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irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

irritado (blog de António Borges de Carvalho).

O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA. Winston Churchill

DO ENCRISTAMENTO DA PÁTRIA


Desde os tempos da II República – anos 60 ou 70 – que se fala de energia nuclear em Portugal. Talvez porque o Generalíssimo, aqui ao lado, já tivesse optado por ela, talvez porque os jovens turcos saídos do Técnico empurravam em tal sentido.
A sua argumentação baseava-se na moda europeia, e não só europeia, isto é, no facto de ter havido países que depressa chegaram à conclusão que tinham duas opções: ou continuavam a “empurrar” a sua economia industrial, para o que a energia nuclear era incontornável, ou perdiam o combóio energético por muitos anos e maus.
Por cá, chegou a haver um local destinado à instalação: Ferrel. Não sei onde é Ferrel, mas sei que foi o local escolhido.
Ficaríamos por um reactorzinho experimental ou científico, ali para os lados de Sacavém.


Daí em diante, nada. Fundou-se o clube dos empatas, aflitos com os perigos da coisa mais que com o progresso económico do país. Nos primórdios da democracia muita gente disse que a energia nuclear devia ser uma das prioridades do país. Aos que vociferam ecologicamente, era respondido que já havia uma central espanhola na fronteira e que, a correr perigo, que corrêssemos o nosso e não o dos outros.
Grassava na Europa a moda dos no nukes, com o seu folclore de rua e a sua descabelada, mas ouvida, argumentação. O desastre de Chernobyl - visto por toda a gente menos pelo Álvaro Cunhal - fruto do total descalabro tecnológico da URSS, veio dar alento às vozes da “correcção”.  

Os anos foram passando. Aos poucos, a própria eco-ideologia, ou religião, com excepção de alguns tresloucados, percebeu que o nuclear era a mais limpa e ecológica de todas as formas de energia, renováveis incluídas, a mais fiável e até a mais barata.
A tecnologia evoluiu. Os novos reactores oferecem mais segurança e mais benefícios económicos que os anteriores. O problema dos lixos está em vias de solução. Os europeus, pelo menos os que têm alguma visão de futuro, relançaram os seus programas nucleares.


Aconteceu Fucoxima. Relançou-se o terror. O problema não foi o maior desastre natural de todos os tempos, mas haver uma central na área destruída pelo tsunami! Houve milhares e milhares de mortos, nenhum por causa da central. Mas o primarismo anti-nuclear foi recuperado, os medos re-explorados.

Por cá, o senhor Pinto de Sousa há muito tinha sossegado as boas almas. “O nuclear não está na agenda do governo”, declarou solenemente. Perdeu-se mais uns anos, mergulhados que fomos em caríssimos e infiáveis moinhos de vento, com o seu cortejo de centrais térmicas por trás, vendidos ao povo, a preços de maluquice, como se se tratasse da salvação da Pátria.

Surgiu então, de americanas paragens, um português de sucesso que se propôs construir uma central nuclear, financiando-a e garantindo preços ao consumidor bem mais atractivos que os que se pagam actualmente e que incham a cada dia que passa. Não teve, sequer, com quem falar no assunto. O governo não quis saber do homem para nada, ninguém podendo dizer se a sua proposta tinha ou não pés para andar. Nesta matéria, como em muitas outras, o governo portou-se como o bêbado que dizia “eu sei que estou embriagado, mas a vossa opinião põe-se de lado”. Rima, e foi o que aconteceu. Assim, um dos poucos países europeus que tem matéria prima com fartura para alimentar centrais nucleares, recusou-se, sequer, a discuti-las.
Entretanto, a factura das renováveis renova-se cada dia com maior intensidade e exigência.

O problema, agora, é que parece que o actual governo vai pelo mesmo caminho. A ministra Cristas já veio dizer, noutros termos, o mesmo que dizia o senhor Pinto de Sousa.
Já estávamos anquilosados. Agora, estamos encristados.

Que São Pancrácio os ilumine!

27.2.12

António Borges de Carvalho

APONTAMENTOS DE DOMINGO

 

 

VERGONHA

A nova arrancada “fracturante” do PC e do BE acerca da adopção por “casais” do mesmo sexo, em boa hora chumbada, fracturou mesmo. Vergonhosamente, houve deputados da maioria que a teriam deixado passar.

 

CIVILIZAÇÕES

Não há dúvida que a civilização muçulmana, outrora foi florescente, Mas, com algumas honrosas excepções, parou no tempo e deixou-se arrastar para um evidente e perigoso primitivismo.

Se, na civilização cristã, se assistisse à queima da Bíblia por algum tarado, as instituições, naturalmente, lamentariam o sucedido e considerariam que tais tarados não representavam nada para além de estupidez e selvajaria. Mas ninguém viria para a rua exigir sangue ou queimar fosse o que fosse.

Quando vemos as hordas de assassinos muçulmanos que enxameiam as ruas a propósito da queima, por uns tarados americanos, de exemplares do Corão, vemos bem a paragem no tempo de que falava acima.

 

INTERESSE PÚBLICO

É evidente que a conversa particular entre os ministros das finanças de Portugal e da Alemanha tem interesse público. Aliás, é de presumir que todas as conversas particulares entre todos os ministros de todos os países, acerca seja do que for, serão de interesse público, ou que o público fique todo contente por nelas cevar a sua curiosidade, legítima ou mórbida.

Nada disto tem a ver com a legitimidade de as escutar e de as propagandear.

Uma senhora da nossa embaixada na União Europeia teve a lata de vir dizer que seria de proibir a TVI de filmar as reuniões dos ministros. Como consequência, os nossos brilhantes plumitivos entraram num frenesi. Atentado à liberdade de imprensa! É de interesse público, tudo se justifica!

Tratando-se dos sacrossantos jornalistas, os fins justificam os meios. Um tipo grava som que se tinha comprometido a não gravar. Uma estação de televisão põe no ar a gravação que se tinha compromtido a não fazer e vende-a ao mundo.

Ninguém, nem o ilustre sindicato dos jornalistas, nem as comissões de “deontologia” que por aí vicejam, nem a Alta Autoridade ou lá o que é, que pagamos, nem os senhores deputados, ninguém diz uma palavra que não seja de justificação e aplauso.

Que fazer a este respeito? Nada.

 

PERSEGUIÇÃO CORTADA CERCE

Um membro do governo resolveu contratar uma senhora para um cargo de responsabilidade, com um contrato a prazo.

Tal senhora, indiscutivelmente, tinha um currículo profissional que lhe granjeava a maior das credibilidades para o exercício das funções que lhe eram atribuídas. Mas… a imprensa publicou a notícia ignorando o currículo e referindo apenas que a senhora era familiar próxima de um ministro!

A senhora, três dias depois de iniciar funções, ao ver publicada a “notícia”, apresentou a demissão e foi à sua vida. Percebeu que, fizesse o que fizesse, bem ou mal, jamais seria referida por isso, mas tão só seria perseguida e achincalhada por causa da família: uma girl! Mais um caso exemplar dos exageros “informativos”. Desta vez, levaram com a porta no focinho. Parabéns à senhora, que não esteve para os aturar.

 

CONCEITOS CINEMATOGRÁFICOS

O rapaz que, admita-se que com todo o mérito, ganhou um prémio em Berlim com um filme que realizou veio dizer, cheio de amargura, que um filme de Scorsese “pagava 15 anos do cinema nacional”.

