PASSAR O PASSOS
O que move Passos Coelho? Não sei ao certo.
Conheci-o bem jovem, um tipo simpático e cortês, com alguma ânsia de aprender o que eram ideias e como movimentar-se no espaço político. Depois, durante muitos anos, perdi-o de vista.
Quando, surpreendentemente, pelo menos para mim, apareceu a querer ser líder do PSD, pus-me à escuta.
As suas primitivas declarações fizeram-me pensar num rapaz com alguma coisa válida dentro da cabeça, com alguma recta intenção, com algum valor pessoal. Não estaria em condições de chefiar o partido mas, pensei eu, pode ser que se faça um homem.
E fez-se. Só que da pior maneira.
Perdidas as eleições internas, dir-se-ia que uniria fileiras com os seus e que esperaria por nova oportunidade. Era o que se imporia a uma cabeça minimamente democrática e com alguma qualidade humana. Cruel engano. Ainda as urnas do PSD estavam “quentes” e já o rapaz entrava em campanha eleitoral para dali a uns anos. Potenciado pela errónea recusa de Dona Manuela de lhe dar uma cadeirinha em São Bento, nunca mais parou. Pelo contrário, reforçou a sua campanha, intrigando pelo país fora contra o seu próprio partido.
Caiu-me mal esta postura. Fui acompanhando a coisa com crescente desilusão e pena. O homem que, pela sua idade, descomprometimento com “alas” e “facções”, pela novidade de uma ou outra ideia, podia significar uma viragem positiva na política portuguesa, coisa de que precisamos como de pão para a boca, era, afinal, um intriguista igual a tantos outros, com a agravante de ter um pequeno exército de influentes “bases” pelo país fora, o que o torna mais perigoso que desejável. As tais ideias novas que se podia intuir das suas primeiras intervenções, esfumaram-se em intriguinhas, “bocas” e manobras de bastidor.
Depois, começou a dar “abébias” ao PS. Eximir-me-ei de as enumerar. A última é de cabo de esquadra. Coelho veio, impante, declarar que se estava nas tintas para todo e qualquer compromisso assumido com o PS pela direcção do seu partido. Nada melhor para o senhor Pinto de Sousa. Nada melhor para descredibilizar o PSD. O rapaz, em vez de guardar as suas arrancadas para quando e tivesse legitimidade para tal, faz o contrário. Será que, além de pouco fiável, também é estúpido? Ou terá maus sentimentos? Ou maus conselheiros? Ou, simplesmente, não presta?
28.2.10
António Borges de Carvalho