NOTAS DOMINGUEIRAS
Da vox populi: o camarada Vara, segundo foi oficialmente comunicado, foi para casa, mas o ordenadinho, ou ordenadão, vai continuar a ser pago a tempo e horas. Consta que o camarada Vara já fez as necessárias reservas para uma estadia em Cortina d’Ampezzo, outra nas Bermudas, uns quinze dias no Pierre, em Nova Iorque, uma semana em cruzeiro pela Antártida, cabine presidencial, e que planeia com todo o pormenor, sobrando-lhe imensa massa, mais um ou dois anos de merecidas férias.
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A dona Cância protestou oficialmente contra os infames que, na imprensa, a tratam por “namorada de Sócrates”. Não se sabe se o veemente protesto da distinta criatura se deve a desejar que ninguém saiba da sua relação de alcova com o primeiro-ministro, se se trata de desmentir, indignada, tal e tão indignificante epíteto.
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Aqui há tempo, a gentalha do PS, a começar pelo ministro da defesa que temos a vergonha de ter, insurgiu-se contra o facto de Joaquim Ferreira do Amaral ser presidente da Lusoponte, tendo sido, dez anos antes, o ministro que lhe deu as concessões. Agora, exactamente a mesma gente, acha óptimo que Jorge Coelho seja presidente da Mota-Engil, ele que deixou de ser ministro das obras públicas uns três anos antes de para lá se promover. Uns artistas, os tipos do PS.
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O Santos Silva, que anda por aí a dizer, e com razão, que é ministro da defesa, desdobra-se em declarações que têm a virtude, até agora, de não querer dizer absolutamente nada. Minto, o senhor ministro contribuiu, pelo menos uma vez, para o enriquecimento do nosso léxico. Dizia ele, há dois ou três dias, que é preciso “interseccionar” não sei o quê. Ninguém ficou a perceber se se tratava de “seccionar” ou de “intersectar”. Mas não faz mal. Por um lado, tanto faz, o que ele disse não interessa seja a quem for. Por outro até é de agradecer este contribruto do distinto universitário para o progresso da língua.
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Já repararam que andamos em maré de destruição de coisas que só interessam aos tarados, os espiões políticos, aos tipos das forças ocultas, aos prosélitos das campanhas negras? Ele foi o incêndio que consumiu, em terras de Sua Majestade, a contabilidade da Freeport. Ele foi o incêndio que destruiu a papelada do tipo das sucatas. Ele vai ser, agora, a discussão sobre se as cassetes da “face oculta” devem ser destruídas pelo fogo, com ácido sulfúrico ou de outra forma qualquer, desde que sejam mesmo destruídas. Sugere-se o auto de fé, para que, como na Idade Média, o povo fique a saber o destino que o poder dá àquilo que não se conforma com a moral em vigor. Desta feita, a moral republicana.
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O camarada Pinto de Sousa foi pedir ao camarada Chávez, seu amigo do peito e irmão em ideais, que se portasse bem naquela inútil pessegada da cimeira ibero-americana que andam parta aí a organizar. O comportamento do carrasco da liberdade na Venezuela será, assim, a medida da influência do senhor Pinto de Sousa na América do Sul. Na do Norte ninguém sabe quem o tipo é.
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Os diversos espectáculos que têm sido oferecidos ao povo pelo chefe do executivo, pelo chefe dos magistrados judiciais, pelo chefe dos magistrados do ministério público, pelo chefe dos deputados e pelo poder de uma forma geral, SEPIIIRPPDAACS* incluído, levam-me a pensar se viverei num país ou no palco de alguma ópera bufa.
*Sua Excelência o Presidente da III República Portuguesa, Professor Doutor Aníbal António Cavaco Silva.
IRRITADO, 15.11.09