CAMPANHA NEGRA
Dona Maria Barroso Soares, ex-“primeira dama”, ex-presidente da CVP, velhinha lamurienta e convencida, publicou um indignadíssimo artigo na imprensa, em tremebunda defesa do seu pupilo Pinto de Sousa.
Em lead, uma frase lapidar. “Para se ganharem (sic) eleições não vale tudo”! “É preciso respeitar os valores de uma sociedade humana, justa, livre e pacífica”.
Parêntesis: apetece-me começar por dizer que, em português, o sujeito indeterminado é sempre do singular e que, por isso, o predicado nunca pode estar no plural, uma vez que o verbo concorda com o sujeito e não com o complemento directo. Uma senhora que se diz culta e intelectual - diz-se que até foi professora num colégio - não tem desculpa para este tipo de asneira.
Se a asneira fosse só esta, enfim, seria da idade.
O artigo não passa de mais uma lamúria apropriada à patética campanha eleitoral do senhor Pinto de Sousa. Ridícula gritaria, a “virar o bico ao prego” e a assacar ao PSD as “culpas” das investigações policiais que têm o homem como suspeito, quer ele goste quer não, quer dona Maria goste quer não, quer o PGR diga que sim ou que não.
A “defesa” do homem não adiantou, até hoje, um único argumento concreto que permita às pessoas ajuizar da sua inocência. Nada. A “defesa” é exclusivamente formada pelas acusações a terceiros, umas vezes corporizados pela imprensa, outras pelo PSD, outras por alvos desconhecidos. É esta a verdadeira e única campanha “negra”, a que aposta em acusar os outros dos males que afligem os seus autores.
O artigo da ilustre actriz Maria Barroso adianta novos “argumentos”. Foge da treta dos “poderes ocultos”, das manobras “negras” e dos esoterismos que são habituais no discurso da clique do costume.
Como senhora de princípios, o que a revolta é a “calúnia” e a “cobardia” coisas que lhe causam “indignação e pesar”. Intrépida defensora dos que julga inocentes, atribui as “calúnias”, a “cobardia” e as “apreciações maldosas” aos que têm um “posicionamento sectário oposto ao do quadrante político” do senhor Pinto de Sousa, e dela própria.
Graças à senhora, ficamos assim a saber que a Scotland Yard e o Serious Fraud Office são organizações cobardes, caluniadoras, que fazem apreciações maldosas. Falta dizer que são do PSD, mas está implícito. Demos graças à senhora por tão inteligente descoberta: a grande culpada é a secção britânica do PSD!
O superior raciocínio da senhora, quiçá inspirado pelo Doutor Salazar, leva-a a dizer que todos, mas todos, qualquer que seja a nossa cor política, devemos “unir-nos para melhor podermos (um infinito impessoal conjugado, num complemento circunstancial!) suportar o que nos oprime”. “Devemos… darmo-nos (outro pontapé na gramática, xiça!) as mãos para, todos juntos, seguir no caminho luminoso da solução dos problemas.
A “modesta cidadã” (coitadinha!) não diz que temos a mais elementar obrigação de seguir o senhor Pinto de Sousa, o seu bem amado chefe. Seria salazarismo a mais. Mas a única conclusão que se pode tirar das suas esclarecidas palavras é que a defesa intransigente do primeiro-ministro é a única forma de passar a crise, tal como, há quarenta e tal anos, era a fórmula mágica para conservar o Império e manter a “ordem”. Um chefe é um chefe, que diabo, não é, dona Maria?
Depois de umas considerações meramente repetitivas, lá volta a “modesta cidadã” ao ataque: “Para se disputarem (sic) e ganharem (sic) eleições não vale tudo!”. Ora como o PSD é o único, para além do PS, que pode ganhar as eleições, aí está, verrinosa e teimosa, a mensagem, que é o único objectivo do artigo: preciso é “malhar” no PSD, não à maneira ultramontana do Santos Silva, mas de forma mais sofisticada.
Se lhe fosse permitido dar um conselho a tão ilustre pessoa, o Irritado dir-lhe-ia que fosse aplicar esta receita ao seu fantástico marido que, de vale tudo, sabe tudo.
O mais irritante do discorrer da criatura são os últimos parágrafos do escrito. Neles a senhora faz a lamúria da “solidariedade”, da “humanidade” da “justiça” etc., blá, blá, blá. Quem for “da situação”, é bom. Quem não for, vai parar ao inferno. Pelo andar da carruagem, antes do inferno, ainda vai ter um mar de chatices, que com o Pinto de Sousa não se brinca.
16.2.09
António Borges de Carvalho