DIZ-ME COM QUEM ANDAS
Com fanfarra e charamelas, o governo, através da imprensa e do novel ministro das comunicações, anunciou mais um grande triunfo: a venda de 10% da ZON a uma senhora de nome Isabel dos Santos, pela módica quantia de 160 milhões de euros, com um goodwill de nada menos de 31 milhões. É obra!
O IRRITADO, que é nabo e ingénuo, foi-se ao Forbes à procura da dona Isabel. Que diabo, uma senhora que faz uma comprita de 160 milhões tem que vir na lista!
Mas não vem.
Segundo as informações disponíveis, Dona Isabel, atenção!, não surgiu do nada para comprar 10% da ZON: é proprietária de cem por cento de uma empresa com sede em Malta (em matéria de IRC estamos conversados), a qual, que se saiba:
- detém uma posição relevante (quanto?) na GALP;
- tem investimentos na exploração/produção energética em Angola;
- é accionista de referência nos bancos angolanos BIC e BFA, e nos portugueses BPI e BIC;
- controla a maior cimenteira de Angola;
- detém posições na Unitel e na TV paga de Angola.
Como é que uma senhora tão jovem chegou a tais píncaros de poder financeiro?
Deve ter pelo menos cinco MBA’s, oito cursos de gestão e nove de economia e direito. Ou então, quem sabe?, é uma self made lady que começou com um cabeleireiro no Roque Santeiro, abriu uma filial na Mutamba e uma mercearia na Restinga, donde passou a um supermercado no Cuíto, e assim por diante. Em alternativa, poderá ter casado com um multimilionário indonésio que fez o favor de morrer passados três meses.
Usando um pouco de imaginação, e dada a ausência de dados sobre a carreira da senhora, é legítimo pôr estas hipóteses.
O mistério, no entanto, depressa se desfez.
Dona Isabel, empresária!, é filhinha do Presidente Eduardo dos Santos, ex-bolchevista convertido ao mais ginasticado capitalismo. E esta?
O papá ainda é vivo, portanto a dona Isabel ainda não herdou. No fundo, deve representar o papá. E onde é que o papá foi buscar o dinheirinho? Bom, a verdade é que não consta que o senhor alguma vez tivesse sido empresário, ou financeiro, ou banqueiro, ou seja o que for que, dentro dos limites da legitimidade, crie riqueza.
Então?
Então, deixo aos povos, português e angolano, a tarefa de imaginar onde foi a ilustre família presidencial buscar os vastos meios de que dispõe. Por mim, não imagino nada mais, dado, passe o vernáculo, a ter um certo amor ao coiro.
No que me interessa, fica a enorme e indisfarçada alegria do governo português e o brilhosinho nos olhos do ministro das comunicações pelo magnífico negócio realizado. Chega.
Les bons esprits se rencontrent.
A moral republicana tem as suas exigências, sobretudo quando se trata de luta contra a corrupção.
22.12.09
António Borges de Carvalho