COELHOS E COELHAS
Aqui há tempos, a RTP presenteou o respeitável público com um programa deveras original. Tratava-se de discutir a questão do Freeport.
Eufemisticamente chamado “Prós e Contras”, o programa não passou, como o Irritado e muito mais gente tiveram ocasião de observar, de um prós e prós desde o princípio até ao fim. O que estava em causa não era o caso Freeport, mas como safar o primeiro-ministro do caso Freeport.
Quando ouviu dizer que, nesta segunda-feira, haveria um novo programa do mesmo modelo dedicado ao “casamento” de pederastas com pederastas e de fufas com fufas, a minha pobre alma ficou a pensar se não se trataria de mais um prós e prós.
Não se tratava. Mas… tratava-se.
Não se tratava porque, apesar do que mais adiante direi, dona Fátima, desta vez, arranjou umas pessoas realmente pró e outras realmente contra.
Mas, se pensarmos um pouco mais além, hemos de reconhecer que, ainda que de forma mais sofisticada, os prós e prós lá estavam. Como? Na simples “oportunidade” da coisa.
É mais que evidente que o assunto em discussão não interessa absolutamente nada à esmagadora maioria dos portugueses. O pessoal nem sequer entende que a mesma gente que acha o casamento coisa de somenos, que protege e acarinha as “uniões de facto”, que facilita o divórcio ad nauseam nem que para isso tenha que criar uma monumental pastelada jurídica, que acha maravilhosa a existência de mães solteiras e de “famílias” monoparentais, que promove relações sexuais à la carte e à lagardère, que adora o exibicionismo bacoco dos hábitos de cada um, se preocupe em promover o “casamento” desses cidadãos. O casamento já para pouco lhes interessa. Mas, se quem está em causa for pederasta ou fufa, então passa a ser o mais importante dos temas. A esquerda é assim, “coerente” e “humana”
Não se tratava do desemprego, dos problemas dos bancos, das maluquices dos professores ou das da ministra, do estado da Justiça, da falta de segurança, das obras públicas, das eleições… Nada disso.
Tratava-se de trazer para a agenda das pessoas um tema que interessa ao senhor Pinto de Sousa, para colmatar a sua total ausência de ideias de futuro, satisfazer o seu desenfreado populismo pré-eleitoral, dar largas ao ridículo vazio da sua mente, num momento em que quase só lhe resta o patético e desesperado esbracejar que a situação em que se encontra provocou.
Ora como há que distrair as pessoas do que é importante e de as fixar naquilo que o senhor Pinto de Sousa elegeu como tal, a dona Fátima e o “serviço” público de televisão trataram de fazer o competente frete. Daí que, qualquer que fosse o resultado da discussão, a sua simples existência preenchia um valente pró-pró para a “situação”.
Posto isto, convirá fazer algumas observações sobre o papel dos intervenientes.
Do contra estavam em destaque o Padre António Vaz Pinto e um senhor Patto (com dois tês, como a dona Ritta), juiz desembargador. O primeiro argumentou de forma convincente, mas foi prejudicado pelos seus cristianíssimos sentimentos, pouco lhe faltando para dizer que, casados ou não, os interessados tinham lugar cativo no Reino dos Céus. O segundo nada disse que tivesse ficado na memória fosse de quem fosse, ou impressionado fosse quem fosse.
Do outro lado do palanque sentava-se duas estranhas personagens. Um senhor professor não sei quantos, diáfana criatura, estava muito triste por não ter possibilidade de “casar” com o companheiro. Afirmava que tinha esse “direito” e que a sociedade era má para ele. A seu lado, uma jovem senhora que se tinha pela pessoa mais importante do mundo, falava ex-catedra, de forma o mais desagradável que imaginar se possa. Não sei qual era a “religião” sexual da senhora, mas é evidente que quem tivesse a ousadia de a considerar da “igreja” do parceiro do lado, se ainda o não fosse ficaria incuravelmente “homófobo” (neologismo do léxico do clã). A criatura passou a noite, ou a metralhar o povo com diatribes jurídico-histéricas, ou a fazer as mais incríveis caretas de ódio e malquerença, mimo de desprezo e superioridade, ora acusando as pessoas de não estar à altura de perceber as suas doutas opiniões. Ao que consta, a dita é filha do Prof. Adriano Moreira, de quem terá herdado a paternalista superioridade sem herdar o talento ou a sabedoria. E mais, acerca dela, não digo.
