AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ
Décadas atrás havia em Espanha um senhor cheio de dinheiro que, como tantos, era um dos notáveis do regime franquista: o señor Jesus Polanco.
Pouco depois de o franquismo cair, houve um tipo (um tal Casas) que escreveu um livro chamado “Os vira-casacas” ou coisa do género, criticando a multidão de adesivos que se juntaram à democrácia e, mais que isso, se juntavam a ela pela esquerda(!).
Destes, um dos mais notáveis foi o tal Polanco. Ele, e os seus sucessores colaram-se, prenhes de fervor socialista, ao PSOE.
A dado passo da vida do grupo, criaram um jornal diário, o “El País”, destinado a ser o porta-voz oficioso e opinioso do partido. A coisa expandiu-se. O Partido Socialista, perdão, o señor Polanco, passou a ter interesses num império mediático, a Prisa, coisa que se espalhou pelo orbe como erva daninha e que veio a incluir no seu universo a Media Capital SA, empresa portuguesa dona da TVI.
A TVI seguiu o seu caminho. Passou de último a primeiro dos canais, em matéria de audiências. Passou de deficitária a lucrativa. No entanto – azar – começou a noticiar umas coisas acerca do primeiro-ministro que temos. Nenhuma delas era inventada, todas tinham suporte documental. O primeiro-ministro que temos nada desmentiu, tendo resolvido alegar que se tratava de uma “campanha negra” e que era vítima de “forças ocultas”. Nada menos “oculto” que a TVI, mas enfim, o homem lá saberá que a vitimização, mesmo sem um só argumento real, às vezes dá resultado! E não ficou por aqui. Desatou a fazer discursos e a dar entrevistas, condenando a TVI da maneira mais primária que imaginar se possa.
Estas reclamações passaram as fronteiras terrestres. É legítimo pensar que, às primeiras investidas, os hermanos do senhor Pinto de Sousa lhe tenham dito que a Media Capital era uma empresa altamente lucrativa e que numa empresa dessas não se mexe. Furioso, o senhor Pinto de Sousa terá chamado o seu amigo Zeinal Crava, ou o indefectível Granadeiro, e ter-lhes-á dito que a melhor maneira de acabar com o temível tele-jornal das 6as feiras era a PT comprar uma fatia tal da TVI que lhe desse para demitir quem lhe apetecesse. Mas o pagode desatou aos gritos e o senhor Pinto de Sousa viu-se obrigado a meter a viola no saco, depois de mentir que nem um herói acerca do assunto.
Terá, como é natural, voltado à carga junto dos camaradas espanhóis, quem sabe se com o Sapateiro metido no barulho. Desta vez, conseguiu. Primeiro, a horda castelhana acabou com o negregado tele-jornal. Depois, o padrinho do programa foi demitido.
Grande vitória do socialismo!
O pior, ou o melhor, é que os espanhóis, esmagados por uma dividazinha de 5.000.000.000 de euros (nada que não seja próprio da “gestão” socialista), resolveram que já tinham feito o que a solidariedade para com o camarada Pinto de Sousa impunha e que o melhor era arranjar alguma liquidez, antes que tudo estoirasse, sem audiências nem publicidade.
É assim que damos hoje com a felicíssima notícia: um tal Vasconcelos, acolitado pelo fulano que fora despedido pelos espanhóis, comprou à Prisa acções que lhe conferem o domínio da administração da TVI.
Sursum corda!!!
O povo aguarda com ansiedade a ressurreição da dona Manuela Guedes, do seu jornal das 6as e de mais notícias bem documentadas sobre o senhor Pinto de Sousa.
29.9.09
António Borges de Carvalho