Há um pequeno pormenor que dá cabo deste nobre queixume. É que os milhões que o tal filme custou vão ser devolvidos a dobrar ou a triplicar pelas bilheteiras do mundo inteiro. O tal Scorsese vai ficar cheio dele, os contribuintes americanos não gastaram um tostão, viram um filme que os divertiu e ainda recebem algum, via impostos que o Scosese vai pagar por causa dos lucros que teve.

O filme do nosso rapaz vai entreter umas dúzias de outros rapazes, não vai entreter ou divertir mais seja quem for, custou a todos nós umas lecas e impostos nem vê-los, que é tudo a fundo perdido!

Às vezes ficamos a pensar que há, no raciocínio desta gente, um parafuso qualquer que está desapertado.      

 

DEMOCRACIA

Agigantam-se na nossa praça, e não só, sonoros protestos, sobretudo de esquerda, contra os governos de tecnocratas, que não foram eleitos - v.g. Grécia e Itália - que não têm legitimidade, que a democracia está perdida, etc. e tal.

Também aqui há pormenores esquecidos. Quem investe os governos são os parlamentos. A legitimidade é parlamentar. Os primeiros-ministros não são eleitos, são apontados pelas maiorias. Foi o que aconteceu nos dois países referidos. O procedimento não é o habitual - é fruto de uma crise dos diabos - mas não é, por isso, ilegítimo, ainda menos anti democrático.

Por outro lado, no que respeita à nossa nacional chafarica de esquerda, há que realçar, a bem da coerência, que foi essa mesma esquerda que teceu as maiores loas à “nomeação” de governos não eleitos, entre os quais avultou o dessa santinha de esquerda que se chamava Maria de Lurdes Pintasilgo! Santa coerência.

 

26.2.12

 

António Borges de Carvalho

FALTA DE CORAGEM

 

Da esquerda à direita, não há quem não se pronuncie, com alta indignação e prolixos argumentos, sobre a privatização de um canal de TV do Estado.

Pode dizer-se que é unânime o apego à ideia de que o Estado deve ser proprietário de, pelo menos, um canal generalista. Custe o que custar. Porquê? Quem o saberá?

Para um observador independente, esta unanimidade, ou este tipo de pensamento “oficial”, ou “correcto” causa uma estranheza dos diabos.

Por um lado, tal pensamento invoca os mais rebuscados argumentos para achar que o Estado não deve ter jornais, mas esbarra na parede da televisão. Porquê? Não é coisa que se perceba. O Estado democrático dos nossos dias não é suposto usar a propaganda política em meios públicos, nem os governos ganham, antes pelo contrário, por se servir deles para se afirmar. Além disso, quer se sirvam quer não, serão sempre acusados de o fazer. As agências de RP não chegam? Se não chegam, deviam chegar.

Por outro, se há serviços que, sendo de interesse público, são costumeiramente deficitários – os transportes, por exemplo – e onde o auxílio financeiro do Estado se pode justificar (o IRRITADO não é desta opinião, mas compreende-a), a televisão não é, manifestamente, um deles. Os canais privados têm informação que chegue, têm programas de entretenimento mais que suficientes, têm desporto aos pontapés, têm debates em barda, às vezes até têm alguma programação dita cultural, e não pedem ao contribuinte que neles injecte milhões e milhões ou pague impostos para sustentar um esquema televisivo que não se aguenta sozinho, apesar de fazer o mesmo que os outros, de estar como os outros no mercado publicitário, etc. Porquê pagar tal coisa, sobretudo na situação miserável em que estamos?

Não se vê porquê.

Compreende-se que há missões desempenhadas pela RTP – a de África, a Internacional – que são do interesse do Estado e que não geram receitas por aí além. Mas, se “têm que ser”, porque não contratá-las com os canais privados?

É claro que, no coro dos bem pensantes, há diversas aproximações ao problema. Desde logo os partidos comunistas, que continuam a achar que o que é estatal é “nosso” e postulam a propriedade pública deste mundo e do outro. Não vale a pena contar com eles para uma discussão que nem sequer entendem. Depois, a área socialista, onde muita gente é próxima dos comunistas ainda que com fortes pinceladas democráticas, as coisas não serão tão claras, mas não se vê quem se entusiasme com as tímidas propostas do PSD. Do CDS, mercê do anti-liberalismo primário que caracteriza as ideias social-cristãs, também não é de esperar seja o que for que possa ser acusado de postular a destruição do monstro estatal que se chama RTP.

A posição do PSD não se percebe, a não ser por causa de alguma necessidade de manter a paz dentro da coligação. Se o PSD está, de alma e coração, empenhado em reduzir a despesa, como pode justificar a continuação do sugadouro de dinheiros públicos que é a televisão?

A RTP tem um património técnico e imobiliário de grande valor, o que permitiria a sua extinção com algum alívio dos custos incorridos. A RTP extinta poria no mercado um número razoável de técnicos qualificados, com um papel a desempenhar no mercado televisivo e noutros, de inovação transacionável.

O IRRITADO tem falado desta questão em várias oportunidades. O ministro Relvas, tão pró-activo (como se diz agora), tão alegadamente “corajoso”, tão “revolucionário”, prepara-se para, contra ventos e marés movidos pela concorrência, privatizar um canal, não se sabendo qual. E o outro? Vai (vamos) continuar a pagá-lo?

Que diabo, homem, pense duas vezes e acabe com o monstro!

 

24.2.12

 

António Borges de Carvalho

POUPEM-NOS!

 

Esta semana trouxe-nos mais dois casos exemplares.

 

O primeiro, velho de treze anos.

Um rapazinho desapareceu em 1999. Andaram polícias em investigações, procuradores em acusações, advogados em arguições, juízes em considerações, testemunhas em perorações. Fez-se reconstituições, inquirições, acareações. Resmas de papéis, centenas de jornais e não sei que mais foram pintados com tinta.  

Treze anos depois, o caso foi julgado. Em primeira instância! Daqui a meses, ou anos, a Relação pronunciar-se-á. A seguir, meses ou anos passados, virá o Supremo dizer de sua justiça. Quando, finalmente, o Constitucional entrar em acção, o rapazinho, se estiver vivo, terá cabelos brancos e dentes postiços. O processo transitará em julgado - se algum dia transitar. Isto, se o julgamento da primeira instância não tiver sido declarado nulo por causa de um pinchavelho qualquer.

 

O segundo, mais novo.

Terá só uns nove anos ou coisa que o valha.

Uns rapazinhos terão sido usados por uns velhotes em orgias de mariquice, uns em Elvas, outros, ou os mesmos, em Lisboa.

Entram em acção os especialistas acima citados. Correm rios de tinta, horas de telejornais, centenas de entrevistas. Publica-se livros. As testemunhas, credíveis contra uns, são consideradas não credíveis quanto aos do PS. Um juiz vê a vida estragada por causa de um “erro grosseiro” legislativamente criado à sua medida. Os episódios multiplicam-se, patéticos, ininteligíveis e chatos.

Uns seis anos depois, mergulhado em confusões, truques de algibeira, requerimentos, depoimentos, esclarecimentos, comunicados, entrevistados, culpados ou não culpados, lá vem a decisão da primeira instância. A malta respira de alívio, que aquilo já não interessava a ninguém. Vêm os recursos. Mais um ano ou dois. A Relação manda uma parte de volta à primeira instância e confirma o resto. A seguir, virá o Supremo. Depois, o Constitucional, o Tribunal dos Direitos do Homem, o diabo a quatro.

Entretanto, a parte que voltou para trás ainda deve andar às voltas na primeira instância.

