O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA.
Winston Churchill
O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA.
Winston Churchill
Quem diria que o BE e o PSD estavam de acordo em alguma coisa?
E, afinal, estão juntos no mesmo propósito: refundar!
O BE quer “refundar o projecto europeu em torno dos direitos dos cidadãos e colocar o emprego e o Estado social no centro de todas as prioridades”.
O PSD quer “refundar o programa de ajustamento”.
Muito bem. Refundam, meus senhores, refundam!
O problema será como é que cada um quer refundar o que quer refundar.
No caso do BE, é fácil. Haverá largas e democráticas discussões entre os chefes de várias organizações da esquerda radical, gentilmente convocadas pelo BE para reunir em Portugal. Altos figurões da especialidade estarão presentes. Entre os mais cotados, na opinião do Bloco, o Tsipras, da Grécia, o Malanchon, da França, a Zimmer da Alemanha e o Lara, de Espanha.
Ninguém saberá dizer como é que a ilustre matilha refundará aquilo a que chama direiros dos cidadãos, coisa que, no estatismo visceral que os anima, custa uma fortuna aos ditos cidadãos. Muito bem, defendam aquilo a que chamam direitos. Já agora, se não lhes der muito trabalho, digam se têm outra maneira de os pagar, ao mesmo tempo que eliminam impostos e se deixam de demagogias. Era um favor que nos faziam. Querem empregos? Quem os não quer? Digam como. Haverá algum empreendedor, algum investidor encapotado, à espera que o BE ganhe as eleições para avançar na criação de emprego? Têm relações íntimas com alguns grandes grupos, dos que criam muito emprego, que se proponham trazer para Portugal? Tragam. Eram favores que nos faziam a todos.
Não é que o IRRITADO tenha alguma fé nas vossas refundações. Refundações inspiradas pelo vosso socialismo, só com polícia política, prisões, partido único, etc. Nunca foi nem será possível de outra maneira. De qualquer forma, apesar de o Louça e o vosso representante na SIC nunca tenham sido capazes de explicar como, a não ser com receitas “clássicas”, se descobrirem a pólvora, óptimo! Boa sorte.
Querem refundar o projecto europeu? Na base do socialismo revolucionário do Louça, do comunismo violento do Fazenda, do diletantismo intelectual do falecido Miguel Portas? Ou noutra base qualquer, coisa que não está ao vosso alcance?
No fundo, o que o IRRITADO lhes deseja não é boa sorte, é juízo.
O PSD é outra história, um pouco mais “terráquia”.
O chamado estado social é lindo, na mais generalizada opinião. Mas não há dinheiro para o manter. Coisa que, em boa verdade,até o camarada Pinto de Sousa, apesar das suas evidentes limitações, já tinha descoberto e vertido em PEC’s atrás de PEC’s. Haverá que refundá-lo noutras bases. As vigentes, já se viu, não dão. Não servem. Não há dinheiro que as pague.
Desde que o Estado nacionalizou a pobre Previdência Social da II República, desde que começou a ir lá buscar o nosso dinheirinho para fins outros que não os da aplicação razoável do que é dos outros, que o Estadio Social - invenção “europeia” do Prof. Marcello Caetano - estava condenado à falência. Mesmo assim, durou muitos anos. Não vai durar mais. Acabou.
E não é só o estado-social tout court, é, por exemplo, a educação, que sai mais barato ao Estado pagar a privados que quando actua como educador exclusivo. E por aí fora. Na saúde, por exemplo. Apesar dos fantásticos cortes nos medicamentos, apesar da ordem em que têm sido metidos incontáveis gastos e gastadores, não dá. Não há dinheiro.
Então, de que estão à espera? Se querem estado social, ou alguma coisa de efeito semelhante, terão que o refundar!
Apesar do coro de Seguros e companhia, que acham que o PM se esqueceu de explicar o que queria fazer com a sua refundação, difícil não é perceber. E mais. Refundar o programa da troica, disse o PM. Se os Seguros e companhia tivessem alguma coisa dentro da cabeça teriam percebido que se tratava de refundar, não o programa, mas o consenso indispensável para o levar a alguma coisa que se veja.
O PS, com os PEC’s, há muito começou a destruir aquilo a que chama estado social. Teria obrigação, como tem hoje a coligação, de o refundar, ou de o substitur por alguma coisa que tenha pés para andar.
Mas o PS só sabe fazer duas coisas. Quando está no poder, propaganda. Quando está na oposição: partidarite infrene, à custa seja do que for e tenha que consequências tiver. A este respeito, o IRRITADO gostava de se enganar. mas não tem nenhuma esperqança.
Não sei o que aconteceu ao Regulamento de Disciplina Militar, aos Tribunais Militares e a outros produtos que, de uma forma ou outra, vigoraram em Portugal até à III República. Presumo que tudo tenha sido revisto, que os militares, como todos nós, tenham ganho em cidadania e em benefícios do “Estado Social”. Como presumo que, como todos nós, no caso dos benefícios, estejam a perder.
Na questão da cidadania parece-me haver algumas confusões.
Quando se vê a tropa reunida em “associações” que, evidentemente, são sindicatos como quaisquer outros, tão reivindicativos e tão politicamente manobristas como os demais, parece evidente que qualquer coisa está mal.
Quando ouvimos o topo da hierarquia militar dizer, com evidente, demagógica e politiquíssima intenção, que os militares têm alma, família, etc., parece evidente que qualquer coisa está muito, muito mal.
E quando o mesmo senhor vem, de forma sibilina e ameaçadora, dizer que os militares não são “submissos”, então já não há palavras que cheguem.
Nem nos tempos da II República se pedia aos militares que fossem “submissos”! Exigia-se-lhes obediência hierárquica, que nada tem a ver com submissão. Vir, aqui e agora, sublinhar o conceito, tem, como é evidente, a intenção de justificar a insubmissão dos militares, ou seja, uma coisa a que, militarmente, se chamava, e pode ser que ainda se chame, “insubordinação”.
O resultado está à vista. Os militares passaram a ter os mesmos limites dos cidadãos comuns. Por isso querem, por bem ou por mal, proceder como eles. Mas, se ser como eles significar partilhar com eles os sacrifícios, então já são diferentes. É a “condição militar”, coisa óptima para ter certas vantagens, mas improcedente quando se tratar do contrário.
Pior do que o espectáculo das reuniões reivindicativas, das manifestações de rua, da diária presença dos amotinados na televisão pública, é o olhar benevolente como são toleradas, e até incentivadas, pela hierarquia. Ao mesmo tempo que o cidadão comum se prepara para ver reduzidas as mais diversas protecções estatais, saúde, educação, reforma, desemprego, etc., vê também o orçamento militar ser não pouco aumentado. Talvez seja explicável, talvez seja indispensável, talvez seja justo, sério e inevitável. Mas é muito difícil de “engolir”. E, pelos vistos, não tem efeitos "sociais".
Certas classes sociais e profissionais não podem, ou não deviam poder, ter estatuto igual aos do cidadão comum. Assim o escolheram, assim o aceitaram. Estão neste número os militares e os magistrados. Uns e outros, desde sempre, constituiram elites que se prestigiavam, pela função, é certo, mas muito mais pela forma como entendiam e exerciam tal função.
Hoje, são tão elites como os estivadores – fascistas e comunistas, a mesma luta! – os maquinistas da CP, os privilegiados da Carris e tantas outras classes, tão impantes de “direitos” e de exigências quanto indiferentes aos problemas dos demais.
Talvez este problema seja tão grave como os da crise. Terá solução?
As vozes da maralha não se cansam de atribuir ao governo o pecaminoso propósito de “ir além da troica”. As mesmas vozes debitam as maiores críticas aos falhanços de tal política. A verdade que daqui se extrai só pode ser uma: o programa da troica não chegava e, mesmo “acrescentado” pelo governo, não chegou.
