O QUE É O FADO?
Segundo o conhecido musicólogo António Costa, o fadista Carlos do Carmo “devolveu o fado àquilo que é”. Sem menosprezo pelo fadista desaparecido enquanto tal, é de perguntar se o fado, antes dele, não era fado. Então o que era?
Em tempos idos, fui apreciador de fado, qualidade que fui perdendo ao longo do tempo. Hoje, o fado é-me mais ou menos indiferente. Raramente o ouço, o que não envolve, para sim ou para não, qualquer crítica.
Feita esta declaração de (pouco) interesse, ocorre-me perguntar se, no meu tempo - Carlos Ramos, Herminia, Marceneiro, Maria Teresa de Noronha... – o fado “não era fado”. O que seria, ou teria deixado de ser, antes de Carlos do Carmo o "devolver", na douta opinião do chamado primeiro-ministro? O que é “devolver” o fado?
A segunda República apoiava o fado. A terceira também. O fado foi passando, independentemente dos regimes. Será que, na segunda República, Caxias abarrotava de fadistas, guitarristas, músicos, autores, etc.? Será por isso que foi preciso devolvê-lo? Não me parece.
O fado é um género musical que não tem a ver com classes sociais, fortunas, posições políticas ou outros critérios. Atravessa a generalidade da sociedade sem outra medida que não seja a de “gostar do fado”. Carlos do Carmo terá sido, para quem goste do seu estilo, um grande intérprete. Não apoio nem contesto. Não tenho opinião.
Qual será o critério do musicólogo Costa para achar que o fado foi “devolvido” à Pátria por este seu ilustre intérprete? A resposta, parecendo difícil, é facílima. É que parece que Carlos do Carmo era adepto do PS e do PC. Daí a passar a grande português e a grande fadista não vai, na cabaça do Costa, qualquer distância. É um critério inteligente, culto, próprio de um profundo conhecedor deste género musical, acima de qualquer apreciação. Quanto mais à esquerda se for, melhor músico se é.
É a cultura do regime.
4.1.21