A decisão final, é legítimo calcular, será obtida no decorrer do século XXI.

 

Daqui o título deste post. Poupem-nos! Poupem-nos a estes espectáculos! Poupem-nos à vergonha de, num Estado dito de Direito, não haver quem acredite na Justiça!

Desenrasquem-se e desenrasquem-nos. Poupem-nos à terrível visão da vossa incompetência, ainda mais terrível porque “justificada” pela Lei, coisa em que seria suposto poder confiar.

Afinal, se há austeridade económica, porque não há-de haver austeridade jurídica e judicial?

 

24.2.12

 

António Borges de Carvalho

UMA BOA NOTÍCIA


Há uns anos, o IRRITADO revoltou-se contra um inacreditável mamarracho, em construção em Cascais, destinado, por alta decisão do Ministério das polícias, a sede da esquadra da PSP. Um horrível trambolho, forrado de azulejos de retrete, erguia-se, a 40 centímetros da faixa de rodagem (generosamente destinados aos peões), numa rua nobre da vila.
O dito atentado à qualidade de vida de quem lá passa só era ultrapassado pela infame construção, hoje conhecida por musseque, erguida onde antes havia o Estoril Sol.
O IRRITADO apelou, com duras críticas, ao presidente Capucho. Sem resultado, como é óbvio e se podia prever.
Acontece, haja Deus!, que a tal construção era obra de trafulhas. Meteram os pés pelas mãos, faliram, abandonaram a obra, e foram seguidos por outros com destino semelhante. Por estes motivos, o atentado não chegou a entrar em funcionamento. Parece que ainda falta fazer muitas obras, ainda que o exterior lá esteja, na sua imponência de estrumeira. E já se gastou dois milhões e tal dos 2,8 do valor da adjudicação...

Finalmente, a boa notícia: parece que a Câmara se prepara para demolir aquela porcaria e para alojar a Polícia, condignamente, noutros locais.
Viva o presidente Carreiras! Viva Cascais!

Fique ainda aqui um pequeno apontamento histórico-dramático.
Estamos perante uma obra verdadeiramente típica do pintodesousismo. Faz parte de um conjunto de 17 grandes obras públicas adjudicadas a um grupo de amigos do emigrante parisiense. O detentor de tal grupo ficou célebre por causa do não menos célebre caso da Cova da Beira, que ainda anda aos boléus na Justiça. A ele se juntou um amigo chegado do estudante da Sorbonne, um tal Carlos Silva. As adjudicações foram comandadas por um senhor do MAI, Morais de seu nome, nomeado pelo Vara para o efeito e professor do Pinto de Sousa, um certo Morais, dito fabricante da sua conhecida licenciatura e também acusado de corrupção no processo da Cova da Beira. Por intermédio do dito Morais, a fiscalização da obra foi entregue a um outro amigo desta panóplia de agentes económicos, um tal Joaquim Valente, hoje presidente da Câmara da Guarda (PS). Tão bem fiscalizou que tudo deu com os burrinhos na água, não sendo claro por que esgoto escorregaram os 20 milhões que o empreiteiro deve por aí...

Esperemos que, nem que seja por uma vez, mas com exemplo, a Justiça funcione.
O problema é que, disso, poucos sinais há.    

23.2.12

António Borges de Carvalho

MOBILIDADE

 

Magno clamor assolou a Pátria por causa da chamada “mobildade” dos funcionários públicos.
Que se trata de mais um “ataque aos trabalhadores”, mais uma manobra para arranjar despedimentos, mais uma falta de respeito, mais um acesso de “ultraliberalismo”, mais um nefando crime desta gente.
Bem pode o primeiro-ministro dizer, e faz mal, que não se vai despedir ninguém – até porque os funcionários são indespedíveis, como toda a gente sabe -, que se atenderá à circunstância individual de cada um, que mais isto e mais aquilo, tantos istos e tantos aquilos que uma pessoa até fica a pensar que se trata de mais uma causa sem efeito.
Mas o clamor é imparável, diga o homem o que disser, deite na fervura a água que deitar.


Uma sociedade anquilosada pela falta de mobilidade, com milhões de pessoas amarradas a apartamentos em má hora comprados, com milhões de pessoas que ainda acham que o trabalho é um direito como os outros direitos e que, se trabalham em Alcabideche terão que lá ficar para o resto da vida quer lá haja trabalho quer não, ao ver abrir uma temerosa luzinha no fundo do túnel das suas paralíticas vidas, desata aos gritos que lhe estão a fazer mal, que estão a aniquilar-lhe os direitos, que a querem matar de fome!
Eis o que se conseguiu em trinta tal anos de “direitos sociais”, isto é, de desculpas para os mais variados encostos e de incentivos para que se não puxe pela cabecinha e pelo canastro para progredir na vida.
Dar mobilidade aos portugueses - a todos e não só aos funcionários públicos -, meter-lhes na cabeça que deveriam querer mudar para melhor ou para não tão mau, que deveriam querer exercer as suas qualificações e aptidões onde elas pudessem ser melhor aproveitadas, com coragem, brio e auto-estima para poder progredir na vida, eis o que seria uma revolução cultural que, em geral, melhorairia a vida de cada um e, em particular, a do país.


Qual quê! As forças “progressistas” (as mais estupidamente conservadoras da Europa) reagem como se as estivessem a torturar, e lançam os seus anátemas contra tudo o que possa significar a mais pequena mudança nos seus hábitos, mesmo sabendo que os hábitos que andaram a meter no corpo de cada um a outra coisa não levam senão ao que temos pela frente: a derrocada económica e social.
Os exemplos doutamente expendidos no Parlamento, e não só, são do mais primitivo assistencialismo (do mau, porque também o há do bom): então, e uma mulher que trabalha em Faro vê o marido ser deslocado para Bragança?; então, e uma pessoa que comprou uma casa em Santo António dos Cavaleiros vai ter que alugar outra em Moreira de Cónegos? A inteligência deste tipo de argumentos dispensa adjectivos, por uma questão de decência.
A intragável Ferreira Alves, uma das mais altas luminárias da nossa inteligentsia de esquerda, no caso da esquerda soarista, dizia ontem que a medida anunciada sobre a mobilidade se devia ao pensamento conservador e retrógrado do CDS. O IRRITADO não faz ideia a que pensamento se deve a iniciativa, mas de uma coisa tem a certeza: tal pensamento, de conservador nada tem, bem pelo contrário. E duvida que seja do CDS.


A mobilidade é mais um princípio que deve ser metido na cabeça das pessoas que uma medida governamental isolada. Isto sem prejuízo de a medida em causa poder ser um pequeno passo para que, um dia, possamos passar a viver no mundo real e não no miserável paraíso que os socialismos inventaram.
      
20.2.12

António Borges de Carvalho

PARABÉNS


O rapazito que ganhou em Berlim um prémio de cinema merece os nosos parabéns.


O pior é que, no seu discurso de agradecimento, não lhe passou outra coisa pela cabeça que não fosse mendigar (mais) uns subsídios. Em vez de pensar, ou dizer, que este prémio o pode ajudar a lançar-se na vida, achou por bem pedir mais uns tostões ao Estado – para ele a para os demais da sua profissão.

Nas privilegiadas cabecinhas desta malta, os contribuintes têm a mais que evidente obrigação de os sustentar e às suas aventuras cinematofgráficas, ou outras. Além de, é claro, lhes agradecer pelo alto contributo que dão à Pátria com as suas obras.
É esta a mentalidade e o objectivo dos nossos intelectuais e artistas: promover o Estado à categoria de produtor artístico sem fins lucrativos.
Genial.