Esta asserção, como é evidente, é falsa. É que parte de premissa errada: o governo é mais troiquista que a troica. Não é. Numas coisas terá feito mais, noutras menos. Mas, de um modo geral, está na linha do compromisso. Os resultados que, pela negativa, caracterizam a desgraçada etapa em que estamos, devem-se, de certeza, aos desmandos de seis anos de loucura, à crise internacional e, talvez, à fraca concepção do programa por parte de quem o propôs, de quem o negociou, aceitou e subscreveu. Outros houve que, por não ter outra opção, o aceitaram e subscreveram sem o ter negociado ou sem ter visto validadas as suas propostas, por boas ou por más que fossem.
Às vezes não é mau pôr as coisas no seu sítio. O problema é que coisas no sítio não fazem a especialidade da maralha. O governo é mau porque propõe e anuncia coisas horríveis. Mas ainda é pior quando desiste delas.
Tem-se visto a polémica que causaram os anúncios do ministro dito da solidariedade. O homem é horrível porque anunciou, mas ainda é pior por ter “desanunciado”. A maralha não perdoa que o homem lhe tenha retirado mais um motivo de barulheira. Então, se desistiu, já não podemos trucidá-lo? Que chatice! Se ele tivesse tirado o dinheiro aos velhinhos não era muito melhor?
Nesta triste situação, a única saída da maralha é continuar a criticar o mal que já não há, como se ainda houvesse. Inteligente, não é?
Posto isto, diga-se que o tal ministro já fez o suficiente para viajar até ao banco dos suplentes. Mas isso é outra questão.
O IRRITADO é um ingénuo. Tanto mal disse do inacreditável PGR Pinto Monteiro, agora, felizmente, ex-PGR, e ainda não tinha percebido bem em que águas se movia.
É certo e sabido que o dito senhor fez os impossíveis para safar o senhor Pinto de Sousa das variegadas tropelias que lhe eram assacadas. Mas o IRRITADO não tinha percebido porquê.
Substituído o senhor, eis que um escol de admiradores se reune para, irmanados em solidário ágape, lhe prestar a devida homenagem de despedida. Nada menos de 250 indefectíveis admiradores. Segundo os jornais, sobressaíam “vários” dirigentes do PS, entre eles o inevitável Almeida Santos e o ilustre jurista Alberto Martins, ambos celebérrimas figuras do partido e de outras coisas. De salientar também a presença do tresloucado Marinho e Pinto, uma espécie de A.J. Jardim de outras áreas, e reconhecido defensor oficioso do senhor Pinto de Sousa.
Dona Cândida Almeida, quiçá de obediência rival, especialista em confusões, primou pela ausência. O mesmo se diga em relação à dona Maria José Morgado, grande perseguidora de corruptos e afins, a qual, na matéria, jamais apresentou qualquer tipo de resultado, só tremendistas quão mal sucedidas bocas.
Havia montes de procuradores – estava lá a nova chefe, certamente por dever de ofício – a tornar-se visíveis, não fosse o diabo tecê-las.
Pode concluir-se que a fraternal gratidão não é palavra morta, que a profissional constância não é coisa para deitar fora e que a visibilidade burocrática ainda é um valor.
Como sinal de esperança, diga-se, uma cara nova é bom augúrio, não vão as coisas repetir-se.
Diz-se que o criminoso volta sempre ao local do crime. Sem que seja um criminoso em termos penais, o golpista político de nome Jorge Sampaio está de regresso ao teatro dos seus inúmeros malefícios.
Chefe incontestado e triunfante das guerras académicas de sessenta, Sampaio conseguiu, à altura, capitalizar a seu favor as asneiras da ditadura. Ao ponto de - ele ou os estudantes - ter posto do seu lado o Reitor da época, Marcello Caetano, que, e muito bem, se demitiu em solidariedade com o justo movimento estudantil.
Veio a III República e o grande democrata Sampaio foi fundador de um grupo extremista da esquerda mais ou menos caviar, que conheceu diversas designaçãoes, IS, GIS, MES, se de todas há memória. O grupo opunha-se ferozmente à realização de eleições, não porque, como defendia a II República, “o povo não estivesse preparado”, mas porque era preciso deixar desenvolver e consolidar o “processo revolucionário”, que ia assolando as ruas e destruindo as consciências. Depois logo se via quando e como haveria eleições. Ao contrário do que se possa pensar, não se tratava, como tantos outros, de um rapazola de 18 ou 20 anos, extasiado com maoismos ou patranhas do género. Não tem essa desculpa. Era um advogado experimentado, a caminho dos 40, com banca em zona nobre e clientes com fartura. Entre eles, alguns democratas perseguidos pelo regime e escolhidos a dedo pelo ilustre causídico. Não era qualquer um que tinha a honra do patrocínio de Sampaio, por muito que sofresse com a PIDE e afins. Era preciso “ter nome”.
Passada a fase mais revolucionária, em 79 ou 80, Sampaio descobre a democracia e entra para o PS, onde vem a, informalmente ou não tanto, assumir a direcção da esquerda do partido, corporizada à altura pelo célebre “secretariado”, coisa que, durante anos, se dedicou a fazer a vida negra a Mário Soares, que tinha “metido o socialismo na gaveta”.
Fugaz secretário de estado, líder parlamentar sem história que se lembre, após o redondo falhanço de Vitor Constâncio viu-se alcandorado (89/92) a secretário geral do partido, onde durou o que durou, mas pouco dele ficou. O seu sucessor, antigo parceiro no “secretariado” – Guterres – elevou-o a Presidente da Câmara de Lisboa, com os votos do PC. Uma coligação que o próprio tem rotulado de “histórica”, mas caracterizada pela feroz manutenção da burocracia camarária, pelas decisões “emocionais” e pela criação do que foi um dos monstros de inspiração soviética da III República: a primitiva EMEL. Viu a sua obra muito justamente classificada pelos taxistas de Lisboa, que chamavam “sampaios” aos buracos nas ruas.
Aproveitou a fuga irresponsável de Cavaco Silva e a ascensão de Guterres para se candidatar com êxito à Presidência da República, vindo a ser reeleito, como todos os outros. Aproveitou o “trono” para interpretar a Constituição à sua maneira, armando-se, por exemplo, em general das tropas, a fim de fazer os dias negros ao PM, isto infirmando os preceitos constitucionais na matéria, tal como tinham sido concebidos e defendidos pelo seu próprio partido. Mais tarde, sempre na mesma sanha esquerdóide, cavalgou a onda que os ódios de Cavaco levantaram contra o governo PSD/CDS e, reorganizada a esquerda com líderes frescos no PS e no PC, dissolveu o Parlamento, num golpe de Estado constitucional e partidário que nada, na história constitucional do próprio PS, justificaria. Assim reposto o seu partido no poder na ilustre pessoa do senhor Pinto de Sousa, a missão estava cumprida.
Foi-se embora satisfeito com ela, e é hoje luxuoso hóspede de reais instalações, no remanso tranquilo de um parque ao qual o cidadão comum não tem acesso.
Na disponibilidade, tem sabido aproveitar o seu glorioso passado para trabalhar para a ONU em missões de grande impacto, como a “luta contra a tuberculose” e a “aliança das civilizações”, coisas que ninguém dirá que avançaram fosse o que fosse sob a sua batuta, bem pelo contrário, mas que muito lhe enriquecem o currículo. Note-se também que, internamente, não deixou de assegurar a principescamente paga posição de chefe da fundação de Guimarães.
Terminadas, ao que parece, as tarefas internacionais, o nosso homem volta à ribalta política. É preciso dar cabo deste governo e pôr lá o PS outra vez. Assim, Sampaio, tanto tempo afastado destas lides, reaparece em tudo o que é sítio, consciente desta sua nova e nobre missão, na qual, apesar de tudo, honra lhe seja, consegue ficar a larga distância dos dislates de Mário Soares, das tiradas “intelectuais” de Pacheco Pereira e das ridículas histerias de Dona Manuela.
