TODOS CARNEIROS, TODOS IGUAIS, E VIVA O SOCIALISMO!
No que respeita ao fim do sigilo bancário, o inenarrável Rui Tavares (“Público” de hoje*) não está contente com a solução do Bloco de Esquerda, partido pelo qual é candidato a um tacho em Estrasburgo.
Ainda que aceitando o extraordinário princípio de que o levantamento do sigilo é destinado a que as “autoridades” possam controlar os movimentos a crédito e não os a débito, como se quem controlasse uma coisa não controlasse, mesmo não querendo, a outra, o grande esquerdóide revolta-se contra o facto de as novas normas não serem “preventivas e universais”.
Trocando estes adjectivos por miúdos, teremos, em relação ao “universais”, que o homem quer que todas as contas bancárias passem a estar, automaticamente, abertas à curiosidade do fisco e de outras entidades. Assim, garante o prosélito socialista, evita-se a descriminação, uma vez que seremos todos fiscalizados: como ninguém fica de fora, somos todos gloriosamente iguais. Por outro lado, trata-se de coisa “preventiva”, uma vez que qualquer cidadão que, num determinado mês, receba mais do que é costume, será, automática e preventivamente, chamado pelo computador das finanças, a fim de prestar todos os necessários esclarecimentos sobre a receita em causa, ou seja, passando a ser, automaticamente, suspeito das maiores tropelias, e ainda mais se não tiver meios de prova considerados fiáveis ou suficientes pelos fiscais.
Mais uma vez, opina a criatura, todos seremos iguais.
Pois.
Os russos eram todos iguais no brilhantíssimo tempo do socialismo: nenhum podia viajar, mudar de casa, ter automóvel, comprar um andar, etc. Maravilha! Os cubanos têm sido todos iguais, isto é, vão todos para o xilindró se piarem contra o governo, a nenhum é dado usufruir seja de que direito for, etc. Os coreanos estão na mesma, ou pior.
As maravilhas deste tipo de igualdade, tão do agrado deste bolseiro de várias escolas (meu rico dinheirinho!), pululam por aí como cogumelos.
Portugal, dado o seu histórico atraso, teria, agora, uma possibilidade única de se pôr no pelotão da frente das igualdades socialistas.
Uma pena, deve pensar o fulano, uma pena que o seu partido não tenha ido tão longe como devia.
Há, apesar de tudo, uma ressalva a fazer quanto ao pensamento do Tavares e, sobretudo, quanto aos resultados dele.
É que o socialismo, possuído de alto sentido de justiça, prevê umas indispensáveis excepções à regra geral. A bem do povo, como é evidente. As “vanguardas organizadas” podem ter dólares, viajar, ter umas casinhas de férias, etc.
A salvífica ideia do Tavares seria, modestamente, um pequeno passo a caminho da vitória final do socialismo.
Não é com pequenos passos que se constrói o “homem novo”?
20.4.09
António Borges de Carvalho
*Porque carga de água acoita o “Público” este exemplar?