20.2.12

António Borges de Carvalho

MISSIVA

 

Senhor Presidente da República, Excelência

 

Está Vossa Excelência em queda livre na opinião dos seus concidadãos, o que é mau para si e para eles.

É evidente que Vossa Excelência tem um cargo difícil, quase absurdo. Vossa Excelência não é carne nem peixe. Não dá ordens, larga bitaites. Se não se mete, é porque não se mete, se se mete, não devia meter-se ou mete-se mal. Gostava de ser presidente dos portugueses, ou da Nação, mas não é nada disso. É-o da República e é um pau. Aliás, para a Constituição, a Nação nem sequer existe.

Vossa Excelência é, como todos nós, vítima de uma Constituição estúpida q.b., como não existe em mais lado nenhum.

Mas, se resolveu candidatar-se, tem que saber aguentar com estoicismo e savoir faire.

Ora não é isso o que tem acontecido. Vossa Excelência mete o pé na argola com uma frequência aterradora.

Vem isto a propósito das suas últimas argoladas.

Vossa Excelência arranjou uma coisa para discutir problemas, mas fechou-a aos olhos do público. Só gozam dela os que fazem o supremo sacrifício de aceitar o seu convite e de passar uma tarde a ouvir discursos, lutando contra o sono e não tendo, sequer, a consolação de aparecer na televisão.

Vossa Excelência teve “um impedimento” que o fez não dar a cara a uma pequena multidão de miúdos mais ou menos malcriados. Podia ter inventado um impedimento – uma diarreia, uma gripe, uma unha encravada, por exemplo. Mas não, resolveu não dar satisfações.

Agora, lê nos jornais que a sua imagem está ainda mais abaixo do que ficou na história da espionagem do Pinto de Sousa. Naturalmente, pensa como Lenine: que fazer?

 

Preocupado com a incómoda situação de Vossa Excelência, o IRRITADO permite-se sugerir soluções.

Quanto às suas conferências, abra-as ao público e aos jornalistas, ou acabe com elas.

Quanto à António Arroio – a mais grave de todas as argoladas – mande dizer ao director da escola que combine com os áulicos da presidência uma visita num dia em que não haja “impedimentos”. E vá lá, homem, vá lá, enfrente a miudagem com dignidade e bravura! Ninguém o come!

Não o fazendo, estará a deitar achas na fogueira que o consome e a oferecer argumentos a quem não gosta de si, gente que não deixará de juntar aos adjectivos que com tanta injustiça o brinda, o mais grave de todos: cobarde.

 

Quem o avisa seu amigo é. Amizade que, no caso do IRRITADO, está acima de qualquer suspeita, não é?   

 

19.2.12

 

António Borges de Carvalho

NATALIDADE

 

Aqui há uns anos, a mentalidade progressista da Nação legislou sobre as chamadas uniões de facto, o que constituiu uma das mais ferozes bojardas no direito que se possa imaginar.

Por definição, uma coisa que é de facto, não é de jure. Uma vez que é objecto de providências legislativas, deixa de ser de facto e passa a ser de direito. Absurdo: estas uniões continuam a ser de facto, mesmo quando já o são de direito! Disto resulta uma espécie de casamento à la carte, isto é, cada um, segundo as circunstâncias, optará por ser casado (ou equiparado, para todos os efeitos) ou solteiro, viúvo, divorciado (para todos os efeitos). Daqui que, a quem tenha relações jurídicas com tais pessoas não será garantida a certeza jurídica dos negócios, uma vez que, à la carte, a outra parte poderá optar por ser uma coisa ou outra consoante lhe convenha caso a caso. Se a ordem jurídica cuidasse destas elementaridades, cuidaria também de obrigar ao registo das uniões a partir das quais os unidos queiram obter direitos e obrigações em relação à sociedade.

É a sociedade o que está em causa, não as opções de cada um, isto é, quem queira que a sua união tenha efeitos jurídicos oponíveis a terceiros, devia ter a concomitante obrigação de registar publicamente tal união. Se a não registasse, não poderia obter vantagens por mor de uma situação juridicamente inexistente.

A maior parte das uniões de facto são estéreis. De um modo muito geral, quem quer ter filhos casa-se, uma vez que é da natureza humana querer dar estabilidade à descendência.

 

Outro florilégio do Portugal progressista foi o chamado casamento dos homossexuais, coisa que, seja qual for a opinião de cada um sobre o assunto, para além de constituir uma marretada de todo o tamanho no casamento propriamente dito é, em si, desincentivadora da reprodução, coisa vedada a tais “casais”.

 

Quando eu andava no liceu, havia uns tipos, no Rossio, que vendiam lâminas.

- Nacet, a melhor lâmina! – era o pregão.

Depois, ao ouvido do cliente, diziam:

- Quer camisas, quer camisas?

A camisa era coisa proibida pela gestão de costumes da ditadura.

Havia uma farmácia nas avenidas novas que vendia as “Velinhas Erbon”, espermicida dito garantido e, como é óbvio, odiado e proibido pela ditadura

Hoje, passou-se do oito para o oitenta. Distribui-se preservativos de borla, vende-se tudo o que há para esterilizar o sexo, chama-se a isso “planeamento familiar” e propagandeia-se a coisa como mimoso fruto da civilização e da moral.

 

No cimo destas práticas, todas elas, evidentemente, concebidas para limitar a natalidade, tornando-a não uma honra dos casais mas um mal a evitar a todo o custo, temos a liberalização do aborto, devidamente incentivada e paga pelo Estado quando se quiser e as vezes que se quiser. Acrescenta-se a isto, como notável e progressista incentivo, um subsídio de natalidade(!).

 

Os resultados destes avanços civilizacionais estão à vista: os portugueses são cada vez menos.

Enfrentando esta interessante questão, há uns sábios que fazem reuniões intelectuais com o objectivo de “relançar a natalidade”. Altas opiniões. Estudos científicos. Relatórios sociológicos. Discursos inflamados. Até o Presidente Cavaco lá foi.

Interessante é que, que se saiba, nenhum dos sábios pôs o mindinho que fosse nas causas da coisa, entre as quais as que acima refiro.

Saíram de lá todos muito contentes com o inestimável contributo que terão dado à Nação com a sua sabedoria.

 

Uma das “conclusões”, que ouvi na televisão, foi que a miserável reprodução dos portugueses é um sinal de alto progresso civilizacional. Isto, porque, nos países mais atrasados é onde nascem mais crianças.

Quer dizer, tudo serve para justificar o nosso “avanço”. Ora, como se verifica que os mais altos índices de natalidade da Europa se encontram nos países nórdicos, teremos que, no parecer dos sábios, pobres terras como a Suécia, a Noruega ou a Finlândia, em comparação com a nossa, são uma espécie de terceiro mundo.   

 

E se fossem bugiar?

 

18.2.12

 

António Borges de Carvalho

DESEMPREGO?

 

Ontem de manhã, o DN anunciava, em altíssimas parangonas, que havia um milhão e duzentos mil  desempregados.

Na mesma manhã, o Público metia duzentos mil a trabalhar, afirmando que era só um milhão.

À tarde, desta vez em percentagem, ninguém se entendeu no Parlamento sobre o que, afinal, são os números do desemprego.

À noite, o inestimável Cravinho (o das SCUTs), antiga cabeça do escol de Marcelo Caetano e actual maçon e socialista de esquerda, garantiu que o desemprego andava pelos setecentos mil e que, por este andar, em 2013, talvez se pudesse chegar aos novecentos mil.

