SÃO BURROS, OU QUÊ?
Multiplicam-se as exigências de “explicações” sobre a demissão do senhor Lima, personagem até anteontem completamente desconhecida para 9.999.784 portugueses.
A rapaziada da esquerda movimenta-se. Santos Silva, esse Quasímodo mental, que se tornou, na prática, porta-voz do PS desde que o sucessor do Vitalino foi “obnubilado” por razões de gritante incompetência, ronca que o Presidente tem que “dar explicações” à Nação. Os tipos dos partidos comunistas fazem o mesmo, quase nos mesmos termos. Como se o senhor Pinto de Sousa tivesse dado alguma explicação quando demitiu o Vitalino, que era trafulha como compete, mas não totalmente parvo. O pequenote Vitorino esperneia que “isto não chega”.
É evidente que os fulanos se estão nas tintas para as explicações do Presidente. O que eles querem, como o homem não é da sua área, é dar cabo dele e capitalizar para as eleições.
E a direita? A direita, medrosa como sempre, refugia-se em declarações sem sentido nem conteúdo. Parece que não sabe o que se passou, ou que não é capaz de interpretar o que tem em frente do nariz.
Olhemos o que a direita devia ver e parece que não vê:
a) Os previsíveis resultados desta coisa:
1. Vai ser cortada a cabeça do director do Público, pessoa que o senhor Pinto de Sousa considerava seu principal inimigo a seguir à dona Manuela Guedes;
2. Vais ser científica e sistematicamente corroída a imagem pública do Presidente da República, seja o que for que ele venha dizer sobre o assunto;
3. O PS ganha votos;
4. O senhor Pinto de Sousa tem a oportunidade de, ganhos os trunfos, dizer, armado em bonzinho, que não quer tirá-los deste assunto.
b) Os meandros da coisa são:
1. Há muito mais de um ano alguém da Presidência contactou o jornal privado chamado Público queixando-se de que o PM andava a “espiar” o PR;
2. O jornal em causa não pegou no assunto, por eventual falta de elementos que o tornassem credível;
3. Um ano e tal depois, sem mais nem menos, quatro deputados do PS vêm acusar assessores anónimos do PR de prestar assistência à elaboração do programa do PSD, como se tal fosse um crime ou os tipos do Sampaio e do Soares jamais tivessem assessorado o PS para o mesmo efeito, coisa aliás normalíssima;
4. Alguém, já não sei quem, da área do PSD, replicou à provocação interrogando-se porque teriam quatro deputados ao mesmo tempo lançado a coisa e insinuando que, afinal, se sabiam disso é porque tinham espiado o que se passava na Presidência;
5. O jornal Público noticiou a insinuação, aliás lógica, uma vez que, quando quatro tipos do PS ao mesmo tempo dizem a mesma coisa é porque receberam instruções para o fazer e porque alguma manobra importante está em curso;
6. No fim de contas, a manobra não veio a dar os resultados bombásticos que os “mensageiros” do PS pretendiam;
7. Dias depois (et pour cause…),o jornal Diário de Notícias faz o que se sabe fazer desde que se tornou socialista: enche a primeira página com a história de um email que, há mais de um ano, teria sido trocado entre um jornalista do Público e o tal Lima, assim alimentando, à revelia dos mais elementares princípios da moral jornalística, a borrasca “mediática” que para aí vai.
Estes, b), são os factos, aquelas, a), as consequências.
Não é preciso ser muito esperto para perceber os meandros e os propósitos da montagem. Pior que de uma “campanha negra”, trata-se de uma campanha socialista.
Mas a direita, sabendo:
a) Que, mesmo tendo existido o tal email (parece que foi manipulado..), o caso tinha barbas e não tinha interessado a ninguém porque não teria pés para andar;
b) Que o PS, a fim de matar dois coelhos de uma cajadada (o PR e o José Manuel Fernandes), fez avançar os quatro mamíferos;
c) Que, quando um jornal se presta à hedionda publicação de correspondência pessoal (se não a manipulá-la também) ainda por cima obtida de forma ilegítima, e a revelar fontes de jornalistas terceiros, não pisa a sua própria deontologia sem mais nem menos: está ao serviço de alguém;
d) Que esse alguém só pode ser o senhor Pinto de Sousa e a gente que ele comanda ou a quem ele obedece,
fica quietinha, angelical e distraída.
São burros, ou quê?
22.9.09
António Borges de Carvalho