DA MISÉRIA MORAL
Em mais uma inacreditável operação de demagogia barata, o senhor Pinto de Sousa anunciou um ataque aos “ricos”, nos quais se inclui, ao que diz, por ter um vencimento de cinco mil euros por mês.
Antes de mais, conviria verificar o que são esses cinco mil euros. Vencimento, diz ele. Se calhar é verdade. E o resto? As despezas de representação, as ajudas de custo, os automóveis, o pessoal ao seu serviço, de borla, os telefones de borla, a gasolina de borla, a residência de borla, os comes e os bebes de borla? É verdade que tudo isso é devido a um primeiro-ministro. Mas também é verdade que nada disso paga impostos e que facilita a vida de tal maneira que, perante um cidadão que tenha como única fonte de rendimento um salário de cinco mil euros por mês, o primeiro-ministro é um milionário e o outro um pedinte.
As declarações do homem a este respeito são, pelo menos por isso, uma repugnante aldrabice, um atentado à inteligência de cada um, uma baixeza sem nome.
Se acrescentarmos que o senhor Pinto de Sousa mora num andar de luxo (ao tempo da compra, o prédio mais caro de Lisboa), tem um automóvel de luxo, veste marcas, mesmo que pirosas caríssimas, etc., como escarrapachado nos jornais sem que haja desmentidos, então veremos ainda mais longe, ou seja, onde chega a lata, a desfaçatez, a falta de carácter do indivíduo que diz governar-nos.
Mas não é tudo. Esta arrancada contra os “ricos”, dita para “redistribuir o rendimento”, é coisa que, feitas as contas por todos os que as fizeram, redistribuiria, se fosse redistribuída em vez gasta em despezas malucas, a fabulosa importância de menos de um por cidadão.
Daqui se conclui que a intenção do senhor Pinto de Sousa, do PS e do governo tem tanto a ver com redistribuição, com justiça, com preocupação pelos mais desfavorecidos, como o rabinho tem a ver com as calças. Com a diferença que as calças escondem o rabinho e que, neste caso, o rabete fica de fora.
O objectivo desta gente é, por isso, de todos o mais miserável: explorar os mais baixos sentimentos dos cidadãos: a inveja, o ódio gratuito, a malevolência da frustração.
Será possível descer mais?
14.2.09
António Borges de Carvalho