De resto, joga golfe.
*
Este post é um humilde contributo do IRRITADO para a biografia do impoluto cidadão, ora tão propagandeada ao mais alto nível da nossa inteligentsia e no mais largo espectro da nossa “informação”. Não servirá para nada, como é evidente, mas dá um certo gosto.
Estranhamente, só 82,5% dos portugueses preferem cortes na despesa a aumentos de impostos. Pelo menos é o que diz uma sondagem do “I”, dita Pitagórica.
Realce-se a qualidade da pergunta: prefere pagar mais impostos ou que o Estado corte nas despesas?
O IRRITADO perfilha a opinião dos 82,5%. Acha extraordinário que, feita a pergunta como foi, não se tenha obtido uma resposta unânime: 100%. Ninguém no seu perfeito juízo “prefere” pagar mais impostos. Dita a coisa de outra maneira, há 17,5% dos portugueses que não estão bons da cabeça. Será? É capaz disso.
A verdade é que Pitágoras fez as contas para o ângulo recto, não para o obtuso. Deve, a estas horas, dar voltas na tumba por alguém invocar o seu nome para coisas destas.
Indo um bocadinho mais longe na análise dos pitagóricos resultados, vemos que os tais 82,5% excluem cortes na saúde e na educação, ou seja, onde há mais despesa.
Onde se vai cortarentão?
Nas PPP? O corte já começou, ainda é curto, mas já vai nuns trezentos milhões, segundo se diz.
Depois, a preferência dos 82,5% são as empresas públicas, nacionais e municipais. Muito bem. Acabe-se com elas, a começar pelas dos transportes, diz o PItágoras, que são onde o buraco é maior. Depois queixem-se que o preço dos bilhetes aumentou e que uma data de gente foi para a rua. O IRRITADO não é contra. Privatizem-se as empresas de transportes. As outras monstruosidades públicas também deviam ir à vida. Quem as quer? E as dívidas? E as indemnizações compensatórias?
Os maquinistas? Os grevistas? Os oportunistas? Tudo para o olho da rua! Força! Tudo para o desemprego, já!
E os estivadores, talvez quem dá mais prejuízo à economia? Pontapé no cu, já!
É isto o que querem os 82,5% ?
O IRRITADO sugere uns cortes:
- Por exemplo, extinguir as empresas municipais, todas, e que os municípios tratem da sua vida com os funcionários que têm. O IRRITADO está de acordo. Ou então que privatizem serviços. O IRRITADO está de acordo. Quantos para o desemprego?
- Por exemplo, acabar, de uma vez por todas com as centenas de “observatórios” (o que será esta porcaria?) que por aí vegetam. O IRRITADO está de acordo. Neste caso, talvez a multidão dos desempregados não aumentasse muito, já que há anda por lá muita malta no biscate, ou no gancho.
Por exemplo, fechar a maioria das entidades, autoridades e outras inutilidades? Com certeza, já! Quantos desempregados? Estes, confessa o IRRITADO, não o incomodam sobremaneira.
- Por exemplo, perseguir os sinais de corrupção? Evidentemente! Óptimo, aqui não haveria muitos desempregados, nem o seu desemprego faria qualquer mossa. Como? Só há uma via: a judicial. Daqui a uns anos largos, a justiça que temos, depois de meter os pés pelas mãos até à exaustão, acabaria por parir um rato.
- Por exemplo, acabar com o outssourcing do governo. De acordo. Mas será um berbicacho. É que, diz quem sabe, se o governo pedir um parecer, um estudo, um draft, aos seus funcionários, estes levam seis meses para fazer o que os de fora fazem numa semana. Então? Pôr os funcionários a bulir? Pôr na rua os que não bulissem? Vexata questio!
Mais “por exemplos” haverá, com certeza. Não vale apena prosseguir esta listagem.
É claro, dirá quem lê, menos assessores, menos contínuos, menos motoristas, menos automóveis... De acordo. Tudo para o desemprego, já! Um fartote.
Menos funcionários públicos! De acordo. Meritocracia! De acordo. Quem não prestar, rua! E os privilégios? E os contratos vitalícios? E a Lei! E se a alterarem? Milhões na rua, aos gritos, à pedrada à polícia, a insultar tudo e todos. E, é claro, mais desemprego. Numa óptica “economicista”, como se diz agora à laia de insulto, poupava-se umas massas, isto é, passava a haver mais subsídios de desemprego que ordenados. O pior é que os tais subsídios são a prazo, como sempre foram. Desgraça!
Menos fundações? Pois claro. As que são do estado já deviam ter sido todas dissolvidas, extintas, acabadas. As funções que tinham e fossem precisas, passariam para a direcções gerais, sem aumento de pessoal. De acordo. Mais uma chusma de desempregados. As privadas, todas sem subsídios do Estado! De acordo. Quando muito, pagamento de serviços, serviço a serviço, e bem auditados. As outras, que fossem buscar dinheiro à sociedade civil. As que tivessem lucro que o entregassem ao Estado, que a função delas é “sem fins lucrativos”. A mesma coisa para as associações de natureza análoga.
Menos deputados? Sem dúvida. Mas vão lá dizer isso ao Seguro, que levou no toutiço de todos os barões da organização quando se lembrou de tal coisa. Vão lá dizer isso ao PC, ao BE, ao CDS, todos indefectíveies defensores dos cortes na despesa, mas que, como bons representantes do povo, desatam aos berros quando os cortes lhes batem à porta.
Em conclusão, os 82,5% dos portugueses que responderam sim à demagógica e desonestra pergunta dos pitagóricos, são exactamente os mesmos que se oporiam, nas ruas, nos sidicatos, nas confederações, na concertação social, a todo e qualquer corte que cortasse mesmo. Olhem o Krugman, grande guru da esquerda. Lembram-se do que ele disse: “ou vão aos rendimentos, quer dizer, aos salários, ou não têm solução.
Os 82% têm razão. Impostos é a pior coisa que nos pode cair em cima. O pior é que ninguém sabe, nem lhes perguntou, como é que se corta na despesa sem chatear ninguém, ou mesmo se, chateando muita gente, tais cortes resolviam o problema sem mais impostos. Propositadamente enganados por uns tipos que se dizem pitagóricos, estão à beira de encontrar a quadratura do triângulo rectângulo.
Pobre Pitágoras! Já tivemos para aí um que se dizia Sócrates. Só nos faltava um Pitágoras. O IRRITADO preferiria um Diógenes.
Parece que o PM falou ao telefone com um dos 500 implicados no caso do tipo das medalhas.
Parece que a chamada foi escutada por alguém não identificado.
Parece que o inacreditável ex-PGR mandou a gravação da chamada ao não menos inacreditável PSTJ.
Parece que o Expresso obteve uma informação qualquer a este respeito, e fez dela manchete.
Até aqui, tudo "normal", isto é, tudo como de costume.
Só que este costume, ferozmente defendido pelo senhor Pinto de Sousa e seus sequazes, é o de evitar a todo o custo que as escutas em que intervinha fossem públicas ou servissem para alguma coisa.
Só que, desta vez, o PM, não gostando, como ninguém gosta, que a Justiça mande cá para fora informações que estão ínsitas no respectivo segredo, acrescentou o contrário do que o seu antecessor acrescentaria: que não se opõe, de jeito nenhum, a que a tal chamada seja tornada pública. Até prefere que assim seja.
Não falta quem escreva e pense sobre duas tendências, pelo menos aparentemente contraditórias, que vêm fazendo o seu caminho por essa Europa fora.
“Mais Europa”, mais integração, federação, dizem muitos, por velho ideal. Outros dizem o mesmo, por circunstância ou interesse. Outros ainda porque acham que não há outro remédio.
Paradoxalmente, um pouco por toda a parte surgem fenómenos centrífugos, destinados a pôr em causa as Nações que o século XX nos deixou. Ele é a Escócia, ele é a Catalunha, o País Basco, a Flandres, a Lombardia...