 

A Pátria agradece ao Público ter arranjado duzentos mil empregos.

A Pátria agradece ainda mais ao Cravinho, que, da manhã para a tarde, arranjou quinhentos mil.

A Pátria agradece ao Parlamento que não se entretenha mais com estas matérias, uma vez que ninguém, na maioria ou na oposição, ao contrário do DN, do Público e do Cravinho, faz a mínima ideia dos números do desemprego.

A Pátria agradece a algum truta que haja por aí, ou a algum jornal “de referência”, que queira ter a bondade de chegar à conclusão que não há desemprego nenhum e que foi tudo uma manobra da troica, do mafarrico ou do caraças.

 

O IRRITADO, humildemente, pede aos trutas de serviço que não gozem mais com o pagode, sobretudo com os desempregados.

 

18.2.12

 

António Borges de Carvalho

HÁ A AUSTERIDADE

 

Estamos todos mergulhados na austeridade.

 

Há quem tenha percebido porquê.

Há quem ainda não tenha percebido.

Há quem tenha percebido mas faça de conta que não percebeu.

Há quem aceite por achar que não há outro remédio.

Há quem não aceite porque acha que há outro remédio, embora ninguém saiba, ou diga, de que remédio se trata.

Há quem ponha as culpas para o Pinto de Sousa.

Há quem ponha as culpas para o Passos Coelho.

Há quem ponha as culpas para a dona Ângela.

Há quem ponha as culpas para o servo da dona Ângela.

Há quem ponha as culpas para os dois.

Há quem ponha as culpas para a “Europa”.

Há quem ponha as culpas para o Barroso.

Há tudo para todos os gostos.

 

Há uma vasta série de portugueses a quem a austeridade, pelo menos em parte, se não aplica: os que têm rendimentos mais ou menos miseráveis.

 

Há outra, também vasta, categoria de portugueses que acha que está fora da coisa, isto é, que a austeridade, boa ou má, necessária ou não, se aplica aos outros, não a si.

   Por exemplo:

Há os militares, que recusam ceder um milímetro e se metem na política como se fossem um partido. Os mais deles, se ainda houvesse Forças Armadas dignas desse nome, já tinham sido mandados para a peluda, quisessem ou não, por falta de respeito para com a hierarquia, para com todos nós, para com a Nação que juraram defender (mesmo com sacrifício - da vida (?!), não dos tostões).

Há os magistrados, que chegam ao cúmulo de usar a Constituição para defender os seus interesses corporativos e fazem reuniões e manifestações contra o governo. Ninguém, a começar pelos líderes da corporação, os mete na ordem.

Há médicos e enfermeiros que querem mais horas extraordinárias.

Há secretários de estado que contratam uns tipos e, burros que nem uma casa, dividem o bolo por 14 em vez de dividir por 12.

Há os tipos dos autocarros e os dos comboios, os dos barcos e os dos aviões. Tudo gente a quem, no seu alto critério, a austeridade não se pode aplicar.

Há os tipos da CGTP, da mesma opinião, desta vez com desculpa uma vez que, seja como for e na circunstância que for, estão contra, acham que a sociedade serve para lhe pagar o que eles querem, e para os fazer trabalhar o menos possível, ou nada, sem prejuízo dos aumentos.

 

Há os que “justificam” as atitudes desta malta toda.

   Por exemplo:

Há os ideólogos do PC, que acham tudo mal, e com razão, porque só achariam bem se fossem eles, só eles, a mandar. Mesmo que estivesse tudo a morrer de fome, era em nome da construção do socialismo, e pronto.

Há os teóricos do BE, que postulam ideias gordas com inteligência magra.

Há os tipos do Seguro, que acham que está tudo mal, mas não têm a mais remota sombra de ideia de como poderia estar bem.

Há os malabaristas do Pinto de Sousa, que acham que o Seguro está tão mal como o resto, e que sonham com a manhã de nevoeiro em que o seu padroeiro há-de regressar de Gália no seu cavalo às riscas, cheio de diplomas e de dinheiro.

Há uma menina, completamente tonta, que manda a austeridade para o Tribunal Constitucional.

Há os pachecos pereiras, que são da mesma opinião, ainda que mais “intelectualizada”.

Há, qual cereja no toutiço do bolo, um Presidente da República que acha a austeridade uma chatice, se aplicada a si mesmo.

 

Há, finalmente, o governo, que não tem outro remédio senão ir fazendo o que faz, na esperança que resulte. Resulte ou não, a culpa não será dele.

 

17.2.12

 

António Borges de Carvalho

MULTIDÕES

 

Anos sessenta. Corria no país uma onda de entusiasmo patriótico sobre a guerra do Ultramar, que dava os seus primeiros passos.

O regime aproveitou para organizar uma imponente manifestação de apoio ao Presidente do Conselho de Ministros, Oliveira Salazar. A cidade foi invadida por autocarros vindos “espontaneamente” das mais desvairadas partes para glorificar o grande homem, Lancheiras, piqueniques, gente maravilhada com a grande metrópole, capital do Império ameaçado por gentes há pouco saídas do tribalismo como sistema político e do canibalismo como regime alimentar, com o apoio do imperialismo soviético, da cobardia dos EUA e da decadência do Ocidente.

Nesse dia, ficou célebre a história de uma velhinha que, entrevistada pela Emissora Nacional, ao ser perguntada sobre o que vinha fazer a Lisboa, respondeu: “venho ver um grande homem”. Entusiasmado, o entrevistador perguntou quem era esse grande homem. Ao que a senhora respondeu: “um tal Baltazar”.

Era um directo, a censura não teve oportunidade para cortar o dito da velhota. O pessoal riu durante semanas à custa do episódio.

 

Na altura, o Terreiro do Paço era mais pequeno. Levava só umas cem mil pessoas, talvez porque havia menos autocarros ou porque o orçamento da União Nacional não dava para mais.

Hoje, tudo é diferente. O Terreiro do Paço foi alargado ao ponto de lá caber uma multidão de, pelo menos!, trezentas mil almas. Os autocarros são em muito maior quantidade e o orçamento da CGTP parece inesgotável. A malta, em vez de vir de lancheira, enche os cafés e as cervejarias. Ninguém vem para ver o Baltazar, mas para adorar o camarada Carlos, também conhecido por Arménio. Não se tecem loas ao Império. Ameaça-se com a revolução de Outubro. Ainda que não haja um Czar para matar nem a quantidade de carne para canhão de que o santo padroeiro do Carlos, de seu nome Vladimir Ilitch Ulianov, dispunha à época. Mas, no dizer esclarecido do camarada Carlos, a luta continua, a burguesia será destruída a seguir à nobreza, havendo então ocasião para dar cabo dos traidores da própria classe operária. Não é dito assim, mas quer dizer o mesmo.

De resto, tudo igual. As camionetas, o Sábado bem passado em Lisboa, o transbordante entusiasmo popular, as miúdas, as velhotas, os organizadores e condutores de massas, as vanguardas da União Nacional, perdão, da CGTP, as palavras de ordem muito melhor ensaiadas dada a existência de megafones, um nunca acabar de demonstrações de profissionalismo.

 

O milagre das trezentas mil pessoas, a magnífica organização, os meios financeiros, a obediente disciplina das massas, a ausência de gafes das velhinhas da província, a cobertura jornalística, tudo demonstra que a CGTP, nestas matérias, mete a União Nacional num chinelo.

