CONTINUIDADES SOCIALISTAS
António Luciano Pacheco de Sousa Franco, uma boa pessoa que a luta entre as mafias socialistas acabou por matar, foi meu colega e, ainda que distantemente, meu amigo.
Na última vez em que estivemos juntos, pouco antes da sua morte, num jantar em casa de amigos, beberricámos scotch até às cinco da manhã, as nossas mulheres e os donos da casa a passar pelas brasas nos sofás, as minhas invectivas contra as amizades políticas dele, os seus argumentos “defensivos” e sérios, as memórias de muita coisa, os desejos que, embora por caminhos diferentes, ou até opostos, tínhamos em comum.
Na semana que se seguiu à sua morte, o “Expresso” entrevistou a viúva, dando-lhe honras de capa da revista e extensas páginas de palavreado. A senhora, em resumo, punha-se “à disposição” do PS para “continuar a obra do marido”. Ainda as cinzas do senhor não tinham arrefecido, já ela saltava para o galarim, antes que o combóio saísse da estação.
Acabou por ficar, muito pregadinha, com lugar cativo na bancada do PS.
Quando hoje se vê a fotografia do senhor Alegre e das suas quatro parceiras (horribile visu!), é difícil acreditar no que se vê. A senhora vota contra o Código do Trabalho, mijarete político que não adianta nada a não ser achas para a fogueira do PC. A senhora vota a anulação da avaliação dos professores, coisa que junta a demagogia infrene da classe à falta de jeito da ministra, mas de que o PS não prescinde. A senhora vai votar contra as taxas moderadoras, coisa que o PS, que a alberga há tanto tempo, não deseja.
Ou seja, vinda de não se sabe onde, à direita, a senhora agrega-se à patacoada da esquerda do PS.
Se isto é “continuar a obra do marido”, vou ali e já venho.
22.2.09
António Borges de Carvalho