ABSTENÇÃO
O IRRITADO não tem o hábito de se abster quando há eleições, nem entende lá muito bem porque tem votado nas presidenciais. Desta vez, vai ser coerente: não vota. Já o disse, não sei de nestas páginas se noutro sítio qualquer.
Olhem para isto. Dos candidatos que importam, temos três. O Marques Mendes, que não é má pessoa mas não entusiasma ninguém; o putativo Seguro, que não é antipático, que, coitado, até já foi vítima da maior traição da triste história política da III República e que, se tivesse juízo, não se sujeitava a ser traído de novo pela gentalha burgessa e ordinária a que (ainda!) está ligado e que não lhe liga nenhuma; e o soldado oportunista que escolheu como principal aliado e magno trunfo um tal Rio, de horripilante memória. Outros candidatos? Nem pensar, nem para raminhos de salsa servem.
Parece que o militar goza da preferência dos do Chega e de uma dúzia de nóveis dissidentes do PSD. Apanhará os restantes na segunda volta, se a houver.
Um presidente eleito directamenle mas sem poder político é uma contradição nos termos. Resta-lhe a "magistratura de influência", patacoada em voga. Só serve para baralhar e mandar bitates e/ou beijinhos, para além de dissolver o parlamento quando não há outro remédio ou quando lhe der na presidencial gana, como já aconteceu. Não passa de um perduricalho do regime. De resto, não pesa, mas é pesado .
Na Europa mais próxima da nós, é uma triste originalidade. Só em França o PR é eleito directamente. Mas é o chefe político do governo e do país, com limitados limites (passe a expressão) parlamentares e judiciais. De resto, à nossa volta (Itália, Alemanha...) os Presidentes são figuras escolhidas pelo parlamento, de entre pessoas com prestígio pessoal generalizado, capazes de desempenhar as funções protocolares e de representação do Estado de que a Constiuição os encarrega. O resto são Monarquias. Umas sete. As Monarquias europeias “presidem” às melhores democracias do mundo. Com aprovação parlamentar praticamante unânime, representam o que os partidos políticos – que são “parciais” por natureza, e bem - não podem fazer : a História, a cultura, a nacionalidade, a “maneira de ser” de um povo, a tradição, a unidade do Estado, enfim, o que é comum a todos e é base da razão de ser das comunidades políticas indepemdentes.
Não sei se é a nostalgia de um Rei que está (consciente ou inconscientemente) na origem das preferências dadas ao militar auto proclamado independente, pelos portugueses. Mas não é absurdo pensar em tal. As Monarquias que se mantiveram na Europa demonstram-no à saciedade. As 2 Repúblicas que já tivemos e a que temos, também.
2.6.25