sua obra histórica e às suas convicções de esquerda, uma ilustre académica veio confessar que, dadas as actuais circunstâncias, está com um medo horrível do ressurgimento da extrema-direita.

O IRRITADO acha muito bem. Também ele embirra solenemente com os rapazolas que para aí andam ostentando suásticas, gritando nacionalices idiotas ou ocupando o tempo a chatear os pretos. Também ele tem medo que esta malta prolifere.

 

A reflexão precisa, no entanto, de ir um pouco mais longe.

Todos os dias vemos, ouvimos e lemos todo o tipo de bojardas gritadas por extremistas da esquerda armados em democratas, isto é, mascarados, mas devidamente legalizados e com assento parlamentar.

A constituição proíbe os outros, mas aceita estes. É proibido ser fascista, mas não é proibido ser comunista.

Não se percebe bem porquê. E não se percebe como há quem tenha medo da extrema-direita nacionalista e não esteja borrado de medo com a extrema-esquerda. Aliás, se o problema é o nacionalismo, a verdade é que não há, nesta terra, nada mais nacionalista que o PC.

Para o IRRITADO, deviam todos, nos limites da lei, ser permitidos.

E, para quem não quisesse ser vesgo, tanto medo deviam meter uns como outros.

Os critérios oficiais, académicos e correctos são outros. C’est la vie…

 

18.8.11

 

António Borges de Carvalho

CALA-TE, Ó PAULO!

 

Desde há muito vem o IRRITADO pedindo ao governo que se deixe de palavreado.

Como não sabe o que está para vir, o melhor que tem a fazer é só falar para anunciar coisas concretas e não intenções. De intenções está o inferno cheio. Por outro lado, nada há de garantido na situação em que estamos. Andam por aí surpresas, buracos financeiros, influências externas, a dona Ângela, o senhor Nicolau, o senhor Barak, e tantas outras gentes e coisas a merecer confiança nenhuma.

 

Vem isto a propósito das declarações do MNE sobre os cortes na despesa. Diz ele que tais cortes, a revelar em Setembro – o PM tinha dito que era no fim de Agosto… - não vão atingir nem salários nem pensões.

A intenção é bonita. Mas como pode o senhor Portas (Paulo) garanti-lo? Não pode.

Antes de mais, porque não se acaba com multidões de “organismos” sem acabar com os empregos das multidões de fulanos que vivem à custa deles. Dir-se-á que a sua grande maioria é de funcionários públicos em “comissão de serviço”. Neste caso, como não é possível mandá-los para casa, voltarão aos lugares de origem com o respectivo ordenado, evidentemente inferior ao que tinham nos “organismos”, ou vão para algum quadro de excedentes, ganhando ainda menos. Os restantes... os restantes recebem uns euros e vão para o desemprego.

Por outro lado, se as coisas correrem mal, onde se pode ir buscar dinheiro para pagar dívidas se não se for às que são, de longe, as maiores de todas as despesas, salários e pensões? Queira o Portas (Paulo) explicar isto.

Dirão os camaradas Louça e Jerónimo que preciso é atacar as grandes fortunas. Pois. O problema é que o ataque a tais fortunas – o IRRITADO não vai contra, dependerá de como é feito - por um lado, nem de longe resolve o problema e, por outro, pode ter consequências dramáticas na economia.

 

O senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros que, substancialmente, pouco ou nada tem a ver com estes assuntos, não devia falar deles, sobretudo não devia fazer promessas que não tem poder para cumprir nem sabe se poderão ser cumpridas.

Já não era a primeira vez que as circunstâncias, presentes ou supervenientes, tornaram necessário meter promessas na gaveta.

 

Há que aprender com isso em vez de andar a mandar bocas politicamente idiotas. Já tivemos seis anos disso!

Ó Portas, não achas que já chega? Vê lá se te calas!

 

15.8.11

 

António Borges de Carvalho

ATEUS, CRISTÃOS, SANTOS, PECADORES, A DONA FERNANDA E O CAMARADA COSTA

 

Qual a lógica de dar o nome de uma igreja católica a 12 freguesias que incluem a mourisca Alfama…?, pergunta a excelentíssima senhora dona Fernanda Câncio em luminoso artigo sobre as novas freguesias de Lisboa e os nomes para elas propostos.

