PLURALISMO LUSO-SOCIALISTA
Não falta quem pergunte por alma de quem anda o PS a legislar, e a insistir depois de levar com os pés do PR, sobre aquilo a que chama “pluralismo” na comunicação social.
É que toda a gente sabe que não há, à excepção da RTP, onde o governo prepondera, e dos órgãos dos partidos, jornais que não sejam pluralistas.
Dando uma olhada à generalidade da imprensa escrita, vemos que, dados como mais à direita ou mais à esquerda, não há um só que não albergue opinadores de esquerda e de direita, onde os próprios editoriais não dêem abébias em vários sentidos, onde as pessoas não encontrem de tudo um pouco. Nenhum jornal português, à excepção, talvez, do “Diabo” (passei os olhos por uma dúzia de vezes), tem “cara”, isto é, todos se reclamam, e são, indefectivelmente “democráticos”, ou seja, têm da democracia a ideia de que um jornal, para o ser, tem que disparar para todos os lados, acoitar todas as tendências, mesmo quando a linha editorial tem, em si, alguma coerência.
Isto é bom? É mau? Para o caso não interessa. Interessa é sublinhar que pluralismo é coisa que não falta, antes pelo contrário.
Então porque é que o PS resolveu fazer uma “Lei do Pluralismo”?
Porque, para o PS, pluralismo tem a ver com propriedade, não com informação. Para o PS, importante é ter poder para “tirar” a propriedade de jornais aos seus detentores, desde que ache que os seus detentores detêm órgãos “em demasia”. Lidas as coisas como elas são, o que o PS quer não é proteger o pluralismo, mas confundi-lo com propriedade, o que, é por um lado, muito socialista e, por outro, dá ao Estado (leia-se, ao PS) a prerrogativa de intervir mais à vontade na informação.
Não lhe basta aplicar as leis existentes em relação aos monopólios. Não lhe basta as “entidades” da concorrência e outras estruturas que, tão ao seu gosto, “vigiam”, por conta do PS, os desmandos da sociedade civil. O PS quer ter uma intervenção directa mais facilitada do que tem hoje. E, como socialista que é, embora ainda haja quem diga que governa à direita, nada melhor do que atacar a propriedade!
Ora a propriedade de órgãos de informação não domina, nem pouco nem muito, a dita em Portugal.
Por exemplo, o “Expresso” fartou-se de atacar o patrão quando ele era Primeiro-Ministro, e vai continuando a sua tradicional política de recados e de opiniões à esquerda e à direita.
Por exemplo, a TVI, propriedade de socialistas espanhóis, trata de, legitimamente, pregar rasteiras aos camaradas portugueses.
E por aí adiante.
Fica a ideia de que os proprietários do órgãos de comunicação (à excepção da RTP e dos partidos) estão mais interessados em vender os seus produtos do que em fazer política.
Se os jornais tivessem “cara”, aposto que haveria proprietários que o seriam, simultaneamente, de órgãos de esquerda e de direita. Como não a têm, vão-se agarrando ao que estiver “a dar”, ainda que, reconheça-se, as mais das vezes com algum critério e algum escrúpulo deontológico.
O PR faz muito bem em dar com os pés em mais esta (desesperada) manobra do socialismo para limitar o pluralismo, apregoando defendê-lo.
16.4.09
António Borges de Carvalho