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irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

DESEJOS FATAIS

 

A começar no Presidente da República e acabar no Silva da CGTP, não há cão nem gato que não “alerte” o governo e a Nação para a “situação explosiva” em que vivemos, para os perigos da “agitação social”, para a “justa indignação”, que pode vir a ter “afloramentos de violência” e reforçar o “movimento grevista”. Olhem o caso da Grécia, cuidado, a austeridade gera fenómenos irreprimíveis, etc. e tal.

Os arautos destas desgraças até são capazes de ter alguma razão. Mas as suas inquietações, propagadas em altos berros pelos media, são música celestial para os experientes ouvidos do Silva, do Jerónimo, do Louça e dos restos do socretinismo instalados em São Bento.

Cheira mal, cheira mesmo muito mal.

Parece que esta gente deseja, por convicção ideológica ou partidarite aguda, que a malta se ponha a partir montras, a incendiar automóveis e a bater nos polícias. O objectivo de dar cabo do governo suplanta todos os outros, como se houvesse, ou tivessem na manga, alguma solução mágica. Não há. Não têm. Ninguém tem.

É convicção do IRRITADO que as verdadeiras vítimas da crise procurarão resolveu os seus problemas sem fazer ondas de maior. Quem fará barulho, se fizer - o mijarete da greve “geral” prenuncia mais sossego que pancadaria - serão os mais e melhor instalados, como é evidente no caso dos pilotos, dos maquinistas, dos tipos da Carris, dos funcionários públicos, etc., tudo gente que anda a atirar segurança de emprego, bons ou razoáveis salários e umas mordomias à cara de quem sofre e carece de coisas muito mais elementares que as por eles reivindicadas.

O IRRITADO arrisca uma previsão: os propagandistas da agitação vão ver frustrados os seus mais profundos desejos e desmentidas pela realidade as suas apocalípticas premonições.

A ver vamos.

E não se diga que o pessoal está alheado da situação, despolitizado, desinteressado, sem amor pela cidadania. Não está. Mas percebe que anda a ser gozado pelos instalados e pelos “indignados”. Prefere ir tratando da vidinha em vez de andar para aí aos berros. Além disso, já percebeu que o Doutor Cavaco, os soviéticos, os trotzquistas e os socretinos já deram o que tinham a dar, e o que tinham a dar não prestava.

A ver vamos.

  

3.1.12

 

António Borges de Carvalho

IDEIAS PARA O ANO NOVO

 

Nos fins da década de 60 do século passado, o regime chinês, ao mais alto nível, declarou que não tinha quaisquer pretensões ao território de Macau.

É conhecida a fidelidade dos chineses a compromissos. Por isso que Mao tivesse a preocupação de distinguir Macau de Hong Kong. Este era uma concessão, com prazo determinado. Aquele não era concessão nem tinha prazo.

Nos idos do sec. XVI, os chineses, inveterados xenófobos – ainda o são em muitos aspectos – viam com bons olhos a presença portuguesa em Macau, que lhes proporcionava uma abertura comercial a que atribuíam valia estratégica. Mas, para ser fiéis aos seus princípios, não podiam tolerar uma presença estrangeira no que, até então, consideravam como território seu. Para resolver o dilema, o Império do Meio encontrou a imaginosa solução de considerar Macau território não chinês, assim mantendo a sua postura soberana sem abdicar das vantagens que achava trazer-lhe tal presença.

Mao foi fiel a esta postura, jamais tendo tido a pretensão de correr connosco, o que, por via militar e até diplomática, lhe seria relativamente fácil. Os seus sucessores, no que a Macau diz respeito, não mudaram de política.

 

Nós, porém, fomos diferentes, originais e inteligentes. No auge da “abertura ao mundo” almejada pelos entusiastas da descolonização a todo o custo e de qualquer maneira, Portugal decidiu, para surpresa dos chineses, considerar Macau “território chinês sob administração portuguesa”, como orgulhosamente declarou Mário Soares, usando uma expressão que viria a ser vertida em definição constitucional.
Os chineses ficaram de boca aberta. Era a primeira vez na História que uma nação abdicava de parte do seu território sem ser por exigência de outrem, por resultado de guerra perdida ou por negócio vantajoso. Digamos, de borla. Depois, como é lógico, aproveitaram a estranha postura do seu amigo de séculos, e prestaram-se a resolver o assunto em conformidade. O processo, a partir daí, é do domínio público.

Há quem tenha mas não revele, por medo ou conveniência, preciosa documentação relativa a este caso. Pode ser que, um dia, a bem da justiça histórica, algum investigador venha a descobri-la e a contar a verdade com fundamentado pormenor.

 

Macau é o exemplo mais evidente da insanidade política que o 25 de Abril gerou. Nada tinha a ver com outros territórios, ainda que nestes a guerra tivesse acabado e imperasse o desenvolvimento. Mas tinha, a bem da nova postura de Portugal, que ser metido no mesmo saco. E foi, ainda que por gentileza da China, tenhamos de lá saído com dignidade, coisa ausente na miséria moral, política e humana da “descolonização exemplar”.

 

É evidente que a II República não soube, não quis, ou não foi capaz de preparar o fim, ou o futuro do Império.

