ANTÓNIO FIGUEIREDO
António Figueiredo morreu. Soldado do império, admirador da inteligência, empresário de génio, lutador pela liberdade posta em causa pelos inimigos, dela e dele, António Figueiredo enfrentou os tempos novos empenhando-se em que fossem tempos de sucesso, o sucesso que o socialismo de esquerda impedia, sem sequer saber herdar o que, de reserva de progresso, apesar de tudo lhe tinha sido deixado pelo socialismo de direita.
António Figueiredo viveu como um príncipe e trabalhou como um mouro. Seguiu sempre em frente, deu cem vezes “a volta por cima”, foi amigo de quem com amizade o tratou e votou à ignorância os que, com maldade ou sem ela, se lhe atravessaram no caminho. Não era de vinganças, seguia em frente.
Sendo velho, morreu no auge da juventude, vítima do mar que sempre amou, como tinha amado os céus na sua carreira de “pilotaço”.
Permita-se-me uma palavra sobre dias a que os comentadores e os panegiristas póstumos se não referiram. Li várias referências à sua passagem pela comunicação social como accionista do “Semanário” e ao empenho que teve em tornar o jornal uma arma liberal e livre, coisa que, em Portugal, trinta e tal anos depois de instaurada a liberdade de imprensa, ainda não houve. Saiu quando viu que tal não era possível - coisas que não contarei.
Depois, tornou-se líder incontestado do grupo que adquiriu o “Século” e o antigo “Jornal Novo”, ao tempo chamado “A Tarde”.
“A Tarde” nunca foi o que se chama um sucesso editorial. Mas, com o apoio desinteressado de António Figueiredo, foi importantíssima “arma” na luta contra o Bloco Central e na criação de condições para o que havia de vir a ser o período “cavaquista”. “A Tarde” foi sempre um jornal com cara, a cara da libertação da sociedade civil contra os desmandos morais e políticos do socialismo. Cara que, nem como máscara, há jornais que ostentem.
Até ao fim, António Figueiredo sempre se orgulhou de ter apoiado “A Tarde” e quem fazia “A Tarde”, sem jamais se ter intrometido no que cada um escrevia, embora não se abstivesse de criticar aquilo de que não gostava sem jamais perseguir quem insistia em defender o que tinha criticado.
“A Tarde”, como empresa, terá sido o maior flop da sua carreira. Um flop de que se orgulhou até morrer.
Como vejo este passo da sua vida esquecido nos doutos comentários dos Marcelos Rebelo de Sousa, dos Pedros da Anunciação e de quejandos, aqui fica a recordação de um tempo em que, apesar de tudo, muito valia a pena, e de um homem que se batia pelo que valia a pena.
21-11-09
António Borges de Carvalho