ÁGUAS DE BACALHAU
Como é do conhecimento público, o senhor Pinto de Sousa criou um número indeterminado de “entidades”, “autoridades”, “reguladores”, etc., assim seguindo a tradicional política socialista - ao tempo de Guterres consubstanciada em “institutos” - de disfarçar o alargamento da função pública e de arranjar empregos para os sobrinhos.
A chamada ERC, sinistra coisa destinada a fazer fretes ao governo no âmbito da chamada “comunicação social”, acaba de anunciar que vai investigar a “legalidade” da decisão de acabar com o jornal da dona Guedes. A coisa diz que, com a maior profundidade e consciência, se tem andado a preparar (o que leva imenso tempo, como se sabe, e ainda só lá vão uns quatro meses) para ajuizar sobre se o senhor A tinha ou não tinha poderes para correr com dona Guedes, se o senhor B estava de posse de todos os certificados necessários ao exercício das suas funções, se o senhor C representava, ou não, a redacção da TVI, se a dona D era espanhola, etc., tudo coisas interessantíssimas para ocupar o tempo dos boys encarregados de tão importantes matérias.
Mais interessante ainda: a coisa declarou que, quanto a eventuais “causas políticas” para a defenestração da dona Guedes, não se pronunciaria, pelo menos nos tempos mais próximos. Estão a ver? Causas políticas? Que disparate! Ordens do primeiro-ministro? Que ideia! Manobras do Sapateiro? Estão doidos, ou quê? Combinata socialista? Não sejam parvos! Dictat do Cebrian? Que imaginação!
Segundo a coisa, para já é preciso tratar da “legalidade”: dona Guedes foi corrida by the book, ou à balda?
A coisa vai, soberanamente, decidir. Levará mais uns meses, talvez um ano, ou ano e meio, óptimo período para ir recebendo uns ordenados (Deus sabe a falta que fazem!) e justificando a existência própria. Pois se a coisa precisa de quatro meses de preparação, quanto tempo levará para fazer uma investigação tão complicada com a de determinar quem deu um pontapé no cu da dona Guedes?
Certo certo é que quando a coisa chegar às primeiras conclusões já o assunto morreu na opinião pública, já a dona Guedes tem bisnetos, a ninguém interessará saber se foi escovada legal ou ilegalmente. De certa forma, a coisa tem razão.
O que interessa é saber que a dona Guedes foi à vida porque o senhor Pinto de Sousa lhe tinha um ódio de morte. E isso, não há quem não saiba.
O resto, ou é conversa de chacha ou é os ordenadinhos da coisa.
A dona Guedes incomodava o Senhor Pinto de Sousa? Incomodava. Foi para a rua? Foi. Na versão oficial uma coisa não tem a ver com a outra. Mas que se investigue, desde que a investigação leve tanto tempo que não tenha nenhum efeito.
De uma forma ou de outra, não é o que se passa com o caso Freeport?
Com o canudo do PM?
Com os projectos de “engenharia” do PM?
Com a compra da casa do PM?
Com as actividades do PM em relação à Cova da Beira?
Com…
Tudo vai ficando em águas mornas, até chegar às de bacalhau.
14.10.09
António Borges de Carvalho