 

12.2.12

 

António Borges de Carvalho

INDECENTES PALHAÇADAS

 

Não sei se o governo fez bem ou mal acabando com a tolerância de ponto e com uma ponte de quatro dias.

Sei que quem tem dois dedos de testa não achou estranho nem se deu ao trabalho de criticar. Também sei que o que se faz à terça-feira também se pode fazer ao Sábado e ao Domingo.

Igualmente sei que, se ficarmos privados das exibições de cus e de sambismos mal importados, não nos faz diferença nenhuma.

Com tolerância de ponto ou sem ela, a vida, melhor ou pior, continua como dantes.

 

Importante, pelo que mostra de falta de educação, de solidariedade, de pudor, de empenhamento na vida colectiva, é a decisão de uma dúzia de autarcas, raça maldita!, de dar tolerância de ponto nas respectivas chafaricas.

Importantíssimo, gravíssimo, inominável e repugnante é que o Banco de Portugal alinhe nesta estúpida palhaçada de desobediência.

Depois de ter mantido – por mais que se esfanique não conseguirá explicar o fundamento da decisão – os meses da salário negados aos demais, desta feita vem o BdP, que devia ter mais respeito pelos outros e por si próprio, dar ao país esta imagem de privilégio e de falta de decência.

Miserável.

 

11.2.12

 

António Borges de Carvalho

O SENHOR CHOUBEL

 

Várias coisas há a dizer sobre a conversa dos senhores Gaspar e Schäubel, carinhosamente designado por Choubel pelos nossos letrados jornalistas.

 

A primeira é de cariz deontológico.

O senhor Carlos Magno, prestigiado escritor de notícias, há pouco designado presidente de uma coisa qualquer que tem por missão “regular” a informação, não deu por nada.

A TVI abusa de uma sessão de imagens mudas para, mercê de um sofisticado e proibido aparelho, ouvir uma conversa entre dois ministros. Não contente com a coisa, põe a gravação no ar.

O senhor Magno faz ouvidos de mercador. Nós continuamos a pagar uma estrutura reguladora que regula coisa nenhuma.

 

A segunda tem carácter ergonómico.

Verificou-se que o senhor Gaspar falou com o senhor Schäubel, perdão, Choubel, curvado sobre ele. A nossa informação, bem como os políticos de serviço, achou que tal era uma posição de submissão, uma indignidade e uma ofensa a todos nós. Esqueceram-se de dizer, ou reparar – a Europa inteira já reparou mas estes gajos não – que o senhor Schäubel, perdão, Choubel, se desloca numa cadeira de rodas, sendo da mais elementar boa educação que os demais, estando de pé, se curvem para falar com ele.

 

A terceira é de raiz política.

Os camaradas do costume, a começar pelo Seguro, a passar pelo Jerónimo, a continuar no Louça e a acabar no mais feroz membro da oposição, o Pacheco Pereira, bem como inúmeros jornalistas e comentadores, concluíram que a coisa vem mostrar uma série de mentiras do governo, que diz que não precisa de mais dinheiro e mais tempo, mas afinal precisa de mais dinheiro e mais tempo. Ninguém foi capaz de perceber que o ministro mais não fez que tomar, com assinalável êxito, cautelas em relação a um futuro incerto. Ninguém foi capaz de elogiar o homem, nem de dizer que a TVI não tinha o direito de fazer o que fez.

 

A quarta é de fundo pragmático.

Por causa da conversa, os juros baixaram!

A TVI não merece elogios por causa disto, mas lá que, mui pragmaticamente, a coisa funcionou, disso não há dúvida nenhuma.

 

Parabéns ao Gaspar. Que o Schäubel seja fiel ao que disse e que a cáfila se lixe.

 

11.2-12

 

António Borges de Carvalho

ABUSOS E ILEGALIDADES

 

O processo de democratização da Espanha foi, como é sabido, uma manifestação de bom senso sem precedentes, sobretudo num povo que de brandos costumes pouco tem.

Se olharmos para trás, é quase difícil de acreditar como foi possível, passados quarenta anos do rebentar da guerra civil e da instalação da ditadura franquista, que o país se unisse à volta do Rei e que um processo democrático pacífico e consensual tivesse lugar e fosse seguido por uma era de normalidade política, com governos estáveis, alternância democrática e progresso social, sem graves problemas outros que não fossem, à direita, a efémera palhaçada do coronel Tejero – que teve resposta pronta e eficaz – e, à esquerda, o terrorismo basco – que levou décadas a erradicar, se é que está erradicado.

Tanto no que à ETA diz respeito, à esquerda, como no que aos GAL, talvez à direita, diz respeito, emergiu uma figura justiceira e eficaz, digna do maior apreço: a do juiz Garzón.

Porém, o juiz Garzón deve ter-se convencido que tinha ganho um estatuto ainda maior que aquele a que fazia jus, e começou a aplicar critérios mais pessoais que gerais. Olhou para o espelho e achou-se uma autoridade universal, com direito a perseguir quem perseguido merecesse ser, isto do alto do seu alto julgamento. Foi assim que mandou prender Pinochet, mas se esqueceu de mandar prender Fidel Castro, Kim Jong Il, Pol Pot e quejandos. Os critérios de esquerda sobrepuseram-se aos de Justiça e Equidade política.

 

Nesta matéria, o caso dos crimes do franquismo é emblemático.

Os espanhóis tiveram o admirável bom senso de, em 1977, amnistiar os crimes da guerra civil, o que foi um importantíssimo passo para a consolidação da democracia e para o apaziguamento social. É sabido que a guerra civil, em matéria de crimes, foi fértil. À direita e à esquerda cometeram-se atrocidades sem nome e sem número. Sarar tais feridas era fundamental para que os espanhóis se não entretivessem, durante décadas, a odiar-se uns aos outros à custa de um passado já longínquo. As feridas ou eram saradas ou esquecidas, ou postas na prateleira, sob pena de inquinar o futuro.

Por isso que, ao desenterrar os crimes de guerra do franquismo – para condenar quem? – e não o fazer aos crimes do outro lado, tenha sido um erro monumental do juiz Garzón. Primeiro, e principalmente, pelo que acima fica dito. Depois, por ser uma exumação vesga, tratando dos crimes de um lado sem tratar dos do outro. O juiz Garzón, irresponsavelmente, veio trazer à superfície ódios e querelas que, desejavelmente, estavam a bom recato nos livros de História. Erro fatal, imperdoável. Além disso, ilegal, já que a lei de amnistia está em vigor.

Tão convencido estava da sua intocável autoridade, coisa que na sua cabeça deve estar acima da lei, que, noutro processo, decidiu pôr em escuta conversas de arguidos com advogados, coisa talvez própria de ditaduras mais ou menos sanguinárias, mas absolutamente inaceitável, e criminoso, em termos jurídicos e civilizacionais.

 

Garzón foi condenado por isto, e sê-lo-á por aquilo. Não é tolerável, em democracia alguma, que os juízes, não gostando de uma lei, a ponham de lado e actuem como se não existissem ou como se a lei fossem eles*.

Pelo menos em parte, o mal que Garzón fez à Espanha no caso dos crimes de guerra, está feito. A cizânia foi lançada à terra e arrisca-se a dar indesejáveis frutos.

Não se trata de “perdoar” os crimes cometidos, sequer de os esquecer, trata-se de impedir que os ódios que os motivaram voltem a desgraçar a vida do país.  

