HAJA QUEM EXPLIQUE
Nos tempos modernos, os países “evoluídos”, portadores de “novos valores” e atentos aos “direitos humanos”, “abriram-se às novas realidades” e integraram na moral vigente muito do que era proibido ou tolerado sem ser encorajado na moral antiga.
A descoberta da contracepção libertou a mulher das peias que envolviam a sua sexualidade. Muito bem.
A partir daí, tolerância, compreensão e o apoio social estenderam-se a todas as práticas e a todas as forma de expressão das hormonas e dos hábitos de cada um.
Quem se ocupar uns minutos a ler as manchetes das dezenas de revistas presentes nas bancas ou dedicar umas horas a ler as mesmas publicações nas salas de espera dos consultórios médicos, encontra centenas de gentis meninas que foram passar uns dias às Caraíbas com o namorado, o qual, entretanto, já arranjou outra, a qual, na capa de outra revista, aparece na marmelada com um terceiro, o qual não sofre de ejaculação prematura e lhe prolonga o prazer, sendo que, aos dezasseis anos, já se orgulhava de “conhecer” duas turmas inteiras (m/f) da Escola Três mais Oito e que é sobrinha daquela actriz, ou daquela modelo que largou o marido para se dedicar ao Zéquinha que tem menos 20 anos e é óptimo em beijinhos íntimos embora ande a pensar em mudar de “orientação sexual” por causa de um colega da instrução primária que encontrou 20 anos depois. Et cetera, por aí fora, um nunca acabar de direitos, liberdades e garantias universalmente defendidos como esteio da nova ordem que é preciso, no parecer do Louça, do Pinto de Sousa e “famílias”, tornar acessível e querida de toda a gente.
No meio desta coisa, aparece, nos EUA, um milionário que, sendo o melhor jogador de golfe (the best way to spoil a nice walk) do mundo, parece não ser especialista em fidelidade conjugal. Rebentada a bronca, se calhar bem preparada…, o rapaz passou um cheque de 300 milhões de dólares (uns meros 40 milhões de contos, calculados por defeito) que entregou à legítima, coitadinha, a fim de lhe minorar o desgosto.
Até aqui, tudo mais ou menos bem. Enquanto o assunto se passa no terreno do ex?-casal, ninguém terá nada com isso.
O pior é que a questão se tornou universal. Nos EUA, o homem perdeu uma data de contratos e teve que se retirar das porradinhas nas bolinhas, isto é, pelo menos para já, perdeu o seu ganha-pão. Os meios de informação universais, incluindo os do Pintodesousistão, erguem-se em uníssono, subitamente possuídos de profunda indignação moral, contra os desmandos extraconjugais do mulato.
Como se explica esta incongruência? Então a mesma sociedade “correcta”, que tudo permite, propagandeia e apoia, confunde os buracos do golfe com outros que nada têm a ver com a profissão do homenzinho? Então que mal faz ao golfe, ou à sociedade em geral, que o tipo não respeite os seus compromissos matrimoniais?
Aposto que se o homem descobrisse que a sua “orientação sexual” o empurrava para os braços de algum tipo da luta livre, a mesma sociedade “correcta” contemplaria, embevecida, a sua nobre e corajosa “opção”.
Como se explica isto?
Não mo venham perguntar, porque me irrito.
Perguntem ao arcebispo Louça e ao camarada Pinto de Sousa.
14.1.10
António Borges de Carvalho