POLÍTICA SHAKESPEAREANA
1. A ilustríssima e doutérrima Procuradora-Geral-Adjunta da III República, Exmª Senhora Doutora Dona Cândida Almeida, fazendo jus à sua justa fama de dizer coisas, veio informar a canalha acerca do andamento do processo Freeport (Fripór, no linguarejar do senhor Pinto de Sousa).
Dando ao assunto a celeridade que lhe é universalmente exigida, a senhora declarou que... talvez lá para Dezembro a coisa esteja esclarecida.
Quer isto dizer que, se o senhor Pinto de Sousa é corrupto, o pessoal só terá direito a tal novidade depois de disputadas todas as três eleições que aí vêm. O que funciona, como é evidente, a favor dele.
Caso o dito não seja corrupto, então terá que disputar as eleições sob suspeita, o que, para ele, é mau.
Donde se pode logicamente concluir que quem conhecer as simpatias políticas da Doutora, saberá se o homem é corrupto ou não.
Ou seja, no que à senhora diz respeito, to be xuxa or not to be xuxa, that’s the question.
2. Outra dúvida que assalta o espírito da plebe é a de saber como é que um processo urgente leva pelo menos 5 anos a investigar. Sabe-se que, a certa altura, as investigações entraram em hibernação, sendo fácil imaginar porquê. Mas, que diabo, cinco anos são cinco anos e, com os ingleses à perna, ainda menos se percebe a olímpica calma da insigne magistrada.
À plebe è dado perguntar, em shakspeareana paráfrase, se se trata de much ado about nothing, ou de nothing about much ado?
18.4.09
António Borges de Carvalho