As razões que assistem a estas comunidades, ainda que com desculpas em diferenças linguísticas, históricas ou culturais, são sobretudo de raíz económica. A Escócia porque tem quase todo o petróleo britânico, a Catalunha, o País Basco e a Flandres porque têm mais peso económico que as outras regiões. O mesmo com a Lombardia, que agora parece mais “sossegada”...
Cada um analizará, e julgará, a legitimidade e a utilidade destas tendências como entender. Não é esse o propósito deste post.
Ouvi ontem o camarada Costa tecer altíssimos elogios ao seu correlegionário Carlos César, patrão político bem sucedido dos Açores (talvez o arquipélago mais chato do mundo), pelo menos pelo triunfo eleitoral do sucessor que nomeou.
Não sei o que fez Carlos César de bem pela região.
Sei o que fez de mal pelo país.
Por exemplo:
Inventou um “estatuto autonómico” especial, conseguiu impingi-lo ao Parlamento Nacional, e arranjou a trapalhice jurídica e constitucional que se sabe;
Desobedeceu à lei geral do país, no que diz respeito aos rendimentos dos funcionários locais;
Recusou receber um navio porque, após certas alterações do projecto, dava menos dois nós (dois nós!) de velocidade que o previsto. Os estaleiros públicos de Viana do Castelo entraram na maior crise da sua história. Enganados por Pinto de Sousa e pelo seu amigo Chavez, só lhes faltava esta insular birra. Em matéria de solidariedade com os seus concidadãos continentais, estamos conversados. Não sei que elogios merecerá este artista. Bom é que se lhe aponte o contrário.
Os independentismos nacionais chamam-se “reforço da autonomia”. Não têm o peso económico dos habituais reclamantes, sabem que a independência seria fatal. Mas o Estado, para eles, é coisa para odiar e chantagear, mas de onde sempre vem vindo alguma coisinha, algum privilégio, algum pagamento da “insularidade”. Ou seja, na cabeça dos césares, o “continente” funciona como contribuite líquido, não merece “solidariedade socialista” nem consideração de espécie nenhuma. Quanto mais os respectivos líderes políticos fizerem contra o país, mais se dão ao respeito, e mais exigem e sacam. É assim que pensam, sejam quais forem as desculpas que para tal arranjem.
É assim na Madeira, passou a ser assim nos Açores.
Portugal perde soberania por razões que toda a genta conhece. Razões que têm a ver com a sua dependência externa, mesmo que para tal cada um proponha “remédios” diferentes ou opostos.
Mas perdê-la internamente, para não ferir “sensibilidades” insulares, é coisa que ultapassa o minimamente aceitável.
Já ninguém tem dúvidas sobre a situação a que chegámos.
O problema é o de saber se há hipóteses de sair dela, e quanto tempo pode levar.
As “soluções” da extrema esquerda são o que são: baboseiras irrealistas e irrealizáveis, em que ninguém minimamennte inteligente acredita, a não ser que ainda ande a pensar nas maravilhas do socialismo real, sanguinárias, miserandas – a miséria igual para todos é uma forma de “igualdade” - como a história não se cansa de demonstrar. Coisas que jamais funcionaram, a não ser mediante a criação de uma nomenclatura qualquer, que tanto se protege como se autoflagela, locupletando-se com o que há de melhor e mantendo os demais na bicha para o pão.
“Soluções” de extrema direita, por cá não são conhecidas.
Também há as “soluções” dos que propõem a divisão da sociedade em “ricos” e “pobres”, e defendem que, se se tirar aos ricos se dá aos pobres, tudo ficando equilibrado. É a mais mentecapta de todas as “soluções”. Primeiro, porque não há ricos, em termos de dinheiro que pudesse salvar o Estado sem arruinar o que ainda mexe. Depois, porque todo o dinheiro dos chamados ricos, menos as respectivas dívidas, cabe na cova de um dente do monstro que nos consome. E mais porque tal dinheiro é “valor”, não liquidez e, mesmo que roubado aos “ricos” não serviria para pagar meia dúzia de dívidas, e implicaria a venda do tal “valor” aos credores e a entrada do desemprego e da miséria em progressão geométria.
O mesmo se passa com aqueles que peroram no sentido de acabar com os “mamões”, e tudo se resolve. Não quer dizer que não fosse bonito haver Clios em vez de BMW’s, que não haja desperdícios e mordomias que deviam acabar, e por aí fora. Quer é dizer que tais exageros, mesmo que “moralizados” não seriam, para o monstro, mais que papel higiénico. Dir-se-á que muitos poucos fazem muito. É verdade. Mas também é verdade que não se caça elefantes à pedrada.
Há a outra “solução”, que ninguém ao certo saberá se funciona ou funcionará a médio prazo: aquela que o senhor Pinto de Sousa motivou, criou, negociou, aceitou e subscreveu na véspera de não ter dinheiro para pagar ordenados, e que os outros dois partidos tiveram que aceitar, sob pena de, a estas horas, não haver nem pensões nem salários nem prestações sociais. É sabido que, safando a bancarrota num certo momento, tal “solução” tem continuado a safar-nos dela. Mas também é sabido que os almejados resultados não tiveram lugar e que a situação se agrava.
Por outro lado, também não restam dúvidas de que nem tudo depende seja de que “solução” interna for. O dinheiro migrou da Europa para outras latitudes. O que resta por aí está caríssimo, e quem ainda o tem está tão aflito como os demais, porque já percebeu que, sem uma transformação económica qualquer, em breve fará parte deles. Uma mera questão de tempo. Olhem o Hollande!
Tudo isto foi motivado pelo sonho da excelência da globalização para todos, da abertura dos mercados, da informação global, virtualmente ilimitada, sem fornteiras e em tempo real, da desprotecção aduaneira, da liberdade de circulação de pessoas e capitais, etc. Tudo ideias fantásticas, se tivesse sido possível à Europa, ou exportar os seus modelos sociais, ou dar saltos tecnológicos de tal ordem que o mundo inteiro continuasse dependente da “vanguarda” europeia, tão adiantada que compensaria os abismos salariais e sociais em presença. Pode também perguntar-se a quem acusa estes fenómenos de ideológicos, se, dados os avanços tecnológicos que emergiram, outra coisa seria possível.
A indústria de base foi exportada. A transformadora, em grande parte, também. Daí que, inevitavelmente, o dinheiro começasse a ter cada vez menos a ver com a economia real e cada vez mais consigo próprio. No fundo, a corresponder a coisa nenhuma.
Toda a “ocidentalidade” está em crise ou para lá caminha. Nós só somos dos primeiros. Talvez pudéssemos também ser dos primeiros a sair dela. O problema é que ninguém quer arriscar.
E as “soluções” do governo Passos Coelho? São pura “infelizmência”, ou podem ajudar a ganhar tempo? A ganhar tempo para quê?
Certo é que o dia de amanhã será pior que o de hoje. Da forma imaginada pelo governo ou de qualquer outra forma. O PS faria o mesmo, desta ou de outra maneira qualquer. Esperneia, mas faria o mesmo.
Ganhar tempo. Muito bem. Mas é preciso saber para quê. A resposta é só uma: para ir buscar dinheiro onde ele está, sem que seja a crédito. Virar o rumo. Sair para o mar outra vez, de outra maneira. Alargar o perímetro das alianças económicas. Explorar novos recursos que por aí há. Poupar, se houver dinheiro para tal. Criar mais valias, na atracção do investimento, na agilização da Justiça, numa luta brutal e sem tréguas contra a burocracia.
Eis o verdadeiro desafio que Passos Coelho enfrenta, ou devia enfrentar. Leva tempo mas vale a pena.
O problema, neste particular, é que o governo se tem deixado enfraquecer, que o “aliado” não é de confiança, que a Constituição e o respectivo Tribunal não ajudam nada nem ninguém, que o principal partido da oposição perdeu por completo o Norte e se entretem com rodriguices partidocráticas e meramente destrutivas.
