A MONTANHA PARIU UMA MINHOCA
A montanha, laboriosamente construída pelos irmãos Fernandes, pariu uma minhoca.
Foi assim:
- O Fernandes (José), cujas ambições de poder são mais que muitas, andava há que tempos a tentar dar nas vistas.
Fez os maiores malabarismos inquisitoriais, acusando este mundo e o outro das maiores tropelias.
Aliou-se ao Telles, que estava off side desde que o Soares o contratara para fazer aquele impraticável jardim do alto do Parque Eduardo VII a troco de silêncio em relação à monstruosidade do Corte Inglês e anexos, os quais, noutras circunstâncias, mereceriam a sua “justa” indignação.
Aldrabou o Barreto, que se deixou levar pelas falinhas mansas da criatura.
Inventou o processo contra o Túnel do Marquês, a melhor obra que se fez em Lisboa nos últimos cinquenta anos, parou a coisa, prejudicou tudo e todos, a começar pela CML, e nunca pagou um tostão dos buracos de milhões de que é culpado.
À custa destas provas de amor à cidade, conseguiu o negócio com o BE, que fez dele vereador.
Quando viu que o PS lhe dava mais segurança para o futuro, tratou de “defender o vale de Alcântara”, mediante o apoio aos negócios do Coelho, forma sofisticada de acabar com os compromissos que tinha com o BE.
Ninguém, até hoje, viu fosse que obra fosse saída da sua acção como executivo da Câmara.
Em resultado desta brilhante maneira de ser, a criatura, liberta, triunfante, tem lugar garantido nas listas do PS.
- Entretanto, em nobre cruzada contra a corrupção, chamou o mano Ricardo, que era, por afinidades de escritório, não distante de um macacão chamado Névoa, o qual, com o apoio do PS, tinha trocado o Parque Mayer pela Feira Popular.
Juntos, os manos trataram de montar ao Névoa uma armadilha que faria inveja ao major Silva Pais.
O Ricardo convenceu o homem que, com umas massas, lhe seria possível levar o mano a retirar um processo que o mesmo tinha, previamente, movido contra a tal troca.
Sem grandes escrúpulos, o Névoa acreditou no advogado (os advogados têm obrigação deontológica de se calar em relação às acções dos seus clientes).
Não terá ocorrido ao Névoa, nem que o Ricardo não era seu advogado, era-o uma senhora lá do escritório, nem que, por conseguinte, o homem, talvez vítima de uma moral profissional um tanto elástica, não teria obrigação de sigilo.
Devidamente mancomunados com a polícia, os manos montaram uma “trampa” em que, gravando, fizeram o Névoa largar as bocas que foi levado a largar, convencido de que estava a lidar com outra gente.
Depois, foi só processá-lo. A prova estava obtida.
Diz-se que, da tumba, o camarada Barbieri Cardoso mandou aos manos um telegrama de felicitações.
- O Ministério Público percebeu que era tudo um mijarete, que os manos estavam bem para o Névoa e vice-versa, e, timidamente, foi pedindo uma pena curta e devidamente suspensa.
O Tribunal percebeu o mesmo.
Percebeu também que o dinheirinho do Névoa se destinava a “propiciar” um acto lícito, coisa que, até há uns anitos, nem crime era.
Vai daí, dá cá cinco mil euros e vai em paz. Uma minhoca saía do pútrido ventre da montanha dos manos.
- O Névoa ficou satisfeitíssimo.
- Os manos, ainda que vangloriando-se do seu nobre pidismo, dizem que a minhoca é um elefante e que contribuíram galhardamente para acabar com a corrupção.
Isto, tendo sido eles a incentivá-la, ainda que com fins policiais.
- Moralmente, os manos são mais corruptos que o Névoa. Este, coitado, só queria resolver o problema. Quando lhe sugeriram uma forma de o fazer, embarcou. Anjolas!
- O que os lisboetas querem é alindar o pardieiro em que o Fernandes transformou a Feira Popular e ver o Parque Mayer recuperado (embora perdida, por burra intervenção do Presidente Sampaio, a hipótese de fazer daquilo alguma coisa de jeito).
Por isso, em termos de cidade, vale mais meio Névoa que um milhão de Fernandes.
António Borges de Carvalho