QUINTO MUNDO
Há uns vinte e cinco anos fui pela primeira vez a São Tomé. Havia cartazes a dizer “Liberalismo Nunca!”, “Capitalismo Jamais”, “MLSTP, Partido Único da Revolução Socialista” e coisas do mesmo jaez.
Havia a Rua Ex-Adriano Moreira, a rua Ex-Silva Cunha e uma série de outras coisas chocantes, ou ridículas, patéticas e extraordinárias.
O programa do secundário, ao que julgo elaborado pelos cubanos, rezava que a História era formada por uma idade negra que se estendia desde épocas imemoriais, até que, via gloriosa revolução de Outubro, em 1917, a humanidade tinha entrado na idade da luz.
Acham horrível, não é?
Pois então comprem o “Público” de hoje. Embrulhado nele vem um pasquim publicitário que é suposto arranjar-nos forma de entrar em contacto com as autarquias locais, mas não põe: nomes, moradas, endereços electrónicos, os senhores presidentes a cores, as distintas vereações, etc.
Tudo bem.
A coisa abre, solenemente, com uma mensagem de Sua Excelência o Presidente da República.
A seguir, em sorridentes policromias, os senhores ministros do PS. Como se tivessem, directa e principalmente, seja o que for a ver com as autarquias ou as eleições autárquicas.
Depois, única maneira de dar realce ao PS, vêm os resultados por distrito. Como se houvesse eleições por distrito. Como se o PS tivesse ganho mas eleições autárquicas.
Maravilha das maravilhas, somos então contemplados com uma “Breve História das Autarquias”, bem à maneira da "cultura" socialista. Segundo o brilhante texto, a história das autarquias começa em 1976. Nada de forais, nada de municípios, tudo coisas por certo obscuras e medievais, se é que existiram.
A coisa começou em 1976, e pronto.
Se é triste que os santomenses, envenenados pelo socialismo, na sua inocência infantil achassem que a História propriamente dita era a da revolução bolchevista (não achavam, garanto, mas os que mandavam queriam que achassem), é pelo menos revoltante que, em 2010, se afirme em Portugal que as autarquias começaram e existir em 1976.
Já nem no terceiro mundo vivemos. Talvez no quarto, ou no quinto.
22.2.10
António Borges de Carvalho