Da pesporrência da batOTA, ou do aeroporto dos OTÁrios
O inacreditável aeroporto da Ota, obra faraónica sem outra justificação que não seja a propaganda socraticóide, começa a mostrar a sua verdadeira face. O (ex?)bolchevista Lino confessou, com o ar mais normal deste mundo, que a coisa, mesmo antes de começar, já leva um atrazo de cinco anos, isto é, não é obra para 2012, mas para 2017. Alguns mal intencionados apressaram-se a acrescentar que os milhares de milhões previstos para o seu custo já estão largamente ultrapassados. O (ex?)bolchevista diz que não, sem cuidar de explicar ao povo como é que uma obra que leva mais cinco anos do que o previsto custa o mesmo. O brilhante raciocínio deve provir da lógica (ex?)bolchevista do fulano, uma vez que não se enquadra nos parâmetros de raciocínio do comum dos mortais.
Por outro lado, veio a lume que o monstro está a ser projectado em leito de cheia e que a famosa pista (uma só, sem hipóteses, nem de alargamento nem de duplicação no futuro) vai ser construída entre montanhas, nada menos que vinte e cinco metros acima do actual nível do terreno. O que, como é normal, implicará monstruosas obras de drenagem e mega movimentações de terras. A obra passa de faraónica a estupidónica, que até os faraós, há cinco mil anos, sabiam mais destas matérias que o (ex?)bolchevista.
Tudo se explica, porém. Quanto mais difícil, mais estudos, mais projectos, mais obras, mais dinheiro. Quanto mais ilógico, mais estudos, mais projectos, mais alterações aos projectos, mais obras mais dinheiro. Quanto mais inalterável, mais depressa é preciso outro, mais estudos, mais projectos, mais obras, mais expropriações, mais dinheiro. Quanto mais longe de Lisboa, mais estradas, mais combóios, mais gasolina, mais energia e, portanto, mais estudos, mais projectos, mais dinheiro.
Lembro-me de uma vez, em África, me ter interessado por uma empreitada de construção de estradas, financiada por altas instâncias internacionais, no valor de dez milhões de dólares. Quando comecei a trocar a coisa por miúdos, cheguei à conclusão que, dos dez milhões, grosso modo, um era para estudos, três para projectos, um para a elaboração do regulamento, outro para a o estudo da sinalização, outro para a sinalização própriamente dita, um para fiscalização, um para custos administrativos, restando um milhãozito para a obra propriamente dita. Era uma pena que a terra, no país objecto desta benesse da comunidade internacional, fosse nacionalizada, senão teria que haver mais uns cobres para expropriações, e outro financiamento para a obra.
Mutatis mutandis, estamos na mesma. Caminhamos, a passos largos, para o terceiro mundo, se é que ainda lá não estamos.
Para já, gastam-se uns milhares (talvez só centenas…) de milhões em estudos. Mais uns tantos para projectos. Começarão as expropriações…
Um dia, virá um artista qualquer dizer, cheio de razão, que é tudo um monumental disparate. Vai tudo para a gaveta. Se já houver obra feita, deita-se fora, como em Foz-Côa, lembram-se?
Entretando:
a) o (ex?)bolchevista estará a bom recato a tomar conta dos netos;
b) houve uns tipos que compraram uns Maseratis;
c) o governo que comandará os destinos dos netos do (ex?)bolchevista estará a braços com milhares de milhões de dívidas, mais juros (olhem as SCUTs!);
d) um Pinto de Sousa(Sócrates) qualquer explicará aos portugueses a indispensabilidade de aumentar os impostos para pagar os erros do passado;
e) não haverá nenhum aeroporto, porque a Portela rebentou.
Uma pequena nota política, para rematar o bouquet. O (ex?)bolchevista afirmou (e eu, com os ouvidos em bico, ouvi) que a “culpa dos cinco anos de atrazo é dos governos anteriores”. Como é possível que uma besta destas não vá, já!, pentear macacos, é coisa que só pode caber na cabecita tonta do senhor Pinto de Sousa (Sócrates).
António Borges de Carvalho