O IRRITADO já tinha dado pelo eventual pacto com o diabo celebrado, qual Fausto da Brandoa, por esta senhora: há anos e anos tem exactamente a mesma cara à banda escarrapachada em várias publicações.

Agora, porém, vai ainda mais longe. Sendo Alfama o bairro dos judeus, com a Mouraria mesmo ao lado para não enganar ninguém, ela descobre que Alfama é “mourisca”. Será que a Sé, à entrada de Alfama, parece uma mesquita? Ou, a bem da paz no médio Oriente, quer meter os judeus na Mouraria e os mouros em Alfama para dar o exemplo?

 

Dando de barato esta demonstração de baratíssimo conhecimento da cidade, diga-se que dona Fernanda, no seu afã de proselitismo ateu, se indigna contra o facto de, segundo parece, a CML ter consultado o Patriarcado sobre os nomes a dar às novas freguesias. Tem toda a razão! Somos um Estado laico e, pelos vistos, um Estado laico que não tem passado, nem tradições, um Estado em que o cristianismo católico romano jamais teve presença e, se teve, deve ser simplesmente banida qualquer referência a tal facto!

 

Sejamos justos. A senhora até aceita (por caridade “cristã”?) um ou dois nomes de santos. Desde que estejam aculturados e solidificados, é claro. Não mais do que isso.

Sejamos ainda mais justos: se é certo que a zona mais central da cidade se vai chamar Freguesia de Santo António, a senhora até poderá ter razão, uma vez que o nome, colocado na Avenida Fontes ou na da Liberdade, parece que não é lá muito bem achado.

 

Enfim, nesta matéria como em muitas outras, tenhamos a habitual confiança no camarada Costa.

 

*

Já agora, talvez a dona Fernanda queira alinhar com o IRRITADO numas sugestões a fazer ao dito camarada. Terá ela, pessoa importante e cheia de cultura de esquerda, mais fácil acesso ao autarca do Largo do Intendente que o pobre do IRRITADO, que não é culto nem de esquerda nem frequenta o Intendente.

 

Vejamos;

Há mais de 250 anos que o Marquês de Pombal chamou Praça do Comércio ao Terreiro do Paço. Há mais de 250 anos que não há um único alfacinha a chamar àquilo Praça do Comércio. Terreiro do Paço é que é bom!;

O mesmo no que diz respeito à Praça Dom Pedro IV. É preciso saber muito para ter conhecimento que é esse o nome do Rossio;

E, se o Areeiro (aquela Praça onde o Dr. Francisco Sá Carneiro está decapitado) é e será Areeiro quer se queira quer não, por que carga de água deixou de ser Areeiro?

 

Três sugestões sem nenhum cunho ateu, religioso, pagão, de esquerda, de direita, do centro, do Benfica ou do Sporting.

 

Bem podia a dona Fernanda ajudar o IRRITADO nesta cruzada.

 

14.8.11

 

António Borges de Carvalho

A BUFARIA AO ATAQUE

 

Surgiu nos nossos mais negros horizontes mais uma brilhantíssima organização: a Openliques (OpenLeaks).

Fruto da iniciativa de dissidentes da Uiquiliques (WikiLeaks), a novel organização reuniu na Alemanha nada menos que 3.500 hackers (piratas informáticos, pessoas que violam a segurança dos sistemas informáticos, picaretas, segundo os dicionários). Tudo gente fina. Gente especializada em meter-se na vida dos outros, pessoas singulares e colectivas, dando-lhes cabo do bom nome, dos negócios, da vida, penetrando-lhes na intimidade, na privacidade, nos meios de comunicação, na correspondência, nas folhas de cálculo, nos amores, nas fichas médicas, nas contas bancárias, no que lhes apetecer.

 

O patrão da coisa, um tal Domscheit-Berg, achou que os informadores da Uiquiliques – caso do americano condenado, e muito bem, a prisão perpétua – não estavam devidamente protegidos.

