COMBINAÇÕES
O léxico do primeiro-ministro tem conhecido uma notável evolução. Longe vão as “campanhas negras” e os “interesses obscuros”. Estamos na fase das “ignomínias” e das “infâmias”. Registe-se a exdruxulização dos argumentos.
O senhor Pinto de Sousa continua a achar-se a mais honesta das criaturas. É o que o espelho mágico lá de casa lhe deve dizer. Acredito, sobretudo tendo em atenção a carreira do senhor.
Registe-se também a única novidade de peso na tão celebrada entrevista ao Tavares: o senhor Pinto de Sousa passou a achar que alguns dos seus colaboradores, directos ou indirectos, próximos ou afastados, íntimos ou não íntimos, invocaram o seu santo nome em vão.
Tratar-se-á, ao contrário do que reza o evangélico mandamento, de um pecadilho sem importância de maior. Tanto que continua amicíssimo deles e a dever-lhes a mais alta consideração. Tanto que continuam todos no poleiro, à excepção dos adúlteros que encornaram o camarada Granadeiro.
Como se pode facilmente perceber, não há nada para perceber. Está tudo na mesma. Estamos mergulhados na mais inacreditável confusão, teoricamente capaz de dar cabo de qualquer governo num país civilizado.
Os senhores magistrados continuam a procurar, com alta competência, tornar as coisas ainda mais confusas. Veja-se as declarações dessa grande luminar da Justiça e da asneira que é a Dr.ª Cândida Almeida.
Com mais uns tempos desta pastelada, será inevitável que se chegue à conclusão que tudo não passou de um ataque de flatulência que deu às instituições e que, como os males dos tropas, inchou desinchou e passou.
Uma coisinha, para acabar estas singelas palavras. O cronista Tavares foi incensado pelos comentadores pela forma “inteligente” e “profissional” como conduziu a entrevista ao senhor Pinto de Sousa, no programa que, com descarado plágio, gloriosamente intitulou “Sinais de Fogo”.
O IRRITADO ficou com a sensação, - ó infamante ignomínia! - que aquilo estava tudo combinado.
24.2.10
António Borges de Carvalho
PS. Citação:
Mesmo que víssemos claramente o primeiro-ministro a afogar-se num poço de mentiras, dir-se-ia que deixámos de pensar e de olhar à nossa volta.
João Lopes, crítico.