DESVITALIZAÇÃO
DESVITALIZAÇÃO
Foi um consolo ver um dos principais progenitores da Constituição de 76 levar na cabeça como um desgraçado, ontem, no programa da RTP judiciosamente concebido para o apresentar à Nação de hoje - que já o tinha esquecido ou nem sequer sabia da sua existência - e o lançar na corrida ao Parlamento Europeu.
O homem que inventou ou promoveu, na constituinte, o prólogo marxista-leninista da Constituição (que ainda por lá anda), que nos quis fazer a todos marchar que nem uns pacóvios para a sociedade sem classes e o socialismo obrigatório, que foi campeão da institucionalização da vigilância militar sobre o regime, que elencou os horrendos limites materiais da revisão constitucional, a irreversibilidade das nacionalizações e tantos outros institutos que nos arruinaram, anda agora com uma falta de traquejo político e de capacidade de desenrascanço que são uma maravilha para quem o ouve.
O homem que, em 82 – primeira revisão constitucional - lutou como um louco pela manutenção das mais desbragadas loucuras e contra tudo o que viesse desviar a Constituição da sua matriz comunista, coitado, já não sabe sequer se apoia ou não apoia a candidatura de Durão Barroso, não sabe nada sobre as maravilhas do governo do PS a não ser aquela monumental aldrabice de ter baixado o défice de 6,8 para 4 e depois para 2,9 por cento, quando a verdade é que o subiu de 3 para mais de 4 e só mais tarde o fez voltar ao que era antes do senhor Pinto de Sousa ter brutalizado a Nação com impostos, ter aumentado a despesa pública e baixado a receita privada.
O homem que, em 89, quando a grande pátria soviética começou a abanar, tratou de ser dos primeiros a abandonar o barco e a passar a compagnon de route do PS, nem capaz foi de repetir as arengas laudatórias com que tem presenteado o senhor Pinto de Sousa, aos molhos, nas páginas do jornal privado chamado “Público”.
Foi um consolo. Um consolo ver como o senhor Pinto de Sousa apostou no mais errado dos cavalos.
Foi um consolo ver as matronas da lista – dona Ana Gomes e dona Edite Estrela – na primeira fila, meio aparvalhadas com os tropeços da criatura.
Já agora, para que não se diga que o Irritado só diz mal, foi impressionante a prestação de três dos outros candidatos. Dos comunistas, destaque para Miguel Portas, aristocrata alentejano convertido ao marxismo, perigosíssimo, demagoguíssimo, mas esperto como um alho, inteligente, carismático.
Do outro lado, o Rangel foi uma revelação, uma surpresa pela positiva, um homem que sabe o que quer e para onde vai. Quem disse que a dona Manuela não sabia escolher as pessoas?
O rapazito do CDS também fez jus aos galões que, com inteira justiça, tem vindo a ganhar. Uma boa escolha do (outro) Portas.
E, para que não fique ninguém por contemplar, note-se o sopeirismo (sem ofensa para as empregadas domésticas) da dona Ilda, a repetir as mais estafadas cassetes, que não convencem ninguém para além dos membros da seita, que já estão convencidos e são, de um modo geral, incapazes de qualquer raciocínio lógico.
Um consolo.
21.4.09
António Borges de Carvalho