Arriscamo-nos a perder a oportunidade que conseguimos ao eleger uma maioria que julgávamos não se perder em hesitações e larilices.
Parece que o doutor Gaspar lançou um repto ao CDS, a fim de que aquela distinta organização tenha a amabilidade de informar onde se propõe ir buscar mil milhões em cortes na despesa de Estado, sem que tais cortes se relictam negativamente na vida de ninguém, antes pelo contrário, aliviem a desgraça de todos nós.
O IRRITADO desde já agradece ao CDS que resolva este problema, o que será mais um precioso serviço prestado à Pátria.
O IRRITADO não tem por hábito ter contactos com o “Expresso” on line. Empurrado para lá, dá com estes mimos informativos:
Título: “Confrontos em São Bento fazem onze feridos”.
Mais abaixo: “segundo a PSP, onze pessoas ficaram feridas, dez das quais agentes”.
E ainda: “Os manifestantes atiraram pedras, garrafas e outros objectos contra a polícia. Foi esta a razão que, segundo a polícia, levou à detenção de um manifestante”.
Apetece dizer no coments. Mas é demais. Para quem lê só o título, a “notícia” diz que a polícia feriu onze manifestantes. Para quem for mais abaixo, verifica que, afinal, era só um. Os outros feridos eram polícias. Mas, atenção! Isto é “segundo a polícia”. Sabe-se lá se é verdade! E mais: parecendo certo que os manifestantes atacaram os polícias à pedrada e não só, como se pode imaginar que a polícia tenha tido a lata de prender um manifestante? E, mesmo assim, tal detenção é também “segundo a polícia”. Alguém acredita?
Se o “Expresso” não fosse um jornal inteligente, culto, sério, etc. teria escrito a verdade, sendo que a verdade segundo o “Expresso” é mais ou menos como segue:
Um vasto grupo de cidadãos exemplares, indignados com a presente situação, foi protestar à porta da residência do PM. Este, em tremurenta manifestação de medo do justo encontro popular e do povo em geral, fez-se proteger por inumerável contingente de polícia de choque, armada até aos dentes. Uma vez que alguns manifestantes, no exercício da sua justa fúria, atiraram alguns inofensivos objectos às forças policiais, estas reagiram com a usual brutalidade, tendo causado onze feridos. Vários manifestantes foram molestados, dizendo agora a polícia que foi só um.
É isto o que o “Expresso” diz. De forma sibilina, nas entre linhas, talvez no legítimo uso daquela espécie de publicidade dissimulada em que é especialista. Parabéns.
17.10.12
António Borges de Carvalho
E:T: No tempo da II República, contava-se uma anedota mais ou menos assim:
No jardim zoológico, um leão comeu um funcionário da limpeza.
O “Times” noticiou: Em Lisboa, a falta de segurança no jardim zoológico local levou a que um empregado fosse comido por um leão.
O “Diário da Manhã” escreveu: Um pobre leão, barbaramente atacado por um notório comunista, reagiu em conformidade, tendo acabado por ser abatido por alguns elementos da célula do atacante.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Lá bem no fundo, a deontologia é de natureza paralela. Sendo paralela, a de hoje não se cruza com a de ontem, mas, no fundo no fundo...
A grande viragem política que o jornal privado chamado Público encetou meses atrás com a tomada do poder por uma nova direcção tem vindo a conhecer interessantes desenvolvimentos. Começou, como é sabido, pela “dispensa” de colaboradores, entre eles a melhor ensaista política da nossa imprensa, Helena Matos. E foi fazendo o seu caminho por diversas vias, a ascenção do senhor Lof, as frustações políticas do inacreditável Pacheco, os editoriais, a saga dos telefonemas do Relvas, coisa esta tão nebulosa que acabaram por ter que despedir a sua criadora, etc.
Os resultados estão à vista. As vendas a descer, a publicidade também, e, finalmente, umas dezenas de trabalhadores para o olho da rua.
Como não podia deixar de ser. O amigo Belmiro não anda por aí para sustentar buracos.
Quem ler as últimas “reportagens” com um mínimo de atenção facilmente conclui que a pressão dos acontecimentos obrigou a ideologia dominante (vender, vender, vender) a tomar o freio nos dentes.
Os negócios do PM enquanto operador privado foram a primeira escolha. A partir de uma “boca” de dona Roseta – quem lhe der credibilidade que a coma por boa – construíu-se uma teia de putativas influências, destinada a demolir o governo. Quando digo putativas, estou a referir-me, não a “bocas”, mas ao que vem escrito nas entrelinhas e sobre os documentos da Ordem dos Arquitectos que, ou esvaziam as “acusações”, ou “despareceram”, ou onde “nada consta”, etc.
Agora (hoje) em altas parangonas, retoma-se a saga. Escutas telefónicas.
Uma primeira e nobre activiade para a nova PGR: investigar quem continua a borrifar no segredo de justiça.
O que dizem tais escutas? Nada de especial. Um empresário faz diligências para não perder um negócio. Coisa ilegítima? Parece que não? Corrupção? Nada consta. Tráfico? Népias. Processo? Nenhum. Investigação? Sim, mas sem ter nada a ver com o assunto. O próprio jornal, sangrando-se em saúde, o confessa, explícita e implicitamente.
O que resta então?
Resta que o “Público” está em crise e quer vender jornais seja lá como for. Resta que o elo mais fraco do governo (Relvas) continua a servir de bombo da festa, havendo de convir que há muito devia ter ido à vida, como o IRRITADO não se cansou de aconselhar, a ele e ao chefe dele.
Resta que os clientes que o “Público” conquistou com a saída do Silva, madeirense fala barato e esquerdalho, e com o consulado do moderado Fernandes, vai ficar sem jornal, se é que ainda o tem.
Resta que o “Público” tem os dias contados.
Espera-se que os habituais comentadores do IRRITADO não misturem estas coisas com (todas) as notícias de que, em tempos, foi objecto o senhor Pinto de Sousa. É que, para bom jornalismo, há que ter alguma coisa a que se agarrar...
O PGR cessante teve a ambilidade de vir dizer que não concorda com a nomeação da sua sucessora.
Porquê?
Porque a senhora é membro activo do sindicato dos magistrados lá da casa. Tem o PGR cessante toda a razão, ainda que, de um ponto de vista meramente cavalheiresco, talvez não o devesse ter dito.
O tal sindicato, mesmo dando de barato a legitimidade da sua existência, coisa que levanta as mais profundas e justificadas dúvidas, é uma organização super politizada, que se mete onde não é chamada, que manda bocas sobre tudo e mais alguma coisa que nada tem de sindical e que, por essas e por outras, não é objecto da mais remota simpatia por parte da generalidade da população. Esta, como é natural, vê na coisa (mais) um motivo de falta de confiança nas instituicões judiciais.
Talvez não seja por acaso que, no coro unânime de elogios à senhora (não é, ao IRRITADO, legítimo duvidar das excelsas qualidades da dita), a pertença aos órgãos dirigentes do tenebroso sindicato seja sistematicamente obliterada ou careça de qualquer destaque.
Há para aí uns dez anos, o autor do IRRITADO publicou um livrinho em que, entre outras coisas (algumas em que, hoje, já não tem razão, ou já não a tinha na altura), se pronunciava sobre o número de deputados e a sua forma de eleição.
Tanto tempo depois, o tema volta às páginas dos jornais e à luta política.
A primeira verificação é a da própria Constituição, que diz dever haver um número de deputados entre os 180 e os 250. A lei eleitoral veio a consagrar os 250, mercê de raciocínios ou conveniências cujas justificações já escapam.
Se formos buscar uma democracia que, ainda que não escrita, funciona bem melhor que a nossa, a Britânica, veremos que, para um universo de cerca de 70 milhões de cidadãos, há quase 700 deputados, sendo a Câmara dos comuns tida por superpovoada. Seguindo proporção semelhante, deveríamos ter por cá um máximo de 100 representantes.
