TANTO FAZ
Em catadupas, aí estão as “provas” da mais pura inocência do senhor Pinto de Sousa no caso Freeport ( fripór, no lingurejar do senhor).
Logo a seguir à entrevista em que teceu rasgados elogios ao director do Diário de Notícias, o director do Diário de Notícias (notável coincidência) publicou um relatório de uns advogados em que se “prova” que era tudo mentira. O “Expresso” não lhe fica atrás. O senhor Smith, como dizem os tais advogados, mentiu à câmara oculta quando acusou o senhor Pinto de Sousa. Tudo mentira, ele só tinha dado uns tostões (não se sabe se mil euros por mês, se quatro mil euros de uma vez só, se mil euros durante quatro meses) a um tipo da Câmara de Alcochete que, por acaso, até tinha sido presidente da “Conservação da Natureza”, ou coisa que o valha.
E agora?
O interessante desta questão é que não se trata da “verdade” duns contra a “verdade” de outros. Desta vez as duas verdades cabem no mesmo saco, isto é, o senhor Smith ora diz uma coisa ora outra, dando um claro sinal da sua credibilidade ou dos seus momentâneos interesses.
Estão as cartas baralhadas. A conclusão que se pode tirar tem a ver com a “fé”. Ou se acredita no senhor Pinto de Sousa, ou não se acredita. Provas? Testemunhos? Tanto valem os que dizem que é branco como as que dizem que é preto. Ou seja, não valem nada. Só a “fé” nos pode salvar.
Os que não acreditam no senhor Pinto de Sousa tem sólidas bases para tal: a história do curso, a pessegada dos projectos, a barateza do andarzinho, o primo, o tio, o raio.
Os que acreditam são gente de “fé”, coisa que, pela sua própria natureza, não se discute. Há, também, pelo menos formalmente, a presunção da inocência, que a ninguém se pode negar.
Há, acima de tudo, a chamada Justiça. Coisa em que ninguém acredita, mas em que toda a gente, a bem de alguma decência, diz acreditar.
Querem saber o que eu penso? Nada.
Querem saber o que eu acho? Que, daqui a uns anos, quando a história chegar ao fim, ninguém acreditará, por causa do estado em que se encontra, no que a Justiça “sentenciar”.
Seja qual for o veredicto, os que tinham fé continuarão a proclamá-la, os que não tinham ficarão na mesma. Certeza, certeza, é que jamais se saberá a verdade, se é que existe alguma verdade nesta porcaria toda.
A seu tempo, ninguém quis tirar as consequências políticas das coisas, consequências que seriam inivitáveis em qualquer democracia saudável.
Agora?
Agora tanto faz.
26.4.09
António Borges de Carvalho