ENTREGUES À BICHARADA
Como se sabe, o Costa ganhou as eleições em Lisboa porque foi buscar a malta, tão bem pensante como nefelibata, da Roseta.
Malta que começa a dar um ar da sua graça.
O professor Nunes da Silva proclama que vai começar por fazer com que as reclamações dos munícipes sejam respondidas "no mais curto espaço de tempo". Como apresentei uma reclamação há uns três meses, e a renovei insistentemente, fico com a noção clara do que é “o mais curto espaço de tempo” na cabeça do grande vereador Nunes da Silva.
O homem está preocupado com o Bairro da Liberdade. A este respeito, a primeira grande obra da nova Câmara foi dizer que se trata de um problema de protecção civil, de um problema social, e de uma questão urbanística e de alojamento. Feita esta magnífica descoberta, o senhor vereador chega à genial conclusão de que é preciso fazer umas demolições. Outra coisa que era capaz de escapar ao bestunto do respeitável público.
Ligado com esta questão, sabe Deus como e porquê, há, diz ele, o problema das saídas das escolas, que são uma chatice porque “o tráfego pára”. Não, meus senhores, o que é preciso não é proteger a saída das criancinhas, é arranjar maneira de as estúpidas criaturas não chatearem os passantes só porque, alarves, querem sair da escola. Como se resolve o problema? “Criando alternativas”, que “estão a ser estudadas”. Até há, imagine-se, alternativas “que já estão definidas”. Quais, como? Não se sabe. O que se sabe é que quem não se revelar tão alternativo como o ilustre vereador deseja, será objecto da maior “intransigência”. Cuidado, pessoal!
Depois, somos premiados com a revelação, de alto conteúdo político, de que o Costa “falhou”, leia-se não cumpriu, a promessa de acabar com o estacionamento em segunda fila. Na sua qualidade de vítima do estacionamento em segunda fila, o IRRITADO acrescenta que o Costa não só faltou à promessa como agravou brutalmente o problema fazendo as mais inacreditáveis asneiras a tal respeito. De qualquer maneira, é giro ver como os rosetistas vão criando argumentos para, quando acharem conveniente, dar com os pés ao Costa. Para o nosso vereador, mais uma vez, é preciso “criar alternativas”. Depois, aplicar “policiamento a cem por cento”. Cuidado, pessoal! Como a criação de alternativas, evidentemente, vai ser um programa de longo prazo, ficamos a saber que tudo vai ficar na mesma, ou pior. A EMEL continuará a proteger as segundas filas e a multar, imobilizar e rebocar as primeiras, os polícias continuarão à caça dos tipos que não pagaram o imposto enquanto as segundas filas vicejam debaixo do nariz deles. O sistema de repressão continuará a ser tão vilmente estúpido como é hoje, ou seja, vamos de mal a pior.
No seguimento da já referida intransigência, o nosso homem, após tomar medidas que melhorem a circulação, vai “ensinar as pessoas” a utilizar “os eixos”, isto servido por “uma política de controlo absoluto de fiscalização”. Presumindo-se que o que o fulano quer dizer não é fiscalizar o controlo mas fiscalizar absolutamente as pessoas, ficamos a saber o que nos espera, em matéria de estupidez, falta de critério e de abusos da polícia. Cuidado, pessoal! O que vale é que isso de pôr os “eixos” nos eixos é tarefa a que os nossos netos talvez venham a assistir quando o Dr. Santana Lopes, ou equivalente, voltar ao poder.