À altura, pensava o autor que os círculos uninominais não eram desejáveis. Isto porque, diz a nossa experiência parlamentar, os chamados “deputados da província”, escolhidos pelas concelhias e distritais dos partidos, as mais das vezes se limitavam a votar no plenário segundo as ordens dos partidos e a sentar-se nas comissões fazendo figura de corpo presente. De quando em vez lá se valiam de alguna prerrogativa regimental para arengar do púlpito sobre os anseios lá do sítio. Ninguém ligava bóia ao que diziam (nem os jornalistas), mas tinham a suprema glória de ver o discurso publicado na gazeta local, referidos nas missas de Domingo e, talvez, discutidos no café e na sociedade recreativa. Raras vezes tinham qualquer importância. E, se a tinham, nem sempre era da melhor maneira. Basta lembrar o orçamento do queijo limiano, em que aqueles a quem o deputado local queria agradar nada ganharam, e só foi útil a quem o partido do deputado se opunha.
Não há dúvida que o nosso sistema proporcional é, teoricamente, o mais justo. Os deputados são eleitos por partidos, e cada partido tem o número deles exclusivamente dependente da sua percentagem por círculo, entre nós por distrito.
O escopo, segundo a vox populi, está na falta de conhecimento dos eleitores em relação às pessoas que elegem, a que que se segue que os deputados lhes pagam na mesma moeda, pouco se preocupando com os que os elegeram.
O problema é complicado, porque, segundo os princípios da Democracia Representativa, uma vez eleitos os deputados representam a Nação no seu todo e não só quem os elegeu. É estranho, mas compreende-se: trata-se de impedir a criação de uma assembleia orgânica, coisa própria de ditaduras.
Segundo este correcto princípio, e sendo o universo eleitoral um só, deveria haver um só círculo. Como, aliás, se passa com as eleições para o parlamento Europeu.
Voltando um pouco atrás, verifica-se que, praticamente, não há democracias avançadas que não tenham uma câmara alta, normalmente um Senado, onde, desejavelmente, se encontram representadas regiões, universidades, personalidades “indiscutíveis”, certas figuras da cultura, da economia, etc. Uma câmara mais orgânica, destinada a moderar e informar o processo partidário parlamentar, tendo muitas vezes e em certos casos poder de veto sobre as decisões da chamada câmara baixa.
Entre nós, o processo constitucional foi inquinado pela “fuga” ao “fascismo”. Como a assembleia da ditadura se chamava “nacional”, resolveram chamar-lhe “da República”. Como a ditadura tinha uma câmara Corporativa, decidiu-se que devia haver uma só câmara. Ao contrário de todos os que nos são próximos – o Reino Unido, a França, A Espanha, a Itália, a Alemanha... – escolhemos o unicameralismo. Em termos de sistema político outras asneiras se cometeram, como essa coisa bacoca do semi-presidencialismo à portuguesa, coisa que em parte alguma existe. Mas não é isso que, de momento, importa. Estamos a falar do número de deputados e do sistema eleitoral.
Quando se fala de diminuir o número de deputados, coisa com que, virtualmente, qualquer cidadão de bom senso não pode deixar de concordar, logo se levanta o coro dos partidos mais pequenos, que acham que vão ter menos representantes. Não se percebe bem porquê, já que, se forem só cem deputados, todos os partidos, proporcionalmente, os perderão.
A coisa atinge as raias de loucura com as propostas recentemente avançadas. Como o PSD sempre foi a favor, mas está coligado com o CDS, o PS resolveu vir à liça, não para baixar o número de deputados, mas para, ou criar atritos dentro da coligação, ou poder acusar o PSD de ter abandonado a sua histórica posição, ou ainda de esta ser mais uma mentira. Depois, é o PS quem cai no ridículo, já que umas dezenas de “locais” que iriam, fatalmente, perder a oportunidade de ser eleitos, começaram a fazer negaças ao Seguro. Uma pessagada idiota.
Tudo isto quer dizer que, entre nós, é muito difícil falar de coisas sérias.
Se falássemos a sério, trataríamos de eleger um parlamento com, por exemplo, dois deputados por província, mais uns tantos por lista nacional, sendo que os eleitos provinciais seriam obrigados a dispôr, como nos países mais evoluídos, de escritórios locais para atendimento dos eleitores, escritórios onde, obrigatoriamente, prestariam serviço pelo menos dois dias na semana, Sábados incluídos.
Sempre de forma a não ultrapassar os cem. Uma espécie de numerus clausus.
Trataríamos, como por exemplo em França, de permitir, distritalmente, a candidatura de qualquer cidadão, com ou sem apoio partidário. Umas tantas assinaturas e pronto.
Trataríamos de eleger uns vinte senadores, de arranjar outros na academia, nas Forças Armadas (reservistas ou reformados de grande prestígio), nas IPSS, outros de nomeação presidencial com critérios semelhantes, num máximo, por exemplo, de quarenta, com duas ou três reuniões mensais.
Trataríamos de arranjar um sistema político mais equilibrado e mais representativo.
Mas não tratamos de nada. É um, mais um, dos nossos problemas.
Não se pense que o IRRITADO está a “impôr” o “seu” sistema. Não. Está, muito simplesmente, a pensar no assunto.
Haja quem pense. Haja mais quem pense, desde que sem um só elemento de interesse pessoal, partidário, doutrinário ou de clube.
Aqui há uns anos, quando o fugitivo em Bruxelas se candidatou e ganhou as eleições, uma das suas bandeiras eleitorais – não lhe chamemos promessas, porque essas... – era, se bem me lembro, a do “choque fiscal”. Consistia, ao contrário do que hoje nos habituamos em termos de choques fiscais, não no aumento de impostos mas na sua forte redução. Não foi assim que Tatcher e Reagan recuperaram as economias dos respectivos países? Indiscutível.
O que aconteceu? Veio a Dona Manuela e, consciente do “pântano”, aumentou os impostos, criou a célebre “entrega especial por conta”, e foi acusada por tudo e por todos, a começar pelo pretendente Pinto de Sousa, de estar a arruinar a economia e, pelo futuro golpista Sampaio, de não perceber que “há vida para além do défice”.
Quem tinha razão? Barroso e o “choque fiscal”, Dona Manuela e o aumento de impostos, Pinto de Sousa e a sua berraria inconsequente sobre a economia, ou Sampaio e a sua “vida”?
Não se sabe. O que se sabe é que as baixas de impostos são (eram!) por definição e hábito, apanágio dos chamados liberais, e que os aumentos seriam iniciativa mais própria de governos socialistas/social-democratas.
Seríamos levados a crer que a dona Manuela tinha razão. Antes de tomar medidas sérias para reanimar a economia, impunha-se dar saúde às contas do Estado. O que não impediu que estas continuassem a deteriorar-se, nem que a despesa pública continuasse a subir. Dona Manuela teve pouco tempo para provar que tinha razão, ou para que se chegasse à conclusão que estava errada. A seguir, Bagão Félix, mal começou a governar, Sampaio deu cabo do governo sem que nada fosse possível concluir. A esquerda estava reorganizada e o que era preciso era pô-la de novo no poder.
Veio o Pinto de Sousa. Parecia que tudo ia, finalmente, caminhar sobre rodas. Aqui e li, alguma coisa útil se fez. Até que se percebeu, tarde demais, que não havia dinheiro para pagar o que se fazia, bem ou mal. Os impostos começaram a subir, as prestações sociais a descer, as dívidas a aumentar geometricamente, a bancarrota a avizinhar-se. Até que... foi o que se soube na altura e o muito mais que se foi vindo a saber a seguir. A ruína estava instalada.
Voltámos à vaca fria. Um governo acusado de neo-liberal (?!) veio aplicar receitas socialistas: aumento de impostos, descida das prestações socias e dos salários, etc. Dir-se-á, com carraas de razão, que não tem outro remédio.