 

11.2.12

 

António Borges de Carvalho

 

 

*O que é, aliás, intenção declarada e desejo dos magistrados portugueses, como ficou claramente expresso na tenebrosa reunião de sindicatos que, aqui há tempos, houve nos Açores.

 

 

 

 

 

CRITÉRIOS, LAMÚRIAS E PIEGUICES


Há para aí vinte anos, o Presidente Soares foi a São Tomé. Numa volta qualquer pela ilha, viu uma bela praia. Mandou parar a comitiva, despiu as calças e banhou-se, regalado, nas salsas e tépidas ondas. O pessoal, engravatado, suado e hirto, assistiu ao imperial banho. Os jornalistas não se cansaram de gabar o presidencial à-vontade, o informalismo da situação, a bonomia de tão alta personalidade.
Não muito depois, também o primeiro-ministro Cavaco Silva foi a São Tomé, mas em viagem particular com a família, de férias. Um dia, em fato de banho, na praia, resolveu tentar subir a um coqueiro. Desta vez, não só ninguém achou graça mas levantou-se um coro de críticas e de troças. Um sururu, uma chacota dos diabos.

Estas histórias, tão interessantes ou tão pouco interessantes, são chamadas à colação, não por causa das personalidades envolvidas, mas a propósito dos critérios dos jornalistas, das suas preferências, e da funesta influência que têm na formação da opinião pública, submetendo esta, não ao que se passa mas à forma como os jornalistas “noticiam” o que se passa ou passou. A verdade é que estas notícias provam à saciedade a mentalidade preponderante na classe. Fica a adjectivação ao cuidado dos leitores.

Agora, a peregrina história dos piegas e da pieguice.
Pedro Lomba lembra hoje no “Público” que o Presidente Sampaio considerava prioritário o combate à lamúria, aconselhava os privados a deixar-se de lamúrias e dizia que “não é com lamúrias que os problemas se resolvem”. Veio à carga com as lamúrias vezes sem conta. Jamais jornalista algum protestou contra as lamúrias do Dr. Sampaio sobre a lamúrias dos demais, jamais partido político algum se indignou por ouvi-lo chamar lamurientos aos portugueses, coisa que fez  repetidamente, sempre que lhe deu na douta cachimónia.
Comparem isto com o escarcéu motivado pelo conselho de Passos Coelho a uns estudantes: que em vez de se defenderem com pieguices, lutem pela vida e pelo futuro. Em uníssono, multidões de jornalistas dedicam à coisa manchetes e reportagens e vomitam prolixas opiniões sobre o “insultuoso atentado” feito ao povo português pelo primeiro-ministro. Os partidos da oposição, acomeçar por essa coisa reles que se chama PS, repenicam-se em desabaladas críticas, virgens ofendidas na sua nobre honra.

Nem  as lamúrias do Sampaio nem as pieguices do Passos têm importância de maior. Não merecem mais que duas linhas nos jornais, eventualmente a dizer que se trata de bons conselhos.
Importante, mais uma vez, é ficarmos com a noção de quem é quem, de quem fabrica verdades, de quem nos engana, de quem conta as coisas (ou as esconde) retorcidas – os jornalistas – e de quem, cobardemente, se serve da mentira para fazer... crítica “democrática” – os partidos da esquerda.

Quanto aos primeiros, mais uma vez peço aos leitores que apliquem os adjectivos que por bem tiverem. Quanto aos segundos, nada a fazer, cada um come do que gosta!

9.2.12

António Borges de Carvalho

TROPA FANDANGA


Os inacreditáveis membros de uma coisa que dá pelo nome de AOFA, todos militares de alto gabarito e indesmentível amor à Pátria, resolveram insultar o ministro por dizer que as Forças Armadas, como estão, são insustentáveis, que quem não tem vocação para a coisa o melhor é ir à vida e que os tipos da tal associação andam, entre outras ilegitimidades, a fazer política.
Ora esta gente, que de militar pouco terá para além da farda e do ordenado, acha que, por mais insustentáveis, as suas mordomias, salários, promoções, hospitais, supermercados, etc., ao contrário do que se passa com qualquer cidadão, estão acima de crítica e abaixo de cortes orçamentais.
Outrossim, acha que, mesmo sem gosto nenhum pela profissão, deve andar por lá e viver à conta.
Acha também que, quando esgrime com as “medidas lesivas” – como se não estivéssemos todos a ser objecto de “medidas lesivas”, quando berra que o problema é o do BPN, sem o qual haveria mais dinheiro para os militares – como se os demais não fossem igualmente prejudicados por nacionalizações malucas, injecções de capital sem limite nem critério, até à consumação final desta caríssima bagunça com a venda do banco, quando exige que todas as autoridades deste país, a todos os níveis, os recebam respeitosamente e à revelia da hierarquia a quem devem obediência, e obediência militar, não está a fazer política.
Estará a fazer o quê?
Eu digo. Está, politicamente, a achar que é mais que os outros. Está a inculcar, politicamente, que a disciplina militar não se lhe aplica. Está a lutar, politicamente, contra um governo a que deve obediência. Está a esquecer que jurou servir e defender a Pátria e acatar as directivas do poder político. Reclama “cidadania”, esquecendo que a condição militar contém, por natureza, limites ao seu exercício.
Mais. Esta gente opina que tem direito a ser política. Pois tem. Cada militar tem, como os demais, direito de opinião e de voto, entre outras coisas. Mas, se se tornou militar, tem a mais estrita obrigação de guardar opiniões e opções desta natureza, não as aplicando ao exercício da profissão, como se se tratasse de motoristas da Carris ou maquinistas da CP, sem fazer greve mas fazendo tudo o resto, como insultar o poder legítimo, exigir a demissão do ministro e outras reivindicações do estilo.
Esta gente diz que o ministro não lhes tem “respeito”. É mentira. Mas, a ser verdade, seria uma consequência de não merecer tal coisa.

O IRRITADO aconselha vivamente o governo a que pegue nesta ciganagem e a passe compulsivamente à reforma, ou à reserva ou a outra coisa do género, isto se não tiver coragem ou cobertura legal para os pôr todos no olho da rua sem indemnização, por falta de profissionalismo, de sentido de honra, por falta de dignidade institucional e por ofensa grave a todos os portugueses, que têm o direito de sonhar com umas forças armadas diferentes, melhores, mais responsáveis e mais sustentáveis.

Uma última observação. Esta gente clama que as FA “não são insustentáveis, estão insustentáveis!”. Ainda que não seja isso o que querem dizer, põem o dedo na ferida: as FA, tal como estão, mal dimensionadas, representadas por gente grosseira, irresponsável, mais interessada na barriguinha que na missão, são insustentáveis. Ou se acaba com esta gente ou não deixarão de o ser.

