O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA.
Winston Churchill
O SOCIALISMO É A FILOSOFIA DO FRACASSO, A CRENÇA NA IGNORÂNCIA, A PREGAÇÃO DA INVEJA. SEU DEFEITO INERENTE É A DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA DA MISÉRIA.
Winston Churchill
Para abrilhantar uma sessão totalmente destituída de sentido ou influência, o casting,comandado por Mário Soares, descobriu uma estrela: o reitor Nóvoa.
(Diga-se entre parêntessis que isto de reitores anda, q.b., muito por baixo, pelo menos desde aquelas diatribes lançadas por altura em que o ministro Gaspar suspendeu certas despesas durante uma semana. Houve um ou dois reitores que vieram à praça pública dizer que os alunos iam morrer de fome, coitadinhos, porque não havia dinheiro para pagar as cantinas! Por outras palavras, que os fornecedores de paparoca iam fechar a torneira por um atraso de dez dias nos pagamentos! A politiquice rasca, a demagogia primitiva destes reitores pôs a classe de rastos.)
Para continuar, ou parar, a tendência, nada melhor que pôr o reitor Nóvoa, ilustre compagnon de route, a dizer de sua justiça.
Era de calcular o que viria a acontecer se alguém “mais alto” não viesse. O discurso de Mário Soares serviria para agitar as massas, mas não tinha mais substância que a já estafada e inconsquente cassete do botabaixo. Não passaria daí, como não passou. As intervenções das organizações presentes, para além de afinar pelo mesmo diapasão, seriam inevitavelmente meras repetições das mais que repetidas agendas das respectivas organizações. Fatal. Foi mesmo assim.
Daí que chamar um reitor seria arranjar alguma coisa de novo, ou de nóvoa, capaz de agitar as gentes com algo fora das cassetes do costume. Genial. O homem desempenhou o seu papel na perfeição. Parabéns. A assistência, percebendo ou não, vibrou. Que diabo, um tipo que vem “de fora”, que sabe falar, que até é capaz de saber português, era uma coisa nova, inédita, fantástica. E foi. Os basbaques aplaudiram, num frenesi, depois retomado pela imprensa e outros do género. O problema é que, espremido o limão da oração de sapiência, o homem disse coisa nenhuma. Outros termos, outros floreados, outra estilística, outra oratória. Já não é mau. Substância, zero!
Vale-nos saber que a coisa já está devidamente esquecida. O reitor voltou para a universidade, dará por lá as suas lições académicas e politicoides, mas já ninguém sabe quem o homem é. Os fulanos dos partidos voltaram aos seus gabinetes, a obrigação está cumprida, a luta continua, a ver se, um dia, se ganha uns votinhos. Mário Soares foi para casa muito contente, e ainda bem – para ele.
E assim se consumou a coisa. Fogo fátuo, parlapaté déja vu, inflamações várias, novoeiro.
O que continua é a vida, mais má que boa, mas que não tem nada a ver com estas celebrações. Nem com Mário Soares.
Até há três ou quatro anos, costumava o autor destas linhas ser convidado para as chamadas “Conferências de Antalya sobre Segurança e Desenvolvimento”. Durante uns doze anos terá faltado a uma ou duas. Tudo se passava no tempo em que a democracia turca, ressuscitada após a ditadura dos anos 80, florescia, ainda que vigiada pelos militares. Estes, herdeiros privilegiados de Atatürk e da sua revolução democratizante, ocidentalizante e laica, munidos de constitucionais poderes, conseguiam manter à distância as tendências mais ligadas ao islamismo e a formas de legitimidade quiçá piores que as dos miltares. Foi assim que o partido do actual primeiro-ministro foi afastado, mesmo quando terá ganho umas eleições.
Essas conferências, fosse qual fosse o tema que apregoavam, destinavam-se fundamentalmente a pôr alguns políticos e académicos ocidentais - europeus e americanos - perante o “direito” a que achavam que a Turquia fazia jus, de pertencer à CEE, depois UE. Lembro-me das inúmeras vezes em que procurei convencer os meus amigos turcos do falhanço dos seus objectivos, pelo menos pelo que ouvia nos discursos das várias personalidaes presentes, políticos, militares, académicos. É que, para além da “fé” democrátrica e ocidental, os discursos escorregavam sempre para questões que para os oradores, eram (e continuam a ser) inultrapassáveis: a questão grega, a questão curda, a questão arménia, a questão cipriota, por exemplo, tudo memórias, preconceitos e temas que diziam pouco aos presentes mas que os turcos (os moderados, os democratas!) não conseguiam dominar nem disfarçar, nem que fosse só para ocidental ouvir.
Já o IRRITADO estava definitivamente afastado das suas andanças turcas, o partido do actual PM acabou por se instalar no poder. Legitimamente, diga-se. O homem conseguiu dar uma imagem de moderação e, que diabo, ninguém tem nada a ver com a religião de cada um! Tínhamos por cá o exemplo da Democracia Cristã que, sendo de base religiosa no plano dos princípios, tratava de política, não religião. Muito menos de impor fosse que religião fosse. Animados por tal exemplo e pouco dados a hegemonias militares, os ocidentais confiaram no senhor Erdogan.
Veio a chamada primavera árabe, que toda a gente já percebeu ter sido rapidamente transformada em pasto de fundamentalistas, jiadistas e quejandos. Os ocidentais, a princípio, saudaram a viragem, crentes que os países dela protagonistas iam entrar em terreno de liberdade e legitimidade do tipo a que estamos habituados. Estulta ilusão. Assim como acreditámos, ou alguns políticos acreditaram, que era possível “exportar” a democracia para o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, a Tunísia, também a generalidade das nossas opiniões públicas embarcou na esperança de passar a ter interlocutores que pensassem de maneira parecida ou afim da nossa.
O fenómeno chega agora à Turquia, o que é ainda mais inquietante que o que noutros teatros se passa. É que o retrocesso vem do poder instituído, que começa a mostrar a sua verdadeira face. As bebidas alcoólicas são reprimidas, as mulheres são encorajadas a voltar ao véu, os jornalistas são presos às centenas, o estado laico corre os maiores perigos e ataques. Há pancadaria nas ruas, é certo. Há quem resista. Mas o mal está no poder, parece ser maioritário, e o ocidente arrisca-se a ver “borregar” o país que pensou poder ser o tampão ideal para indesejáveis investidas.
Se se tivesse metido a Turquia na UE, se se tivesse afogado a Turquia nos regulamentos e nas idiotices de Bruxelas, talvez o senhor Erdogan não tivesse o topete que tem. Agora, é tarde. A primavera turca aí está, a saber a inverno.