Há quem diga que a “teoria” - ou a “esperança” - da II República a este respeito era, partindo do princípio que as exigências descolonizadoras da comunidade internacional eram um mero episódio da guerra fria, era que a “libertação” dos territórios portugueses de África deixaria de fazer parte da agenda logo que tal guerra conhecesse o seu fim. Ganhas as guerras do ultramar (à excepção da da Guiné) e varrida a pressão externa, parecia ao poder que tudo poderia continuar em paz e sossego. Mas a história não andou tão depressa como a II República desejava, o muro de Berlim cairia com uns vinte anos de atraso, a guerra fria acabaria logo a seguir. Era tarde.

 

Diga-se, à laia de parêntesis, que o “imperialismo” da II República não era outra coisa senão a continuidade, menos feroz, do da República anterior. Os “heróis” do 5 de Outubro eram imperialistas puros e duros, e até nos meteram na sangueira da Grande Guerra com medo que o Império pudesse vir a ser posto em causa pelos vencedores. Para defender o Império, a I República sacrificou mais vidas que nem cem anos de guerra no ultramar sacrificariam.

 

Paradoxalmente, com a mesma virulência, os herdeiros da I República, de que Mário Soares é o mais destacado representante, dedicaram-se, com o mais insensato entusiasmo, a pôr em causa o que os seus “pais” tanto defendiam. Para esta gente, a segunda república, porque defendia o Império, era fascista, colonialista, quase esclavagista. Os seus “pais”, os da I República, pelas mesmas razões, eram uns democratas e uns patriotas. Perceba quem quiser.

Agora, que Mário Soares vem, com verrina e malquerer, acusar o poder de vender as “jóias da coroa”, conviria lembrar que a última jóia da coroa, Macau, foi vendida ao desbarato, ainda que dignamente, por sua iniciativa, rematando o que, com tanta estultícia, tanta insensibilidade e tanta indignidade, tinha sido entregue aos que, pelo Império fora, serviam os interesses do bolchevismo.

 

Estas considerações sabem um pouco a inutilidade, não sabem? Talvez. É chover no molhado, tudo se consumou há muito, não valerá a pena chorar sobre leite derramado.

 

Mas há uma reflexão que não pode deixar de ser feita.

 

Depois da consolidação da independência, no fim do séc. XIV, Portugal como que ficou “sem ter nada que fazer”: o território estava estabelecido e povoado, o inimigo (Castela) em baias, o poder consolidado, uma aliança com a potência marítima selada, ninguém poria em causa o fundamental.

Era preciso encontrar uma nova raison d’être e uma vocação inovadora. Foi o que a ínclita geração, não por unanimidade, descobriu e começou: a expansão marítima, o Império.

 

Quinhentos e cinquenta anos não são dias. Facto é que não mais, para o bem e para o mal, o país se confinou, política, geográfica e socialmente, às suas fronteiras europeias. Ainda hoje, trinta e seis anos depois da entrega do Império, não haverá um só português que não tenha, por uma razão ou outra, uma qualquer ligação ultramarina.

Sá Carneiro foi o primeiro político da III República a perceber que, apesar de evidentes questões ideológicas, era preciso não perder as ligações ultramarinas. Enquanto Soares se entretinha com o Savimbi e quejandos, Sá Carneiro abria, com digna frontalidade, relações com os ex-territórios do Império.

Hoje, está fora de questão que tais relações são indispensáveis e podem ser frutuosas.

Numa altura em que a opção europeia começa a ser questionada, não será dispiciendo pensar que, ou recuperamos a iniciativa atlântica, ou a Europa, por muito bem que as coisas corram, ou corressem, é pouco para nós, não chega para garantir o futuro da Nação. Por isso que, quando se fala de “opções estratégicas”, coisa que para muitos não passa de slogan, é preciso, talvez mais do que a diplomacia económica de que fala Portas (Paulo), uma diplomacia de “expansão”, não no sentido que o Infante lhe deu, mas no da potenciação do passado em termos actuais.

Dir-se-á que não temos trunfos a jogar em tal cartada. Que apport terá Portugal para mostrar aos outros (Angola, Brasil, EUA…) as vantagens de um arranjo formal que ultrapasse as actuais relações, por boas que sejam?

Fácil. Temos a maior zona marítima da Europa, o que não é coisa de somenos. Somos, geograficamente e por excelência, a “porta”, naval e aérea, da Europa. O membership europeu tem uma enorme importância. As boas relações a Oriente podem somar muito. Temos matérias-primas de que os outros carecem e, quem sabe, petróleo e gás. Para alguns, somos também a porta, ou uma boa porta de África. Temos uma língua veicular para vastas zonas, ainda que o acordo ortográfico a desvalorize com a maior brutalidade. E há mais, bastante mais.

Falta-nos potenciar os nossos trunfos, falta-nos projectá-los, não só por via da diplomacia económica (eufemismo para caixeiros viajantes) mas politicamente, institucionalmente, formalmente.

 

Eis um caminho, que não será exclusivo mas é fundamental. Já cometemos erros demais para continuar parados à espera de melhores dias.

 

1.1.12

António Borges de Carvalho

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