8.2.12

António Borges de Carvalho

O QUE EXISTE E O QUE VALE


Mergulhado nas bocas sobre os “piegas”, o IRRITADO irritou-se com o Primeiro-Ministro. Que diabo, então o homem chama piegas aos cidadãos? A culpa será do fado, património da ONU, ou lá o que é? Será do “assistencialismo”? Como é que o fulano se foi lembrar de uma destas?
O Carlos lançou os seus anátemas trogloditas. O Jerónimo assanhou-se. O Louça professorou aleivosias. O Zorrinho zorrou paspalhices. A imprensa disse parvoíces. Um sururu geral, de indignação e repúdio. Manchetes, telejornais, um fartote.
Perante esta imparável escandaleira, o IRRITADO acabou por ir à procura das declarações que tanto frisson oposicionista e mediático provocaram.
Visto com estes que a terra há-de comer, foi assim: o homem, diante de uma plateia de educandos e educadores, disse que os estudantes deviam dedicar-se ao trabalho com afinco e, se falhassem, deviam procurar melhorar as suas aptidões em vez de esgrimir desculpas, acusando a escola, os professores, o sistema, a família, a sociedade, isto é, devia reagir com coragem em vez de procurar explicações piegas.
E foi a partir de uma coisa destas que se criou a generalizada gritaria sobre a tremenda ofensa que Passos Coelho fez aos portugueses, gente fixe, que deu mundos ao mundo, gente corajosa, que ganhou a batalha de Aljubarrota, gente impecável, que acabou com a pena de morte, gente hoje submetida a um “fraco rei”, “que fraca faz a forte gente”! Um ultraliberal despudorado, insultuoso, ignóbil, uma desgraça nacional.

Assim se fabrica a “verdade”. O que vale não é o que existe, mas o que se acha que devia ter existido, para facilitar a vozearia.

Já agora, vistas as coisas mais fundo, se o primeiro-ministro nos tivesse mesmo chamado piegas andaria muito longe da verdade?   

8.2.12

António Borges de Carvalho

OS JORNAIS, A PROSTITUIÇÃO, O PROVEDOR E O DIAP


O Diário de Notícias, jornal “de referência”, bem como o Correio da Manhã, que não é “de referência” mas vende que se farta, ocupam diariamente várias páginas com anúncios de meninas e meninos que se dedicam à nobre arte da prostituição, com elucidativas fotografias de rotundos rabos e patrióticas proeminências peitorais, volumosos escrotos, etc., para além de atractivos textos sobre as diversas especialidades à disposição da respeitável clientela. Um nunca acabar. Às centenas, todos os dias.

O IRRITADO, não por ser moralista mas para poupar explicações a criancinhas indefesas que, ao mais pequeno descuido, se debruçam sobres estas elucidativas mensagens, resolveu dar uma olhada ao Código Penal, onde encontrou o chamado crime de lenocínio, que condena o intermediário ou medianeiro que profissionalmente ou com intenção lucrativa, fomente, favoreça ou facilite o exercício da prostituição.
Perante esta meritória disposição legal, o IRRITADO resolveu escrever a Suas Excelências o Provedor de Justiça e o PGR, pedindo-lhes opinião sobre o assunto.
A resposta foi unânime. Do Provedor, com alta argumentação técnica. Do DIAP de Lisboa, a mesma coisa, ainda que com menos molho jurídico: não há qualquer ilícito, uma vez que a publicidade em causa não integra o conceito de intermediário ou medianeiro que profissionalmente ou com intenção lucrativa, fomente, favoreça ou facilite o exercício da prosttituição.
O IRRITADO, como é evidente, é um ignorante crasso nestas matérias. Por isso, não consegue compreender que os jornais que recebem dinheiro para propagar os negócios em causa não estejam a, com intenção lucrativa, fomentar, favorecer e facilitar o exercício da prostituição. Vá lá o sapateiro querer tocar rabecão, não é?
Se eu telefonar a uma menina ou um menino, encontrado nas nobres páginas dos jornais, a fim de contratar os seus serviços, é, técnicamente, indiscutível que o jornal que, com intenção lucrativa, favoreceu o meu encontro e o facilitou, fomentando-o, não só não ganhou nada com o negócio, como não o favoreceu, nem facilitou, nem fomentou coisa nenhuma, ainda menos a satisfação das minhas libidinosas iniciativas, não é?
Pelo menos é esta a conclusão a que, mui doutamente, chegam instâncias tais que o DIAP e o Provedor de Justiça.

Uma opinião brilhante, a ser utilizada pela RTP, que está falida, pela SIC, que está com falta de dinheiro, e pela TVI, que é doida por euros. Assim: a seguir ao Telejornal, quando os papás, as mamãs e os meninos vão para a sala, é de pôr anúncios, devidamente ilustrados, mostrando aos adultos onde e com quem se dessedentar, e propondo às criancinhas uma boa iniciação em nobres actividades, tudo com o desvelado apoio do DIAP e do Provedor de Justiça.


*


Nem de propósito, publicaram os jornais a notícia de uma sexagenária que foi presa por proporcionar ao povo os favores de uma cidadã brasileira, da qual recebia umas comissões.
Coitadinha da sexagenária! Então vai presa por fazer o mesmo que o Diário de Notícias  e o Correio da Manhã fazem tidos os dias a multiplcar por mil, sem que ninguém vá preso?
Mais uma vez é preciso declarar a ignorância do IRRITADO. Se soubesse alguma coisa destas sofisticadas matérias, não incomodava quem, técnica, moral, civil e criminologicamente, tem carradas de razão: o DIAP e o Provedor.

8.2.12

António Borges de Carvalho

MACABRO!

 

Quem concebeu a ideia de organizar uma sessão solene para assinalar o ano judicial terá pensado que tal sessão contribuiria para o prestígio da Justiça e do sistema judicial, para o respeito e a confiança do público em quem exerce a função. As mais altas instâncias, os mais confiáveis agentes da Justiça viriam, do cimo da sua dignidade e das suas vestes, lançar sobre o povo e o sistema a sua palavra de competência, dedicação e serviço.

 

Quem concebeu enganou-se. A III República transformou a celebração numa luta de galos, cada um mais repenicado na defesa da sua capelinha, cada um mais preocupado em fazer política que em servir a sociedade.

O bastonário dos advogados – um doido varrido – destilou o seu ódio ao governo e a tudo o que faça parte da sua agenda política. Durante anos, serviu-se do cargo para proteger o primeiro-ministro. Agora, utiliza-o para o efeito contrário, na pessoa da ministra da justiça.

O PGR, que ainda não percebeu que está no poder à custa da protecção política que prestou a dois governos, e da cobardia do Presidente e de mais um governo, continua a achar que devia ter mais poder, em vez de fazer e dizer menos asneiras.

O PSTJ veio determinar o que é “direito”, esquecendo-se que fez tudo o que estava ao seu alcance para negar direitos às pessoas mandando destruir provas em matérias do mais relevante interesse público. Tudo para justificar a manutenção dos “direitos” que a si próprio se atribui e metendo-se em matérias com as quais não tem nada a ver. Se quer dar lições, vá para as universidades.

A ministra veio defender a sua reforma, talvez a mais importante de todas as reformas do Estado. Coisa que pode e deve ser discutida, que pode e deve ser afinada e melhorada. O problema é que, se, no necessário diálogo, os interlocutores são os da sessão, não terá interlocutores, só inimigos, gente que não vê um elefante fora do adro da respectiva capelinha, gente que nada quer para além da defesa dos interesses corporativos, as mais das vezes mal interpretados e inquinados por vários egoísmos.

Duas notas positivas:

A primeira foi a ausência na sessão das sinistras organizações sindicais de juízes e procuradores. Algo me diz que, a continuarmos entregues aos actores actuais, um dia vê-las-emos por lá. Tarrenego! Por enquanto não. Ainda bem. Mais galos na capoeira, e os de pior qualidade, não!

A segunda, o discurso do Presidente. Apelou ao diálogo, à discussão, à concertação de esforços para melhorar as coisas e recuperar a eficácia e o prestígio da Justiça. Uma voz no deserto, é verdade, destinada a não ser ouvuda, mas ao menos alguém disse o que devia ser dito.

 

4.2.12

 

António Borges de Carvalho

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