Para tratar de tão grave problema, o senhor Domechaite e os seus “técnicos” inventaram um sistema de tal ordem que você, meu caro leitor, se tiver um inimigo que entre na sua vidinha e a dê, ou venda, nos menos contáveis pormenores, aos jornais, a coberto do anonimato, ninguém, mas ninguém mesmo, poderá saber quem é o tal inimigo.

Apareceram logo 3.500 gatunos confessos interessados na coisa, bem como uns outros, a que a seguir faremos as devidas honras.

É de prever que, dada a enorme quantidade de gatunos existentes à face da terra, a coisa venha a ter um indiscutível sucesso

 

Havia, na moral social e na ordem jurídica, uma norma - entre nós, até está na Constituição e no Código Penal – que condenava a violação da correspondência.

Havia, no vademecum dos jornalistas, uma norma que, reservando em geral o sigilo das fontes, impunha limites deontológicos, designadamente a convicção da sua idoneidade.

A partir da reunião dos gatunos informáticos tudo, mas tudo, pode ser objecto de bufaria, desde o mais secreto segredo de Estado às hemorróidas de cada um. Isto, na certeza que o gatuno jamais poderá ser conhecido, seja pelos interessados, seja pelos jornalistas que se (des)responsabilizam pelo que publicam.

A partir disto, acaba a liberdade, a vida pessoal, a discrição negocial, até os planos da pólvora.

 

Vejamos, nas próprias palavras dos gatunos, o que se conseguiu: trata-se de uma plataforma tecnológica que os interessados instalarão nos seus sites e, assim, poderão receber fugas de informação de forma anónima e segura.

O senhor Domechaite e alguns dos seus parceiros da Uiquiliques saíram desta em rotura com Julian Assanje e levaram a plataforma de submissão electrónica que tinha sido desenvolvida por eles e que permitia aos “whistleblowers” (em português, bufos) entregar documentos pela internet.

Trocadas as coisas por miúdos, a seita do Domechaite roubou o sistema, que era da Uiquiliques e, à custa dele, lançou a Openliques. Ladrão que rouba ladrão…

 

Faltava arranjar parceiros de conhecida e reconhecida laia.

Em Portugal, como não podia deixar de ser, o parceiro encontrado foi o Expresso.

Em alta declaração do mais nobre escrúpulo, a direcção do citado tablóide vem dizer ao povo que, tal como no caso da Uiquiliques, só publicámos o que achámos importante. Antes, lemos, escolhemos, editámos, verificámos.

Pois é. Leram tudo. Publicaram o que lhes deu na realíssima gana. Ora como leram tudo, houve uma data de “leitores” que ficaram a saber tudo. Publicaram material roubado, foram receptadores de material roubado e fizeram negócio com ele.

Não venham dizer que se trata de investigação jornalística. Não há no caso, como não haverá na criminosa associação com a Openliques, seja que investigação for. É pura bufaria. E não há, sequer, por detrás das informações obtidas quaisquer fontes de indiscutível confiança. O que há é a ausência total de conhecimento da identidade de quem passa as informações.

Exactamente como o tipo da ourivesaria que recebe as jóias roubadas à velhinha e que, nem que lhe paguem, quer saber quem lhas passou.

 

Orgulhosamente, a direcção do tablóide confessa o pecado como se de virtude se tratasse.

Irresponsavelmente, as autoridades alemãs fecham os olhos a uma reunião de gatunos destinada a refinar os seus métodos de “trabalho”.

Ignorantemente, uma autoridade qualquer que é suposto ocupar-se da “comunicação social” em Portugal, não dá por nada.

Corporativamente, o sindicato dos jornalistas deve achar muito bem.

Irritadamente, o IRRITADO põe pontos em is que parecem não ter existência para aqueles a quem deviam interessar.

 

13.8.11

 

António Borges de Carvalho

DA TORTURA “MEDIÁTICA”

 

Ontem, o Ministro das Finanças deu uma entrevista à dona Judite, última magna transacção televisiva, em má hora feita pela TVI.

Disse pouco. Na opinião do IRRITADO nada devia ter dito, isto é, só devia aparecer quando tivesse coisas mais substanciais para dizer.

É de compreender que o homem ande muito mais à rasca que a geração que tal coisa se atribui, à laia de pretexto para umas farras no Rossio.