Parece haver, da parte deste governo, uma espécie de “tática” fiscal. Faz-se anúncios brutais e dificilmente compreensíveis (a TSU a passar de um lado para o outro, o “enorme” aumento de impostos) para, logo a seguir, se desistir de uma e se anunciar a “mitigação” da outra. Do ponto e vista da opinião pública, esta forma de conduzir as coisas parece não dar grande resultado. O polícia mau (Gaspar) ataca. O polícia bom (Passos Cpelho) vem amansar os ataques. Será?
Não se sabe. Sabe-se, sim, que as coisas estão feias, que vão ficar ainda mais feias, restando a esperança que, no fim do caminho, tudo comece a mudar. Quando? Há quem diga que o chamado ajustamento não sem pode fazer em menos de cinco anos e que mal chegámos ao fim do primeiro.
O governo, à custa de dizer que não queria mais tempo, acabou por ganhar o almejado 4º ano. Se não tivesse sido firme não o teria ganho. O governo tentou cumprir os compromissos do Pinto de Sousa. Mas os compromissos não chegavam, já que o ponto de partida era bem mais baixo do que se julgava. Mas a fidelidade aos compromissos, além de um ano mais, teve efeitos positivos nos juros, nos prazos e na predisposição dos mercados. É claro que o camarada Zorrinho já veio dizer que tal não é mérito do governo, mas do BCE. Partidarite mais aguda e mais rasca é difícil de imaginar. Podia, ao menos, dizer que a coisa tinha duas origens convergentes. É por estas e por outras que o tal governo da “salvação”, com os três partidos, é um nado morto.
A dona Manuela, mãe e madrinha dos primórdios da austeridade, de sociedade com outros frustrados, ciumentos e sedentos de palco, também se compraz em teorias e teoremas totalmente carentes de demonstração. O socialista cristão Portas, bom ministro dos negócios estrageiros, faz as vezes de ofendido e ameaça dar cabo da coligação, coisa em que o CDS sempre foi especialista.
Vamos a ver o já célebre orçamento, anatemisado pelo PS mesmo antes de nascer.
Sobretudo, vamos a ver se as núvens negras que por aí andam nos conseguem arranjar um trinta e dois, capaz de meter num chinelo o actual trinta e um.
Depois de, internamente, ter falhado a gigantesca campanha desencadeada pelos costumeiros arautos da desgraça sobre as terríveis consequências da barragem do Tua para o ambiente, a paisagem, o nosso futuro, a produção de energia, o diabo a quatro, resolveram os “defensores” destas coisas, profissionais do contra, ir fazer queixinhas à ONU, ou coisa que o valha. Para eles, a ONU tinha a mais elementar obrigação de cancelar sem mais aquelas a classificação da região do vinho do Porto como “património da humanidade”.
O IRRITADO não faz grande ideia sobre as vantagens da honra em causa, mas não deixa de registar a sanha de destruição e atraso que anima certas estruturas bem pensantes e modernas que não deixam de prejudicar a Nação, ao mesmo tempo, é de ver, que vão recebendo dela uns tostões para os seus “projectos”.
Desta vez, lixaram-se. Andaram por aí uns peritos da ONU a fazer altos estudos das mais variadas disciplinas e matérias, o que deve ter custado umas massas a alguém. Findos os trabalhos, chegaran à conclusão que a barragem não fazia mal a ninguém e que a respectiva albufeira teria desprezível impacte sobre a região, a paisagem, a produção vitivinícola, etc. e tal. Segundo os craques da ONU, o tal impacte afecta cerca de 0,000n da região, e até é capaz de ser benéfico em termos ambientais!
Vamos a ver a reacção dos bem pensantes. São capazes de fazer queixa ao Tribunal Constitucional, ao Tribunal Europeu, ao Papa, a Deus e ao diabo. Desde que nos prejudiquem e que se vangloriem, tudo para eles está certo.
Isto de energias renováveis é muito bonito quando se trata de arruinar a paisagem com moinhos de vento, de produzir energia com as necessárias back solutions, leia-se centrais térmicas “de reserva”, e toneladas de subsídios a debitar ao consumidor.
Energia hidráulca, nem pensar. Coitadinha da paisagem, cheia de belíssimos lagos, de reservas hídricas e de produção energética!
Lembram-se de Foz-Coa e dos milhões de contos que lá ficaram enterrados sem outra contrapartida que não fossem mais milhões para o buraco? Lembram-se das patadas dos dinosauros que, em vez de guardadas em museus, obrigaram à construção de caríssimos túneis? Lembram-se dos “lobódromos” por baixo das auto-estradas?
De um modo geral, as instâncias internacionais só nos trazem más notícias. Como, desta vez, trouxeram uma boa, assinale-se.
Como já foi dito neste blog, o 5 de Outubro, se houvesse vergonha política e seriedade histórica, não seria objecto de comemorações. Uma golpada que acabaria por lançar o país, primeiro, na mais miserável bagunça e, a seguir, em 48 anos de ditudura, não é coisa que se comemore, antes que se assinale como desgraça.
Mas as coisas são como são. A III Repúbica existe e trouxe-nos coisas positivas, podendo compreender-se a obliteração das múltiplas indignidades que marcaram os seus dois primeiros anos. Aceite-se que se comemore, desde que afastada das anteriores, que não realizaram qualquer avanço nas liberdades públicas nem realizaram progresso social e económico que se visse. E que fosse comemorada em 25 de Novembro.
A III República está em crise. Crise que vai muito para além dos apertos económicos em que se vive. O descontentamento, mal informado pelo governo, ou desinformado por um exército que vai dos legitimamente descontentes aos interesseiros e aos mass media, é levado a pôr em causa tudo e mais alguma coisa, a começar pelo governo e a acabar nas Instituições.
Estas, por seu lado, parecem não saber defender-se, prestigiar-se ou justificar-se.
A cena do 5 de Outubro é disso marcante. Demos de barato a história da bandeira da República de pernas para ar, inocente vítima da pressa ou da ignorância de um funcionário qualquer.
O pior foi o que veio a seguir. Primeiro, a falta de savoir faire dos intervenientes. Nem o anfitrião Costa nem a estrela do filme, Cavaco Silva, tiveram a presença de espírito para, no momento, num gesto de bom humor, mandar emendar a coisa, desvalorizando-he a importância. Depois, mais grave que tudo, realizar uma cerimónia institucional à porta fechada, sem outras presenças que as dos convidadios.
É sabido que as cerimónias do 5 de Outubro jamais congregaram mais que escassas dezenas de populares, os mais deles para ver o espectáculo da parada, outros que, por acaso, por ali andavam, talvez alguns a dar pífios vivas à República. Nunca foi coisa a que o chamado povo desse qualquer importância.
O medo, a cobardia, a falta de coragem física e moral, a ausência de sentido das mais que previsíveis consequências, conseguiram transformar um acto sem significado de maior em termos poulares, em mais uma forma de descredibilizar a III República e as suas instituções. A popular que furou a “bilheteira”, é certo que aos gritos, não perturbou o vazio do discurso presidencial nem a declaração de oposicionismo e de “disponibilidade” do Costa. Em vez de haver alguém (um assessor so Presidente, um funcionário do Costa...) que acolhesse a senhora e lhe desse alguma esperança, nem que fosse a promessa de verificar e estudar o seu caso, não senhor, deixaram-na nas mãos dos seguranças, e estes fizeram tão só o que deles se podia esperar.
Ainda não se viu escrita nos jornais – pelo menos o IRRITADO não viu – qualquer justificação para o sucedido. O Presidente da Câmara pediu desculpa por causa da bandeira. Ora bolas! E o resto? De quem foi a culpa? Dele? Do Presidente da República? Do Dom Fuas Roupinho? Parece que, como a culpa não foi do governo – que não tinha a ver com a organizaçao – não interessa que fosse de mais ninguém.
