O passeio dos taratas
Cerca de quatrocentos taratas, alguns com as respectivas a reboque, alguns fardados - cheguei a ver um sorja de farda nº1, com faixa e tudo – andaram a passear no Rossio, alardeando descontentamento com as socraticoides medidas que, dizem, lhes estão a cortar regalias. Como se as socraticoides medidas não estivessem a dar cabo da vida a toda a gente!
Foram bem recebidos pela polícia, perita em assobiar para o ar nestas ocasiões, como é de timbre. Foram recebidos com indifereça pelo público em geral, que olha com justa repugnância estas manifestações que negam sê-lo (analfabruto sofisma!), estas indisciplinas que como tal se não confessam, estes abusos de uma farda que devia ser coisa honrada e a honrar, estas palhaçadas que se dizem coisa séria.
“Não foi para isto que fizemos o 25 de Abril”, defecava um díscolo qualquer. A acreditar no canalha, terão razão os que dizem que o golpe de 74 foi feito para lhes aumentar o ordenado e as regalias. Ou será que foi para isto que fizeram o 28 de Maio, o 5 de Outubro, que foi para isto que estenderam a passadeira vermelha ao Junot, entre tantas outras merdosíssimas trapalhadas.
Quando se perde a noção da dignidade própria, quando se confunde a condição militar com a de funcionário público tout court, quando se coloca o que é alto ao nível do rasca, que reacção querem das pessoas? Indiferença, repulsa, vómito? Ou, pelo contrário, esperam que os socraticoides se acagacem?
Esta última hipótese não deve, desgraçadamente, ser descartada. É que, pior que a manifestação, é a reacção da socraticoide superestrutura política. Vinte e quatro horas depois do sucedido, o ministro da defesa disse coisa nenhuma, o primeiro ministro disse nada, SEPIIIRPDAACS (Comandante Supremo das Forças Armadas!) guardou de Conrado o prudente silêncio. E as superestruturas militares? Segundo os jornais, parece que só a Armada fez saber que ia processar disciplinarmente os que tão baixo arrastaram a honra do ramo. Do outros estados maiores, zero. Do CEMGFA, nicles.
Será que se vão mesmo acagaçar? Têm medo de quê?
António Borges de Carvalho