Se formos para a plateia, coisas interessantes haverá a referir. A putativa amante do primeiro-ministro rivalizava em antipatia com a doutora Moreira. Duvido que alguém possa apreciar o estilo, sem sentir algum homofóbico impulso. Acresce a imagem desagradável de uma mulher vestida de forma apalhaçada, meias azul metileno, saia já não sei de que cor, botina para-militar, informe e farfalhudo casaco amarelo canário. Sei que é feio criticar, ou o físico ou a forma de vestir seja de quem for. Mas desta feita, que Deus me perdoe, não resisto à tentação, uma vez que tal indumentária não pode deixar de ter a ver com o “substrato” de cada um, ou de cada uma, por maioria de razão.
Temos, ainda do lado dos prós, um senhor professor cuja argumentação, de carácter jurídico-íntimo, pouco adiantou. Trata-se, segundo informadores que o Irritado considera fidedignos, do pai de um doce rapazinho, doce mas importantíssimo, uma vez que é presidente
(presidento, ou presidenta, diria a señora Saramago)
de uma associação de pederastas e fufas exibicionistas, coisa a que, confesso, tenho dificuldades de adaptação, uma vez que, no meu tempo, não existiam tais coisas, embora existissem pederastas e fufas. O senhor professor, por conseguinte, é “sogro” do diáfano colega, o tal que ocupava posição de destaque ao lado da desagradável doutorona Moreira. Um affairede famille, como devem compreender. Tratando-se de tal coisa, sejamos discretos e, em defesa da privacidade de cada um, limitemos o estro.
Contámos ainda com a douta presença do senhor Daniel Oliveira destacado membro do partido comunista que dá pelo nome de Bloco de Esquerda. Já que se trata de um tipo simpático e inteligente, demos-lhe o benefício da dúvida de pensar que, com o tempo, alguma luz lhe entrará no bestunto, fazendo-o deixar-se de disparates mascarados de “defesa de direitos” ou de outras maravilhas cujo conceito o mesmo tempo, esperemos, clarificará no seu espírito.
De destacar também um outro professor
(muito professoral anda a história, a inculcar que se trata de uma questão de “cultura”),
senhor magrinho e desgastado, que acha a pederastia uma questão “bíblica” e que se sente descriminado pela Igreja Católica por não poder matrimoniar-se com a devida pompa e reconhecimento civil.
Do lado dos contras da plateia, é de, tristemente, destacar um senhor que é presidente não sei de quê, que meteu os pés pelas mãos e nada de interessante veio trazer ao debate.
Finalmente, dois jovens, inteligentes e articulados
(eles é que deviam estar no palanque!),
demonstraram por a+b que, como dizia o camarada Louça num raro momento de lucidez, para fazer um casal é preciso uma coelha e um coelho.
Em resumo, duas conclusões se podem tirar do debate em causa:
-
Que o triunfador da sessão foi o senhor Pinto de Sousa, porque conseguiu pôr as pessoas a pensar no que ele quer que elas pensem, em vez de pensar no que lhes interessa;
-
Que as pretensões dos interessados não ganharam nada com a história, já que não se acredita que, com defensores daqueles, alguém minimamente inteligente ganhe afeição à “causa”.
Se, como quer um senhor do PS antes de ser saneado, a coisa for a referendo, é mais que evidente que será chumbadíssima pela população.
Se, como propõe o senhor Pinto de Sousa na laboriosa construção da sua cortina de fumo pré-eleitoral, a esquerda parlamentar se impuser, aí teremos um monumental pontapé no nosso direito civil. Em tal circunstância, mais uma vez exorto os casados a que se preparem para o divórcio seguido de união de facto, a fim de não partilhar da, doravante estropiada, instituição do casamento.
António Borges de Carvalho