Resultado: para a vergonha, ninguém tem cara. Para a exploração política, há caras com fartura, do inacreditável Mário Soares às bruxas opinadeiras do costume, passando pelo troglodita Alegre.
Dir-se–ia que, para o IRRITADO, confesso depreciador da Institução Republicana, a pessegada a que se assistiu só serviria de gozo e de chacota. Não é assim. O IRRITADO tem respeito pelas Instituições existentes, mesmo achando que deviam ser diferentes. Por isso que ache que o 5 de Outubro de 2012 foi um tiro no corpo já tão magoado da III República e do que, apesar de tudo, ela ainda tem de respeitável.
Ele há várias oposições ao governo: as que contam e as que não contam, isto é, aquelas com que o governo se deve preocupar e aquelas com as quais não vale a pena perder tempo.
Nestas, como é evidente, agigantam-se o PC e o BE. Senhores de fácil paleio, apresentam, com ligeiros cambiantes, a mesma receita, coisa que até o mais estúpido percebe que só pode levar às maiores calamidades económicas e políticas. Talvez, em eleições, subissem um pouco, à custa de repetir críticas imediatas e primárias, na esperança que haja mais quem coma disso. Não há. Têm um discurso dito democrático, mas, quem quiser saber o que lhes vai na alma, leia as arengas do Jerónimo no novo programa: loas a Staline, vivas à URSS, e bolores do estilo. A ditadura está-lhe na massa do sangue. Disfarçada para papalvo ver, não deixa de lá estar por isso. Vir à tona será mais difícil, é preciso esperar pelas “condições objectivas”. O BE não anda longe disto. Vai disfarçando, mas o “substracto” é o mesmo, em versão disfarçada mas afim.
A seguir, temos as mesnadas sindicais da mesma origem. Desta vez, conseguiram pendurar-se no protesto legítimo, espontâneo e inorgânico que surgiu semanas atrás, para apregoar a requentada cartilha do marxismo-leninismo e tentar capitalizar às costas de terceiros.
Finalmente, temos o PS, a nave dos loucos. Uns, muitos, defendem receitas socrélfias, qua não há quem não condene. O actual chefe é, unanimemente, considerado oco. Coitado, está entalado entre um passado vergonhoso, que tem medo de criticar, e o memorando da troica, de que não gosta mas a que não pode fugir.
Nenhum destes sectores, e senhores, é susceptível de meter ao governo medo que se veja. Deixá-los espernear. Não marcam golos.
Vejamos agora o que são as oposições propriamente ditas, as que destroem, as que ferem, as que são um problema sério para o governo. As primeiras estão no próprio governo. É a falta de explicações, é o pudor de dizer qual a verdadeira situação que veio encontrar, é a teimosia do Relvas em ficar a todo o custo, sem cuidar da descredibilização que causa. É, sobretudo, a pouco séria e catastrófica atitude do senhor Portas e seus próximos. Incapaz de perceber que, se entrou no barco, tem obrigação de não soprar velas ao contrário, Portas tem, ou devia ter a obrigação de tratar das questões intramuros e não na praça pública. Não deve, ou não devia andar para aí a fazer cara de pau. Acima de tudo, tem, ou teria, a mais elementar e patriótica obrigação de não pôr os interesses do partido acima dos do governo.
Depois, temos a mais feroz ainda porque mais demolidora, oposição interna do PSD, coisa endémica que só Sá Carneiro, por autoridade pessoal, e Cavaco, por taxos, conseguiram dominar. Desta vez, corporizam-na fulanos como Pacheco Pereira, que ainda não ultrapassou a dor de corno que a queda da sua “patroa” Manuela lhe causou. Integra-a a própria Manuela, diz-se que por ordem de Cavaco, o que é não é certo. Dor de cotovelo é mais provável. Depois vêm autores menores, mas não menos perigosos: Capucho, por exemplo, senhor das mais tremendas frustrações, às quais reage com destrutiva brutalidade até que lhe deem uma câmara qualquer. Isto sem contar com o Marcelo, viciado nestas coisas e incapaz de ver para além dos seus interesses mediáticos e económicos. À horda, talvez com alguma surpresa, veio juntar-se há dias o Marques Mendes, quiçá ao cheiro de poder pessoal, dadas as suas boas relações com o PR.
Há mais, mas fiquemos por aqui. São estes os que, “patrioticamente”, demolirão o governo, se Passos não os defenestrar de algum modo. Lembrem-se de Santana Lopes (nome a nome, o melhor governo que tivemos na última década), que foi demolido pelos mesmos.
Em suma, o que falta à nossa política, hoje em dia, é bom senso, lealdade e honra.
Há oitocentos e não sei quantos anos, o nosso 5 de Outubro ficou marcado pelo tratado de Zamora, documento em que, finalmente, o poderoso vizinho castelhano reconhecia a existência da Nação portuguesa e se deixava, para já, de pretensões sobre o que tão duramente vinha correspondendo às aspirações de um povo que não aceitava a soberania de terceiros.
Data a comemorar, sem dúvida, mas data que, por jacobinas razões, não se comemora.
Outro acontecimento, ocorrido oitocentos anos mais tarde, soe servir de masturbação intelectual para uns reumáticos mentais. Falamos, é claro, do 5 de Outubro do século passado, data em que uns bandos de intelectuais burgueses, acolitados por assassinos e anarquistas – nada a ver com o povo propriamente dito - deram uma golpada citadina que, aproveitando fraquezas várias e várias traições, cortaram com sete séculos de história e conseguiram impor uma nunca sufragada república.
Como não podia deixar de ser, a tal coisa – a república – redundou na mais horrível bagunça, recheada de perseguições aos sindicatos, à Igreja, a tudo o que mexesse, com bombas, assassínios em série, degredos, prisões, censura, um nunca acabar de negação do que a demagogia revolucionária prometera, tudo acrescido uma guerra com a qual a Nação nada tinha a ver, com o mais fanático imperialismo e com a consequente miséria generalizada do povo.
Depois, exauridas as finanças, miserada a economia, morta ou gaseada a juventude, a república brindou a Nação com uma ditadura feroz, politicamente inaceitável, economicamente “humilde”, financeiramente brutal,mas financeiramente honesta.
Mercê de reivindicações militares, 48 anos depois, a república deu-nos uma nova coisa, o socialismo, de evidentes e catastróficos resultados, como é evidente nois nossos dias.
É isto, não o tratado de Zamora, o que hoje, ou ontem – já não sei a que horas escrevo – se comemorou, felizmente, no meio do mais extraordinário ridículo.
Içaram a bandeira, repetindo o gesto dos republicanos em 1910, sem sequer saber que, em 1910, ninguém içou bandeira nenhuma e que a bandeira que hoje representa a república, não a Nação, nem sequer existia. Ainda por cima, içaram-na de pernas para o ar.
O comemorativo pessoal escondeu-se, depois, a bom recato, para se ouvir a si próprio. Ouviu-se o Presidente a dizer coisa nenhuma. Ouviu-se um tipo dizer, em substância, que é preciso, de uma assentada, dar cabo do governo e do chefe da oposição, para que o dito tipo possa tomar o poder.
E ouviu-se Mário Soares dizer que não ia lá porque “o povo não estava lá”. Homem “do povo”, como é sabido, estava ofendido. Um punhado de ignorantes aplaudiu-o freneticamente.
Ninguém se lembra que “o povo” jamais apareceu em tais palhaçadas. No tempo da ditadura, meia dúzia de gerontes ia pôr umas flores na estátua do António José de Almeida, perante o olhar trocista da PIDE. Durante a III República, umas dúzias de mirones e passantes iam à Praça do Município “aplaudir” a república.
Por isso que, afinal, seja de louvar que, desta vez, a manifestação jacobino-maçónica se tenha posto a bom recato. É que, assim, poupou tempo aos passantes e não impediu o trânsito.