BENESSES ESTATAIS
Não sabia que havia, mas há, uma pensão do Estado que é atribuída “por méritos excepcionais na defesa da liberdade e da democracia”, a pessoas que “estiveram presas pela PIDE”. OK.
Parece que houve, recentemente, a atribuição de tal pensão a uma série de pessoas (os jornais não referem nem quantas nem os respectivos nomes) que teriam tais atributos.
Um dos candidatos foi recusado, o que vem causando um frisson do caneco em várias hostes. O infeliz chama-se Cartaxo, é militante do PC e esteve preso quatro anos.
Quanto a esta última parte das qualificações necessárias, tudo bem: o homem esteve mesmo preso, por delito de opinião, o que não é tolerável e merece atenção.
Quanto à primeira, porém, outro galo canta, uma vez que é preciso analisar se um tipo do PC alguma vez na vida "lutou pela liberdade e pela democracia”.
É facto que os PC’s lutaram contra a II República, com métodos que não diferiam muito dos da PIDE, havendo até quem diga que PC e PIDE eram duas faces da mesma moeda e que cada um justificava a sua existência com a do outro.
Não iria tão longe. Mas, segundo uma memória que me não larga, também é facto que o PC sempre se opôs a qualquer tentativa de pôr fim à II República, apelidando tais iniciativas de “burguesas” e dizendo que “não estavam reunidas as condições objectivas para uma viragem política”, “que a classe operária ainda não estava devidamente consciencializada ou organizada”, que era ainda preciso que as “vanguardas” (leia-se, o PC) continuassem o seu trabalho até que tais condições estivessem reunidas.
E não é menos facto que a “democracia” e a “liberdade” de que o PC falava e por que “lutava” era uma espécie de gato com guelras, isto é, era tão parecida com a democracia e a liberdade como a Torre de Belém com o metropolitano.
A “democracia” e a “liberdade” que o PC defendia era a ditadura em vigor na União Soviética, ao pé da qual a da II República era um kinder garden.
É por isso que a nenhum PC deve ser dada a tal pensão, uma vez que tais cidadãos jamais defenderam, ou defendem, qualquer democracia ou qualquer liberdade. O que, por cá, até ficou bem patente nos anos negros de 74 e 75.
Não haverá grande escândalo se o senhor Cartaxo for contemplado com uma pensão, se estiver em estado de necessidade, o que é provável.
Mas, por quem são, não lha atribuam em nome de coisas que o homem não sabe ou não quer saber o que são, a favor das quais nunca mexeu uma palha e com as quais gostosamente acabaria, se para tal houvesse "condições objectivas".
14.4.09
António Borges de Carvalho