Em mais uma manifestação de repugnância pelo homem que lhe deu o lugarzinho, o professor acha que “o projecto em execução (na CRIL) é um verdadeiro crime”. E diz porquê. Se assim é, o criminoso, entre outros, é o Costa. Então o nosso professor colabora com criminosos, como o Costa? O vereador, impoluto rosetista que, de braço dado com essa flor do entulho que se chama Sá Fernandes, já “pediu uma audiência ao presidente das Estradas de Portugal” para “lhe manifestarmos (sic) a nossa mais viva oposição e repúdio por aquilo que está a acontecer”. Bonito. Então, se o que está em construção, bom ou mau, já o estava na altura das eleições, por alma de quem alinhou o professor com o Costa nas eleições? Para lhe vir chamar criminoso logo a seguir? Para, sendo parceiro político de um criminoso, tratar de salvar a face perante os enganados rosetistas? Sabe-se lá.
Seguidamente, vem a tirada estatista/colectivista. As câmaras precedentes, com certeza a começar pela social-comunista do camarada Soares, fizeram contratos com uns horríveis privados para a construção de parques de estacionamento. “É preciso acabar com isto!”, acha o distinto engenheiro. Como? Fazendo a câmara os parques. Não mais permitindo que uns vis privados se locupletem com o subsolo da cidade e com as moedas dos cidadãos. Aliás, quando as concessões chegarem ao fim, vai tudo para a rua, garante o vereador. Muito bem. Esta promessa só será possível, avisa o IRRITADO, se não aparecerem o camarada Coelho e o Costa a prolongar as concessões por mais duzentos anos, como fizeram com os contentores. Coisa que o nosso vereador gostosamente engoliu a troco do pelouro.
Bom, a Câmara vai construir “vários milhares de lugares para os residentes”. Maravilha! E vai construí-los “em estrutura”, diz o homem. Quer dizer, vão ser subterrâneos. Nada mais barato, nem mais socialista/rosetista, já que Santana Lopes os queria construir à superfície. O homem diz que há dinheiro para tudo, “desde que o estacionamento não seja encarado como um negócio”… do qual “há empresas que beneficiam imenso”. O brilhantismo deste pensamento ultrapassa a capacidade de comentário do IRRITADO. De qualquer maneira, a conclusão não pode deixar de ser que a Câmara se vai endividar mais para construir a coisa (se é que vai construir seja o que for), e depois, como não quer que haja “negócio”, vai arranjar mais um colossal buraco. Aliás, com o mesmo brilhantismo, este objectivo foi conseguido com a soviética EMEL. A acrescer a isto, o senhor advoga que os estacionamentos que a Câmara construir vão ser, “ou muito baratos ou gratuitos”, o que aprofunda exponencialmente o buraco. “Há um grupo”, diz o vereador, “que controla, directa ou indirectamente, 70% do estacionamento pago em Lisboa. E isto “é um perigo”. Que perigo? O da criação de um monopólio. Quem o criou, se é que existe? Se o ilustre senhor pensasse nisto duas vezes, se calhar continha-se.
O vereador acha que o Metropolitano, a Carris, etc., deviam ser empresas municipais, o que quer dizer que os cósmicos buracos dessas organizações em vez de ser imputados ao Estado passavam a sê-lo à autarquia. Pois. O senhor vereador, em vez de exigir que a Câmara seja tida e achada nas opções de transportes, quer a propriedade dos ditos. Uma vez tapados os buracos com o dinheiro dos impostos, assevera. Não antes. Notável. Quem os criou que os tape, diz ele. Donde se pode concluir que fomos nós que os criámos. Ao contrário das empresas estatais, as municipais não dariam “jobs for the boys”, diz ele. Wishfull thinking, diz o IRRITADO.
O senhor é contra a extensão do metropolitano para fora de Lisboa. Trata-se, na sua opinião, de uma fonte de especulação imobiliária. Quer dizer, o homem deve ter descoberto opções para estes transportes, opções que não refere mas que são tais que não proporcionarão qualquer incremento da construção ao longo das suas linhas. O que, garantidamente, quer dizer que o nosso engernheiro descobriu a pólvora sem fumo.
E muito mais haveria a dizer, se o IRRITADO não estivesse já cansado, e irritado, com estas patacoadas todas.
Concluamos então, dizendo que estamos entregues à bicharada.
30.11.09
António Borges de Carvalho