Est modus in rebus
Parece que o ilustre (ex) marxista-leninista-estalinista Lino, indivíduo que desempenha o cargo de Ministro das Obras Públicas do governo do senhor Pinto de Sousa (Sócrates), declarou, algures na Galiza, que era “um iberista convicto”.
Tem a sua lógica. A um homem que, como medidas positivas, só tem para nos servir as inacreditáveis ideias do aeroporto da Ota e do TGV para o Porto, ficam bem estas sábias palavras. Uma vez arruinada pelas suas iniciativas, a solução será entregar esta coisa aos espanhóis. Talvez eles queiram pagar as facturas.
Parabéns, portanto, ao homem e à sua sinceridade.
Não admira que, nem o senhor Pinto de Sousa (Sócrates), nem a inenarrável “informação” que nos serve, tenham feito qualquer eco das palavras do senhor. Uma boca, por bojarda que seja, vinda de um tipo de esquerda, merece sempre, ou elogios ou silêncio. Por mim, acho muitíssimo bem: é coisa que está na massa do sangue de muita gente, incluindo aquela muita gente de direita que admira o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) como já não admirava ninguém desde os saudosos tempos do doutor Oliveira Salazar.
O que me trás é a medida das coisas. O velho brocardo, ou ditado, que reza est modus in rebus, não se aplica à era socraticóide.
Se não, vejamos:
Um tipo da Madeira (salvo erro com o brilhante nome de Coito Pita – xiça!) andou para aí aos gritos a dizer que o brutal ataque político do senhor Pinto de Sousa (Sócrates) às finanças da Região era susceptível de reavivar tendências separatistas. Note-se: o Coito disse que, nas condições criadas, era possível que voltasse a haver quem pleiteasse a favor da independência das ilhas. Não defendeu o separatismo. Pôs uma hipótese.
Pois bem. Caíu o Carmo e a Trindade. Não houve político ou plumitivo que se não indignasse. Malandro! Bandido! A esgrimir com o separatismo! Uma vergonha! Um crime de lesa Pátria!
E, no entanto, o senhor Lino pode, quando muito bem lhe vem à moleirinha, não sugerir que alguém haja que defenda, mas defender ele mesmo o fim da independência nacional sem que tal seja objecto da mais pequena sombra de reacção por parte dos mesmíssimos que ficaram super-excitados com as bocas do Coito.
Nem há moralidade nem comem todos. O modus deixou de estar no rebus. Isto de lógica, quando se trata do Pinto de Sousa e da sua mesnada, afinal é chão que deu uvas.
António Borges de Carvalho