Mas tem desculpa. É que, mesmo que quisesse dizer fosse o que fosse, a hedionda harpia não deixava. O Ministro foi proibido de acabar uma só frase que fosse. Ela queria sangue. Queria escarafunchar. Queria que o homem escorregasse para alguma coisa que contribuísse para a sua, dela, glória de entrevistadora burra, à procura de coices. Ele tem algum jogo de anca, e lá se foi desenrascando, julga-se que para desespero do raio da mulher.

O problema é que, se ela ficou frustrada na sua ânsia de sensacionalismo, nós também ficámos, já que nos dava jeito saber o que o homem pensa.

 

13.8.11

 

António Borges de Carvalho

AO SERVIÇO DA PÁTRIA

 

Titulando uma solene fotografia do nobre hemiciclo onde os representantes do povo, distintos pais da Pátria, discutem o nosso (miserável) futuro, li ontem esta frase:

 

Deputados vão avaliar redução dos gramas dos pacotes de açúcar.

 

Não haverá, creio, ninguém que possa ficar indiferente a tão importante iniciativa, ou que se não curve de admiração perante a forma como a sede da democracia se propõe usar o seu precioso tempo.

Sugere-se que, à imagem desta e de outras formas de se tornar útil - como aquela da gramagem do sal no pão - a veneranda casa discuta, com filosófica profundidade e alto sentido do dever e do serviço público, o número máximo de folhas de papel higiénico em cada rolo, o peso de canela por pastel de Belém ou o número de lambadas a partir do qual se deve punir a violência doméstica nos casais gay.

 

No caso vertente, sugere-se que a ASAE mande fechar imediatamente as lojas Nespresso. Elas vendem, sem a devida autorização legislativa, pacotinhos de açúcar com menos produto que os demais, e muito mais caros. Se é preciso uma Lei, eventualmente sujeita a maioria qualificada, para mudar a gramagem dos pacotes, com que direito uma multinacional estrangeira, representante do mais negro capitalismo, se atreve a determinar o peso da dose sem dar cavaco ao poder legislativo?  

 

À atenção de Sua Excelência o Presidente da República, do Procurador-Geral, do Presidente do Supremo, do camarada Jerónimo e do senhor Alfredo da Pastelaria Mutamba.

 

12.8.11

 

António Borges de Carvalho

DESAVENÇAS CONJUGAIS

 

Primeira página, manchete, cinco colunas vezes duas linhas garrafais. Quatro linhas de lead.

Coisa digna do estalar de uma guerra entre a França e Turquia, de um tsunami nos Açores, de cinco mil pessoas mortas por afogamento porque os chineses se puseram a fazer xixi todos ao mesmo tempo.

Nada disso. O jornal do amigo Oliveira, edição Sul, vinha anunciar ao orbe uma rixa doméstica, coisa que seria suposto e é costume aparecer a folhas trinta e nove.

Mais ou menos assim: o Quiquinhas foi queixar-se de ter sido selvaticamente agredido pelo marido, um larilas do PSD que até já foi deputado e com quem o Quiquinhas tinha “casado” há um mês. Esta, a notícia mais importante do dia, para o jornal do amigo Oliveira e do impossível Marcelino.

Bem escondido na página quarenta e cinco, ou coisa que o valha, um psicólogo qualquer informava as pessoas que a violência doméstica entre pessoas do género (que género?) era coisa vulgar e estava a aumentar todos os dias.

 

Ora bem. Que se noticie as baldrocas entre “casais”, enfim, vá que não vá. Que se dê a notícia com mais destaque que as que se referem às costumeiras e caseiras lambadas que há por aí aos pontapés, à pala de se tratar de um ex-deputado que até é o director dos serviços de educação – que educação! – da Freguesia de Alcântara, ainda se compreenderia.

Mas que um diário, tido por sério, faça disso manchete, é uma vergonha muito maior que as desavenças entre o “marido” e… a “mulher”. Em manchete, valha-nos São Quitério!  

 

Assim vai a “informação” na “piolhoeira”, ou a “informação”  piolhosa!

 

 

António Borges de Carvalho

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