CONSIDERAÇÕES SOBRE UM VOTO
Os socialistas da CML decidiram pedir um empréstimo destinado à chamada reabilitação urbana. Ninguém duvida da nobreza do objectivo, sobretudo quando é para fazer obras à pressa em vésperas das eleições.
Os tipos do PSD chumbaram o empréstimo, julgo que para obviar à propaganda do Costa. Não sei se fizeram bem, se fizeram mal. É que o Costa, com alma de carroceiro, não hesita em pintar as paredes de encarnado com enormes letras a dizer que, se não há mais obras, a culpa é do PSD. Este fica entalado, por ter cão ou por não ter.
Outra interessante nota desta votação do PSD é o facto, aliás habitual, da Presidente da Assembleia ter votado contra o seu próprio partido. Fruto requentado do total quão suicida desnorte em que o senhor Marques Mendes mergulhou o PSD, esta senhora faz gala em mostrar-se à custa, parece, seja do que for.
Note-se ainda que parte do dinheirinho que o Costa queria pedir emprestado se destinava à “recuperação” da Casa dos Bicos, preciosidade nacional que a Câmara socialista entregou à Fundação Saramago. A presidente desta coisa, que se proclama “presidenta”, uma castelhana ou equivalente perita em pontapés na gramática, com relações privilegiadas com o “fundador”, por certo ficará muito agradecida ao socialismo. São as “fundações” à portuguesa. Coisas especializadas em sacar dinheiro ao Estado. Olhem a “fundação” Mário Soares, que até traz de renda o gabinete do fundador, a fim de que o fundador possa ser pago para se sentar no seu próprio gabinete.
Resumindo: o bolchevista Saramago fundou uma fundação privada, sabe-se lá para quê, e sacou a Casa dos Bicos (património nacional) para uso de tal organização. Não contente com isso, apesar dos milhões que, em 96, 97 e 98, o Estado (nós) gastou em obras de reabilitação da tal casa, acha que ela, mesmo concedida sem despesas (para ele), não está suficientemente digna da sua excelsa pessoa, e conclui que temos que ser nós a pagar as suas comodidades e exigências.
A insaciável ganância do homem só é suplantada, em falta de sentido cívico, pela trafulhice camarária do Costa, que se propõe endividar o município, mais do que os seus predecessores do PS já tinham feito, para oferecer ao senhor Saramago as “devidas” instalações. Moral republicana associada a moral bolchevista?
Se isto não é um escândalo, não sei o que é um escândalo.
9.7.09
António Borges de Carvalho