Que Fazer?
Assistimos ontem a uma desbragada manipulação “informativa”, generosamente oferecida ao povo pelo “serviço público” de televisão.
Em defesa do Orçamento, Sua Excelência o Ministro das Finanças, acompanhado por um velho compagnon de route do PS, “enfrentava” os “contras”. Destes, um é um refinado pitecantropus estalinista, mesmo a calhar num momento em que a organização a que pertence se encontra a comemorar a revolução de Outubro (acontecida em Novembro) e a tecer oficiais loas ao camarada Kim Jong Il. Outro, um independente conhecido pela moderação das suas críticas ao PS. Um, não interessa senão aos fiéis de uma pré-história assassina e falhada. Outro, não faz oposição, nem lhe cabe fazê-la.
Cheio de gozo, o compagnon de route chegou ao ponto de dizer “o PSD gostava de estar aqui, mas não está”. Só faltou uma gargalhadinha final. Ao que a jararaca de serviço retorquiu que aquilo não era um debate político… mas de “personalidades” e de “representantes” da “sociedade civil”.
De facto, parece evidente que um debate sobre o orçamento de Estado, com a participação do ministro das finanças, não é um debate político. Pois não. Quem sabe se não será um espectáculo de ballet, um concerto metal ou uma novena a São Pancrácio.
É assim, foi sempre assim, sempre será assim. O PS é uma máquina de manipulação como não há outra neste país. Os profissionais da “informação” são o que sempre foram e sempre serão: subservientes. Desde que saibam que quem está no poder os protegerá ou deixará de proteger segundo a sua performance.
Não há muito, houve um governo que começou a cair quando um dos seus ministros teve a ousadia de referir que a um determinado programa faltava o contraditório. Foi acusado de tudo. Manipulação, desonestidade, censura, sei lá.
É assim, foi sempre assim, será sempre assim. O que, vindo da não esquerda, mesmo que só por palavras, é um crime, vindo da esquerda, e por actos, é “serviço público”.
O poder participa na trafulhice com satisfação e orgulho. Estatuto da oposição? Patacoada!
Quanto à substância da coisa, verifique-se, para ter uma noção da democraticidade desta gente e do seu respeito pela verdade que, por dizer muito menos do que diz agora o ministro, se crucificou sem dó nem piedade a dona Manuela Ferreira Leite e o senhor Bagão Félix.
É ou não verdade? Quem foi o primeiro de todos os carrascos? Pinto de Sousa (Sócrates), hoje campeão do “reequilíbrio” orçamental.
Mais não vale a pena dizer.
Um novo apontamento, porém, é de justiça deixar escrito. Hoje, estive com um senhor, de cuja boa fé não tenho razões para duvidar, que conhece, por razões que não vêm ao caso, os meandros da RTP. Ao ouvir-me, de viva voz, condenar o que acima condeno, disse-me o tal senhor: “Quer saber porque é que lá não estava ninguém do PSD? Pergunte ao Marques Mendes!”
Fiquei passado. Procurei saber mais, mas tal não me foi dado. “Trata-se de assunto da mais profunda confidencialidade!”
“Que fazer?”, diria o camarada Vladimir Ilitch.
Ao contrário do que disseram os “protestantes” do PSD, parece que a culpa é do Marques Mendes. Mas não se pode falar disso. Será que o Marques Mendes queria mandar lá alguém que não agradava à jararaca de serviço? Será que se opunha à presença do estalinista? Teria medo do debate? Exigiria um trono para o seu representante? Ou é tudo aldrabice e, enquanto tal, objecto da mais profunda confidencialidade?
Mais uma vez, parece que o mais importante é que ao respeitável público não seja dado conhecer a verdade.
Ou eles são todos, afinal, estalinistas, ou nós fazemos todos parte de um bando de parvalhões.
António Borges de Carvalho