COMEMORAR A REPÚBLICA, OU DA HISTÓRIA DE PANTANAS
Aqui há dias ouvi o Dr. Mário Soares afirmar que o regime em que vivemos é o da segunda república, não da terceira. Perguntado sobre a razão de tal e tão estranha afirmação, o ilustre senhor referiu que o Estado Novo, enquanto ditadura, não tinha sido uma república.
Este tipo de “pensamento” é conhecido e reconhecido em várias cabeças, com os rapazes do Grande Oriente à frente.
Se eu fosse o entrevistador do Dr. Mário Soares perguntar-lhe-ia se achava que o General Craveiro Lopes era filho do Marechal Carmona e se o Almirante Tomás tinha sido gerado no ventre da dona Berta Craveiro Lopes. Isto, para ajudar o lustre cidadão a demonstrar que o Estado Novo foi uma monarquia.
Estas ideias mais ou menos tontas partem do princípio que uma república é democrática por definição. O que contraria frontalmente a verdade, uma vez que deixam de o ser uma enorme quantidade de repúblicas por esse mundo fora, que de democráticas nem o nome.
Mais interessante seria perguntar ao ilustre político como é que os seus adeptos se preparam para comemorar os cem anos da república, ao mesmo tempo que dizem que os quarenta anos do Estado Novo não foram vividos sob uma república.
E também gostaria que o grande laico, republicano e socialista nos esclarecesse se acha de um regime que se chamava república portuguesa, que hasteava a bandeira da república - não a da Nação - que utilizava o hino da república como emblema do Estado, que tinha um presidente da república, não era uma república. Então o que era?
A posição desta gente a este respeito é uma desonestidade intelectual como outra qualquer, com a agravante de ser ensinada nas escolas.
Vivemos, é evidente, na treceira república, não na segunda, que acabou há 35 anos.
Como é que, “pensando” como esta gente, é possível comemorar os cem anos de uma coisa que se diz ter sessenta! Venha o mais pintado, e explique.
Já agora, sendo absolutamente inequívoco que a primeira república foi uma monumental vergonha cuja consequência natural foi a segunda, a que o Dr. Soares não aceita como tal, e que a terceira… a ver vamos, seria de perguntar ao grande socialista o que é que, afinal, ele e os seus amigos têm para comemorar?
Como é que ele e os seus amigos se preparam para gastar milhões e milhões a festejar os 100 anos de uma coisa que começou por ser uma vergonha (16 anos), que deu em ditadura (40 anos) e que, com alguma, pouca, qualidade, existe apenas há 35?
Faz-me lembrar, ao quadrado, o grande dirigente algarvio, senhor Bota, que, aqui há uns anos, publicou um opúsculo que se chamava “No Décimo Aniversário de Doze Anos de Poder Local”…
29.12.09
António Borges de Carvalho